29/06/2009 - 02h20
Presidente de Honduras chega à Nicarágua após ser expulso do seu país
da Folha Online
da Efe, em Manágua
O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, levado à força para a Costa Rica e destituído pelo Parlamento, chegou à Nicarágua para participar da reunião extraordinária da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas). O grupo foi convocado para discutir a crise institucional no país.
Zelaya, que chegou em um avião enviado pelo governo venezuelano, foi recebido com aplausos, vivas e abraços pelos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e o anfitrião Daniel Ortega (Nicarágua). O grupo (formado por Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Equador, Honduras, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, e Venezuela) deve se reunir a partir de hoje.
Acusado de violar a Constituição ao planejar realizar uma consulta popular sobre a reeleição presidencial, Zelaya afirmou que foi obrigado a sair do país em um "sequestro brutal" arquitetado por uma parte do corpo militar e agora está na Costa Rica.
O presidente do Congresso de Honduras, Roberto Micheletti, assumiu o lugar de Zelaya, decretou toque de recolher em meio à ocupação militar das ruas. Carros blindados e tanques saíram neste domingo à capital hondurenha, Tegucigalpa, enquanto aviões militares sobrevoam a cidade horas depois de o presidente Zelaya ter sido detido pelas Forças Armadas.
Esquerdista eleito em 2005, Zelaya bateu de frente contra outros segmentos do governo e líderes militares sobre a questão do referendo. Ele queria apoio popular para instalação da chamada "quarta urna" nas eleições de 29 de novembro, simultaneamente presidencial, legislativa e municipal. Seria uma consulta sobre a reeleição de cargos executivos, entre eles a Presidência.
A consulta, declarada ilegal pelo Congresso, pela Promotoria e pela Justiça, sofreu forte oposição das Forças Armadas, da Igreja Católica e até de parte do governista Partido Liberal.
A ministra das Relações Exteriores hondurenha, Patrícia Rodas, afirmou que os responsáveis pelos fatos são "o grupo econômico que domina a imprensa, o presidente do Congresso" e grupos que pretendem "vencer a vontade" do povo. Ela também foi forçada a deixar o país e está desaparecida.
Reação mundial
A ação militar contra Zelaya foi alvo de severas críticas da opinião internacional neste domingo. O presidente da Assembleia Geral das ONU (Organização das Nações Unidas), o nicaraguense Miguel D'Decoto, convocou para esta segunda-feira uma sessão plenária com seus 192 membros para abordar a situação de crise vivida em Honduras.
D'Decoto condenou "a categórica ação criminosa do Exército golpista de Honduras" e reivindicou "solidariedade com o presidente constitucional de Honduras".
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, convocou uma reunião urgente do Conselho Permanente do organismo para analisar a crise em Honduras e pediu que a comunidade internacional se una contra esta "grave alteração do processo democrático do continente".
O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que as disputas internas desse país devem ser resolvidas de forma pacífica, enquanto o líder venezuelano, Hugo Chávez, já anunciou que vai fazer "tudo o que tenha que fazer" para restituir Zelaya ao cargo. E governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, condenou "de forma veemente" o episódio.
"Quaisquer tensões e disputas existentes devem ser resolvidas pacificamente e através do diálogo, livre de qualquer interferência externa", declarou o líder americano Obama. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou para que todos os partidos em Honduras respeitem as Constituições e as leis desse país.
O embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, afirmou que "o único presidente que os Estados Unidos reconhecem em Honduras é o presidente Manuel Zelaya".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 7779.shtml