Duka escreveu: ↑Ter Fev 22, 2022 10:28 pm
Bom, veja a dificuldade do assunto.
Se tu que é um entusiasta e entende do assunto, não conseguiu elaborar um cenário plausível/factível/palpável para todo esse investimento militar que acha necessário (pra se estar preparado, é necessário saber pra que se está preparando né!?), como pretender que a população em geral se preocupe a vera com isso?
Eu curto militarismo, por mim o Brasil seria uma potência militar. Mas, sendo pragmático.. precisa mesmo, ou é só porque eu acho legal?
Pra mim, o objetivo, em termos de força e capacidade seria algo como "poder invadir qualquer país da AS e sair vitorioso". Acho que esse seria nosso papel de potência regional (foi deprimente perceber que nada podiamos fazer com o Maduro, caso ouvesse de fato um conflito. Contar com os EUA pra isso é um atestado de incompetência).
Olá Duka.
Em princípio quando a END foi escrita, assim como a PND, Livro Branco e os programas de modernização das forças militares teve-se em mente que o papel essencial dos militares foi e continua sendo defensivo. É sob este ponto de referência que todas as capacidades militares do país aludidas naqueles documentos são estruturadas. Faz parte do nosso perfil diplomático de "país pacífico" e mesmo respaldado na constituição atual, que reza que o país buscará sempre e prioritariamente a resolução de seus conflitos via negociação pacífica. Ou seja, continuamos privilegiando tradicionalmente a nossa diplomacia. Que aliás, diga-se de passagem, sempre foi e é a nossa primeira e melhor linha de defesa.
Isto posto, é função primária do Estado zelar pela Defesa do país e seus interesses. E a sociedade em si, apresta isso na constituição e nas demais leis que regem as funções do Estado. Não é preciso/impositivo que a sociedade na íntegra seja interessa ou a par de tudo que acontece em Defesa, mas, que tenhamos ao menos boa parte dela que entenda e saiba pensar sobre o assunto, até porquê, sem isto, ela será continuamente tratada de acordo com os interesses dos representantes que colocamos no poder, que por sua vez, são um retrato maltrapilho dos interesses, ou desinteresse, da sociedade em relação à Defesa.
Assim, formular as nossas HE é um papel primário das forças armadas sempre respaldadas na nossa diplomacia e no estamento político-estratégico traçado pelo poder público, diga-se, congresso/União. Mas este é um movimento que deve começar de baixo para cima, a partir da educação básica, onde se forma o pensamento e a visão estratégica de país, sobe para as IES e deve chegar as câmaras de representação política do país, do município a Brasília. Sem que isto seja bem feito, com lastro na realidade e na História, fica difícil mesmo. Ainda assim, é preciso dar passos neste sentido, mesmo que os resultados só apareçam no longo prazo. E este a meu ver é justamente o nosso maior problema. A visão míope e de curtíssimo prazo típica da nossa cultura, para tudo.
Quem tem o dever de ofício de explicar, justificar e empenhar-se em dar sentido aos investimentos em Defesa é o Estado. De forma que a maioria da sociedade possa entender o porquê de colocar dinheiro público em sistemas de armas e afins, mesmo quando temos tantos problemas ditos mais sérios, mesmo não tendo nenhuma guerra na agenda para semana que vem. Isto fica mais fácil quando se tem uma sociedade educada, o que não é o nosso caso, mas ainda é uma tarefa básica a ser feita. Mas como no Brasil o Estado é leniente e omisso desde sempre nesta área, acaba que ficamos neste circulo vicioso sem fim de investimentos pífios e/ou desinvestimento nas forças armadas.
Notar que na END tudo o que se indicou em termos de capacidade para as nossas forças armadas vai no sentido de prover recursos que hoje não dispomos(2% PIB?), e que apesar de apontados no PAED(material), e em outros documentos públicos, nem de longe possui a força e a importância que possam dar-lhe respaldo concreto à sua construção além do mundo militar e de seu entorno. Fato é que Defesa é e continua sendo um assunto alheio aos interesses dos políticos brasileiros e por conseguinte também da maioria da população. E sem interesse, não há vontade, e sem vontade, não há dinheiro, nem modernidade, e nem Defesa crível e fiável.
Não precisamos ter as maiores e melhores forças armadas do mundo. Precisamos ter o suficiente e o necessário para criar a dissuasão que se precisa para dar o recado e nos respaldar quando tivermos que negociar qualquer coisa em qualquer lugar com qualquer um. Mas isso não se faz da noite para o dia, e nem precisamos invadir ninguém para provar do que somos capazes. Basta-nos ter minimamente forças que realmente sejam capazes daquilo que efetivamente falam de si mesmas. O resto é propaganda enganosa.