Talibãs assumem controlo do aeroporto de Cabul. Uma "lição" para o mundo
Os talibãs asseguraram hoje o controlo total do aeroporto internacional de Cabul e falaram de uma "lição" para o mundo, após o último avião norte-americano ter descolado, marcando o fim da guerra mais longa dos Estados Unidos.
Os líderes do movimento extremista islâmico caminharam simbolicamente através da pista, assinalando a vitória, flanqueados por combatentes da unidade de elite dos rebeldes Badri.
"O mundo deve ter aprendido a sua lição e este é o momento de apreciar a vitória", disse o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid.
Aos combatentes, no local, Mujahid disse esperar "que sejam muito cautelosos ao lidarem com a nação".
"A nossa nação sofreu guerra e invasão e o povo não tem mais tolerância", acrescentou.
Mais tarde, em declarações à Al-Jazeera árabe, no asfalto, Mujahid afirmou que "haverá segurança em Cabul e as pessoas não se devem preocupar".
Numa outra entrevista à televisão estatal afegã, o porta-voz talibã também abordou o reinício das operações no aeroporto, que continua a ser uma saída fundamental para aqueles que querem deixar o país.
"A nossa equipa técnica irá verificar as necessidades técnicas e logísticas do aeroporto", explicou. "Se formos capazes de resolver tudo por nós próprios, então não precisaremos de qualquer ajuda. Se houver necessidade de ajuda técnica ou logística para reparar a destruição, então poderemos pedir ajuda ao Catar ou à Turquia", indicou.
O general da Marinha Frank McKenzie, o chefe do Comando Central do Exército dos EUA, já tinha afirmado que as tropas "desmilitarizaram" o sistema para que nunca mais pudesse ser utilizado.
Outros oficiais norte-americanos disseram que as tropas não explodiram equipamentos para garantir que deixavam o aeroporto operacional para futuros voos, assim que recomecem.
McKenzie adiantou que os EUA também desativaram 27 viaturas blindadas e 73 aviões, que não poderiam ser utilizados de novo.
"O Afeganistão está finalmente livre", disse outro oficial talibã, Hekmatullah Wasiq. "O lado militar e civil está connosco e no controlo. Esperamos agora anunciar o nosso Gabinete. Tudo é pacífico. Tudo é seguro", insistiu.
Wasiq instou também as pessoas a voltarem ao trabalho e reiterou a promessa dos talibãs de oferecer uma amnistia geral. "As pessoas têm de ser pacientes", disse. "Lentamente voltará tudo ao normal. (...) Vai levar tempo", salientou.
O aeroporto foi cenário de cenas caóticas e mortíferas desde que os talibãs começaram a conquistar cidades no Afeganistão, até tomarem Cabul a 15 de agosto.
Milhares de afegãos sitiaram o aeroporto, alguns caindo para a morte depois de se terem pendurado desesperadamente num avião de carga militar norte-americano. Na semana passada, um ataque suicida do Estado islâmico numa entrada do aeroporto matou pelo menos 169 afegãos e 13 operacionais dos EUA.
Hoje, depois de uma noite em que os talibãs dispararam triunfantemente para o ar, os guardas agora em serviço mantiveram afastados os curiosos e os que de alguma forma ainda esperavam apanhar um voo para fora.
"Após 20 anos derrotámos os americanos", disse Mohammad Islam, um guarda talibã no aeroporto, oriundo da província de Logar, armado de uma espingarda Kalashnikov. "Eles partiram e agora o nosso país está livre", afirmou.
"É claro o que queremos. (...) Queremos a sharia [lei islâmica], paz e estabilidade", acrescentou.
Mohammad Naeem, porta-voz do gabinete político dos talibãs no Qatar, saudou igualmente o momento num vídeo 'online', publicado hoje.
"Graças a Deus todos os ocupantes deixaram completamente o nosso país", disse, felicitando os combatentes, apelidando-os de guerreiros santos. "Esta vitória foi-nos dada por Deus. (...) Foi devido a 20 anos de sacrifício", destacou.
Zalmay Khalilzad, o representante especial dos EUA que supervisionou as conversações dos Estados Unidos com os talibãs, escreveu hoje na rede social Twitter que "os afegãos enfrentam um momento de decisão e oportunidade" após a retirada norte-americana.
"O futuro do seu país está nas suas mãos. (...) Eles escolherão o caminho em plena soberania", escreveu. "Esta é também a oportunidade de pôr fim à sua guerra", concluiu.
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