“É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA”
Um estudo da Tendências Consultoria conclui que a economia brasileira vive o seu melhor momento da história. A economista da Tendências, Ana Carla Abraão Costa, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta terça-feira, dia 22, que os indicadores mostram uma conjuntura favorável (aguarde o áudio).
“É verdade. A gente, analisando todos os indicadores econômicos relevantes, o que se percebe, o que se observa, é justamente um contexto, uma conjuntura, muito favorável e uma conjuntura inédita em termos de situação econômica do país”, disse Ana Carla.
Os indicadores que o estudo da Tendências Consultoria considerou são: juro real, balança comercial, taxa de câmbio, vulnerabilidade externa, demanda, dados de comércio e produção.
“Todos eles apontam para uma situação muito positiva em termos de consumo, em termos de demanda, em termos de oferta e principalmente em termos de perspectivas no médio prazo e até no longo prazo, se a gente tiver a continuidade de reformas que a gente teve nos últimos anos”, disse Ana Carla.
Ana Carla disse que “a situação econômica mais favorável, juros mais baixos e câmbio mais baixo vão forçar novas reformas, porque as ineficiências ficam mais claras”. Ou seja, a pressão do crescimento econômico deve gerar as reformas trabalhista e da Previdência, além de investimentos em infra-estrutura.
Segundo Ana Carla, do ponto de vista institucional, o Brasil está melhor que Rússia, Índia e China (países que, com o Brasil, compõem o BRIC). “Começa pela parte institucional. Estamos institucionalmente muito mais avançados do que os BRIC’s”, disse Ana Carla.
Ana Carla disse que o que pode dar errado é, “do ponto de vista fiscal, o Brasil não conseguir ajustar a economia para permitir redução de carga tributária e do custo Brasil de forma mais significativa”.
Leia a íntegra da entrevista de Ana Carla Abraão Costa:
Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com Ana Carla Abrão Costa, economista da Tendências consultoria. Como vai, Ana Carla, tudo bem?
Ana Carla Abrão Costa – Tudo bem, Paulo Henrique?
Paulo Henrique Amorim – Tudo bem. Ana Carla, a consultoria Tendências fez um estudo recente que chega à conclusão que o Brasil vive o melhor momento econômico da sua história. É verdade?
Ana Carla Abrão Costa – É verdade, Paulo Henrique. Analisando todos os indicadores econômicos relevantes, o que se percebe, o que se observa é justamente um contexto, uma conjuntura muito favorável e uma conjuntura inédita em termos de situação econômica do país.
Paulo Henrique Amorim – Esses indicadores que vocês levaram em consideração são, em resumo, basicamente quais?
Ana Carla Abrão Costa – Juro real, balança comercial, taxa de câmbio, vulnerabilidade externa, todos eles, demanda mesmo, os dados de comércio, produção, todos eles apontam para uma situação muito positiva em termos de consumo, tem termos de demanda, em termos de oferta e, principalmente, em termos de perspectiva no médio prazo e eu diria até mesmo no longo prazo se a gente tiver a continuidade de reformas que a gente teve nos últimos anos. E nos últimos anos a gente olha pra 20 anos pra trás, e não necessariamente um período muito curto.
Paulo Henrique Amorim – Como o período do governo Lula.
Ana Carla Abrão Costa – Exatamente.
Paulo Henrique Amorim – Deixa eu te perguntar uma outra coisa: quando você fala de perspectiva, de olhando pra frente, vocês chegaram à conclusão de que não haverá mais aquele tipo de crescimento “vôo de galinha”, não é isso?
Ana Carla Abrão Costa – Na nossa avaliação nem teremos um “vôo de galinha”, necessariamente, mas principalmente a gente não observa a possibilidade de o país crescer a taxas muito elevadas e, de repente, ser surpreendido por uma necessidade de correções. O que se observa é a possibilidade de a gente ter crescimentos na faixa de 4,5%, 5%, mas por períodos mais longos.
Paulo Henrique Amorim – E por que não temos um crescimento do tipo chinês?
Ana Carla Abrão Costa – Primeiro porque a economia brasileira tem um nível de maturidade diferente. Então, quando a gente olha pra época do milagre, era possível observar taxas de crescimento muito elevadas. Segundo, porque temos gargalos de infra-estrutura, necessidade de reformas adicionais que não estão sendo feitas, Paulo Henrique. Então, isso, de alguma forma, restringe, limita, a nossa possibilidade de crescer a taxas mais elevadas.
Paulo Henrique Amorim – Mas isso não é paradoxal, que a gente tenha problemas de infra-estrutura e mesmo assim consiga crescer a taxas de 4%, 4,5% ao ano?
Ana Carla Abrão Costa – Não pelo seguinte: na nossa avaliação em algum momento essas reformas terão que vir. A gente é cética em relação a elas virem ainda nesse governo, mas a própria pressão de crescimento, a própria situação econômica mais favorável – juros mais baixos, câmbio mais baixo – vão forçar novas reformas porque as ineficiências ficam mais claras. E aí, há necessidade mesmo de desatar esses nós que começam a aparecer e começa a ficar mais limitadores do ponto de vista de crescimento. Então, na nossa avaliação isso vai acontecer no médio prazo e deve garantir, portanto, que esse crescimento seja mais forma. Mas, de toda forma, se a gente tivesse essas reformas acontecendo agora, é claro que o cenário seria ainda mais favorável no futuro. Então, a gente poderia não estar falando de 4%, 5%, e estar falando de 6%, 7%.
Paulo Henrique Amorim – Se eu entendo seu raciocínio, a pressão do crescimento econômico acaba gerando a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, os investimentos em infra-estrutura, ou seja, o crescimento vai empurrando a porta, é isso?
Ana Carla Abrão Costa – Exatamente. E não só o crescimento. Também um nível de juros real mais baixo, um câmbio mais baixo, que gera pressões por aumento de competitividade, então, aumento de eficiência. Então, todas essas variáveis em patamares diferentes geram essa pressão por novas reformas.
Paulo Henrique Amorim – Você acha que o dólar abaixo de R$ 2, no saldo, todas as coisas levadas em consideração, esse dólar é melhor ou pior para a economia brasileira a longo prazo, a médio prazo?
Ana Carla Abrão Costa – É melhor, justamente por esse ponto da vista da eficiência. A gente tende a olhar o dólar pelo lado só de perda de competitividade de alguns setores, mas tem diversos outros setores que se beneficiam desse câmbio mais apreciado.
Paulo Henrique Amorim – Por exemplo?
Todos os setores que se beneficiam em termos de importação de bens de capital. Então, todos aqueles que conseguem importar e conseguem aumentar a sua eficiência e, portanto, a sua competitividade via bens de capital e tecnologia – importados mais baratos –, eles geram ganhos líquidos para a economia que são muito importantes e, na nossa avaliação, esses ganhos mais que compensam aqueles setores como têxteis, calçados, que estão sofrendo uma competição de produtos – principalmente chineses – muito forte. Então, no líquido, o câmbio deve gerar mais ganhos do que perdas e não só isso os bens de consumo – não só os bens de capital – são importados e ajudam a manter a inflação em patamares mais baixos.
Paulo Henrique Amorim – Na comparação com os outros países que formam essa seleção dos Brics – Brasil, Índia, Rússia e China –, com esse estudo que vocês fizeram, vocês de alguma maneira olharam para os nossos rivais aí nessa seleção?
Ana Carla Abrão Costa – O foco do estudo não é esse, a gente está focando bastante a economia doméstica, mas a gente consegue fazer uma comparação principalmente... eu acho que começa pela parte institucional. Estamos institucionalmente muito mais avançados do que os Brics. Por outro lado, as taxas de crescimento...
Paulo Henrique Amorim – Só pra te dar um exemplo: eu duvido que na Rússia, na China ou na Índia tenha a Polícia Federal que o Brasil tem, não é isso?
Ana Carla Abrão Costa – Com certeza! Porque se tivesse uma Polícia Federal lá assim a situação deles seria muito mais complicada, imagino.
Paulo Henrique Amorim – O Banco Central, a Secretaria do Tesouro...
Ana Carla Abrão Costa – Exatamente. Todos esses pilares institucionais muito importantes e que são olhados pelos investidores internacionais, principalmente aqueles que querem investir em investimento produtivo mesmo, eles não têm. Então, isso conta pontos a favor do Brasil. E, fora isso, a parte de fundamentos. A gente tem hoje uma situação de estabilidade muito mais consolidada do que o que a gente observa lá. No caso da China, o investidor está sempre perto da porta de saída. Ele está lá, está sendo remunerado, é claro que a relação risco-retorno é favorável, mas existe um dever de casa a ser feito que nós aqui já fizemos em parte.
Paulo Henrique Amorim – Claro, institucionalmente. Ana Carla, não querendo tomar o seu tempo: o que pode dar errado?
Ana Carla Abrão Costa – O que pode dar errado é do ponto de vista fiscal a gente não começar a ajustar a economia pra permitir justamente uma redução de carga tributária e uma redução do custo Brasil de forma mais significativa, Paulo Henrique. Eu acho que é isso que falta, a gente está adiando esse ajuste fiscal, mas ele vai ter que ser feito, e se não for feito a gente de fato tem aí esse risco de as coisas não continuarem dando certo, como a gente tem observado.
Paulo Henrique Amorim – Tá ótimo. Muito obrigado. É sempre um prazer falar com você.
Ana Carla Abrão Costa – O prazer é todo meu, Paulo Henrique.