Brasileiro escreveu:Sofreria do mesmo mal que o N-1 sofreu: Complicado demais.
Veja que a base dele é constituída por 8 motores, sendo 32 câmaras de combustão. Duas a mais que o N-1, que sofreu demais pela falta de um sistema mais eficaz de controle para seus 30 motores.
É claro que hoje, com o poder dos computadores atuais, esse problema é minimizado, mas ainda assim, são 32 chances de errar, contra 7 do equivalente americano Ares V.
Talvez, se fosse hoje, a melhor proposta seria trocar esses boosters laterais de 4 bocais por booster de um único bocal, ou mesmo dois, aumentando a segurança do conjunto.
abraços]
Infelizmente não é tão simples. A câmara de combustão e o a tubeira convergente-divergente são os componentes do motor que mais esforços sofrem, tanto mecânicos como térmicos. Aumentar o seu tamanho torna seu projeto, construção e operação muito mais críticos, o que na prática tende a piorar a segurança e não a melhorá-la. É por isso que os russos usam com tanta freqüência motores com múltiplas câmaras (2, 4 ou até 6), ao invés de tentar fazer uma só maior. Nestes casos o sistema de bombeamento de combustível (turbina, bomba e sistemas de controle) é um só, alimentando as várias câmaras de combustão ao mesmo tempo. Com um número pequeno de câmaras colocadas perto uma da outra as tubulações são curtas e é fácil arranjar pontos de fixação para as válvulas, então o conjunto é robusto e fácil de construir. Já os americanos tendem a usar câmaras maiores, e alimentar cada uma com sua própria turbo-bomba, e no final seus motores acabam ficando bem mais sofisticados e caros, sem que tenham mostrado uma confiabilidade muito diferente ao longo do tempo.
O problema com o N-1 é que realmente a situação foi levada a extremos, com uma quantidade absurda de câmaras de combustão fixadas a uma única estrutura no primeiro estágio, distantes umas das outras, com tubos longos e frágeis ligando-as aos múltiplos sistemas de alimentação. E nada foi testado em bancada, cada lançamento do N-1 era o próprio teste do conjunto de propulsores, o que contrastou diretamente com os anos de testes em bancada do conjunto de motores do Saturno-V. Apenas durante os 4 vôos de teste é que se descobriram sérios problemas causados por vibrações (não foram problemas de controle), que destruíam as linhas de alimentação e as conexões das válvulas dos motores, causando a explosão do foguete. Aí já não havia mais tempo nem verba para estudar e corrigir os problemas, e o N-1 jamais conseguiu funcionar como imaginado.
Este não é o caso dos foguetes Energia e Vulkan, ou aliás do Lançador-A, do Cyclone, e de praticamente todos os foguetes originados na antiga União Soviética. Em todos eles o conjunto de câmaras de combustão é compacto, com tubulações curtas e estrutura robusta, e no caso do uso de boorters cada um deles funciona como um único foguete estruturalmente independente, não há a possibilidade de falhas como a do N-1. Além disso o estudos das vibrações hoje está muito mais avançado, e são realizados testes exaustivos dos conjuntos, e os problemas são detectados e resolvidos em bancada, não em vôo.
É verdade que com 32 câmaras no primeiro estágio existem mais chances de falhas pontuais, mas deve-se lembrar que como estes motores possuem a capacidade de variar o empuxo tanto para cima quanto para baixo do valor nominal, o conjunto é tolerante à falha de uma ou mesmo várias câmaras sem que a eficiência de vôo seja realmente afetada. Apenas se um conjunto completo falhar é que o lançamento poderá ser perdido. É uma vantagem adicional da redundância, embora o número total de câmaras não tenha sido definido com isto em vista.
Agora, é realmente bem provável que os russos não estejam mais pensando em super-lançadores do tipo das versões maiores do Energia para suas futuras missões à lua. Na época da corrida espacial os acoplamentos em órbita eram considerados difíceis e arriscados, e por isso foi necessário desenvolver lançadores como o Saturno-V e o N-1, mas hoje um lançador da classe do Próton ou pouco maior já poderia fazer o mesmo serviço através de múltiplos lançamentos e montagem do conjunto em órbita como citou o Brasileiro. Neste caso o uma das versões menores do Energia seria tecnicamente a escolha mais óbvia, mas realmente os russos não devem estar nada satisfeitos com a Ucrânia, e aí o programa Angara é provavelmente seja a melhor resposta.
Leandro G. Card