Clermont escreveu:Pois é, aí eu fico pensando: como deve se sentir um ex-combatente que perdeu alguma parte do corpo (ou da mente) naquela guerra, ao relembrar os "especialistas", os "patriotas", os seus líderes políticos, dizendo que era preciso lutar no Vietnam, "senão, amanhã estaremos lutando nas praias da Califórnia".
Ou, "temos de deter a expansão comunista no Vietnam, ou todo o Sudeste Asiático cairá como uma série de dominós enfileirados".
Eu também me pergunto mais ou menos a mesma coisa.
O que pensará um antigo combatente vietnamita, quantas vezes mutilado, quantas vezes com a sua vida destroçada pelas bombas, pelos sacrificios que os comunistas lhe pediam, em nome de um ideal.
O ideal pelo qual centenas de milhares de pessoas deram as vidas, para salvar o Vietname dos diabos capitalistas, das multinacionais malvadas que querem explorar o povo.
Como se sentirá um veterano vietnamita, quando entra num restaurante McDonalds em Hanoi, e lhe servem um Big Mac, acompanhado de Coca Cola ? ...
O que pensará a mulher que perdeu os pais e toda a família e ficou orfã, porque eles morreram por um futuro melhor, quando sabe que na Tailandia e na Malásia, países que eram tão pobres quanto o Vietname mas onde não houve guerra, e onde hoje se ganha três a quatro vezes mais pelo mesmo trabalho.
Essas são perguntas que também muitos devem fazer...
Nota: A questão do Golfo de Tonkim é um segredo de polinchinelo há décadas.
Desde o inicio dos anos 80 que a questão é conhecida, discutida e até já esquecida.
Há sempre um detonador de uma crise. Quando se sabe que a crise é inevitável, quem possui a capacidade para o detonar, ganha alguma vantagem táctica.
Todos os grandes países utilizaram os mesmos subterfugios para intervir em algum lugar. Directa ou indirectamente.
A URSS interviu pesadamente em África, alugando cubanos à peça (não é uma intervenção directa, é indirecta). Invadiram o Afeganistão (velho sonho imperial dos Czares), quando surgiu um detonador que justificasse a invasão.
Como é que eles justificaram a invasão da Finlandia e dos Estados Bálticos ?
Como é que eles justificaram perante os russos a ocupação da Polónia em 1939 ?
As democracias também utilizam este tipo de subterfugios.
Neste jogo, mata-se ou morre-se. Mas por mim, continuo a preferir que seja uma democracia a faze-lo que uma ditadura.
Uma coisa é mentir, para defender a liberdade, outra é mentir para a destruir.