Quem reclama da ortodoxia tende a jogar esse pessoal no mesmo saco. Assim a posição dominante passa a ser "precisamos liberalizar e desregulamentar o mercado financeiro para um ambiente mais estável e prospero. Proporcionando maior bem estar aos consumidores e oportunidades as empresas". O que é uma meia verdade. Desde os anos 1960/1970 existem autores e trabalhos defendendo isso. Entretanto, começaram a surgir uma forte literatura pontuando imperfeições de mercados e outros problemas que dificultavam a operação. Entre eles a formação de bolhas especulativas, ascensão da instabilidade e possibilidade de crises.
Esta discussão ocorre dentro do que se chama ortodoxia. Um sintoma das várias posições dentro desse bloco de ideias é identificável nas mudança de como se encara crise cambiais e financeira dos países emergentes nos anos 1990. No começo da década os autores eram temerosos com os efeitos da liberalização em países frágeis. No fim chegaram a defender controle de capitais, regulação pesada no sistema financeiro e criação de uma estrutura institucional capaz de suportar um eventual movimento de liberalização. Assim introduzindo elementos como assimetria de moedas e instabilidade da integração financeira que poderiam ser consideradas heterodoxas.
No limite e quase sempre as boas discussões tendem na interação entre ideias que podem ser colocadas como ortodoxas (defesa do livre mercado e desregulamentação financeira) e heterodoxas (intervenção e regulação do sistema). Existe uma grande região cinza que podem sair argumentos e posições das mais diversas. Inclusive por que a heterodoxia também tem discussões internas complicadas. Por exemplo, autores considerados do mainstream e, portanto, ortodoxos como Krugman (aquele do Nobel e escreve no NY times) e Stiglitz (Nobel um dos arquitetos da nova regulação financeira mundial) se aproximam muito de heterodoxos como Davidson, Aglietta, Goodhart e Arestis.
Um exemplo de como é difícil distinguir o que é uma posição ortodoxa e heterodoxa pode ser vista na discussão do livro abaixo. Organizado e nascido de textos e discursos apresentados em setembro de 2009 na conferência organizada do banco mundial.
O pessoal do banco mundial chamou autores de todos o lugar e renomados para falar sobre a crise e as medidas para a construção de um novo sistema financeiro norte-americano e mundial. A motivação estava em discutir a nova regulação. Praticamentos todos os autores e que ocupam posições em instituições são no que chamariam de ortodoxia ou mainstream.KUNT-DEMIRGUÇ, Asli; EVANOFF, Douglas D.; KAUFMAN, George G. (2011). The international financial crisis: have the rules of finance changed? New Jersey: World Scientific.
Entretanto, a posição predominante da maioria dos textos é que existe a necessidade de reformar o sistema, a maior regulação e controle das grandes instituições financeiras é essencial para a estabilidade. Autores famosos na área de finanças como Ross Levine defendiam descaradamente essa posição, incluindo a proposta de uma taxa para evitar a formação de bolhas. Outros uma agência regulatória internacional e cooperação entre países. Um dos autores é um Goodhart, um britânico que fez carreira defendendo a regulação financeira e intervenção do Banco Central.
Enquanto os poucos textos que era contra ou advertiam os problemas e custos decorrentes da regulação foi representante dos bancos norte-americanos. Por que será?