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Mensagem
por faterra » Sex Abr 20, 2007 11:32 pm
DESTRÓIERES
Em 1939 inexistiam problemas para a definição do termo “destróier”. Porém, atualmente, isto não é tão simples. A partir da metade da década de 80 significativas mudanças em configuração, função e armamentos, que têm afetado essa categoria, desde a II GM, e a atual confusão de terminologia que a cerca. A distinção entre “destróier” e “fragata” feita pela Marinha Real Britânica é diferente da adotada pela Marinha dos Estados Unidos e esse desacordo particular reflete-se no sistema de classificação adotado por marinhas de outros países. Outra anomalia é a elevação de um grande número de vasos de escolta da marinha americana, porta-aviões desprovidos de blindagem, derivados da categoria de destróieres, ao status de “cruzadores”, na década de 70.
O Período Pós-Guerra
O destróier do período anterior à guerra era um navio sem grandes complicações, com uma definida função anti-superfície. Concebido para atacar couraçados inimigos com torpedos e para repelir ataques similares feitos contra grandes navios amigos, usando seus canhões de médio calibre e fogo rápido, tinha apenas um punhado de metralhadoras, que eram usadas para dar proteção contra ataques aéreos.
No fim da II GM, porém, a principal função do destróier passou a ser a defesa antiaérea da frota. Foram instaladas torres de canhões, de dupla finalidade, controladas por radar, substituindo imediatamente as armas anti-superfície de ângulo baixo, além do que os destróieres foram dotados de números crescentes de canhões antiaéreos leves, de 20 a 40 mm. Alguns destróieres da marinha americana foram equipados para operar como sentinelas de radar, utilizando grandes radares de busca aérea e determinação de altitude. A guerra anti-submarino também se tornou mais importante, e foram desenvolvidos novos tipos de morteiros e lança-foguetes, além de sonares mais avançados, para as marinhas britânica e americana. O temor quanto ao tamanho e à qualidade da frota de submarinos soviética serviu apenas para acelerar esse desenvolvimento.
A fim de acomodar todos esses novos sistemas de armas, os destróieres tornaram-se maiores e mais pesados: um destróier médio do período anterior à guerra tinha um deslocamento de cerca de 1625 ton; os destróieres “de uso geral”, da classe americana Forest Sherman, do início até a metade da década de 50, deslocavam 2794 ton, enquanto os grandes vasos de escolta e porta-aviões, da classe Mitscher, atingiam a marca de 3759 ton. Havia uma preocupação crescente quanto ao número de navios que poderia enfrentar esse processo, caso ele continuasse, e já se tornava cada vez mais claro que as pressões quanto ao deslocamento dos destróieres deveriam finalmente levar a difíceis escolhas quanto ao armamento a ser adotado, dentre os sistemas disponíveis.
Até certo ponto, a especialização das funções já estava presente. Os destróieres projetados no fina da década de 40 e no começo da de 50 foram construídos primordialmente para a defesa antiaérea da frota. Inicialmente, pensava-se que as forças-tarefa de porta-aviões seriam invulneráveis ao ataque de submarinos devido à sua alta velocidade, e, portanto, foi feita uma clara distinção, em todas as marinhas do Ocidente, entre navios de defesa antiaérea (destróieres), projetados para acompanhar porta-aviões, e vasos anti-submarinos (fragatas e destróieres de escolta), destinados a escoltar comboios mercantes. Os navios de escolta de comboio eram, geralmente, menores e mais lentos que os destróieres. Foi adotada freqüentemente a instalação de motores a diesel e de propulsão por um só eixo, a fim de proporcionar aos navios a autonomia necessária; a velocidade máxima, em torno de 25-27 nós (46,3-50 km/h), geralmente era aceita. Entretanto, os ingleses, que estavam impressionados com a melhoria do desempenho sob água dos submarinos alemães do Tipo XXI capturados, e que também estavam preocupados com possíveis desenvolvimentos da propulsão em circuito fechado, construíram fragatas “de qualidade”, com sistemas de propulsão de primeira classe, capazes de impeli-las a 30 nós (55,6 km/h). Isso deveria acarretar importantes conseqüências no desenvolvimento subseqüente do destróier na marinha britânica.
A Revolução do Míssil
As pressões quanto ao tamanho dos destróieres aumentaram ainda mais com o advento dos mísseis teleguiados. Os mísseis em si pesavam relativamente pouco, mas seus paióis ocupavam uma parte considerável do volume de casco dos navios. Além disso, os mísseis superfície-ar necessitam de um grande número de antenas de radar no alto dos mastros, mostrando consideráveis problemas de desequilíbrio. Foi feito uso generalizado de liga de alumínio para as superestruturas, ao custo de menor resistência a explosões e a danos por fogo.
O advento dos submarinos nucleares trouxe mais problemas. As escoltas de porta-aviões não mais poderiam se concentrar em defesa aérea, porque as grandes áreas nas quais as forças-tarefa teriam de se espalhar, para minimizar os efeitos de um ataque nuclear, fariam as escoltas enfrentar submarinos de manobra rápida, que tivessem rompido o anel externo das defesas. Sonares avançados, mísseis anti-submarinos e instalações para a operação de helicópteros, que poderiam ou não ser baseados nos navios tornaram-se necessários, além do sistema de mísseis de defesa de área.
A marinha americana usou o critério lógico de criar uma nova categoria, a “fragata” (DLG), derivada dos grandes destróieres líderes, construídos no início da década de 50. O tamanho desses vasos de escolta era tal que muitos foram classificados como cruzadores (CG), na metade da década de 70. A marinha francesa construiu dois navios similares (a classe Suffren), também designados como “fragatas” (frégates), para escoltar os novos porta-aviões da classe Clemenceau; e a Grã-Bretanha projetou navios de escolta similares, para uma nova geração projetada de porta-aviões. Entretanto, os britânicos, para os quais o termo “fragata” significa escolta anti-submarino de comboio, persistiram no termo “destróier” para o Tipo 82.
Depois de completados os destróieres lança - mísseis de uso geral da classe Charles F. Adams, na metade da década de 60, os destróieres da marinha americana deveriam ser construídos tanto para função anti-submarino (classe Spruance), como para a função de defesa antiaérea (classe Arleigh Burke). As funções especializadas são também uma característica da maioria dos destróieres franceses do mesmo período. No início da década de 60, a maioria das escoltas convencionais de defesa antiaérea, armada de canhões, da classe Surcouf, foi convertida em vasos de defesa antiaérea, e cinco outras unidades dessa mesma classe foram subseqüentemente transformadas em ASW. Quando a França começou a considerar a substituição desses navios, a escolha foi feita em favor de variantes para a defesa anti-submarino e antiaérea do projeto C70.
A Grã-Bretanha, por outro lado, já possuía vasos de primeira linha, capazes de velocidade de frota para o desempenho da função anti-submarino. A série de fragatas “de qualidade”, derivadas do projeto de pós-guerra Tipo 12, a classe Tipo 22 (Broadsword), é significativamente maior que os destróieres de defesa antiaérea da classe Tipo 42 (Birmingham/Manchester) e se aproxima, em tamanho e capacidade, do Spruance da marinha americana, porém é classificado pela marinha britânica como “fragata” e, conseqüentemente, não faz parte deste volume.
Perspectivas Soviéticas
A marinha soviética, no período imediatamente posterior à guerra, construiu destróieres convencionais armados com canhões de dupla finalidade e torpedos anti-navio, classificados como eskadrenny minonosets (EM), que significa, literalmente, “navios lança-minas da frota”, uma interessante capacidade adicionada às funções tradicionais dos destróieres soviéticos. Entretanto, com o advento dos mísseis teleguiados, foram estabelecidas novas categorias, nas quais os navios são classificados em termos de tamanho e função. Os navios abaixo do tamanho de cruzador são classificados como bol’shoy korabl’ (grande navio), e os termos raketny (míssil anti-navio) ou protivolodochy (anti-submarino) são acrescentados para denotar função. Não há função específica de defesa antiaérea porque os navios de superfície soviéticos não operam em forças-tarefa, as quais têm por núcleo o porta-aviões.
Os BPK das classes Kara e Kresta, os quais possuem, principalmente, sistemas de defesa antiaérea e anti-submarino e, portanto, aproximam-se em tamanho e em função das grandes escoltas de porta-aviões da marinha americana, que descreve esses duas classes como “cruzadores”.
Desenvolvimento de Armas
Os destróieres construídos imediatamente após a II GM eram tipicamente armados com duas ou três torres duplas, com canhões de dupla finalidade cujo calibre variava entre 114 e 130 mm, para uso antiaéreo e anti-superfície.
Ao contrário dos modelos anteriores à guerra, que eram carregados manualmente, essas torres, em geral, são totalmente automáticas, operadas por radar e, conseqüentemente, bem maiores, mais pesadas e mais complexas que as anteriores.
Os canhões de médio calibre são complementados por canhões antiaéreos operados por radar, geralmente nos calibres de 40, 57 e 76 mm. O pequeno canhão Oerlikon, de 20 mm, operado manualmente e amplamente difundido entre os destróieres do período final da guerra, foi gradualmente desaparecendo devido a sua notória ineficácia contra aviões a jato em alta velocidade.
Alguns destróieres posteriores à guerra, especialmente os construídos para as marinhas soviéticas e sueca, ainda mantinham um pesado armamento de torpedos. Entretanto, na maioria dos destróieres construídos para as marinhas do Ocidente, os torpedos anti-navio cederam lugar às armas anti-sumarino, isto é, lança-foguetes, morteiros e torpedos ASW.
Armas para Defesa Antiaérea
A marinha americana foi a primeira a abandonar as torres de canhões de dupla finalidade em favor de torres simples de alto desempenho. Entretanto, o calibre americano padrão (127 mm, ou 5 polegadas) foi mantido para assegurar um desempenho eficaz na função anti-superfície. As marinhas da Europa Oriental tradicionalmente preferem os canhões de menor calibre para a defesa antiaérea e, no final da década de 50, uma nova torres simples de dupla finalidade, com canhões de 100 e 102 mm, foi adotada. A configuração normal é de quatro torres, duas a vante e duas a ré, sendo esse o arranjo escolhido para o navio francês La Galissonnière, o alemão Hamburg e para os dois destróieres da classe Almirante Riveros, construídos para o Chile.
Enquanto isso, a marinha americana, seguida de perto pela marinha britânica e pela marinha soviética, já estava bem avançada no desenvolvimento de mísseis superfície-ar, os quais sobrepujariam as torres de dupla finalidade na função de defesa aérea. Os primeiros modelos eram grandes e desajeitados, e necessitavam de complexas instalações para manuseio, as quais incluíam carregadores para armazenamento, salas para a colocação das aletas e do motor de partida e áreas de teste. Seus radares de orientação eram pesados e precisavam ser instalados na parte mais alta do navio, assim como os radares de observação aérea de longo alcance e os de determinação de altitude, necessários à obtenção de dados de alvo. Mísseis como o Talos e o Terrier americano, o Sea Slug britânico e o Masurca francês só podiam ser operados em grandes navios, o que tendia a fazer com que esses saíssem da tradicional categoria de destróier. O desenvolvimento do pequeno míssil americano de médio alcance Tartar, compactamente embalado em um carregador cilíndrico pronto para o uso, encimado por um lançador duplo Mk 11 ou por um simples Mk 13 e complementado por um radar leve de controle de fogo SPG-51, veio ao encontro das necessidades da época, e o Tartar foi amplamente adotado por outras marinhas pró-Ocidente. A Grã-Bretanha tentou preencher os mesmos requisitos com seu míssil Sea Dart e, embora seu desempenho de longo alcance fosse melhor que o do Tartar, o Sea Dart mostrou-se um sistema mais pesado e volumoso, e as tentativas de vende-lo (notadamente à China e à Holanda) foram infrutíferas.
A União Soviética preferiu adaptar um míssil de uso terrestre, o SA-N-3 Goa, para uso naval. O sistema resultante, o SA-N-1, está sendo instalado em destróieres, e emprega um forma de radar de comando/orientação que agora é considerada obsoleta. O míssil é disparado de um lançador estabilizado, o que indica que havia problemas de determinação de alvo por navios em movimento. O mais recente sistema soviético de defesa antiaérea de médio alcance, projetado para ser instalado em um destróier, é o SA-N-7, um sistema que é similar em conceito ao Tartar/Standard da marinha americana, empregando um lançador simples e orientação semi-ativa.
Mísseis de médio alcance, como os descritos acima, são instalados exclusivamente em destróieres cuja função primordial é a defesa antiaérea da área. Entretanto, também há a necessidade de sistemas menores para defesa antiaérea de curto alcance, a fim de capacitar os navios que têm a função anti-submarino de se defenderem contra ataques aéreos. Neste caso, a Grã-Bretanha foi a primeira nação a desenvolver um sistema viável: o sistema Seacat, instalado nos destróieres da classe County, nas fragatas do Tipo 12 e aperfeiçoado no começo da década de 60. Os americanos desenvolveram o sistema Sea Sparrow (em serviço a partir de 1967), que é disparado de um lançador ASROC modificado e amplamente instalado em fragatas e porta-aviões. Esse sistema foi ultrapassado, dez anos depois, pelo Sea Sparrow da OTAN, um desenvolvimento multinacional que emprega um míssil Sparrow modificado com aletas dobráveis e um sistema de armazenagem mais compacto. O novo sistema Sea Sparrow foi adotado pelas marinhas de diversas nações pró-Ocidente, mas a França decidiu desenvolver seu próprio sistema, o Crotale, que entrou em serviço no final da década de 70.
Os grandes vasos soviéticos anti-submarino completados na década de 70 foram equipados com sistemas de defesa de área para compensar sua falta de apoio aéreo, mas os últimos destróieres ASW, da classe Udaloy, foram equipados com um sistema de mísseis com alcance útil aproximado ao do Sea Sparrow, o SA-N-8.
As últimas tendências na defesa antiaérea dos destróieres concentram-se no lançamento vertical e em radares de antenas fixas com varredura eletrônica. Antenas de radar fixas, como a SPY-1 americana, proporcionam uma cobertura e um rastreamento de alvos aéreos muito importante pela marinha americana, uma vez que seus últimos sonares SQS-26 tinham o dobro do alcance do ASROC, usando os métodos de “trajetória direta” ou “salto para o fundo” que, sob condições favoráveis de sonar, podiam obter uma posição primária do submarino alvo até a primeira zona de convergência (30-35 mn/55-65 km). Os mais recentes helicópteros europeus para ASW, o Lynx, anglo-francês, e o AB 212, italiano, possuem capacidades similares de detecção, porém são menores que os modelos americanos e soviéticos e, portanto, têm menos autonomia e carga útil limitada.
Talvez o desenvolvimento mais interessante verificado na história do emprego de helicópteros em destróieres seja a adoção do enorme Sea King – essencialmente um helicóptero operado por porta-aviões – pela marinha canadense, no início da década de 60. A autonomia e a capacidade de carga útil do Sea King ultrapassam as de qualquer helicóptero embarcado, em serviço, e quando a Força Marítima de Autodefesa do Japão finalmente abandona o DASH, no fim da década de 70, decide seguir um caminho semelhante.
A Função Anti-Superfície
De 1945 até a metade da década de 60, a função anti-superfície foi desempenhada no Ocidente por aviões de ataque operando a partir de porta-aviões. Na época, a frota soviética de superfície era relativamente pequena e insignificante e, conseqüentemente, o Ocidente não tinha pressa em desenvolver mísseis táticos anti-superfície. Por outro lado, a marinha soviética não possuía porta-aviões e se via ameaçada por grande número de vãos de superfície ocidentais. Assim, lançou-se ao desenvolvimento de mísseis superfície-superfície e o SS-N-1 Scrubber entrou em serviço nos destróieres soviéticos, em 1960.
Quando em 1967, o destróier israelense Eilat foi afundado por um míssil SS-N-2 Styx, de fabricação soviética, a posição do Ocidente foi revista com uma certa urgência. Os principais esforços da marinha americana e da marinha britânica foram primeiramente direcionados para a defesa anti-mísseis, mas a França, cujos vasos de superfície freqüentemente são mandados em missões independentes a pontos distantes, desenvolveu o revolucionário míssil Exocet. A facilidade com que ele pode ser instalado fez do Exocet um míssil imediatamente atraente a outras marinhas, e logo a Grã-Bretanha e a Alemanha, resolveram adquiri-lo para instalá-lo em seus destróieres. A marinha americana preferiu desenvolver seu próprio míssil, o Harpoon, que entrou em serviço em 1977 e foi largamente adotado por outras marinhas pró-Ocidente, como a da Holanda e a do Japão. O Harpoon tem um perfil de vôo diferente, além de ter um alcance maior do que o Exocet. Ele possui aletas dobráveis e geralmente é empregado em uma instalação particularmente compacta, consistindo de dois conjuntos de quatro lançadores cilíndricos. A última versão do Exocet, a MM-40, emprega uma tecnologia semelhante.
Os mísseis soviéticos são muito grandes em comparação aos ocidentais. Eles possuem uma configuração de avião com asas dobráveis e, geralmente, são disparados de rampas anguladas, centro de lançadores cilíndricos. Isso se traduz em uma maior demanda de espaço no seu navio-base. Por outro lado, eles podem transportar uma ogiva de guerra muito mais pesada que as dos mísseis ocidentais, característica que provavelmente é derivada da função original de anti-porta-aviões. Os mais recentes mísseis SS-N-22, operados por destróieres da classe Sovremenny, têm alcance similar ao do míssil Harpoon.
O longo alcance dos modernos mísseis anti-navio traz consigo o problema da orientação contra alvos além do horizonte. Alguns destróieres soviéticos operam uma versão especial do helicóptero Kamov Ka-25, chamada de Hormone-B, para a orientação de mísseis. O helicóptero Seasprite da marinha americana também tem essa função secundária, e os mais recentes helicópteros da Europa Ocidental, ao contrário de seus antecessores, são equipados com radares de busca. O Lynx, anglo-francês, também tem capacidade para lançamento mísseis. Ele pode lançar mísseis anti-navio, AS-12 ou Sea Skua, contra pequenos navios de guerra.
Fonte: Guia de Armas de Guerra – Nova Cultural
Um abraço!
Fernando Augusto Terra