dc escreveu:
Compras ao Brasil não são compras à CPLP. Nesta interacção, apenas o Brasil fica mais rico, Portugal fica mais pobre e com um meio que não faz sentido adquirir, e os restantes membros da CPLP ficam na mesma. As coisas que beneficiam a CPLP, são programas conjuntos, com participação de todos, não o "lobbismo" de uma empresa.
Não é a África Portuguesa de que se fala. É do Sahel. Bem, mal, assim-assim ou mais ou menos parece que identificaram que Portugal pode ter alguma experiência na zona e muito menos anticorpos que os franceses. E Portugal aceitou o "desafio". É a minha interpretação. Podiam ter sido escolhidos outros meios? Podiam. Mas partindo do pressuposto onde a ajuda no aumento da influência da UE no Sahel é um dado adquirido então o ST não é uma má escolha.
Isso é tudo uma grande falácia. Para as missões em África não só existem N tipos de meios que nos fazem falta e que podem fazer mais diferença que o ST, como para termos uma presença em África notória, o nível de investimento precisa de ser muito maior. 200M em STs com o pretexto de uma "grande influência em África" é treta, e todos sabemos disso.
Queres realmente focar-te nas missões em África? Porreiro. Prepara-te para ter que investir 2000M ou mais para ter FA capazes de cumprir a missão. Tens que ser capaz de criar uma FND com mais de 1000 elementos, tens de garantir que esta força tem protecção, tens de garantir que, se a ameaça escalar, consegues dissuadir o adversário, garantir um grau de superioridade aérea (com aviões a sério, e não avionetas COIN), capacidade de sustentar logisticamente a força, investir num aeródromo/base aérea/aeroporto local para poderes operar os teus meios aéreos em segurança. Precisas inclusive de ter uma Marinha logisticamente capaz, e consequentemente uma Marinha militarmente capaz para proteger os navios logísticos, e ainda precisas de aeronaves de transporte aéreo estratégico.
"África é a prioridade" e continuar com FNDs low-cost não dá com nada.
Os brasileiros fazem publicidade de graça, nós gastamos o dinheiro, mas os aviões terão uma considerável taxa de incorporação portuguesa e as vendas poderão atingir um sexto do valor de vendas de carros da Autoeuropa.
Os ST não terão virtualmente nenhuma incorporação portuguesa relevante. O mercado Europeu/NATO, não tem propriamente um monte de países interessados neste tipo de aeronave, logo a "participação portuguesa" não é relevante. Resta o mercado africano, sul americano e asiático, e nestes mercados, não interessa aos países ter a "versão NATO", logo qualquer venda é inconsequente para nós.
Conclusão, o volume de vendas nunca será nem de perto o que as estimativas da Embraer apontam, muito menos no que respeita ao retorno para Portugal.
Gostemos ou não, a Embraer, é a única coisa com pés para andar, cabeça, tronco e membros, e que seja parecido com uma industria aeronáutica.
Não há nem Pilatus PC-9, nem Texan's T-6 que pudessem, nem de perto nem de longe, contribuir para a criação e consolidação de uma industria aéronáutica em Portugal.
A Embraer investiu em Portugal para produzir este avião e espera atingir volumes de vendas de 600 milhões de Euros.
Os ganhos de experiência em termos técnicos, a formação de pessoal especializado, não têm igual em praticamente mais nenhum setor de atividade (quase, porque há excepções).
Começando pelo fim, com um volume de vendas de 600M, que são meramente hipotéticos, continua a ser um défice a rondar os 400M face ao que nós gastámos com a Embraer na compra dos seus produtos, e este valor é ainda maior quando consideramos o investimento que fizemos no programa do KC, durante o seu desenvolvimento.
O Pilatus PC-9 e o T-6 Texan II não seriam sequer concorrentes para aeronaves de treino avançado. Seriam sim o PC-21, M-346, T-50, entre outros modelos a jacto.
Destes, destaco a opção barata e em baixa quantidade (6) apenas para treino, PC-21.
Destaco também outra alternativa, que seria o TA-50 (sul coreano), que, se devidamente negociado, poderia ver a sua montagem final em Portugal, sendo esta uma aeronave com potencial de mercado no Ocidente, 10 a 20 vezes superior ao Super Tucano.
Se é para falar em "volumes de vendas" estritamente hipotéticos/inventados, temos que o fazer para todas as opções que deveriam ter sido consideradas, através de uma prospecção de mercado. E o que eu vejo, são vários países que têm que substituir os seus aviões de treino a jacto, e também países que procuram substituir os seus caças soviéticos antigos, por algo barato mas minimamente capaz de cumprir. A maioria destes países, terá preferência por um avião a jacto, e não avionetas COIN.
Se tivéssemos conseguido um negócio de TA-50 que envolvesse a montagem final em Portugal (ou até produção de partes da aeronave), o potencial para o futuro seria enorme. E além das exportações, este tipo de aeronave é muito mais adequado para a criação de uma escola internacional, onde os países que querem entrar neste tipo de escolas, querem ter acesso a aeronaves a jacto.
A Embraer é "a única com pés e cabeça" em Portugal, porque é a única empresa com quem procuramos negócios que envolvam a indústria nacional, por questões políticas. Nem sequer damos oportunidades a outras empresas de fazerem propostas, algo que aconteceria inevitavelmente com concursos.
A escolha do ST foi simplesmente errada em todos os níveis. Para treino avançado, em termos do "retorno para a economia", para as missões em África, tudo.