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Mensagem
por binfa » Ter Jan 24, 2012 9:05 pm
Amazônia: Defesa e Guarda *Manoel Soriano Neto
Generalidades
O Brasil é um País singular, em especial por sua população, preponderantemente cordial, generosa, alegre, miscigenada e acolhedora de povos de diversas origens. É a "Nação do Sol", onde se encontra, em abundância, a trilogia para a existência da vida: ar, água e sol; e o exemplo superlativo é a Amazônia - o nosso grande desafio.
A Pan-Amazônia ocupa 1/10 da América do Sul e 3/5 do Brasil, que detém 60% de toda a sua extensão. A Amazônia brasileira possui seis grandes tesouros:
1) a população amazônida, mestiça, com "stocks" indígenas de inúmeras etnias;
2) a sua bacia potamográfica, um verdadeiro mar interior, o "Mare Nostrum Brasileiro", sendo os principais rios, navegáveis por navios de qualquer calado;
3) a água doce de seus cursos d'água;
4) as jazidas de minérios, muitos deles, estratégicos;
5) a biodiversidade da floresta, com o maior banco genético do mundo; e
6) a posição geoestratégica, eis que cortada pela linha do Equador, o que propicia o lançamento, em excelentes condições, de sondas, satélites, mísseis, foguetes e até de naves espaciais. Acrescente-se, por ilustração, que podem ser feitos lançamentos, a partir de plataformas navais, mesmo do interior da selva, utilizando-se do longo trecho do rio Negro, próximo e paralelo à linha equatorial.
A Fragilidade Militar Brasileira
Para uma eficaz defesa do território nacional e da costa marítima, rica em petróleo (a "Amazônia Azul"), o Brasil carece de FFAA compatíveis com a sua estatura político-estratégica. Porém, desafortunadamente, tal não ocorre e a situação deveras piorou. Nas útimas duas décadas, o Brasil, por vontade de seus governantes e elites dirigentes, fragilizou-se quanto à expressão militar do Poder Nacional, renunciando à aspiração de ser, pelo menos, uma potência regional. Assim, aderimos, em 1995, ao "Tratado dos Mísseis", o MTCR, que podou a nossa capacidade de uso do aeroespaço; sujeitamo-nos aos ditames da Convenção de Ottawa, de 1996, de proscrição de minas terrestres e armadilhas; assinamos, em 1998, o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o TNP; abdicamos de nossa incipiente e pujante indústria de material bélico; retardamos o projeto do submarino à energia atômica; criamos, em 1999, o Ministério da Defesa, que só trouxe desprestígio e progressivo sucateamento às FFAA; assinamos, em 2000, com os EEUU, o entreguista "Acordo de Alcântara"; e, atualmente, se cogita da "desmilitarização" do controle do tráfego aéreo.
E mais: criamos e demarcamos, em área contínua, descomunais Reservas Indígenas, como as Ianomami (1991) e Raposa Serra do Sol (2005), da qual querem, agora, expulsar brasileiros não-índios, para que se cumpram decisões da ONU, como a absurda Resolução (de 17 Set 07), aprovada pelo Brasil (!) e que confere um status de quase independência às "nações indígenas", ficando proibidas operações militares nas terras dos índios... Tudo pode ser resumido em simples expressão: falta de patriotismo e de altivez. É que as elites pensantes brasileiras são, o mais das vezes, subservientes aos poderosos, vassalas do colonialismo econômico-cultural, como se sofressem do "complexo de vira-lata", no dizer do saudoso Nelson Rodrigues.
A Estratégia da Resistência
O Brasil possui 16.886 km de fronteiras terrestres, dos quais 75% localizam-se em nossa cobiçada Amazônia, hoje infestada de ONGs estrangeiras predadoras e espiãs. E é relevante assinalar que, em vizinhos países amazônicos, existem 20 (!) bases aéreas ou de radar dos EEUU (as "forward bases"); ora: se fosse concedida uma "soberania limitada ou restrita" àquele País, em Alcântara, como constava do vexatório Acordo, arquivado no Congresso, portanto, ainda insepulto, um cerco estratégico estaria formado na região...
Em vista dessa assustadora realidade, urge guardar e defender a Hiléia Amazônica, preciosíssimo patrimônio legado por nossos indômitos avoengos, que não trepidaram em verter o seu generoso sangue, a fim de manter a sua integridade. Todavia, em face de tantos óbices, como o da proibição do uso de minas e armadilhas, as FFAA deparam-se com um dilema: como proceder para obstar veleidades de nação ou de coalizão de nações hegemônicas, atentatórias à soberania nacional na "Amazônia Verde"?
Da percuciente análise da História Militar, pode-se inferir que é possível a países militarmente inferiorizados, resistirem a um incontrastável poderio bélico inimigo. Há exemplos disso, inclusive recentes, como o do Vietnã contra franceses e norte-americanos, em quase vinte anos de guerra. Na historiografia militar brasileira, também são registradas memoráveis ações de Resistência, máxime na Insurreição Pernambucana, de 1630 a 1654.
A "estratégia da resistência", é uma estratégia de segurança nacional, de dissuasão, também conhecida como "da lassidão, da usura, do cansaço ou do desgaste", e baseada em milenar ensinamento do chinês Sun Tsu: "Se não podes vencer a guerra contra um inimigo muito mais forte, que, pelo menos, saibas não perdê-la". É imprescindível, pois, para o prolongamento de um conflito assimétrico, uma Vontade Nacional muito firme e forte, não se permitindo ao resistente, sentar-se à mesa de negociações, após um êxito inicial do invasor.
A Resistência prevê atitudes defensivas no campo estratégico e ofensivas, no tático, com o objetivo de desgastar o inimigo, debilitando o seu moral, até levá-lo à capitulação. O confronto direto, convencional, deve ser evitado, e são empregadas, à larga, técnicas de guerra irregular, com a convicção inabalável de "saber durar", sejam quais forem os sacrifícios de uma campanha prolongada, de Davi contra Golias, e que poderá se estender a outros Teatros de Operação.
O Exército, em 1994, iniciou estudos que resultaram na "estratégia da resistência", com a indispensável participação das outras Forças Singulares. Destarte, estabeleceu-se uma doutrina ("Gama-Resistência"), com previsão de combates na selva, a qual não pode ser cedida ao agressor. Aduza-se que o Comando Militar da Amazônia conta com a melhor Escola para guerra em ambiente de floresta tropical, o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Simpósios acerca do assunto vêm, sistematicamente, sendo realizados, sendo que o primeiro deles ocorreu em 1995, na cidade de Manaus. No ano de 2004, um grupo de Oficiais do Exército estagiou no Vietnã, onde hauriu fundamentais ensinamentos.
Por derradeiro, à guisa de Conclusão, quando tanto se fala em internacionalização da Amazônia, assunto minimizado por vendilhões da Pátria, que já disseram ser "um mero delírio de nacionalisteiros paranóicos", lembremo-nos do Barão do Rio Branco. Por ocasião da "Questão de Palmas", ele respondeu, com altivez, ao plenipotenciário argentino: "Senhor. Um palmo de terra que seja, em sendo brasileiro, deve ser defendido, pelos brasileiros, a ferro, a fogo e a sangue".
Quanta saudade do Barão...
*Coronel do Exército e Historiador
credito: montedo