Lançamentos espaciais

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Re: Lançamentos espaciais

#46 Mensagem por LeandroGCard » Seg Out 13, 2008 6:45 pm

Carlos Mathias escreveu:Será que com essa ajuda russa (que dizem estar chegando) a gente um dia lança algo parecido?
Pelo que sei a ajuda russa já acabou.

Ela se limitou à revisão do projeto do VLS e de seu procedimento de lançamento, e a cursos regulares de engenharia espacial para alguns engenheiros brasileiros na Rússia, os quais já retornaram.

Ao que parece os russos bem que ofereceram muito mais, o desenvolvimento do programa "Cruzeiro do Sul", mas as autoridades brasileiras já informaram que não tem planos para nada parecido no futuro previsível. A parceria do programa espacial brasileiro agora é com a Ucrânia, para lançar foguetes ucranianos da base de Alcântara.

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Re: Lançamentos espaciais

#47 Mensagem por DELTA22 » Seg Out 13, 2008 7:34 pm

Olá Leandro

Esta entrevista está na Revista Aero Magazine, data de 7 de Setembro de 2008 com o Major-Brigadeiro-do-Ar Ronaldo Salamone Nunes diretor do CTA.

Está reproduzida no blog:
(http://noticiasmilitares.blogspot.com/2 ... latas.html)

Falando, dentre outros assuntos, ele relata a cooperação com os russos:
AERO - Com relação ao programa espacial brasilei­ro, a retomada do programa VLS está contando com o auxílio dos russos?

BRIGADEIRO SALAMONE - Dentro do programa VLS, teremos dois protótipos antes do VLS-Alpha. Esses dois foguetes serão usados para corrigir os problemas detectados nos três VLS-1 lan­çados entre 1997 e 2003. O VLS-Alpha incorpora­rá um terceiro e um quarto estágio de propelente líquido, e isso está sendo feito com tecnologia pro­veniente de uma empresa especializada da Rús­sia. Todos os demais itens são estudados e produ­zidos dentro de nosso pais. O primeiro lançamen­to dessa nova fase do VLS depende agora da recons­trução da plataforma instalada no Centro de Lan­çamento de Alcântara (MA), destruída pela explo­são do VLS-1 V-03, em 2003.
Depois desta data não tomei conhecimento se a parceria acabou ou se é o Brigadeiro Salamone que está mal informado... Não estou sabendo de mais nada a respeito.

[]'s




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Re: Lançamentos espaciais

#48 Mensagem por LeandroGCard » Seg Out 13, 2008 9:19 pm

DELTA22 escreveu:Olá Leandro

Esta entrevista está na Revista Aero Magazine, data de 7 de Setembro de 2008 com o Major-Brigadeiro-do-Ar Ronaldo Salamone Nunes diretor do CTA.

Está reproduzida no blog:
(http://noticiasmilitares.blogspot.com/2 ... latas.html)

Falando, dentre outros assuntos, ele relata a cooperação com os russos:
AERO - Com relação ao programa espacial brasilei­ro, a retomada do programa VLS está contando com o auxílio dos russos?

BRIGADEIRO SALAMONE - Dentro do programa VLS, teremos dois protótipos antes do VLS-Alpha. Esses dois foguetes serão usados para corrigir os problemas detectados nos três VLS-1 lan­çados entre 1997 e 2003. O VLS-Alpha incorpora­rá um terceiro e um quarto estágio de propelente líquido, e isso está sendo feito com tecnologia pro­veniente de uma empresa especializada da Rús­sia. Todos os demais itens são estudados e produ­zidos dentro de nosso pais. O primeiro lançamen­to dessa nova fase do VLS depende agora da recons­trução da plataforma instalada no Centro de Lan­çamento de Alcântara (MA), destruída pela explo­são do VLS-1 V-03, em 2003.
Depois desta data não tomei conhecimento se a parceria acabou ou se é o Brigadeiro Salamone que está mal informado... Não estou sabendo de mais nada a respeito.

[]'s
Está um pouco estranha esta declaração. O que eu tinha visto era que o estágio de combustível líquido seria um só, que iria substituir ambos os estágios 3 e 4. Faz mais sentido, dada a melhor relação de massa típica dos foguetes de combustível líquido.

Depois da época desta entrevista (que eu não conhecia) apareceram declarações na imprensa de pessoal do IAE e do governo insistindo que o motor de combustível líquido do VLS-Alfa seria um desenvolvimento nacional, e não um projeto adquirido pronto da Rússia. E de fato, se o projeto deste motor será adquirido fora, o que o pessoal do IAE está fazendo estudando motores de combustível líquido, se o único projeto em andamento utilizando-os é o próprio VLS-Alfa? Deveriam estar estudando estruturas, materiais, manipulação dos combustíveis, controle de atitude, etc... .

Mas é por isso mesmo que eu sempre digo que o problema do programa espacial brasileiro é a falta de objetividade. Como não existem metas a serem atingidas (fora o próprio VLS-1, que é a única meta já há décadas!) nem prazos para elas, os esforços são desconexos, e por isso nunca sai nada. E cheguei à conclusão de que isto nunca vai mudar, infelizmente.

Um abraço,

Leandro G. Card




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Re: Lançamentos espaciais

#49 Mensagem por Rui Elias Maltez » Seg Out 20, 2008 7:19 am

Ibex
NASA lança satélite para explorar confins do sistema solar
20.10.2008 - 09h05 AFP

A NASA lançou ontem a pequena sonda Ibex que, nos próximos dois anos, terá por missão captar imagens e cartografar os confins misteriosos do nosso sistema solar, onde começa, a dezenas de milhares de milhões de quilómetros da Terra, o espaço interestelar.

A Ibex (Interstellar Boundary Explorer) é dotada de instrumentos capazes de captar imagens que pela primeira vez permitirão cartografar aquela zona de turbulências e campos magnéticos sobrepostos, onde as partículas dos ventos solares colidem com partículas interestelares provenientes de outras estrelas da nossa galáxia, a Via Láctea.

"As regiões fronteiriças do espaço interestelar, o limite do sistema solar, são essenciais porque nos protegem da maior parte dos raios cósmicos mais perigosos", explica David McComas, responsável científico da missão e engenheiro do Southwest Research Institute (San Antonio, Texas).

"Sem esta zona, estes raios penetrariam na órbita terrestre tornando os voos orbitais [no vaivém e na Estação Espacial Internacional] bem mais perigosos". A Ibex, com as duas câmaras de grande amplitude, vai produzir imagens que permitirão pela primeira vez compreender as interacções entre o nosso sistema solar e a nossa galáxia.

As únicas informações de que dispõem os cientistas sobre os confins do sistema solar são provenientes das sondas Voyager 1 e 2, lançadas em 1977 e ainda a funcionar. Depois de ter passado pelos planetas Júpiter e Saturno e depois, no caso da Voyager 2, Úrano e Neptuno, as duas sondas continuam a sua odisseia sem precedentes, desviando-se progressivamente do sistema solar.

"As sondas Voyager fazem observações fascinantes para além da zona de choque terminal, mostrando resultados totalmente inesperados que desafiam várias das nossas hipóteses quanto a esta importante região à volta do nosso sistema solar", sublinha McComas.




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Re: Lançamentos espaciais

#50 Mensagem por EDSON » Ter Out 21, 2008 12:55 pm

Os motores russos estão muito a frente dos ucrânianos que diga-se de passagem não passam de russos pois estão do lado leste da Ucrãnia que é sua parte industrial e certamente muito russa.




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Re: Lançamentos espaciais

#51 Mensagem por Skyway » Qui Out 23, 2008 11:52 am

Uai, então se os motores ucrânianos são russos, por que os russos estão muito a frente dos ucrânianos se é a mesma coisa? hehehehehehe




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Re: Lançamentos espaciais

#52 Mensagem por LeandroGCard » Qui Out 23, 2008 12:26 pm

Skyway escreveu:Uai, então se os motores ucrânianos são russos, por que os russos estão muito a frente dos ucrânianos se é a mesma coisa? hehehehehehe
Na verdade os motores que os ucranianos hoje produzem (ou brigam para produzir) são versões dos motores que os russos desenvolveram décadas atrás, para seus mísseis intercontinentais de combustível líquido estocável.

Hoje os russos já desenvolveram novos motores com outros combustíveis, mais adequados ao uso no lançamento de satélites e outras cargas civis, e seus novos mísseis utilizam combustível sólido. Assim, o tipo de motor que a Ucrânia usa é hoje considerado tecnologicamente atrasado (principalmente por ser considerado muito poluente, mas também por outras razões como custo e segurança), e está caindo em desuso na Rússia, como de resto em todo o mundo desenvolvido.

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Re: Lançamentos espaciais

#53 Mensagem por DELTA22 » Qui Out 23, 2008 12:34 pm

Olá Leandro,

lhe mandei umas perguntas por MP! Dá uma olhada nos links...

Desde já agradeço.

Abraço!




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Re: Lançamentos espaciais

#54 Mensagem por EDSON » Qui Out 23, 2008 5:55 pm

[quote="Skyway"]Uai, então se os motores ucrânianos são russos, por que os russos estão muito a frente dos ucrânianos se é a mesma coisa? hehehehehehe[/quote

É a mesma coisa .É ridiculo o que eu disse mas ficar dizendo que este é ucraniano e este é russo tambem não da. A parte da Ucrânia (corrigindo) Oriental é habitada por maioria russa. E é a mais industrializada da Ucrânia.




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Re: Lançamentos espaciais

#55 Mensagem por EDSON » Qui Out 23, 2008 5:56 pm

LeandroGCard escreveu:
Skyway escreveu:Uai, então se os motores ucrânianos são russos, por que os russos estão muito a frente dos ucrânianos se é a mesma coisa? hehehehehehe
Na verdade os motores que os ucranianos hoje produzem (ou brigam para produzir) são versões dos motores que os russos desenvolveram décadas atrás, para seus mísseis intercontinentais de combustível líquido estocável.

Hoje os russos já desenvolveram novos motores com outros combustíveis, mais adequados ao uso no lançamento de satélites e outras cargas civis, e seus novos mísseis utilizam combustível sólido. Assim, o tipo de motor que a Ucrânia usa é hoje considerado tecnologicamente atrasado (principalmente por ser considerado muito poluente, mas também por outras razões como custo e segurança), e está caindo em desuso na Rússia, como de resto em todo o mundo desenvolvido.

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Perfeito!!! Bem melhor que minha explicaçã que não saiu do lugar.




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Re: Lançamentos espaciais

#56 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Out 28, 2008 12:25 pm

LeandroGCard escreveu:
Skyway escreveu:Uai, então se os motores ucrânianos são russos, por que os russos estão muito a frente dos ucrânianos se é a mesma coisa? hehehehehehe
Na verdade os motores que os ucranianos hoje produzem (ou brigam para produzir) são versões dos motores que os russos desenvolveram décadas atrás, para seus mísseis intercontinentais de combustível líquido estocável.

Hoje os russos já desenvolveram novos motores com outros combustíveis, mais adequados ao uso no lançamento de satélites e outras cargas civis, e seus novos mísseis utilizam combustível sólido. Assim, o tipo de motor que a Ucrânia usa é hoje considerado tecnologicamente atrasado (principalmente por ser considerado muito poluente, mas também por outras razões como custo e segurança), e está caindo em desuso na Rússia, como de resto em todo o mundo desenvolvido.

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Eu pensava que os Russos usassem os mesmos lançadores à décadas.

Podes dar-me mais informações em relação a este assunto?




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: Lançamentos espaciais

#57 Mensagem por LeandroGCard » Ter Out 28, 2008 6:58 pm

cabeça de martelo escreveu: Eu pensava que os Russos usassem os mesmos lançadores à décadas.

Podes dar-me mais informações em relação a este assunto?
Na verdade esta história é uma verdadeira novela, com diversos lances relacionados tanto à evolução da tecnologia em si quanto aos desdobramentos políticos durante e após o colapso da União Soviética. Não dá para explicar tudo em detalhes em um post, poderia ser escrito um livro a respeito do assunto, mas vou tentar resumir da melhor forma possível.

Como já é conhecido, o programa espacial soviético deslanchou logo após a segunda guerra mundial, época em que na verdade era um esforço para desenvolver mísseis que pudessem transportar suas bombas nucleares (que já estavam sendo desenvolvidas), e assim contrabalançar a superioridade americana em bombardeiros estratégicos.

De início o trabalho baseou-se na tecnologia da V-2, capturada na Alemanha, mas muito cedo foram adotados desenvolvimentos próprios como a mudança do combustível de álcool para querosene, bem mais energético, mantendo-se o oxigênio líquido como oxidante. Foram sendo construídos foguetes cada vez maiores com esta tecnologia (já que as bombas atômicas da época eram enormes), e em um desenvolvimento inteligente os engenheiros adotaram o uso de múltiplas câmaras de combustão, o que permitiu desenvolver motores com empuxo muito elevado sem aumentar demais as dificuldades de projeto e contrução. Um exemplo típico destes motores foi o RD-107/108, que impulsionou o grande míssil R-7, o primeiro intercontinental a entrar em operação. Este míssil, com pequenas modificações, foi a base do foguete que lançou o Sputnik em 1957, e combinações de diferentes estágios superiores deram origem a uma família de foguetes espaciais que é a de maior sucesso na história. Eu pessoalmente costumo designar todos os foguetes da família com um único nome, “Lançador A”.

Embora o Lançador A fosse um sucesso como foguete espacial, o fato de utilizar uma enorme quantidade de oxigênio líquido extremamente volátil o faziam uma arma muito pobre, e logo foram desenvolvidos novos motores utilizando combustíveis estocáveis, baseados em compostos de hidrazina e ácido nítrico (ou tetróxido de nitrogênio). Com esta tecnologia foram desenvolvidos por exemplo o RD-218 de duas câmaras do míssil R-16, e o grande RD-253 que foi usado no primeiro estágio do míssil UR-500 (SS-18 no ocidente), um super-ICBM lançado primeiramente em 1965 e que até hoje é utilizado para o lançamento de cargas espaciais com mais de 20 Ton. Outros mísseis menores também foram desenvolvidos com esta tecnologia de combustíveis estocáveis, como o R-36, que entrou em operação em 1967 e deu origem ao lançador Cyclone, cuja versão mais recente a Ucrânia planeja lançar do Brasil.

Nesta época começaram a aparecer os mísseis IRBM e ICBM de combustível sólido, como o Minuteman americano de 1962, mas a dificuldade de construção de motores de combustível sólido realmente grandes manteve os motores-foguetes que utilizavam combustíveis líquidos estocáveis como sendo o estado-da-arte em matéria de sistema de propulsão para mísseis e foguetes espaciais. Na antiga URSS, o Lançador A foi mantido em operação e constantemente aperfeiçoado, mas outros lançadores baseados em combustíveis estocáveis além do Próton também foram desenvolvidos (Dnepr, Cosmos). Apenas para os estágios superiores foram desenvolvidos motores com combustíveis totalmente criogênicos (oxigênio e hidrogênio líquidos), pois eles são mais vantajosos para uso no vácuo.

Já na década de 80 começaram a aparecer motores de combustível sólido realmente de grande porte, e os mísseis de combustível líquido passaram a ser considerados ultrapassados ou mesmo obsoletos. Na Rússia começou o desenvolvimento de mísseis como o Topol e o Scalpel, e ficou claro que estes novos mísseis eventualmente substituiriam os de combustível estocável (como estes haviam substituído os de oxigênio líquido), e portanto não só não haveria mais a necessidade de manter a infra-estrutura para construção destes como a própria tecnologia deste tipo de combustível não seria mais desenvolvida. No campo específico dos lançamentos espaciais a grande vantagem do uso de motores queimando combustíveis estocáveis, que era sua pronta disponibilidade (justamente por causa dos mísseis), deixou de existir. Assim, os engenheiros voltaram-se novamente para o uso do oxigênio líquido como oxidante com um hidrocarboneto como combustível (querosene), já que esta combinação é mais energética, barata, segura e menos poluente que as misturas estocáveis. O venerando e eficiente Lançador A continuaria em uso, e para complementá-lo foi desenvolvido o Zenit (com o motor RD-171 que é um derivado do RD-107), com a interessante proposta de servir ao mesmo tempo como booster lateral do gigantesco Energia e como um foguete independente. Os desenvolvimentos mais recentes de motores na Rússia foram todos focando o oxigênio líquido como oxidante.

Mas aí veio o fim da URSS e seu desmembramento. O Zenit ainda é construído na Ucrânia (com muitas peças vindas da Rússia), e com a desistência de missões mais audaciosas por parte dos responsáveis pelo programa espacial russo, que eliminou a necessidade do Energia, parece que ficou complicado mantê-lo em operação, embora ele ainda seja lançado. A Ucrânia decidiu manter também o Cyclone em produção com apoio americano (utilizando uma base de lançamento flutuante para efetuar lançamentos de satélites civis vendidos por empresas americanas, o que também é feito com uma versão do Zenit que utiliza um terceiro estágio russo), e agora pretende lançá-lo também do Brasil. Mas a mistura oxigênio líquido + querosene (Lox+RP) ainda é a mais adequada para o lançamento de satélites (pelo menos no primeiro estágio), e assim a Rússia começou o desenvolvimento da família Angara, que seria um projeto modular como o proposto para o Brasil (no finado programa Cruzeiro do Sul), utilizando somente Lox+RP ou estágios superiores criogênicos, dependendo da missão. Ela poderia substituir tanto Lançador A quanto o Zenit e até mesmo o Próton, mas parece que por motivos financeiros teve seu desenvolvimento congelado.

Assim, hoje apenas projetos antigos ainda utilizam combustíveis estocáveis (que a Ucrânia usa no Cyclone), e todos os desenvolvimentos mais modernos na Rússia e nos países desenvolvidos focam no oxigênio líquido e no combustível sólido. Os russos dominam ambas as áreas e vendem seus motores até mesmo para os americanos, mas aparentemente a Ucrânia não tem capacidade de desenvolver sozinha motores como os RD-120/RD-8/RD-58 do Zenit, e é por isso que se diz que os russos estão muito à frente da Ucrânia nesta área. Mas devido às circunstâncias econômicas e históricas os principais foguetes utilizados pela Rússia ainda são o Lançador A (embora altamente modernizado) e o Próton, ambos desenvolvidos na década de 60, o que é mesmo meio paradoxal.

Um abraço,

Leandro G. Card




Editado pela última vez por LeandroGCard em Qui Out 30, 2008 3:21 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Lançamentos espaciais

#58 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Out 30, 2008 1:31 pm

Obrigado pela explicação. :wink:




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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Re: Lançamentos espaciais

#59 Mensagem por Bolovo » Seg Nov 17, 2008 12:03 am

Lindo demais, meu deus. STS-126, nave Endeavour rumo a ISS!





"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Re: Lançamentos espaciais

#60 Mensagem por LeandroGCard » Seg Nov 17, 2008 1:16 pm

Bolovo escreveu:Lindo demais, meu deus. STS-126, nave Endeavour rumo a ISS!

O programa dos ônibus espaciais foi uma extraordinária realização técnica, e paradoxalmente também foi a maior causa da paralisação do esforço espacial americano e consequente atraso do programa de exploração interplanetária que já deveria estar muito mais avançado e só agora está (ou estava, antes da crise) sendo retomado.

É toda uma era que está chegando ao fim, e em breve imagens como esta não poderão mais ser vistas ao vivo, sabe-se lá por quanto tempo.

Leandro G. Card




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