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por P44 » Sáb Jul 09, 2011 6:10 am
xclusivo i/The New York Times
Último voo da Atlantis. A NASA pode entrar em declínio sem os vaivéns
por William J Brod, Publicado em 08 de Julho de 2011 | Actualizado há 22 horas
A falta de novas missões e a redução de pessoal está a levar a um êxodo de cérebros do programa espacial americano
A NASA lança hoje o seu último vaivém espacial - encerrando um período de 30 anos durante os quais vastas equipas de cientistas e engenheiros criativos colocaram em órbita naves espaciais com asas - ao mesmo tempo que enfrenta aquilo que poderá ser um grande desafio: uma debandada de cérebros que ameaça minar não só a segurança como os planos futuros da agência espacial.
Os especialistas do espaço dizem que é frequente ver os melhores e mais brilhantes a sair assim que as linhas de produção de foguetões ficam marcadas para extinção, o que desmoraliza e cria ameaças invisíveis. Chamam-lhe efeito "Equipa-B".
"Os bons começam a ver o fim a aproximar-se e vão-se embora", explica Albert D. Wheelon, antigo executivo aeroespacial e funcionário da CIA. "Ficam os de segunda linha."
A NASA reconhece o efeito e os perigos inerentes, tendo tomado várias medidas, incluindo bónus de retenção para os funcionários mais dotados, novas regalias como benefícios de viagens e mais exercícios de segurança. Com os cortes e as demissões verificados nos últimos anos, a força de trabalho directamente relacionada com o vaivém desceu de 17 mil para 7 mil pessoas.
"A redução do número de efectivos foi bem gerida e alcançou um nível de risco aceitável", comentou Joseph W. Dyer, vice-almirante reformado da Marinha e presidente do Aerospace Safety Advisory Panel (Painel Consultivo da Segurança Aeroespacial) da National Aeronautics and Space Administration (NASA). Depois de um início lento, "a NASA e os seus parceiros da indústria fizeram um trabalho excelente" no que diz respeito ao planeamento da reforma do vaivém, referiu. Embora reconheça que "há um risco acrescido sempre que se reduz o número de efectivos."
Ninguém prevê problemas para o voo do Atlantis, o 135.o e último lançamento no âmbito do programa dos vaivéns espaciais, que hoje tem lugar no Kennedy Space Center, na Florida, perante, estima-se, um milhão de espectadores.
Depois disso, não se antecipam grandes momentos de glória. A NASA viu-se obrigada a cancelar as grandes missões, aquelas que captam a atenção do público e atraem os grandes talentos, e no interior da agência as frustrações já começaram a surgir à superfície. Não só o programa de vaivéns foi abandonado como também o da Constellation, que iria levar os americanos de novo à Lua. Os astronautas têm vindo a abandonar a agência a um ritmo constante.
Seguindo as directivas da administração de Barack Obama e do Congresso, a NASA vai passar a desenvolver um novo e grande foguetão para realizar viagens a regiões mais distantes do espaço. Não obstante, ainda não foi seleccionado nenhum destino, além de que o orçamento é reduzido. Além disso, está igualmente a tentar desenvolver uma indústria comercial que leve os astronautas até às estrelas. Só que o negócio, que envolve uma parceria com empresas do sector privado, como a SpaceX e a Boeing, está focado no desenvolvimento de equipamento e, até ao momento, não tem objectivos declarados, além de órbitas baixas em redor do planeta - o que os vaivéns espaciais fizeram durante décadas, desde 1981.
Numa entrevista concedida na semana passada, Charles F. Bolden Jr., administrador da NASA e ex-astronauta, disse não ter reservas quanto ao último voo do vaivém e teceu rasgados elogios à equipa da agência.
"Se estamos preocupados com o estado de espírito dos nossos funcionários?" perguntou. "Sim, é uma questão que nos preocupa sempre. Se nos preocupamos com o seu bem-estar? Sim, preocupamo--nos sempre."
No entanto, Bolden, um major-general reformado do Corpo de Fuzileiros, disse que os seus funcionários estão entusiasmados não só com a missão Atlantis, também com uma série de novos esforços que estão a ser realizados, tanto na agência espacial como nos parceiros comerciais.
"Estamos a tentar contribuir para que o nosso povo se mantenha ligado à indústria espacial, mesmo que não seja através da NASA", referiu Bolden, ao mesmo tempo que negava a existência de qualquer risco de perda de talentos que possa vir a paralisar a agência.
"Estamos a captar recursos intelectuais."
E rejeitou categoricamente a ideia de que a agência tenha perdido o seu rumo.
"Não estamos à deriva", disse. "E não perdemos a visão. Temos um plano. Temos um plano muito sólido."
A história tem-nos dado algumas lições sombrias, com toneladas de destroços a testemunhar o perigo. Os especialistas dizem que o "efeito Equipa-B" contribuiu para os acidentes que se verificaram em meados da década de 1980 e finais da década de 1990 e está na origem da destruição de mais de uma dúzia de foguetões, do gasto de milhares de milhões de dólares em satélites e de ter lançado o programa espacial do país, desprovido de rumo, num turbilhão.
As duas catástrofes do programa dos vaivéns espaciais - em 1986 e 2003 e nos quais perderam a vida 14 astronautas - estiveram essencialmente relacionadas com defeitos de concepção e falhas de gestão e não tanto com a diminuição do número de especialistas de primeira linha.
Os responsáveis pela NASA defendem que a avaliação dos erros do passado e as reformas profundas tornaram a agência mais sensata. "Começámos a ver quem é que tinha feito um bom trabalho - e quem não tinha", disse Bryan D. O''Connor, o chefe do Gabinete de Segurança e Controlo de Missão da NASA.
"Pode ter-nos escapado alguma coisa", acrescentou. "No entanto, sinto-me muito confiante relativamente ao último voo - vai ser tão seguro como todos os outros que já fizemos, senão mesmo mais seguro, e com profissionais igualmente bons."
falta de missão Em Janeiro, no seu relatório anual de actividades, o Aerospace Safety Advisory Panel chegou a uma conclusão algo diferente. Advertindo para o facto de, na NASA, "a falta de uma missão bem definida poder afectar negativamente a moral dos funcionários", o relatório refere que os próprios centros operacionais mencionam a perda de grandes missões como tendo já "aumentado o potencial para o risco".
As ambições futuras poderão igualmente vir a sofrer, avisou o painel, porque a ausência de objectivos visionários pode minar "a capacidade de atrair e manter o conjunto de capacidades necessário para esta aventura de alta tecnologia".
Em Maio, a insatisfação emergiu no Kennedy Space Center: Michael D. Leinbach, o director de voo do Atlantis, entrou em desacordo com os colegas depois de levar a cabo um exercício de segurança para o voo de hoje.
"O fim do programa dos vaivéns é uma decisão difícil de engolir, e somos todos vítimas de uma má política decidida em Washington", terá comentado com a equipa de lançamento, segundo informação obtida no site noticioso nasaspaceflight.com. "O facto de não termos uma melhor orientação, deixa-me embaraçado."
Leinbach diz que, durante mais de meio século, os programas do país com vista a colocar astronautas no espaço "sempre tiveram qualquer coisa para a qual transitarem". "Agora, acrescentou, "não temos nada", refere.
A sala irrompeu em aplausos depois da intervenção de Leinbach. Bolden, o administrador da NASA, foi cordial em relação ao episódio. Quando inquirido a propósito de Leinbach, limitou-se a tecer--lhe elogios.
E O''Connor, o responsável pela segurança da NASA, afirma que a agência tomou várias medidas para assegurar que a redução de pessoal não deixava sobrecarregados os trabalhadores do Atlantis que ficaram. Disse, por exemplo, que os horários tinham sido prolongados para assegurar que os grupos de técnicos especializados tinham tempo suficiente para resolver os problemas.
"Já não dispomos da capacidade de trabalho que em tempos tivemos", admitiu O''Connor. "Temos menos pessoas."
Dyer, o presidente do Aerospace Safety Advisory Panel, adianta que as investigações da sua equipa sugerem que a força de trabalho do programa dos vaivéns continua empenhada em fazer o melhor trabalho possível.
Porém, depois de anos a investigar os momentos mais negros do programa dos vaivéns, Dryer reconhece que sente uma certa perturbação perante o seu encerramento. E conclui, dizendo: "Respirarei mais facilmente depois do último voo."
*Turn on the news and eat their lies*