Necessidade dos carros de combate para os nossos fuzileiros
Enviado: Qua Fev 25, 2004 8:36 pm
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Na batalha do Somme, em 15
de setembro de 1916, o impasse da
“guerra de trincheiras” começa a
ser rompido com uma nova arma:
o carro-de-combate.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A Alemanha apresenta ao mundo
a “guerra relâmpago”.
GUERRA DO YOM KIPPUR
O emprego do míssil anticarro
faz analistas pensarem na obsolescência
do carro-de-combate(CC).
GUERRA DO GOLFO
A 24ª Divisão de Infantaria Mecanizada
desloca-se em direção ao
rio Eufrates, sob forte chuva. Um
CC M1 fica atolado na lama. Tentativa
de retirá-lo com outro M1 falha.
Restante da unidade prossegue.
Surgem três T-72 do Exército
do Iraque. O primeiro dispara
uma granada HEAT1, que atinge
a torre do M1: nenhum dano. A
guarnição do M1 responde com
um tiro de APFSDS2 de 120mm: a
granada penetra a torre do T-72
arremessando-a para o ar. O segundo
T-72 também dispara uma
HEAT: outro tiro certeiro, novamente
nenhum dano, o T-72 é da
mesma forma destruído. O terceiro
T-72 dispara uma granada
APFSDS de 125 mm: leves avarias
externas na couraça do M1. Tendo
em vista o que ocorrera com os
outros dois T-72, o terceiro busca
coberta e abrigo atrás de uma duna
de areia. O comandante do M1,
utilizando o visor de imagem térmica,
percebe os gases de escape
do motor do T-72, faz cuidadosa
pontaria e dispara: a granada atravessa
a areia e destrói o terceiro
T-72. Para não deixar o CC abandonado,
duas tentativas de destruição
são conduzidas, com disparos
de outro M1 da 24a DivInfMec,
mas sem sucesso. Finalmente, o
CC é retirado do atoleiro com emprego
de dois veículos de socorro.
-Os fatos acima relatados proporcionam
uma idéia concisa da evolução
do CC, instrumento de destruição
com destacada atuação nos
campos de batalha no século XX e
que possui favorável perspectiva de
ainda permanecer em evidência no
início do próximo milênio. Provavelmente
não será mais a “arma mestra”
das forças terrestres, dando lugar
a sistemas que incluirão meios
aéreos e terrestres, todos perfeitamente
integrados, como nas forças navais.
Nos mares, o couraçado cedeu
a vez de “navio capital” para o
navio aeródromo e este para um
complexo sistema que integra meios
aéreos, submarinos e de superfície.
Continuará o CC, entretanto,
disponível para atuar como arma
decisiva em muitas situações, pois
haverá sempre necessidade de reconhecimento,
segurança e ação de
choque, tarefas apropriadas ao binômio
CC-aeronave. Esta posição
de destaque, todavia, será mantida
se houver aproveitamento de avanço
tecnológico que continue evidenciando
as características inerentes
aos CC: poder de fogo, proteção
blindada e mobilidade.
Com relação ao poder de fogo, o
objetivo continuará
sendo destruir outro
CC, por ser o principal
oponente e também
o mais protegido.
Atualmente, o
poder de fogo está em
desvantagem com relação à blindagem,
conforme ilustrado pelo fato
relativo ao M1 na Guerra do Golfo.
Para mudar esta situação, o aprimoramento
parece ser mais promissor
na munição do que no canhão, embora
estejam em andamento pesquisas
variadas, como canhão eletromagnético
(EM) e emprego de propelente
líquido.
O canhão EM baseia-se na interação
eletromagnética entre o
projetil e o “tubo” e, uma vez resolvido
o problema da enorme quantidade
de energia necessária, terá
como vantagens elevada velocidade
do projetil e aumento na probabilidade
de sobrevivência, pois não
haverá explosivo armazenado no
interior do carro nem efeitos secundários
do disparo – estampido, fumaça
e chama na extremidade do
tubo. O canhão para projetil com
propelente líquido proporcionará
maior velocidade da granada, menor
desgaste do canhão e menor custo
de fabricação, mas ainda depende
de soluções aceitáveis para armazenagem
e manuseio de líquidos instáveis
a temperaturas muito baixas.
Quanto à munição, dois tipos de
granada se destacam, de acordo com
o princípio aplicado para perfurar
blindagem: energia química (HEAT)
ou energia cinética (APFSDS). A munição
HEAT aproveita a elevada pressão
concentrada produzida por uma
explosão (reação química a alta velocidade)
para impulsionar um material
perfurante contra a blindagem,
abrindo uma cavidade na mesma.
Eficiente contra blindagem simples
– mesmo que espessa –, deixa a desejar
contra blindagem composta,
constituída por camadas de diferentes
materiais.
A munição APFSDS – ou munição
“flecha” – utiliza, para perfurar
blindagem, a energia cinética
do projetil, estabilizado por aletas,
que atinge altas velocidades. O material
perfurante pode ser liga de
tungstênio ou de urânio empobrecido.
O urânio proporciona melhor
performance mas é radioativo, produz
poeira tóxica e exige muitos
cuidados para fabricação e manuseio.
Além da melhor performance
ao vencer a blindagem, o projetil
de liga de urânio é estilhaçado em
pequenas partículas que, no interior
do CC, se incendeiam, gerando
calor e altas pressões, tornandoos
mais letais que os de tungstênio.
Esta munição, todavia, pode perder
até oitenta por cento de sua capacidade
perfurante caso a “flecha”
tenha sua estabilização alterada
durante a trajetória.
Considerando que a blindagem
dos CC é reforçada na parte frontal
e nas laterais, o alvo passou a ser o
topo do CC, como é o caso do míssil
sueco Bill – recentemente adquirido
para os Pelotões Anticarro dos
BtlInfFuzNav – e do míssil norteamericano
TOW2B. Munição deste
tipo, se utilizada por CC, também
pode modificar a situação desvantajosa
do poder de fogo.
A blindagem ainda é a melhor
proteção, mas poderá ser substituída,
ou pelo menos complementada.
Evoluiu de espessas chapas de aço
para camadas de diferentes ligas
metálicas, cerâmica e blocos com
blindagem reativa, conseguindo,
assim, neutralizar o canhão. Além
disso, foram desenvolvidos dispositivos
que reduzem a elevação da
pressão interna quando o CC é atingido,
evitando que ocorram explosões,
tanto da munição como do
combustível. São sistemas automáticos
de extinção de incêndio e supressão
de explosão. Para anteciparse
à evolução dos mísseis e dos canhões,
a tecnologia deverá oferecer
opções de proteção eletro-magnética
em torno do CC. Hoje, detetores
de emissão laser alertam que
o CC passou a ser um alvo, obrigando-
o a manobras evasivas, utilizando
sua mobilidade e cortinas
de fumaça – que não resistem a
visores de imagem térmica. No futuro,
deve-se avaliar a possibilidade
de aplicar os mesmos princípios
utilizados para defesa de navios e
aeronaves. No caso de mísseis, interferir
no sistema de direção e, no
quanto a munição de canhão, sem
dispositivos eletrônicos que possam
sofrer interferência, a solução poderá
ser disparar projetis para interceptar
a granada antes que esta
atinja o CC.
Quanto à mobilidade, a substituição
do motor diesel por turbina,
como no M1, deverá ser a tendência.
A turbina apresenta algumas
desvantagens: elevada dependência
de ar puro, o que exige um sistema
de filtro potente para purificar
o ar do campo de batalha, normalmente
sujo, inclusive a poeira
provocada pelo próprio CC; consumo
superior, o que implica em
mais espaço no CC destinado a
combustível, para assegurar um
apropriado raio de ação, bem como
uma cadeia de reabastecimento “forte
em viaturas cisternas”, que poderá
constituir alvo fácil à aviação
inimiga e, se interrompida, deixar
os CC inoperantes; e, embora seja
mais leve e menor que o motor,
exige outros acessórios que fazem
com que o conjunto propulsor seja
tão ou mais pesado que o motor
diesel. Entretanto, suas vantagens
são compensadoras: posição não
denunciada por gases de escape;
menor nível de ruído (o M1 já foi
apelidado “morte silenciosa”); partida
instantânea sob qualquer tempo,
não necessitando de período de
aquecimento para operar; aceleração
muito mais rápida; e maior
facilidade de manutenção por ter
um terço a menos de partes móveis.
Outro aspecto a destacar é a importância
do apoio de Engenharia
para assegurar mobilidade aos CC.
Estes, por mais recursos que disponham
para transpor obstáculos,
inclusive cursos d’água, estarão sujeitos
a situações em que somente
a Engenharia poderá garantir mobilidade.
Logo, os meios de Engenharia
também deverão ser blindados,
visto que seu emprego será
à frente dos CC, inclusive, eventualmente,
sob fogos do inimigo.
É também característica importante
do CC a sua capacidade – e
ao mesmo tempo dependência – de
comunicações amplas e flexíveis,
que permitem assegurar C3I3 para
os comandos envolvidos. Considerando-
se o avanço da guerra eletrônica,
esta dependência deve diminuir
em relação à transmissão de
voz, incorporando-se sistemas informatizados
de transmissão de dados
interligando os CC com seus
escalões superiores e apoios, principalmente
Artilharia, Engenharia
e Logística.
Além de análise das principais
características separadamente, estas
devem ser apreciadas também
como um todo, pois poder de fogo,
proteção blindada e mobilidade
constituem fatores que contribuem
em conjunto para o sucesso da ação
dos CC. Assim, a probabilidade de
sucesso do CC depende da probabilidade
de destruição de CC inimigos,
da probabilidade de sobrevivência
e da probabilidade de estar
onde e quando necessário. Os
aspectos matemáticos do cálculo
destas probabilidades fogem ao escopo
deste artigo – embora sejam
ótimo tema para o Curso de Aperfeiçoamento
Avançado – mas percebe-
se com facilidade que, para
alta probabilidade de sucesso, os
três fatores também deverão ter
elevada probabilidade, por serem
multiplicativos. O fato mencionado
sobre a Guerra do Golfo mostra
o que pode ocorrer: o M1, embora
com altas probabilidades de
sobrevivência e de destruição, não
estava no local e no momento que
se fazia necessário. Outro CC, com
menores probabilidades de destruição
e de sobrevivência, mas com
maior mobilidade, talvez tivesse
maior probabilidade de sucesso.
Estes aspectos, traduzidos em
requisitos, definirão a escolha do
CC a ser obtido por uma força armada
– evidentemente associados
a outros parâmetros, tais como o
papel a ser desempenhado pelo CC
naquela força e o poder nacional
do país em questão. Os EUA definiram
tarefas, organização, requisitos
e contrataram duas empresas
para desenvolver opções de projeto
de CC que resultou no M1
Abrams. Tem o Brasil Poder Nacional
para desencadear as mesmas
ações? Se tiver, a conjuntura –
ameaça, disponibilidade de recursos
decorrentes do dilema espadas
versus arados, prioridades no âmbito
da MB – justifica os custos envolvidos?
Basta conhecer projetos
como o do submarino com propulsão
nuclear da MB, de aeronaves
da EMBRAER, de veículo
lançador de satélite da FAB e mesmo
o do CC OSÓRIO da ENGESA,
para responder “sim” à primeira
pergunta. Entretanto, para a segunda,
a resposta hoje aceitável é “não”.
Na própria MB observa-se um
ótimo exemplo de como deve ser
feito o ajuste das necessidades de
material à realidade da conjuntura:
a obtenção das aeronaves A-4
para integrar a Aviação Naval. Não
há dúvida da importância de a MB
dispor de seus próprios aviões, mas
seria um passo fora da realidade
partir do nada para o modelo mais
avançado, como o F-22. Ousar sonhar?
Sim, mas com objetivos tangíveis,
que possam ser efetivados,
ao invés de continuarem apenas na
imaginação. Assim, o A-4 constitui
um solução aceitável para dotar o
Poder Naval com meios de dissuasão
compatíveis com as possibilidades
da MB, além de proporcionar
a implementação da mentalidade
de aviação naval com aeronaves
de asa fixa.
O mesmo raciocínio é válido
para o CC a ser obtido. Em 1980,
as praias de Porto Seguro constituíram
o cenário para mais uma
Operação DRAGÃO, coroamento do
adestramento anual do conjugado
anfíbio da MB, com uma especial
evolução em relação às Operações
anteriores: pela primeira vez um
navio da MB – o NDCC DUQUE DE
CAXIAS – desembarcava CC da própria
MB. A Marinha passava a contar
com mais um meio para aumentar
a sua capacidade de projeção
de poder em terra – o EE-9 CASCAVEL.
Esta valente viatura teve seus
críticos mas, se sua aquisição não
tivesse ocorrido, talvez ainda hoje
organizações de CC existissem
apenas no papel. Não contaria o
CFN com quase 20 anos de experiências
que, combinada aos ensinamentos
obtidos com as viaturas
blindadas sobre-lagartas M113
e CLAnf, proporcionam conhecimentos
para dar, com firmeza e
segurança, o próximo passo: incorporar
ao inventário da Força de
Fuzileiros da Esquadra um novo
Carro-de-Combate.
Certamente ainda não é o momento
para obtenção do M1 – assim
como a Esquadra ainda não
tem o F-22 –, mas é oportuno um
modelo apropriado para a principal
tarefa dos CC nas Operações
Anfíbias: integrar o sistema de defesa
anticarro. Para tanto, deverá
apresentar características que lhe
proporcionem aceitável probabilidade
de sucesso. O poder de fogo
deve ser baseado em canhão de
pelo menos 105mm, com capacidade
para disparar munição APFSDS
e apoiado em moderno sistema de
direção de tiro. A solução de compromisso
entre mobilidade e blindagem
deverá privilegiar a
primeira – é aceitável perder
em blindagem para reduzir
o peso e, assim, proporcionar
maior mobilidade.
Como sua principal tarefa
é contribuir para defesa
anticarro, deverá estar
onde e quando for necessário
e, como normalmente
será empregado contra
blindados em deslocamento
para a cabeça-de-praia,
poderá tirar proveito de escolher
a melhor posição
para atacar. Sua sobrevivência
não dependerá principalmente
da blindagem e sim da
mobilidade, pois não integrará
grandes formações de CC para
“batalhas de blindados”. Considerando
que a mobilidade estratégica
dos meios de fuzileiros navais é
assegurada pelos navios, deverá ser
privilegiada a mobilidade tática, ou
seja, CC sobre lagartas e com pouco
peso. Ambas proporcionarão
condições para que o CC, integrado
com meios aéreos, atue decisivamente
como instrumento da
“guerra de manobra” – filosofia de
combate em que as operações anfíbias
desempenham importante papel.
Outro aspecto que direciona
para menor peso é o custo do meio.
Mantidos os requisitos fundamentais
– no caso, capacidade de destruição
e relativa proteção blindada
–, quanto menor o peso normalmente
menor será o custo. Para a
MB, recursos financeiros escassos
constituem condicionante importante,
conduzindo a seleção do
modelo para o de menor custo entre
os que sejam adequados. Dependendo
do peso do CC, até mesmo
meios de apoio hoje existentes
– como por exemplo para transposição
de cursos d’água – serão suficientes,
não havendo necessidade
de custos adicionais para aquisição
de novos meios.
Considerando-se os dados relativos
ao SK-105/A2 (ver quadro
em destaque), percebe-se que este
modelo de CC está enquadrado nos
parâmetros apresentados. Talvez
não seja o CC ideal para a FFE,
mas proporciona adequada capacidade
de destruição e aceitáveis
aspectos de mobilidade, proteção
e custo, o que o torna apropriado
para a MB.
Esta incursão no tema CC proporcionou
uma idéia do que poderá
ocorrer no futuro quanto ao seu
emprego, principalmente nos países
possuidores de Poder Nacional
que permita – e cuja conjuntura
exija – dispor de material bélico
no estado da arte. Não é o caso do
Brasil, o que não impede, todavia,
que a MB obtenha os meios julgados
necessários ao seu papel na
defesa da Pátria. O fato de não ser
aceitável o Brasil dispor de aeronaves
F-22 ou CC M1A2, não impede
a obtenção de meios como o
A-4 e o SK-105/A2. Além de contar
com importantes vetores de
projeção de poder e maior capacidade
de dissuasão, a MB estará
exercitando, em todos os níveis de
comando dos Grupamentos Operativos
e no Setor de Apoio, o emprego
destes meios. Na atual conjuntura,
o importante não é a MB
dispor de F-22 ou M1A2, mas de
aeronaves e CC que permitam futuras
incorporações de modelos no
estado da arte transcorrerem sem
grandes dificuldades, principalmente
porque aspectos relativos à
mentalidade de emprego destes
meios já estarão consolidados.
Na batalha do Somme, em 15
de setembro de 1916, o impasse da
“guerra de trincheiras” começa a
ser rompido com uma nova arma:
o carro-de-combate.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A Alemanha apresenta ao mundo
a “guerra relâmpago”.
GUERRA DO YOM KIPPUR
O emprego do míssil anticarro
faz analistas pensarem na obsolescência
do carro-de-combate(CC).
GUERRA DO GOLFO
A 24ª Divisão de Infantaria Mecanizada
desloca-se em direção ao
rio Eufrates, sob forte chuva. Um
CC M1 fica atolado na lama. Tentativa
de retirá-lo com outro M1 falha.
Restante da unidade prossegue.
Surgem três T-72 do Exército
do Iraque. O primeiro dispara
uma granada HEAT1, que atinge
a torre do M1: nenhum dano. A
guarnição do M1 responde com
um tiro de APFSDS2 de 120mm: a
granada penetra a torre do T-72
arremessando-a para o ar. O segundo
T-72 também dispara uma
HEAT: outro tiro certeiro, novamente
nenhum dano, o T-72 é da
mesma forma destruído. O terceiro
T-72 dispara uma granada
APFSDS de 125 mm: leves avarias
externas na couraça do M1. Tendo
em vista o que ocorrera com os
outros dois T-72, o terceiro busca
coberta e abrigo atrás de uma duna
de areia. O comandante do M1,
utilizando o visor de imagem térmica,
percebe os gases de escape
do motor do T-72, faz cuidadosa
pontaria e dispara: a granada atravessa
a areia e destrói o terceiro
T-72. Para não deixar o CC abandonado,
duas tentativas de destruição
são conduzidas, com disparos
de outro M1 da 24a DivInfMec,
mas sem sucesso. Finalmente, o
CC é retirado do atoleiro com emprego
de dois veículos de socorro.
-Os fatos acima relatados proporcionam
uma idéia concisa da evolução
do CC, instrumento de destruição
com destacada atuação nos
campos de batalha no século XX e
que possui favorável perspectiva de
ainda permanecer em evidência no
início do próximo milênio. Provavelmente
não será mais a “arma mestra”
das forças terrestres, dando lugar
a sistemas que incluirão meios
aéreos e terrestres, todos perfeitamente
integrados, como nas forças navais.
Nos mares, o couraçado cedeu
a vez de “navio capital” para o
navio aeródromo e este para um
complexo sistema que integra meios
aéreos, submarinos e de superfície.
Continuará o CC, entretanto,
disponível para atuar como arma
decisiva em muitas situações, pois
haverá sempre necessidade de reconhecimento,
segurança e ação de
choque, tarefas apropriadas ao binômio
CC-aeronave. Esta posição
de destaque, todavia, será mantida
se houver aproveitamento de avanço
tecnológico que continue evidenciando
as características inerentes
aos CC: poder de fogo, proteção
blindada e mobilidade.
Com relação ao poder de fogo, o
objetivo continuará
sendo destruir outro
CC, por ser o principal
oponente e também
o mais protegido.
Atualmente, o
poder de fogo está em
desvantagem com relação à blindagem,
conforme ilustrado pelo fato
relativo ao M1 na Guerra do Golfo.
Para mudar esta situação, o aprimoramento
parece ser mais promissor
na munição do que no canhão, embora
estejam em andamento pesquisas
variadas, como canhão eletromagnético
(EM) e emprego de propelente
líquido.
O canhão EM baseia-se na interação
eletromagnética entre o
projetil e o “tubo” e, uma vez resolvido
o problema da enorme quantidade
de energia necessária, terá
como vantagens elevada velocidade
do projetil e aumento na probabilidade
de sobrevivência, pois não
haverá explosivo armazenado no
interior do carro nem efeitos secundários
do disparo – estampido, fumaça
e chama na extremidade do
tubo. O canhão para projetil com
propelente líquido proporcionará
maior velocidade da granada, menor
desgaste do canhão e menor custo
de fabricação, mas ainda depende
de soluções aceitáveis para armazenagem
e manuseio de líquidos instáveis
a temperaturas muito baixas.
Quanto à munição, dois tipos de
granada se destacam, de acordo com
o princípio aplicado para perfurar
blindagem: energia química (HEAT)
ou energia cinética (APFSDS). A munição
HEAT aproveita a elevada pressão
concentrada produzida por uma
explosão (reação química a alta velocidade)
para impulsionar um material
perfurante contra a blindagem,
abrindo uma cavidade na mesma.
Eficiente contra blindagem simples
– mesmo que espessa –, deixa a desejar
contra blindagem composta,
constituída por camadas de diferentes
materiais.
A munição APFSDS – ou munição
“flecha” – utiliza, para perfurar
blindagem, a energia cinética
do projetil, estabilizado por aletas,
que atinge altas velocidades. O material
perfurante pode ser liga de
tungstênio ou de urânio empobrecido.
O urânio proporciona melhor
performance mas é radioativo, produz
poeira tóxica e exige muitos
cuidados para fabricação e manuseio.
Além da melhor performance
ao vencer a blindagem, o projetil
de liga de urânio é estilhaçado em
pequenas partículas que, no interior
do CC, se incendeiam, gerando
calor e altas pressões, tornandoos
mais letais que os de tungstênio.
Esta munição, todavia, pode perder
até oitenta por cento de sua capacidade
perfurante caso a “flecha”
tenha sua estabilização alterada
durante a trajetória.
Considerando que a blindagem
dos CC é reforçada na parte frontal
e nas laterais, o alvo passou a ser o
topo do CC, como é o caso do míssil
sueco Bill – recentemente adquirido
para os Pelotões Anticarro dos
BtlInfFuzNav – e do míssil norteamericano
TOW2B. Munição deste
tipo, se utilizada por CC, também
pode modificar a situação desvantajosa
do poder de fogo.
A blindagem ainda é a melhor
proteção, mas poderá ser substituída,
ou pelo menos complementada.
Evoluiu de espessas chapas de aço
para camadas de diferentes ligas
metálicas, cerâmica e blocos com
blindagem reativa, conseguindo,
assim, neutralizar o canhão. Além
disso, foram desenvolvidos dispositivos
que reduzem a elevação da
pressão interna quando o CC é atingido,
evitando que ocorram explosões,
tanto da munição como do
combustível. São sistemas automáticos
de extinção de incêndio e supressão
de explosão. Para anteciparse
à evolução dos mísseis e dos canhões,
a tecnologia deverá oferecer
opções de proteção eletro-magnética
em torno do CC. Hoje, detetores
de emissão laser alertam que
o CC passou a ser um alvo, obrigando-
o a manobras evasivas, utilizando
sua mobilidade e cortinas
de fumaça – que não resistem a
visores de imagem térmica. No futuro,
deve-se avaliar a possibilidade
de aplicar os mesmos princípios
utilizados para defesa de navios e
aeronaves. No caso de mísseis, interferir
no sistema de direção e, no
quanto a munição de canhão, sem
dispositivos eletrônicos que possam
sofrer interferência, a solução poderá
ser disparar projetis para interceptar
a granada antes que esta
atinja o CC.
Quanto à mobilidade, a substituição
do motor diesel por turbina,
como no M1, deverá ser a tendência.
A turbina apresenta algumas
desvantagens: elevada dependência
de ar puro, o que exige um sistema
de filtro potente para purificar
o ar do campo de batalha, normalmente
sujo, inclusive a poeira
provocada pelo próprio CC; consumo
superior, o que implica em
mais espaço no CC destinado a
combustível, para assegurar um
apropriado raio de ação, bem como
uma cadeia de reabastecimento “forte
em viaturas cisternas”, que poderá
constituir alvo fácil à aviação
inimiga e, se interrompida, deixar
os CC inoperantes; e, embora seja
mais leve e menor que o motor,
exige outros acessórios que fazem
com que o conjunto propulsor seja
tão ou mais pesado que o motor
diesel. Entretanto, suas vantagens
são compensadoras: posição não
denunciada por gases de escape;
menor nível de ruído (o M1 já foi
apelidado “morte silenciosa”); partida
instantânea sob qualquer tempo,
não necessitando de período de
aquecimento para operar; aceleração
muito mais rápida; e maior
facilidade de manutenção por ter
um terço a menos de partes móveis.
Outro aspecto a destacar é a importância
do apoio de Engenharia
para assegurar mobilidade aos CC.
Estes, por mais recursos que disponham
para transpor obstáculos,
inclusive cursos d’água, estarão sujeitos
a situações em que somente
a Engenharia poderá garantir mobilidade.
Logo, os meios de Engenharia
também deverão ser blindados,
visto que seu emprego será
à frente dos CC, inclusive, eventualmente,
sob fogos do inimigo.
É também característica importante
do CC a sua capacidade – e
ao mesmo tempo dependência – de
comunicações amplas e flexíveis,
que permitem assegurar C3I3 para
os comandos envolvidos. Considerando-
se o avanço da guerra eletrônica,
esta dependência deve diminuir
em relação à transmissão de
voz, incorporando-se sistemas informatizados
de transmissão de dados
interligando os CC com seus
escalões superiores e apoios, principalmente
Artilharia, Engenharia
e Logística.
Além de análise das principais
características separadamente, estas
devem ser apreciadas também
como um todo, pois poder de fogo,
proteção blindada e mobilidade
constituem fatores que contribuem
em conjunto para o sucesso da ação
dos CC. Assim, a probabilidade de
sucesso do CC depende da probabilidade
de destruição de CC inimigos,
da probabilidade de sobrevivência
e da probabilidade de estar
onde e quando necessário. Os
aspectos matemáticos do cálculo
destas probabilidades fogem ao escopo
deste artigo – embora sejam
ótimo tema para o Curso de Aperfeiçoamento
Avançado – mas percebe-
se com facilidade que, para
alta probabilidade de sucesso, os
três fatores também deverão ter
elevada probabilidade, por serem
multiplicativos. O fato mencionado
sobre a Guerra do Golfo mostra
o que pode ocorrer: o M1, embora
com altas probabilidades de
sobrevivência e de destruição, não
estava no local e no momento que
se fazia necessário. Outro CC, com
menores probabilidades de destruição
e de sobrevivência, mas com
maior mobilidade, talvez tivesse
maior probabilidade de sucesso.
Estes aspectos, traduzidos em
requisitos, definirão a escolha do
CC a ser obtido por uma força armada
– evidentemente associados
a outros parâmetros, tais como o
papel a ser desempenhado pelo CC
naquela força e o poder nacional
do país em questão. Os EUA definiram
tarefas, organização, requisitos
e contrataram duas empresas
para desenvolver opções de projeto
de CC que resultou no M1
Abrams. Tem o Brasil Poder Nacional
para desencadear as mesmas
ações? Se tiver, a conjuntura –
ameaça, disponibilidade de recursos
decorrentes do dilema espadas
versus arados, prioridades no âmbito
da MB – justifica os custos envolvidos?
Basta conhecer projetos
como o do submarino com propulsão
nuclear da MB, de aeronaves
da EMBRAER, de veículo
lançador de satélite da FAB e mesmo
o do CC OSÓRIO da ENGESA,
para responder “sim” à primeira
pergunta. Entretanto, para a segunda,
a resposta hoje aceitável é “não”.
Na própria MB observa-se um
ótimo exemplo de como deve ser
feito o ajuste das necessidades de
material à realidade da conjuntura:
a obtenção das aeronaves A-4
para integrar a Aviação Naval. Não
há dúvida da importância de a MB
dispor de seus próprios aviões, mas
seria um passo fora da realidade
partir do nada para o modelo mais
avançado, como o F-22. Ousar sonhar?
Sim, mas com objetivos tangíveis,
que possam ser efetivados,
ao invés de continuarem apenas na
imaginação. Assim, o A-4 constitui
um solução aceitável para dotar o
Poder Naval com meios de dissuasão
compatíveis com as possibilidades
da MB, além de proporcionar
a implementação da mentalidade
de aviação naval com aeronaves
de asa fixa.
O mesmo raciocínio é válido
para o CC a ser obtido. Em 1980,
as praias de Porto Seguro constituíram
o cenário para mais uma
Operação DRAGÃO, coroamento do
adestramento anual do conjugado
anfíbio da MB, com uma especial
evolução em relação às Operações
anteriores: pela primeira vez um
navio da MB – o NDCC DUQUE DE
CAXIAS – desembarcava CC da própria
MB. A Marinha passava a contar
com mais um meio para aumentar
a sua capacidade de projeção
de poder em terra – o EE-9 CASCAVEL.
Esta valente viatura teve seus
críticos mas, se sua aquisição não
tivesse ocorrido, talvez ainda hoje
organizações de CC existissem
apenas no papel. Não contaria o
CFN com quase 20 anos de experiências
que, combinada aos ensinamentos
obtidos com as viaturas
blindadas sobre-lagartas M113
e CLAnf, proporcionam conhecimentos
para dar, com firmeza e
segurança, o próximo passo: incorporar
ao inventário da Força de
Fuzileiros da Esquadra um novo
Carro-de-Combate.
Certamente ainda não é o momento
para obtenção do M1 – assim
como a Esquadra ainda não
tem o F-22 –, mas é oportuno um
modelo apropriado para a principal
tarefa dos CC nas Operações
Anfíbias: integrar o sistema de defesa
anticarro. Para tanto, deverá
apresentar características que lhe
proporcionem aceitável probabilidade
de sucesso. O poder de fogo
deve ser baseado em canhão de
pelo menos 105mm, com capacidade
para disparar munição APFSDS
e apoiado em moderno sistema de
direção de tiro. A solução de compromisso
entre mobilidade e blindagem
deverá privilegiar a
primeira – é aceitável perder
em blindagem para reduzir
o peso e, assim, proporcionar
maior mobilidade.
Como sua principal tarefa
é contribuir para defesa
anticarro, deverá estar
onde e quando for necessário
e, como normalmente
será empregado contra
blindados em deslocamento
para a cabeça-de-praia,
poderá tirar proveito de escolher
a melhor posição
para atacar. Sua sobrevivência
não dependerá principalmente
da blindagem e sim da
mobilidade, pois não integrará
grandes formações de CC para
“batalhas de blindados”. Considerando
que a mobilidade estratégica
dos meios de fuzileiros navais é
assegurada pelos navios, deverá ser
privilegiada a mobilidade tática, ou
seja, CC sobre lagartas e com pouco
peso. Ambas proporcionarão
condições para que o CC, integrado
com meios aéreos, atue decisivamente
como instrumento da
“guerra de manobra” – filosofia de
combate em que as operações anfíbias
desempenham importante papel.
Outro aspecto que direciona
para menor peso é o custo do meio.
Mantidos os requisitos fundamentais
– no caso, capacidade de destruição
e relativa proteção blindada
–, quanto menor o peso normalmente
menor será o custo. Para a
MB, recursos financeiros escassos
constituem condicionante importante,
conduzindo a seleção do
modelo para o de menor custo entre
os que sejam adequados. Dependendo
do peso do CC, até mesmo
meios de apoio hoje existentes
– como por exemplo para transposição
de cursos d’água – serão suficientes,
não havendo necessidade
de custos adicionais para aquisição
de novos meios.
Considerando-se os dados relativos
ao SK-105/A2 (ver quadro
em destaque), percebe-se que este
modelo de CC está enquadrado nos
parâmetros apresentados. Talvez
não seja o CC ideal para a FFE,
mas proporciona adequada capacidade
de destruição e aceitáveis
aspectos de mobilidade, proteção
e custo, o que o torna apropriado
para a MB.
Esta incursão no tema CC proporcionou
uma idéia do que poderá
ocorrer no futuro quanto ao seu
emprego, principalmente nos países
possuidores de Poder Nacional
que permita – e cuja conjuntura
exija – dispor de material bélico
no estado da arte. Não é o caso do
Brasil, o que não impede, todavia,
que a MB obtenha os meios julgados
necessários ao seu papel na
defesa da Pátria. O fato de não ser
aceitável o Brasil dispor de aeronaves
F-22 ou CC M1A2, não impede
a obtenção de meios como o
A-4 e o SK-105/A2. Além de contar
com importantes vetores de
projeção de poder e maior capacidade
de dissuasão, a MB estará
exercitando, em todos os níveis de
comando dos Grupamentos Operativos
e no Setor de Apoio, o emprego
destes meios. Na atual conjuntura,
o importante não é a MB
dispor de F-22 ou M1A2, mas de
aeronaves e CC que permitam futuras
incorporações de modelos no
estado da arte transcorrerem sem
grandes dificuldades, principalmente
porque aspectos relativos à
mentalidade de emprego destes
meios já estarão consolidados.