Guerra das Malvinas / Falkland
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- jumentodonordeste
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Re: Guerra das Malvinas
22/04/201214h42
Brasil apoiou tráfico de armas à Argentina na Guerra das Malvinas
Rio de Janeiro, 22 abr (EFE).- O Governo brasileiro prestou apoio logístico à Argentina para o abastecimento de armas soviéticas na Guerra das Malvinas, em 1982, segundo revelou neste domingo o jornal "O Globo", que reuniu documentos oficiais secretos.
Apesar de se manter oficialmente neutro no conflito entre Argentina e o Reino Unido, o Brasil cedeu o aeroporto de Recife para as escalas dos aviões que transportavam mísseis e minas desde a Líbia.
A iniciativa começou com o apoio da União Soviética (URSS) e de Cuba ao regime militar argentino na Guerra das Malvinas em meio a Guerra Fria, pelo fato do Reino Unido ser um de seus principais inimigos ao lado dos Estados Unidos.
Dessa forma, segundo um documento secreto da Marinha brasileira, um avião cubano, com aporte da URSS, seguia para Buenos Aires com armas, quando foi interceptado por autoridades brasileiras. A aeronave voava clandestinamente e os países não mantinham relações diplomáticas.
No entanto, o regime militar permitiu a continuação da viagem após uma negociação de seis horas com o país vizinho. Daí em diante, os voos da companhia Aerolíneas Argentinas com armas entre Líbia e Buenos Aires, com escala em Recife, chegaram a alcançar uma frequência de dois por dia.
Nesse período, um documento do Conselho de Segurança Nacional do Brasil registrou que a Argentina estreitou "gradualmente" seus contatos com Brasília, com pedidos de ajuda na compra de aviões, bombas incendiárias, munição para fuzis, sistemas de radar e querosene de aviação. As repostas brasileiras eram quase sempre favoráveis. Mas, quando era negativa, os argentinos recorriam ao apoio do Peru, que teria fornecido caças e mísseis comprados ao mercado negro, segundo "O Globo".
O fornecimento de armas também partia de Israel e seguia duas rotas, uma com escalas nas Ilhas Canárias (Espanha) e Rio de Janeiro, e a outra, através de Caracas e Lima.
O jornal ainda publicou um documento da embaixada britânica criticando o Brasil por ceder seus aeroportos aos voos da Argentina com carregamento de armas. Brasília respondeu a Londres que em suas revisões dos voos da Aerolíneas Argentinas "não encontrou nada de natureza militar".
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noti ... jornal.htm
Brasil apoiou tráfico de armas à Argentina na Guerra das Malvinas
Rio de Janeiro, 22 abr (EFE).- O Governo brasileiro prestou apoio logístico à Argentina para o abastecimento de armas soviéticas na Guerra das Malvinas, em 1982, segundo revelou neste domingo o jornal "O Globo", que reuniu documentos oficiais secretos.
Apesar de se manter oficialmente neutro no conflito entre Argentina e o Reino Unido, o Brasil cedeu o aeroporto de Recife para as escalas dos aviões que transportavam mísseis e minas desde a Líbia.
A iniciativa começou com o apoio da União Soviética (URSS) e de Cuba ao regime militar argentino na Guerra das Malvinas em meio a Guerra Fria, pelo fato do Reino Unido ser um de seus principais inimigos ao lado dos Estados Unidos.
Dessa forma, segundo um documento secreto da Marinha brasileira, um avião cubano, com aporte da URSS, seguia para Buenos Aires com armas, quando foi interceptado por autoridades brasileiras. A aeronave voava clandestinamente e os países não mantinham relações diplomáticas.
No entanto, o regime militar permitiu a continuação da viagem após uma negociação de seis horas com o país vizinho. Daí em diante, os voos da companhia Aerolíneas Argentinas com armas entre Líbia e Buenos Aires, com escala em Recife, chegaram a alcançar uma frequência de dois por dia.
Nesse período, um documento do Conselho de Segurança Nacional do Brasil registrou que a Argentina estreitou "gradualmente" seus contatos com Brasília, com pedidos de ajuda na compra de aviões, bombas incendiárias, munição para fuzis, sistemas de radar e querosene de aviação. As repostas brasileiras eram quase sempre favoráveis. Mas, quando era negativa, os argentinos recorriam ao apoio do Peru, que teria fornecido caças e mísseis comprados ao mercado negro, segundo "O Globo".
O fornecimento de armas também partia de Israel e seguia duas rotas, uma com escalas nas Ilhas Canárias (Espanha) e Rio de Janeiro, e a outra, através de Caracas e Lima.
O jornal ainda publicou um documento da embaixada britânica criticando o Brasil por ceder seus aeroportos aos voos da Argentina com carregamento de armas. Brasília respondeu a Londres que em suas revisões dos voos da Aerolíneas Argentinas "não encontrou nada de natureza militar".
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noti ... jornal.htm
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Re: Guerra das Malvinas
Deve ter sido sim, só não sei se junto com o Vulcan.
Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.
- Alcantara
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Re: Guerra das Malvinas
O Vulcan foi reparado e voltou voando para a Grã-Bretanha. O Shrike voltou depois. Foi embarcado em um Hércules da FAB que, oficialmente, estava indo à Inglaterra buscar "peça de reposição".jumentodonordeste escreveu:Tem certeza que o Shrike foi devolvido?
"Se o Brasil quer ser, então tem que ter!"
- Marino
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Re: Guerra das Malvinas
Na Guerra das Malvinas, um flerte com a morte sobre o Atlântico Sul
Britânicos confundiram avião e quase abateram DC-10 com 188 pessoas - entre elas Brizola
José Casado
Eliane Oliveira
RIO - Aconteceu na tarde de sexta-feira, 23 de abril de 1982. Quem estava sentado do lado
esquerdo do avião levou um grande susto: apareceu um jato militar, bem armado e com pintura de
camuflagem, junto da asa do DC-10 da Varig. Foi por pouco tempo — o suficiente para provocar tumulto.
De repente, o caça deu uma guinada e desapareceu. Deixou perplexidade bastante para animar a
conversa a bordo naquele fim de viagem Johanesburgo-Rio.
Ao desembarcar no aeroporto do Galeão, por volta das 19h30m, cada passageiro tinha uma
breve história para contar. Um deles era Leonel Brizola, então candidato ao governo do Estado do Rio.
"Dava para ver o perfil do piloto", ele disse ao GLOBO na época. Brizola (1922-2004) e seus
companheiros de viagem não podiam imaginar, mas aquilo fora um flerte com a morte.
Quando o DC-10 foi captado na tela dos radares, a frota britânica navegava a dois mil
quilômetros de distância das praias do Rio. Avançava na direção do arquipélago Malvinas, invadido por
tropas argentinas três semanas antes.
O almirante John Forster "Sandy" Woodward comandava uma operação arriscada, a 13 mil
quilômetros das bases europeias, limitada no calendário pelo início do inverno polar. E, também, limitada
no tempo, porque o governo da primeira-ministra Margareth Thatcher não sobreviveria se a missão
resultasse em fiasco ou numa "viagem inútil a lugar nenhum" — na definição do Bureau de Inteligência
do Departamento de Estado norte-americano.
Há quatro dias a esquadra deixara a base da ilha de Ascensão, na altura de Pernambuco, e era
frequentemente sobrevoada por um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas. Toda a estratégia de defesa
da Junta Militar dependia da localização dos navios para estimativas sobre a data mais provável de
chegada da frota à zona de combate.
Incomodado com as missões de "reconhecimento", Woodward pediu mudanças nas regras de
interceptação. Até então, dependia de autorização expressa de Londres para abrir fogo contra aeronaves
consideradas como "ameaça", fora da "zona de exclusão aérea", mesmo que estivessem desarmadas.
Recebeu autonomia na quinta-feira 22 de abril, quando o secretário de Defesa, John Nott, anunciou
alterações no sistema de "alerta de defesa" da frota — sob o argumento de que a esquadra já se
encontrava ao alcance das Força Aérea argentina.
Na manhã de sexta-feira, 23, um Boeing 707 da Aerolíneas despontou nos radares, e
desapareceu — indicam os registros coletados pelo historiador militar britânico Rupert Allason, cujos
livros são assinados com o pseudônimo Nigel West.
À tarde, outro alarme: aeronave suspeita a 340 quilômetros de distância, dez mil metros de
altitude, em aproximação a 700 quilômetros por hora. O momento não poderia ser pior, descreveu
Woodward nas memórias, porque o porta-aviões Hermes estava em meio ao reabastecimento. Preparouse
o lançamento de mísseis.
Um caça Harrier se aproximou do "alvo". Chegou por trás; passou por cima; ficou à frente; foi
para o lado esquerdo; deu uma guinada e sumiu, sem responder às tentativas de contato do comandante
do DC-10, Manoel Mendes — segundo ele mesmo relatou aos passageiros curiosos, como Leonel
Brizola e o então deputado maranhense Neiva Moreira.
O piloto do caça confirmara o "alvo" como jato comercial regular da companhia brasileira Varig,
em voo de rotina e com as luzes de cabine devidamente acesas. Woodward calcula em 30 segundos e
Allason (West) estima em 20 segundos o intervalo entre o reconhecimento pelo Harrier e a ordem para
abortar o ataque. A bordo do DC-10 da Varig, 188 pessoas não sabiam, mas durante essa fração de
tempo flertaram com a morte. E o comandante Woodward escapou de um erro que, certamente, teria
mudado a história da guerra no Atlântico Sul.
Longe dali, no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, desembarcavam os últimos oficiais
argentinos vindos da América Central. Desde 1980 a Argentina estava engajada no plano de ação militar
do governo Ronald Reagan contra a "ameaça comunista" no eixo El Salvador, Honduras e Nicarágua.
Quando o arquipélago Malvinas foi invadido, no 2 de abril, o governo do general Leopoldo Galtieri
sustentava 180 agentes militares e civis em operações encobertas contra guerrilhas centro-americanas.
A participação argentina havia sido negociada pelo coronel Vernon Walters, ex-diretor da CIA, e era
coordenada pelo embaixador John Negroponte, em Honduras, com assistência do coronel Oliver North,
em Washington.
Sob o manto da Guerra Fria, Reagan fizera uma aliança com a ditadura militar argentina,
ferozmente anticomunista. Ganhou uma força antiguerrilha auxiliar — imune às leis dos EUA —, para
compor unidades como o "Batalhão 316", um esquadrão da morte, com histórico de assasinatos, tráfico
de armamentos e de drogas (para financiar a compra de armas). Os agentes argentinos participaram
ativamente.
Essa era uma das razões pelas quais a Junta Militar argentina julgava-se "aliada estratégica" dos
EUA. E apostou no apoio norte-americano para "neutralizar" a reação da Grã-Bretanha à invasão das
Malvinas no 2 de abril de 1982.
Cinco meses antes, o general Galtieri até tentou aprofundar essa aliança. Em novembro de 1981
foi a uma reunião de chefes de exércitos do continente, em Washington, onde apresentou a proposta de
uma força "interamericana" para ampliar a intervenção militar na América Central. O governo Reagan
saudou, mas Brasília despejou uma lápide em cima dessa ideia (em papéis internos, o Itamaraty passou
a defini-la como "divergência não publicitada" nas relações com a Argentina).
Na esteira da crise pós-invasão militar das Malvinas, os EUA recordaram que sua prioridade e
compromisso era a aliança militar com o Reino Unido. A Junta Militar argentina reagiu e retirou seus
agentes da América Central.
Em Brasília, essa decisão foi interpretada pelo Conselho de Segurança Nacional como evidência
de uma crise entre Buenos Aires e Washington, cujo resultado seria uma valorização "do peso específico
da posição brasileira no continente".
Numa das análises enviadas ao presidente da República, general João Figueiredo, em abril, o
CSN considerou que ao governo Galtieri só restava uma alternativa: "Procurar uma aproximação maior
com o Brasil em todos os planos". E, para o governo Reagan — acrescentou —, "se antes a posição
brasileira já era considerada fundamental (na América Latina), agora a impossibilidade de garantir o
apoio argentino a tornará imprescindível".
Estava em curso uma diplomacia "de resultados" —- como definiu o chanceler Ramiro Saraiva
Guerreiro, com peculiar ironia.
Britânicos confundiram avião e quase abateram DC-10 com 188 pessoas - entre elas Brizola
José Casado
Eliane Oliveira
RIO - Aconteceu na tarde de sexta-feira, 23 de abril de 1982. Quem estava sentado do lado
esquerdo do avião levou um grande susto: apareceu um jato militar, bem armado e com pintura de
camuflagem, junto da asa do DC-10 da Varig. Foi por pouco tempo — o suficiente para provocar tumulto.
De repente, o caça deu uma guinada e desapareceu. Deixou perplexidade bastante para animar a
conversa a bordo naquele fim de viagem Johanesburgo-Rio.
Ao desembarcar no aeroporto do Galeão, por volta das 19h30m, cada passageiro tinha uma
breve história para contar. Um deles era Leonel Brizola, então candidato ao governo do Estado do Rio.
"Dava para ver o perfil do piloto", ele disse ao GLOBO na época. Brizola (1922-2004) e seus
companheiros de viagem não podiam imaginar, mas aquilo fora um flerte com a morte.
Quando o DC-10 foi captado na tela dos radares, a frota britânica navegava a dois mil
quilômetros de distância das praias do Rio. Avançava na direção do arquipélago Malvinas, invadido por
tropas argentinas três semanas antes.
O almirante John Forster "Sandy" Woodward comandava uma operação arriscada, a 13 mil
quilômetros das bases europeias, limitada no calendário pelo início do inverno polar. E, também, limitada
no tempo, porque o governo da primeira-ministra Margareth Thatcher não sobreviveria se a missão
resultasse em fiasco ou numa "viagem inútil a lugar nenhum" — na definição do Bureau de Inteligência
do Departamento de Estado norte-americano.
Há quatro dias a esquadra deixara a base da ilha de Ascensão, na altura de Pernambuco, e era
frequentemente sobrevoada por um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas. Toda a estratégia de defesa
da Junta Militar dependia da localização dos navios para estimativas sobre a data mais provável de
chegada da frota à zona de combate.
Incomodado com as missões de "reconhecimento", Woodward pediu mudanças nas regras de
interceptação. Até então, dependia de autorização expressa de Londres para abrir fogo contra aeronaves
consideradas como "ameaça", fora da "zona de exclusão aérea", mesmo que estivessem desarmadas.
Recebeu autonomia na quinta-feira 22 de abril, quando o secretário de Defesa, John Nott, anunciou
alterações no sistema de "alerta de defesa" da frota — sob o argumento de que a esquadra já se
encontrava ao alcance das Força Aérea argentina.
Na manhã de sexta-feira, 23, um Boeing 707 da Aerolíneas despontou nos radares, e
desapareceu — indicam os registros coletados pelo historiador militar britânico Rupert Allason, cujos
livros são assinados com o pseudônimo Nigel West.
À tarde, outro alarme: aeronave suspeita a 340 quilômetros de distância, dez mil metros de
altitude, em aproximação a 700 quilômetros por hora. O momento não poderia ser pior, descreveu
Woodward nas memórias, porque o porta-aviões Hermes estava em meio ao reabastecimento. Preparouse
o lançamento de mísseis.
Um caça Harrier se aproximou do "alvo". Chegou por trás; passou por cima; ficou à frente; foi
para o lado esquerdo; deu uma guinada e sumiu, sem responder às tentativas de contato do comandante
do DC-10, Manoel Mendes — segundo ele mesmo relatou aos passageiros curiosos, como Leonel
Brizola e o então deputado maranhense Neiva Moreira.
O piloto do caça confirmara o "alvo" como jato comercial regular da companhia brasileira Varig,
em voo de rotina e com as luzes de cabine devidamente acesas. Woodward calcula em 30 segundos e
Allason (West) estima em 20 segundos o intervalo entre o reconhecimento pelo Harrier e a ordem para
abortar o ataque. A bordo do DC-10 da Varig, 188 pessoas não sabiam, mas durante essa fração de
tempo flertaram com a morte. E o comandante Woodward escapou de um erro que, certamente, teria
mudado a história da guerra no Atlântico Sul.
Longe dali, no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, desembarcavam os últimos oficiais
argentinos vindos da América Central. Desde 1980 a Argentina estava engajada no plano de ação militar
do governo Ronald Reagan contra a "ameaça comunista" no eixo El Salvador, Honduras e Nicarágua.
Quando o arquipélago Malvinas foi invadido, no 2 de abril, o governo do general Leopoldo Galtieri
sustentava 180 agentes militares e civis em operações encobertas contra guerrilhas centro-americanas.
A participação argentina havia sido negociada pelo coronel Vernon Walters, ex-diretor da CIA, e era
coordenada pelo embaixador John Negroponte, em Honduras, com assistência do coronel Oliver North,
em Washington.
Sob o manto da Guerra Fria, Reagan fizera uma aliança com a ditadura militar argentina,
ferozmente anticomunista. Ganhou uma força antiguerrilha auxiliar — imune às leis dos EUA —, para
compor unidades como o "Batalhão 316", um esquadrão da morte, com histórico de assasinatos, tráfico
de armamentos e de drogas (para financiar a compra de armas). Os agentes argentinos participaram
ativamente.
Essa era uma das razões pelas quais a Junta Militar argentina julgava-se "aliada estratégica" dos
EUA. E apostou no apoio norte-americano para "neutralizar" a reação da Grã-Bretanha à invasão das
Malvinas no 2 de abril de 1982.
Cinco meses antes, o general Galtieri até tentou aprofundar essa aliança. Em novembro de 1981
foi a uma reunião de chefes de exércitos do continente, em Washington, onde apresentou a proposta de
uma força "interamericana" para ampliar a intervenção militar na América Central. O governo Reagan
saudou, mas Brasília despejou uma lápide em cima dessa ideia (em papéis internos, o Itamaraty passou
a defini-la como "divergência não publicitada" nas relações com a Argentina).
Na esteira da crise pós-invasão militar das Malvinas, os EUA recordaram que sua prioridade e
compromisso era a aliança militar com o Reino Unido. A Junta Militar argentina reagiu e retirou seus
agentes da América Central.
Em Brasília, essa decisão foi interpretada pelo Conselho de Segurança Nacional como evidência
de uma crise entre Buenos Aires e Washington, cujo resultado seria uma valorização "do peso específico
da posição brasileira no continente".
Numa das análises enviadas ao presidente da República, general João Figueiredo, em abril, o
CSN considerou que ao governo Galtieri só restava uma alternativa: "Procurar uma aproximação maior
com o Brasil em todos os planos". E, para o governo Reagan — acrescentou —, "se antes a posição
brasileira já era considerada fundamental (na América Latina), agora a impossibilidade de garantir o
apoio argentino a tornará imprescindível".
Estava em curso uma diplomacia "de resultados" —- como definiu o chanceler Ramiro Saraiva
Guerreiro, com peculiar ironia.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- rodrigo
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Re: Guerra das Malvinas
E qual é o armamento soviético utilizado/fotografado/apreendido no conflito? Nunca ouvi falar.No entanto, o regime militar permitiu a continuação da viagem após uma negociação de seis horas com o país vizinho. Daí em diante, os voos da companhia Aerolíneas Argentinas com armas entre Líbia e Buenos Aires, com escala em Recife, chegaram a alcançar uma frequência de dois por dia.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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Re: Guerra das Malvinas
Li essa matéria há anos atrás e a aeronave da Varig seria um 707 (que fazia linha para a África do Sul), confundido com um dos "TCs" da FAA. A interceptação foi feita por um Sea Harrier que já tinha autorização para bater o "intruso" (que já havia sido plotado nos radares britânicos outras vezes) mas que na última hora resolveu fazer um check visual. A matéria, que se não me engano li em uma Visão ou Veja, de vários anos atrás, dizia que se tivessem abatido o avião civil brasileiro os britânicos poderiam ter que abdicar da soberania das ilhas. Nem sei se chegari a tanto mas certamente traria seríssimos problemas diplomáticos para a Grã-Bretanha. Também li certa vez do caso de um petroleiro que foi atingido por uma bomba que não explodiu; é mais um his (ou es) tória dessa guerra para ser confirmada.Marino escreveu:Na Guerra das Malvinas, um flerte com a morte sobre o Atlântico Sul
Britânicos confundiram avião e quase abateram DC-10 com 188 pessoas - entre elas Brizola
José Casado
Eliane Oliveira
RIO - Aconteceu na tarde de sexta-feira, 23 de abril de 1982. Quem estava sentado do lado
esquerdo do avião levou um grande susto: apareceu um jato militar, bem armado e com pintura de
camuflagem, junto da asa do DC-10 da Varig. Foi por pouco tempo — o suficiente para provocar tumulto.
De repente, o caça deu uma guinada e desapareceu. Deixou perplexidade bastante para animar a
conversa a bordo naquele fim de viagem Johanesburgo-Rio.
Ao desembarcar no aeroporto do Galeão, por volta das 19h30m, cada passageiro tinha uma
breve história para contar. Um deles era Leonel Brizola, então candidato ao governo do Estado do Rio.
"Dava para ver o perfil do piloto", ele disse ao GLOBO na época. Brizola (1922-2004) e seus
companheiros de viagem não podiam imaginar, mas aquilo fora um flerte com a morte.
Quando o DC-10 foi captado na tela dos radares, a frota britânica navegava a dois mil
quilômetros de distância das praias do Rio. Avançava na direção do arquipélago Malvinas, invadido por
tropas argentinas três semanas antes.
O almirante John Forster "Sandy" Woodward comandava uma operação arriscada, a 13 mil
quilômetros das bases europeias, limitada no calendário pelo início do inverno polar. E, também, limitada
no tempo, porque o governo da primeira-ministra Margareth Thatcher não sobreviveria se a missão
resultasse em fiasco ou numa "viagem inútil a lugar nenhum" — na definição do Bureau de Inteligência
do Departamento de Estado norte-americano.
Há quatro dias a esquadra deixara a base da ilha de Ascensão, na altura de Pernambuco, e era
frequentemente sobrevoada por um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas. Toda a estratégia de defesa
da Junta Militar dependia da localização dos navios para estimativas sobre a data mais provável de
chegada da frota à zona de combate.
Incomodado com as missões de "reconhecimento", Woodward pediu mudanças nas regras de
interceptação. Até então, dependia de autorização expressa de Londres para abrir fogo contra aeronaves
consideradas como "ameaça", fora da "zona de exclusão aérea", mesmo que estivessem desarmadas.
Recebeu autonomia na quinta-feira 22 de abril, quando o secretário de Defesa, John Nott, anunciou
alterações no sistema de "alerta de defesa" da frota — sob o argumento de que a esquadra já se
encontrava ao alcance das Força Aérea argentina.
Na manhã de sexta-feira, 23, um Boeing 707 da Aerolíneas despontou nos radares, e
desapareceu — indicam os registros coletados pelo historiador militar britânico Rupert Allason, cujos
livros são assinados com o pseudônimo Nigel West.
À tarde, outro alarme: aeronave suspeita a 340 quilômetros de distância, dez mil metros de
altitude, em aproximação a 700 quilômetros por hora. O momento não poderia ser pior, descreveu
Woodward nas memórias, porque o porta-aviões Hermes estava em meio ao reabastecimento. Preparouse
o lançamento de mísseis.
Um caça Harrier se aproximou do "alvo". Chegou por trás; passou por cima; ficou à frente; foi
para o lado esquerdo; deu uma guinada e sumiu, sem responder às tentativas de contato do comandante
do DC-10, Manoel Mendes — segundo ele mesmo relatou aos passageiros curiosos, como Leonel
Brizola e o então deputado maranhense Neiva Moreira.
O piloto do caça confirmara o "alvo" como jato comercial regular da companhia brasileira Varig,
em voo de rotina e com as luzes de cabine devidamente acesas. Woodward calcula em 30 segundos e
Allason (West) estima em 20 segundos o intervalo entre o reconhecimento pelo Harrier e a ordem para
abortar o ataque. A bordo do DC-10 da Varig, 188 pessoas não sabiam, mas durante essa fração de
tempo flertaram com a morte. E o comandante Woodward escapou de um erro que, certamente, teria
mudado a história da guerra no Atlântico Sul.
Longe dali, no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, desembarcavam os últimos oficiais
argentinos vindos da América Central. Desde 1980 a Argentina estava engajada no plano de ação militar
do governo Ronald Reagan contra a "ameaça comunista" no eixo El Salvador, Honduras e Nicarágua.
Quando o arquipélago Malvinas foi invadido, no 2 de abril, o governo do general Leopoldo Galtieri
sustentava 180 agentes militares e civis em operações encobertas contra guerrilhas centro-americanas.
A participação argentina havia sido negociada pelo coronel Vernon Walters, ex-diretor da CIA, e era
coordenada pelo embaixador John Negroponte, em Honduras, com assistência do coronel Oliver North,
em Washington.
Sob o manto da Guerra Fria, Reagan fizera uma aliança com a ditadura militar argentina,
ferozmente anticomunista. Ganhou uma força antiguerrilha auxiliar — imune às leis dos EUA —, para
compor unidades como o "Batalhão 316", um esquadrão da morte, com histórico de assasinatos, tráfico
de armamentos e de drogas (para financiar a compra de armas). Os agentes argentinos participaram
ativamente.
Essa era uma das razões pelas quais a Junta Militar argentina julgava-se "aliada estratégica" dos
EUA. E apostou no apoio norte-americano para "neutralizar" a reação da Grã-Bretanha à invasão das
Malvinas no 2 de abril de 1982.
Cinco meses antes, o general Galtieri até tentou aprofundar essa aliança. Em novembro de 1981
foi a uma reunião de chefes de exércitos do continente, em Washington, onde apresentou a proposta de
uma força "interamericana" para ampliar a intervenção militar na América Central. O governo Reagan
saudou, mas Brasília despejou uma lápide em cima dessa ideia (em papéis internos, o Itamaraty passou
a defini-la como "divergência não publicitada" nas relações com a Argentina).
Na esteira da crise pós-invasão militar das Malvinas, os EUA recordaram que sua prioridade e
compromisso era a aliança militar com o Reino Unido. A Junta Militar argentina reagiu e retirou seus
agentes da América Central.
Em Brasília, essa decisão foi interpretada pelo Conselho de Segurança Nacional como evidência
de uma crise entre Buenos Aires e Washington, cujo resultado seria uma valorização "do peso específico
da posição brasileira no continente".
Numa das análises enviadas ao presidente da República, general João Figueiredo, em abril, o
CSN considerou que ao governo Galtieri só restava uma alternativa: "Procurar uma aproximação maior
com o Brasil em todos os planos". E, para o governo Reagan — acrescentou —, "se antes a posição
brasileira já era considerada fundamental (na América Latina), agora a impossibilidade de garantir o
apoio argentino a tornará imprescindível".
Estava em curso uma diplomacia "de resultados" —- como definiu o chanceler Ramiro Saraiva
Guerreiro, com peculiar ironia.
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Re: Guerra das Malvinas
Achei a notícia, mas não me lembro da fonte...Vinte segundos separaram um Boeing 707 da VARIG de um míssil Sidewinder britânico durante a Guerra das Malvinas. A informação faz parte do livro Cem dias, de John Woodward, comandante das forças britânicas durante o coniflito com as tropas argentinas, publicado em capítulos pelo jornal londrino Daily Mail.
No dia 21 de abril de 1982, de acordo com o relato do militar, um objeto não- identificado foi captado pelo sistema de radar do porta-aviões Hermes, que estava a caminho do arquipélago situado no Atlântico Sul e recém-ocupado pelas forças argentinas. Como o objeto voava a longa distância, um avião Sea Harrier recebeu ordens de decolar para interceptá-lo. Ao se aproximar, o piloto informou tratar-se de um Boeing 707 sem armas de combate e disse que o avião estranho havia mudado sua rota ao avistar o caça britânico.
Cometeu, no entanto, um equívoco perigoso: identificou, por engano, insígnias da Força Aérea Argentina no Boeing e confundiu a aeronave brasileira da VARIG, a caminho da África do Sul, com um avião de reconhecimento argentino. O erro foi percebido quando o alvo já estava na mira do caça. "Todo o curso da guerra teria mudado caso essa tragédia ocorresse" , admitiu o comandante no livro. Woodward relata o episódio com riqueza de detalhes. Uma foto tirada pelo piloto deixava supor que o Boeing 707-323 da VARIG havia sido convertido num avião de reconhecimento militar. Sua missão, na rápida avaliação do comandante, seria checar o tamanho e as rotas da frota inimiga. "Era o ladrão", concluiu na ocasião. "Pareceu-me que aquele tipo de coisa poderia continuar. Assim, ordenei a derrubada do avião, contou.
Na manha do dia 22 de abril, exatamente às 11h34, o avião foi novamente detectado pelos radares do Hermes. Dessa vez, mais prevenido, o comandante enviou uma patrulha de combate para interceptar o 707-323 da VARIG, mas a missão fracassou e o avião desapareceu. No início da noite, o suposto ''inimigo'' voltou a aparecer e chegou a entrar na linha de alcance dos mísseis britânicos. Nesse momento, Woodward chegou a desconfiar do engano monumental, mas em seguida manteve seus planos. "O ladrão tem nos visitado há três dias. É hora de tirá-lo de cena", decretou. Mantida a sentença, um caça Sea Harrier aproximou-se do Boeing 707. Mas, a 20 segundos de fuzilá-lo, o piloto percebe um novo detalhe. "O avião parece estar numa linha direta de Durban ( na Africa do Sul ) para o Rio de Janeiro", informa pelo rádio.
O comandante gritou imediatamente: " Armas paradas !" Em seguida. ordenou a aproximação de um caça para realizar a identificação visual do ''ini-migo''. O erro, então, é finalmente descoberto. O piloto britânico informa tratar-se de um avião comercial brasileiro, com luzes de navegação e de cabine devidamente acesas e posicionado na rota noroeste Durban-Rio de Janeiro. Essa conclusão acabou por revelar um outro mistério: as duas companhias aéreas que operam entre o Brasil e a Africa do Sul - VARIG e South Afriean Airlines (SAA) - só fazem vôos para Joanesburgo. 'Se tivésse-mos abatido aquele Boeing, a Grã-Bretanha certamente teria perdido a soberania sobre as Falklands ( nome que os Britânicos dão às Malvinas ). Que outra opção restaria ao governo americano senão a de retirar o seu apoio a Londres ?', pergunta ele.
"A força-tarefa britânica seria chamada a regressar, as Falklands seriam hoje Malvinas e eu teria sido conduzido a uma corte marcial", imagina Woodward. Ele admite que nem mesmo a então primeira-ministra britânica, Margarert Thatcher, foi informada sobre o episódio. A derrubada do avião brasileiro, na avaliação feita pelo comandante em seu livro, provocaria um "furor mundial" semelhante ao ocorrido em 1983 com o equivocado ataque promovido pela aviação soviética a um Boeing 747 sul-coreano. O incidente provocou a morte de 269 pessoas. Na época, o então presidente americano, Ronald Reagan, exigiu desculpas formais de Moscou, mas a URSS alegou que o avião não respondeu às tentativas de comunicação emitidas pelos caças soviéticos e acusou os Estados Unidos de terem usado o avião como cobertura para uma missão de espionagem.
Cinco anos depois, no final da guerra entre Irã e Iraque, um navio de guerra americano estacionado no Golfo Pérsico confundiu um Airbus comercial iraniano com um F14 e o abateu, causando a morte das 290 pessoas a bordo. A guerra das Malvinas, iniciada em 2 de abril de 1982 com o desembarque das forças argentinas na ilha e concluída em junho com a retomada do arquipélago pelos britânicos, não precisou, porém, de acidentes para deixar um trágico saldo: 712 argentinos e 255 britânicos mortos em combate. Durante o conflito, um bombardeiro Vulcan invadiu o espaço aéreo brasileiro e foi interceptado por caças F5E da FAB. A Argentina exigiu do governo brasileiro a devolução do avião após o fim da guerra, mas o pedido foi negado. No dia 11 de junho, três dias antes de Buenos Aires assumir uma derrota humilhante, o Vulcan decolou rumo à base britânica de Ascensão, depois da promessa de Londres não usá-lo nos combates.
Até mais!
Thiago
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Re: Guerra das Malvinas
É, o artigo é parecido com esse. Não me lembrava direito do que os britânicos chamavam o 707: ladrão!
[].
[].
- Carlos Lima
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Re: Guerra das Malvinas
Na verdade esses foram 2 incidentes separados... 1 em um avião em rota para a Africa do Sul (707) e o outro o DC-10 vindo da Alemanha (aquele com o Brizola).
Os vôos de reconhecimento argentino utilizando rotas e aeronaves como o 707 deixou os ingleses doidos e poderia dar uma M... danada.
Além do mais essa tática argentina é uma velha conhecida da FAB e o pessoal do 1 1/4 Pampa sabe muito sobre isso...
[]s
CB_Lima
Os vôos de reconhecimento argentino utilizando rotas e aeronaves como o 707 deixou os ingleses doidos e poderia dar uma M... danada.
Além do mais essa tática argentina é uma velha conhecida da FAB e o pessoal do 1 1/4 Pampa sabe muito sobre isso...
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CB_Lima
CB_Lima = Carlos Lima
- Sávio Ricardo
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Re: Guerra das Malvinas
Os Argies faziam isso também contra nós Lima?Carlos Lima escreveu:Além do mais essa tática argentina é uma velha conhecida da FAB e o pessoal do 1 1/4 Pampa sabe muito sobre isso...
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CB_Lima
Não sabia...
- Sávio Ricardo
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Re: Guerra das Malvinas
Mas eles sobrevoavam nossas BA e outros pontos estratégicos e nós nunca passamos nem um sustinho basico neles????
- Marino
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Re: Guerra das Malvinas
Começou a desandar a série de reportagens do Globo sobre as Malvinas.
Se os repórteres fizessem uma pesquisa com qualquer uma das FA descobririam que uma Crise Internacional Político-Estratégica é conduzida por diplomatas e não por militares.
Os militares são instrumentos para a condução política da crise.
Mas seria pedir demais.
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Malvinas: como a Argentina enganou o governo brasileiro
Surpreendido, general Figueiredo entregou condução da crise aos civis do Itamaraty
JOSÉ CASADO
ELIANE OLIVEIRA
Publicado:
23/04/12 - 23h11
Atualizado:
24/04/12 - 0h00
Comentários: 31
Envios por mail: 0
O Porta Aviões Invincible, da Marinha Real Britânica, participou da Guerra das Malvinas
AGÊNCIA O GLOBO
RIO E BRASÍLIA - Na tarde de quinta-feira, 1 de abril de 1982, a embaixada brasileira em Buenos Aires enviou uma mensagem para o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. O telegrama passava ao largo da crise diplomática entre a Argentina e o Reino Unido, que crescia desde março e motivara uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Numa dúzia de linhas, o embaixador Carlos Frederico Duarte relatou a comemoração da noite anterior pelo 18º aniversário do golpe de 1964 no Brasil. E registrou sua homenagem ao governo local com a entrega — "em cerimônia solene"— das principais insígnias do Exército e da Marinha brasileira a seis oficiais argentinos.
Quatro dos condecorados pelo embaixador foram, recentemente, condenados por sequestros de bebês recém-nascidos, filhos de presos políticos, tortura, assassinatos e roubo de propriedades dos detidos. São eles: almirante Juan Lombardo (Mérito Naval brasileiro); general de divisão Juan Ricardo Trimarco (Mérito Militar); e os coronéis Mario Davico e Ángel Gómez Pola (Medalhas do Pacificador).
O telegrama foi recebido no Itamaraty às 18h, quando os fuzileiros Diego García Quiroga e Jacinto Eliseo Batista, sob uniformes de combate e rostos pintados com graxa, repassavam mapas e fotografias de alvos considerados estratégicos para os comandos de assalto. Quiroga viajava oculto na água, em um submarino. Batista deslizava na superfície do Atlântico Sul, a bordo de uma fragata. Atrás deles vinham 40 navios, com os milhares de soldados mobilizados em todo o o país e embarcados nas bases de Puerto Belgrano e Ushuaia, no sul. A frota avançava rápido na direção de um arquipélago a 500 quilômetros do continente.
Quando terminou de jantar, por volta das 22h30m daquela quinta-feira, o embaixador brasileiro recebeu um telefonema do chanceler argentino Nicanor Costa Méndez. O diálogo beirou a trivialidade — exceto por um detalhe: Costa Méndez avisou que no dia seguinte deveria haver "alguma novidade" sobre a crise diplomática com o Reino Unido. "Provavelmente", ele disse, "algum enfrentamento no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas".
Duarte anotou e pediu para ser avisado "sobre a evolução". Não sabia, mas enquanto ouvia Méndez, o presidente da Argentina, general Leopoldo Galtieri, falava ao telefone com o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que tentou fazê-lo recuar da invasão das Malvinas — sem êxito. Não sabia, também, que ao entregar uma insígnia da Marinha brasileira ao almirante Juan José Lombardo havia condecorado o comandante do Teatro de Operações do Atlântico Sul — designado em segredo três meses antes.
O embaixador desligou o telefone e compartilhou impressões com seu principal conselheiro, o diplomata Luiz Mattoso Amado Maia. Antes de dormir, eles enviaram mais um telegrama a Brasília comentando "o tom alarmista" da imprensa em relação à crise. Até o final de suas carreiras, Duarte e Maia não perceberam que haviam sido enganados pelo governo argentino e, sobretudo, por Méndez. O chanceler esteve diretamente envolvido no plano de invasão desde a posse, em dezembro de 1981. E estimulara a Junta Militar a antecipar o "Dia D", originalmente previsto para maio.
O embaixador foi dormir quando a Argentina entrava em uma guerra com o Reino Unido
No fim daquela noite o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, chegou a Nova York. Vinha da China e, exausto, foi dormir. Acordou na manhã de sexta-feira, 2 de abril, com o assessor Bernardo Pericás socando a porta do quarto, para avisar que jornalistas o esperavam no saguão do hotel. "Falo no Brasil" — resmungou, imaginando que o assunto era sua viagem à China. "Não, ministro", replicou o assessor, "eles querem falar logo com o senhor, porque a Argentina invadiu as Malvinas".
Aos 64 anos, Guerreiro se tornara um profissional do cálculo político. Detestava surpresas, assim como não surpreendia — falava com tom monocórdio e até parecia dormir durante os próprios discursos. Somava três décadas de experiência na diplomacia com a sagacidade adquirida no trabalho de comissário de polícia na zona do Mangue, efervescente área de prostituição do Rio de Janeiro nos final dos anos 30. Agora, estava ali, apanhado "de robe de chambre" num quarto de hotel — como registrou nas memórias—, absolutamente surpreso, perplexo e incrédulo. "Isso é maluquice!" — desabafou.
Vestiu-se, desceu e improvisou: 1) Desde 1833, no Império, o Brasil apoiava a reivindicação de soberania da Argentina sobre o arquipélago; 2) Sempre apostou em uma solução do problema pacífica, mas diante da ocupação das ilhas só restava esperar que a situação não se agravasse ainda mais.
A declaração ressoava cautela, pontuava coerência histórica no apoio, continha uma crítica velada à invasão e demonstrava senso de oportunidade na crise. O presidente João Figueiredo, incomodado porque também soube pelos jornais, decidiu que seria essa a moldura política das ações do governo na crise.
Guerreiro, que tinha laços de parentesco com o segundo homem-forte do governo, Otavio Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), concordava com Figueiredo em qualificar como "privilegiada" a relação com a Argentina. Sobravam motivos: haviam superado o impasse sobre uso hidrelétrico da Bacia do Prata, tornando viável a Usina de Itaipu, em fase final de construção. Além disso, avançavam em negociações sobre um acordo nuclear.
O confronto com o Reino Unido se tornava irreversível e a diplomacia passou a caminhar no fio da navalha: o Brasil não podia correr risco de isolamento continental, com a impressão de que apoiava o Reino Unido -— até porque não apoiava; mas, também, evitava um alinhamento incondicional com a Argentina. Havia o temor de uma conflagração geral na América do Sul, caso os britânicos atacassem as bases argentinas no continente. E, pelas informações consolidadas no Conselho de Segurança Nacional, não existia espaço para recuo dentro da Junta Militar. Um gesto de flexibilidade do presidente, general Galtieri, poderia ser percebido como "fraqueza" — dizia uma das análises — abrindo caminho para tentativa de golpe da Marinha na Junta, "em substituição ao Exército".
Ao chegar em Brasília, na sexta-feira 3 de abril, o chanceler Guerreiro recebeu um pedido inusitado: rascunhar o "pensamento do senhor presidente" para "informação aos ministros", inclusive os do Exército, Marinha e Aeronáutica. Escreveu algumas recomendações. Uma delas: evitar "declarações de autoridades militares". Figueiredo aceitou.
Era uma trapaça da História: diante de uma guerra, o último general-presidente da ditadura brasileira subordinava os seus comandantes militares à condução civil da diplomacia.
Se os repórteres fizessem uma pesquisa com qualquer uma das FA descobririam que uma Crise Internacional Político-Estratégica é conduzida por diplomatas e não por militares.
Os militares são instrumentos para a condução política da crise.
Mas seria pedir demais.
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Malvinas: como a Argentina enganou o governo brasileiro
Surpreendido, general Figueiredo entregou condução da crise aos civis do Itamaraty
JOSÉ CASADO
ELIANE OLIVEIRA
Publicado:
23/04/12 - 23h11
Atualizado:
24/04/12 - 0h00
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O Porta Aviões Invincible, da Marinha Real Britânica, participou da Guerra das Malvinas
AGÊNCIA O GLOBO
RIO E BRASÍLIA - Na tarde de quinta-feira, 1 de abril de 1982, a embaixada brasileira em Buenos Aires enviou uma mensagem para o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. O telegrama passava ao largo da crise diplomática entre a Argentina e o Reino Unido, que crescia desde março e motivara uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Numa dúzia de linhas, o embaixador Carlos Frederico Duarte relatou a comemoração da noite anterior pelo 18º aniversário do golpe de 1964 no Brasil. E registrou sua homenagem ao governo local com a entrega — "em cerimônia solene"— das principais insígnias do Exército e da Marinha brasileira a seis oficiais argentinos.
Quatro dos condecorados pelo embaixador foram, recentemente, condenados por sequestros de bebês recém-nascidos, filhos de presos políticos, tortura, assassinatos e roubo de propriedades dos detidos. São eles: almirante Juan Lombardo (Mérito Naval brasileiro); general de divisão Juan Ricardo Trimarco (Mérito Militar); e os coronéis Mario Davico e Ángel Gómez Pola (Medalhas do Pacificador).
O telegrama foi recebido no Itamaraty às 18h, quando os fuzileiros Diego García Quiroga e Jacinto Eliseo Batista, sob uniformes de combate e rostos pintados com graxa, repassavam mapas e fotografias de alvos considerados estratégicos para os comandos de assalto. Quiroga viajava oculto na água, em um submarino. Batista deslizava na superfície do Atlântico Sul, a bordo de uma fragata. Atrás deles vinham 40 navios, com os milhares de soldados mobilizados em todo o o país e embarcados nas bases de Puerto Belgrano e Ushuaia, no sul. A frota avançava rápido na direção de um arquipélago a 500 quilômetros do continente.
Quando terminou de jantar, por volta das 22h30m daquela quinta-feira, o embaixador brasileiro recebeu um telefonema do chanceler argentino Nicanor Costa Méndez. O diálogo beirou a trivialidade — exceto por um detalhe: Costa Méndez avisou que no dia seguinte deveria haver "alguma novidade" sobre a crise diplomática com o Reino Unido. "Provavelmente", ele disse, "algum enfrentamento no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas".
Duarte anotou e pediu para ser avisado "sobre a evolução". Não sabia, mas enquanto ouvia Méndez, o presidente da Argentina, general Leopoldo Galtieri, falava ao telefone com o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que tentou fazê-lo recuar da invasão das Malvinas — sem êxito. Não sabia, também, que ao entregar uma insígnia da Marinha brasileira ao almirante Juan José Lombardo havia condecorado o comandante do Teatro de Operações do Atlântico Sul — designado em segredo três meses antes.
O embaixador desligou o telefone e compartilhou impressões com seu principal conselheiro, o diplomata Luiz Mattoso Amado Maia. Antes de dormir, eles enviaram mais um telegrama a Brasília comentando "o tom alarmista" da imprensa em relação à crise. Até o final de suas carreiras, Duarte e Maia não perceberam que haviam sido enganados pelo governo argentino e, sobretudo, por Méndez. O chanceler esteve diretamente envolvido no plano de invasão desde a posse, em dezembro de 1981. E estimulara a Junta Militar a antecipar o "Dia D", originalmente previsto para maio.
O embaixador foi dormir quando a Argentina entrava em uma guerra com o Reino Unido
No fim daquela noite o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, chegou a Nova York. Vinha da China e, exausto, foi dormir. Acordou na manhã de sexta-feira, 2 de abril, com o assessor Bernardo Pericás socando a porta do quarto, para avisar que jornalistas o esperavam no saguão do hotel. "Falo no Brasil" — resmungou, imaginando que o assunto era sua viagem à China. "Não, ministro", replicou o assessor, "eles querem falar logo com o senhor, porque a Argentina invadiu as Malvinas".
Aos 64 anos, Guerreiro se tornara um profissional do cálculo político. Detestava surpresas, assim como não surpreendia — falava com tom monocórdio e até parecia dormir durante os próprios discursos. Somava três décadas de experiência na diplomacia com a sagacidade adquirida no trabalho de comissário de polícia na zona do Mangue, efervescente área de prostituição do Rio de Janeiro nos final dos anos 30. Agora, estava ali, apanhado "de robe de chambre" num quarto de hotel — como registrou nas memórias—, absolutamente surpreso, perplexo e incrédulo. "Isso é maluquice!" — desabafou.
Vestiu-se, desceu e improvisou: 1) Desde 1833, no Império, o Brasil apoiava a reivindicação de soberania da Argentina sobre o arquipélago; 2) Sempre apostou em uma solução do problema pacífica, mas diante da ocupação das ilhas só restava esperar que a situação não se agravasse ainda mais.
A declaração ressoava cautela, pontuava coerência histórica no apoio, continha uma crítica velada à invasão e demonstrava senso de oportunidade na crise. O presidente João Figueiredo, incomodado porque também soube pelos jornais, decidiu que seria essa a moldura política das ações do governo na crise.
Guerreiro, que tinha laços de parentesco com o segundo homem-forte do governo, Otavio Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), concordava com Figueiredo em qualificar como "privilegiada" a relação com a Argentina. Sobravam motivos: haviam superado o impasse sobre uso hidrelétrico da Bacia do Prata, tornando viável a Usina de Itaipu, em fase final de construção. Além disso, avançavam em negociações sobre um acordo nuclear.
O confronto com o Reino Unido se tornava irreversível e a diplomacia passou a caminhar no fio da navalha: o Brasil não podia correr risco de isolamento continental, com a impressão de que apoiava o Reino Unido -— até porque não apoiava; mas, também, evitava um alinhamento incondicional com a Argentina. Havia o temor de uma conflagração geral na América do Sul, caso os britânicos atacassem as bases argentinas no continente. E, pelas informações consolidadas no Conselho de Segurança Nacional, não existia espaço para recuo dentro da Junta Militar. Um gesto de flexibilidade do presidente, general Galtieri, poderia ser percebido como "fraqueza" — dizia uma das análises — abrindo caminho para tentativa de golpe da Marinha na Junta, "em substituição ao Exército".
Ao chegar em Brasília, na sexta-feira 3 de abril, o chanceler Guerreiro recebeu um pedido inusitado: rascunhar o "pensamento do senhor presidente" para "informação aos ministros", inclusive os do Exército, Marinha e Aeronáutica. Escreveu algumas recomendações. Uma delas: evitar "declarações de autoridades militares". Figueiredo aceitou.
Era uma trapaça da História: diante de uma guerra, o último general-presidente da ditadura brasileira subordinava os seus comandantes militares à condução civil da diplomacia.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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- henriquejr
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Re: Guerra das Malvinas
Muito interessante essas matérias pois mostram, nos bastidores, como trabalha o governo e a diplomacia nesses momentos de crises que tem influência direta sobre nosso país!
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