Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial
(por Alaor Chaves - Departamento de Fisica - UFMG/ICEx)
O governo Federal deverá criar a Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial – Embratec, uma análoga da Embrapa voltada para a tecnologia industrial. O Ministro Aloizio Mercadante anunciou essa intenção recentemente na visita da presidente Dilma Rousseff à China, na feira de tecnologia de Hannover e no Congresso Nacional. A criação da Embratec foi proposta no livro Ciência para um Brasil Competitivo – o papel da Física (Capes 2007), fruto de um estudo encomendado pela Capes a um grupo de físicos ligados à Sociedade Brasileira de Física. Foi enfaticamente apoiada pela SBPC, pela Academia Brasileira de Ciências e por eminentes empresários industriais.
A idéia obviamente se inspira na história emblemática da Embrapa – criada em 1973. Até a criação da Embrapa, o Brasil insistia em importar e adaptar práticas agrícolas impróprias para nosso clima e nosso solo, e a produção permanecia estagnada, apesar de generosos subsídios governamentais. Hoje nossa técnica agropecuária é a que avança mais rapidamente em todo o mundo. Os resultados do trabalho da Embrapa não tardaram em aparecer. Já em 1978, por meio do programa Polocentro, havíamos desenvolvido técnicas capazes de transformar o cerrado (que na poética de Guimarães Rosa, “é só pra fazer lonjura”) em terras altamente produtivas, o que rendeu o World Food Prize a Edson Lobato (agrônomo da Embrapa) e Alysson Paulinelli, Ministro da Agricultura promotor do Polocentro. Hoje, o cerrado brasileiro é a maior fronteira agrícola do mundo.
A Embratec pode ter na indústria brasileira um efeito similar ao da Embrapa, embora a diversidade das técnicas industriais seja maior e o seu desenvolvimento seja mais desafiador. Sua missão presumível será identificar e resolver os principais gargalos tecnológicos defrontados pela indústria brasileira e franquear as técnicas desenvolvidas para uso dentro do país. Há um complicador político: distintamente das técnicas agrícolas, muitas técnicas industriais são de interesse de um número reduzido de empresas. Para evitar o favorecimento de setores industriais restritos que não sejam estratégicos para o País, o projeto de criação da Embratec deve incluir arranjos capazes de lidar com tais situações. O uso de recursos dos Fundos Setoriais para desenvolvimento de técnicas para os respectivos setores e a realização de pesquisa feita sob encomenda, paga pelo menos em parte, são exemplos de arranjos que ocorrem prontamente.
O Brasil ainda não conta com a massa de cientistas e engenheiros necessários para que desenvolvamos tecnologias diversificadas e de fronteira. Para superar esse embaraço, mais uma vez o exemplo da Embrapa é útil e válido. Nos seus primeiros anos, a Embrapa concedeu 1300 bolsas para estudos pós-graduados no exterior. O mesmo deveria ser feito pela Embratec. Um grande número de cientistas e principalmente de engenheiros precisa ser enviado ao exterior para formação pós-graduada em áreas eleitas como prioritárias.
Nesse momento, é muito importante que a comunidade de cientistas e engenheiros pesquisadores brasileiros se movimente para apoiar politicamente a iniciativa do governo e também se disponibilize para colaborar no trabalho desafiador de projetar a Embratec.
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Re: P&D no Brasil
País vira polo de pesquisa para criação de produtos e serviços de multinacionais. Setor deve levar R$ 17 bi no ano
Publicada em 22/04/2011 às 22h58m
Bruno Rosa
RIO - O ritmo consistente do crescimento da economia brasileira está cada vez mais atraindo empresas estrangeiras, que, de olho na expansão da classe média, têm planos que vão além de novas fábricas: incluem a criação de polos para desenvolver produtos e serviços. A nova estratégia, comemorada por especialistas, envolve segmentos como os de telecomunicações, cosméticos, computadores e petróleo. Segundo dados de empresas e da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), foram destinados para a criação de centros e laboratórios R$ 14 bilhões em 2010, número que deverá subir para R$ 17 bilhões este ano - alta de 21%. Do valor, boa parte é de multinacionais, dizem especialistas.
No radar dos conglomerados internacionais estão, principalmente, São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje, dizem analistas, o setor de óleo e gás é o que consome a maior parte dos recursos. Mas o cenário começa a mudar. A francesa L'Oréal, que está dobrando o seu centro de pesquisa, no Rio, pretende ainda criar um novo espaço. Além de IBM, GE, Volvo Aero, Intel, Clariant e Beurau Veritas, a americana Dell pretende acertar até junho a construção de uma unidade de desenvolvimento em São Paulo (SP), que será a primeira da América Latina. A espanhola Telefónica também investe milhões de euros em SP.
Luciano Almeida, presidente da Investe São Paulo, agência de captação de investimentos, diz que o movimento de companhias estrangeiras é importante para estimular as nacionais, sobretudo, as pequenas e médias empresas.
- É preciso que a inovação entre na cultura das empresas brasileiras. Os estrangeiros já têm essa política e estão contratando pesquisadores do Brasil para entender a lógica nacional - diz Almeida, lembrando que está em conversa com dez empresas, como a Foxconn desde abril do ano passado.
No Rio, o Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, que já tem 80% do espaço ocupado, contabiliza investimentos de R$ 760 milhões, a maior parte de estrangeiros dos setores de petróleo e tecnologia. Agora, vai receber mais R$ 150 milhões. Quatro companhias - Vallourec & Mannesmann, EMC, BG e Siemens - disputam os últimos três espaços existentes.
- Hoje, a maior parte é voltada para o setor de óleo e gás porque é a vocação do Rio. Mas estamos em um esforço de diversificação. O Rio vai precisar de mais desenvolvimento e inovação. Temos de aproveitar o atual momento e agregar inteligência - diz Renata Cavalcante, subsecretária de Desenvolvimento Econômico do Rio.
Pierre-Emmanuel Angeloglou, diretor-superintendente da divisão de Produtos de Grande Público da L'Oréal, diz que, para se adequar ao crescimento do Brasil, é preciso adequar o tamanho do centro de inovações.
- As criações feitas no Brasil são levadas para o mundo. Hoje, vários produtos desenvolvidos no Brasil são exportados para o exterior - afirma Angeloglou.
Segundo o executivo, a gigante francesa de cosméticos está expandindo o seu centro de pesquisas, que hoje fica em sua fábrica no Jardim América, no Rio. A curto prazo, a meta inicial é dobrar o atual tamanho. A médio e longo prazos, o objetivo é criar um espaço específico. Fontes do setor falam que a companhia avalia a Ilha do Fundão, onde seria possível criar sinergias com a Escola de Medicina e o Centro de Dermatologia da UFRJ.
- No centro, os cientistas desenvolvem as fórmulas. O espaço conta ainda com uma espécie de minifábrica, onde são produzidos os novos produtos, que irão passar por testes antes de chegarem ao mercado. Só depois é oficializada a fórmula. O Brasil ganha cada vez mais força - detalha o francês Angeloglou.
A espanhola Telefônica, dona da Vivo, também investe. Benedito Fayana, diretor de Planejamento de Rede e Inovação, lembra que o novo centro, em São Paulo, contará ainda com uma área, que será voltada para a excelência em vídeos. As inovações que forem desenvolvidas serão aplicadas em todo o mundo.
Contratação de cientistas cresce
- É o primeiro centro fora da Espanha. O centro traz ainda benefícios para as empresas locais. Uma delas vai desenvolver trabalhos para a Telefônica em todo o mundo. Inovação serve como pilar para o atual crescimento.
A americana Whirlpool, dona da Brastemp e da Consul, que já conta com 18 laboratórios e três centros mundiais de competência no Brasil, quer ampliar o investimento.
- A contratação de cientistas cresce 25% ao ano desde 2007. O investimento em inovação no Brasil é o que mais avança no mundo, e a tendência é se tornar um dos maiores. Em cinco anos, dobramos os investimentos - ressalta Rogério Martins, vice-presidente de Desenvolvimento da Whirlpool na América Latina.
O asiáticos também vêm ganhando destaque. Semana passada, a Huawei anunciou US$ 350 milhões para um novo centro em Campinas. O mesmo fez a ZTE, que vai destinar US$ 200 milhões em um inédito polo. E, na semana passada, o governo brasileiro anunciou que a taiwanesa Foxconn, maior exportadora da China, fabricante dos produtos Apple, pretende abrir um centro de tecnologia no país, além de uma nova unidade, num investimento total de US$ 12 bilhões.
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Re: P&D no Brasil
Ciência brasileira: de vento em popa
Uma economia vigorosa e descobertas de petróleo estão impulsionando a pesquisa no Brasil a novas alturas. Mas as lideranças científicas precisam superar um sistema educacional fraco e um histórico de pouco impacto
NATAL – De pé, braços abertos, Miguel Nicolelis aponta para uma escavação retangular na terra seca nos arredores da cidade litorânea brasileira de Natal. “É aí que vai ficar o supercomputador”, diz ele. E indicando uma área ainda coberta de mato, acrescenta: “ali é o complexo esportivo”.
Nicolelis é o cientista mais conhecido do Brasil. Neurobiologista da Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, ele tornou-se famoso depois de experiências espetaculares que usam sinais emitidos por cérebros de macacos para fazerem robôs andarem. Mas quando apresentou, em 2003, seus planos de criação de um instituto de neurociência em uma região atrasada do Nordeste do país, poucos acreditaram que poderia dar certo (Science, 20 de fevereiro de 2004, p. 1131).
A ideia era combinar ciência de ponta com uma missão social: desenvolver uma das regiões mais pobres do Brasil. Nicolelis, que atualmente passa parte do ano no país, mostra-se ansioso para oferecer ao visitante uma “prova categórica” do sucesso. Ele pôs a mão na massa e construiu duas escolas de ciência para crianças mais uma clínica de atendimento materno, e recrutou 11 neurocientistas PhD para dirigir laboratórios numa sede improvisada. Dentro de alguns meses, diz ele, US$ 25 milhões de recursos federais brasileiros vão começar a escoar para seus terrenos arenosos, criando um vasto complexo de neurociência que Nicolelis chama de seu “Campus do Cérebro”.
“No Brasil, precisamos da ciência para construir um país”, diz Nicolelis, um entusiasmado nacionalista cujas paixões incluem usar um boné verde do clube de futebol Palmeiras e entornar jarras de suco de maracujá amarelo. “Este lugar vai criar a próxima geração de líderes brasileiros.”
Alguns continuam a achar excêntrica a ideia de Nicolelis. Mas o momento não poderia lhe ser mais propício. Nos últimos 8 anos, o maior país da América Latina começou a viver uma grande expansão. Sua economia está crescendo de maneira acelerada e ele se tornou um ator nos assuntos mundiais, festejando um surto sem precedente de autoconfiança. O país vai receber a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois.
Os bons tempos estão beneficiando a ciência, também. Entre 1997 e 2007, o número de papers brasileiros em publicações indexadas, avaliadas por pares mais que dobrou, para 19.000 por ano. O Brasil figura hoje em 13º em publicações, segundo a Thomson Reuters, tendo ultrapassado Holanda, Israel e Suíça. Universidades brasileiras formaram duas vezes mais doutores este ano do que em 2001, e milhares de novos empregos acadêmicos foram abertos em 134 novos campi federais.
Trata-se de uma inversão da sorte para um país que durante os anos 1990 teve de enfrentar problemas econômicos terríveis. Naquela época, os pesquisadores mendigavam fundos; o Brasil chegou a ter sua bandeira retirada do logotipo da Estação Espacial Internacional depois de não conseguir financiamento para construir seis componentes. “Nós estávamos pensando cada vez menor”, diz Sérgio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia nos últimos cinco anos. “Se não conseguíamos resolver pequenos problemas, como poderíamos resolver os grandes? Agora estamos em condição de pensar grande novamente.”
O combustível que impele a ciência no Brasil é um imposto de P&D sobre grandes indústrias; ele aumentou o orçamento do ministério de Rezende de US$ 600 milhões, há uma década, para US$ 4 bilhões. A companhia de petróleo nacional, a Petrobrás, é a maior contribuinte. O Brasil reiniciou seu programa de pesquisas nucleares em 2008, após 20 anos de calmaria, e, em outubro, uma delegação viajou a Genebra para negociar uma associação com o CERN. Com a economia brasileira crescendo a uma taxa de 7%, neste ano, o país pode se dar ao luxo de pagar US$ 14 milhões por ano para isso.
Cientistas daqui dizem que seus argumentos em prol de mais educação, inovação e tecnologia foram ouvidos na capital, Brasília, e esperam que os orçamentos continuem crescendo sob o comando da presidente eleita Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar esse posto no país. Segundo autoridades da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), até 2020 o Brasil deve dobrar ou triplicar a produção de alunos, de papers e os investimentos e se tornar uma força “formidável” em ciência. Autoridades federais querem ver o Brasil entre os 10 principais países produtores de ciência do mundo.
Mas o Brasil ainda não é formidável. Como o instituto de Nicolelis *– onde a construção está com um atraso de anos no cronograma – a produção científica brasileira segue atrás de suas ambições. O país produz poucos papers de alto impacto e apenas um filete de patentes. Seu sistema de educação pública primária e secundária está em frangalhos, deixando o país de 195 milhões de habitantes cronicamente carente de trabalhadores técnicos.
“Precisamos ser lúcidos e não cair num discurso de vitória”, ressalva Sidarta Ribeiro, um neurocientista formado na Rockfeller University em Nova York e cofundador do instituto do cérebro de Nicolelis. “Em termos de impacto, somos marginais. O discurso externo para o mundo deveria ser que estamos interessados em ciência e estamos progredindo. O discurso interno deveria ser, ´Vamos melhorar. Vamos focar no mérito`.”
Tempos de expansão
O Brasil está claramente se destacando na América Latina, como mostram os indicadores. O país responde hoje por mais de 60% de todos os gastos em pesquisa na América Latina, e os cientistas brasileiros escrevem metade dos papers. A burocracia científica do Brasil é influente, também, contando com um ministério próprio desde 1985. Esse é um passo que a Argentina só deu há três anos e que a vizinha Bolívia está discutindo atualmente. “O Brasil é o único exemplo na América Latina em que 1% do PIB vai para P&D e o ministro da Ciência e Tecnologia é um físico que ainda publica. Assim, o Brasil é o farol”, diz Juan Asenjo, presidente da Academia Chilena de Ciências.
A globalização dos mercados também está operando em favor do Brasil. Como em outros países latino-americanos, a base de pesquisa do Brasil é pesadamente orientada para agricultura, ecologia e doenças infecciosas – ele é o primeiro do mundo em publicações relacionadas a açúcar, café e suco de laranja. A indústria pecuária brasileira produz 33% dos embriões bovinos do mundo. Pesquisa outrora secundária, hoje ela está crescentemente bem situada para abordar preocupações globais com produção de alimentos, mudanças climáticas e conservação.
Nicolelis diz que vê uma “maneira tropical emergente de fazer ciência” movida pela pesquisa em energia renovável, agricultura, água e genética vegetal e animal. “Essas são as questões definidoras do planeta, e, acreditem ou não, os players estão bem aqui”, diz Nicolelis.
A pesquisa biológica é uma área de crescimento acelerado. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, empresa estatal de pesquisa agrícola conhecida como Embrapa, pretende contratar 700 novos pesquisadores neste ano. A Embrapa é considerada uma das unidades de pesquisa agrícola de primeira linha do mundo e seu orçamento de US$ 1 bilhão é hoje do mesmo porte do orçamento do Agricultural Research Service do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. “Nunca vi tantos recursos para a ciência como nos últimos cinco anos”, diz Maria de Fátima Grossi de Sá, uma geneticista de plantas que recebeu recentemente US$ 1,5 milhão para desenvolver uma planta de algodão transgênica.
De Sá trabalha na estação de pesquisa da Embrapa em Brasília, que também está concluindo testes de uma soja resistente a herbicidas que será a primeira planta geneticamente modificada projetada por cientistas brasileiros a chegar ao mercado. A demanda por cientistas PhD está tão elevada que De Sá diz que é difícil encontrar alguns para assumirem cargos de pós-doc. “Nós passamos muito rapidamente da dificuldade de colocar PhDs a ter verbas sem receptores.”
A Embrapa está finalizando a construção de um centro de agroenergia de quatro andares e custo de US$ 15 milhões que empregará 100 pesquisadores no campus de Brasília. Um objetivo é transformar os 22 milhões de hectares de soja do Brasil em produtos mais valiosos como o biodiesel.
“Nós captamos energia solar e a transformamos em outras formas de energia. Achamos que podemos mudar muito rapidamente da agricultura voltada à produção de alimentos para a agricultura destinada à energia. Podemos ser um player”, diz Frederico Ozanan Machado Durães, diretor geral da nova unidade. Para ele, incontáveis carregamentos de soja que embarcam para a Ásia a cada dia de portos brasileiros poderiam energizar indústrias domésticas de lipoquímica e plásticos que produzem “produtos com valor agregado”.
O projeto representa uma importante virada do pensamento brasileiro: a saber, que a ciência pode transformar a economia do país, atualmente dominada por commodities como soja, carne bovina, cana de açúcar, minério de ferro e petróleo. “O novo Brasil será uma economia de conhecimento natural”, diz Gilberto Câmara, diretor da agência espacial do Brasil.
Com mais dinheiro e uma missão de ciência verde emergente, pesquisadores brasileiros dizem que serão levados mais a sério. A maioria dos cientistas seniores das Embrapa foi formada nos estados Unidos, como o Diretor-Executivo José Geraldo Eugênio de França, que em 1987 foi para a Texas A&M University para estudar genética do sorgo, França diz que notou uma mudança durante uma missão a Washington, D.C., em novembro passado, quando se encontrou com o consultor americano de ciências John Holdren e outras autoridades. “Pela primeira vez na história, tivemos um reconhecimento de que alguma coisa está mudando no Brasil. Eles não nos perguntaram quantos pós-doc precisávamos enviar, ou onde nós precisávamos de ajuda, mas onde poderíamos trabalhar juntos”, diz França.
Dinheiro privado
O objetivo mais importante neste momento, reconhece Rezende, “é que a ciência faça diferença na produtividade da indústria. Eu teria de dizer que esse é nosso grande desafio”. Outros objetivos são aumentar o número de cientistas, investir em áreas estratégicas, e resolver problemas sociais chaves.
A desconexão entre ciência e negócios é quase total no Brasil, segundo pesquisadores. Nos Estados Unidos, cerca de 80% do pessoal de pesquisa trabalha na indústria, segundo dados da OCDE, enquanto no Brasil essa cifra fica em torno de 25%. O Brasil quase não produz patentes – apenas 103 patentes americanas foram emitidas para inventores no Brasil em 2009 – e companhias brasileiras gastaram metade do que as européias gastam em P&D. Quando elas gastam, é mais na importação de tecnologia que em seu desenvolvimento.
Pesquisadores dizem que os 20 anos de ditadura no Brasil, findos em 1984, foram em parte responsáveis pelo atraso. As universidades se tornaram redutos da oposição política e círculos de leitura marxista, nos quais as patentes eram vistas como opressão. “Nós nos isolamos das grandes indústrias, que apoiavam os militares. Elas não podiam entrar na universidade. A universidade se tornou fechada, hermética, e agora precisamos mudar isso”, diz Maria Bernardete Cordeiro da Sousa, pró-reitora de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
As autoridades vêm tentando vencer o atraso na inovação. Em 2004 e 2005, o Brasil aprovou leis que concedem benefícios fiscais à P&D para empresas e começou a permitir que o Ministério da Ciência e Tecnologia conceda verbas a empresas, e mesmo pague salários de pesquisadores nas empresas industriais. Em agosto, o ministério anunciou um grande projeto de P&D industrial, oferecendo US$ 294 milhões em verbas para apoiar projetos de inovação dentro de companhias em “áreas estratégicas” como carros elétricos, marca-passos e culturas agrícolas geneticamente modificadas.
Ainda é cedo para dizer que os incentivos do governo estão funcionando. Somente um pequeno número de empresas se candidatou às isenções fiscais. Mas a inovação de risco no estilo americano, antes considerada estranha, está sendo vista cada vez mais em termos favoráveis. Capitalistas de risco começaram a se instalar no Brasil, e em 2010, tanto a IBM como a General Electric anunciaram planos de criar centros de pesquisa no país.
“Nos falta uma cultura de inovação e empreendedorismo. Há um longo caminho a percorrer para mudar isso”, diz Luiz Mello, um médico que no ano passado foi designado pela segunda maior empresa do Brasil, a mineradora de minério de ferro Vale S.A, para gastar US$ 180 milhões estabelecendo três novos institutos de ciências corporativos. Mello diz que foi contratado depois de abordar o CEO da Vale, Roger Agnelli, para levantar dinheiro para um programa de engenharia. “A coisa se transformou numa reunião para ele dizer o que queria. E ele queria o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts] da Vale”, recorda Mello. “Eu estava sendo convidado pra chefiar algo que seria um novo Bell Labs ou Xerox PARC.”
Mello viajou recentemente ao vale do Silício para colher idéias. Embora o negócio da Vale seja de baixa tecnologia, a companhia de commodities, que despacha imensas quantidades de minério para a China e a Europa, quer gastar pesadamente em pesquisa em parte porque tem enfrentado uma forte escassez de mão de obra especializada, aumentando a pressão de ambientalistas, e a concorrência de companhias globais. Os três laboratórios da Vale operarão com biodiversidade, energia renovável e tecnologia de mineração. “Esse é o maior investimento espontâneo em P&D que eu conheço no Brasil”, diz Mello.
As novas leis também encorajam universidades brasileiras a depositar patentes e criar escritórios de transferência de tecnologia, o que muitas estão fazendo pela primeira vez. Na Universidade Federal de Minas Gerais, o número de pedidos de patentes atingiu 356, incluindo uma para uma vacina canina contra leishmaniose , que já chegou ao mercado. “Tudo isso está provocando ressonância no sistema”, diz Ado Jorio, o professor que coordena os esforços de patente da universidade. “Está havendo uma explosão de publicações, e isso também vai ocorrer em inovação.”
Partilhar a riqueza
A ciência brasileira sofre de um outro desequilíbrio, entre o sul afluente e as regiões setentrionais pobres, que as autoridades colocaram como prioridade tentar corrigir. A maior parte da ciência ainda ocorre em apenas três estados sulinos, com a Universidade de São Paulo sozinha respondendo por quase um quarto de todas as publicações científicas. “Um dos maiores problemas que enfrentamos é essa assimetria brasileira, a desigualdade das regiões”, diz Lucia Melo, diretora do Centro de Estudos Estratégicos e Gestão em Ciência, Tecnologia e Inovação, um think tank de política científica do governo em Brasília.
Para levar a ciência ao interior negligenciado do Brasil, o governo se embrenhou numa farra de construção de universidades e reservou 30% dos recursos de pesquisa para os estados pobres do norte e do centro-oeste. Por um programa de 2009, autoridades em Brasília disseram que dariam bolsas de estudo para todos os alunos de pós-graduação em regiões distantes, independentemente do mérito acadêmico. A ideia provém do Partido dos Trabalhadores, o partido governante no país, que fez da melhoria das condições nas áreas pobres uma prioridade. Um programa de bem-estar bastante expandido ajudou a tirar muitos milhões de brasileiros da pobreza. Isso também deu aos cientistas brasileiros espaço para respirar.
“Antes, nós tínhamos de enfrentar a questão, ´Por que vocês estão dando comida e leite para um macaco quando há crianças famintas na casa vizinha?`” diz Cordeiro de Sousa, que também faz pesquisas sobre primatas. Mas ela vê uma compensação: os pesquisadores sentem uma pressão crescente para dedicar tempo para solucionar problemas locais. Ele está analisando a criação de um instituto do sal para respaldar a indústria local de mineração de sal. “É preciso ter uma vocação, porque no futuro poderemos ser chamados a responder intensamente.”
Em nenhum outro lugar a carência de ciência brasileira é mais preocupante do que na Amazônia, a floresta tropical que cobre aproximadamente 49% do território brasileiro, mas abriga somente cerca de 3.000 pesquisadores doutores, dos quais pouquíssimos fazem ciência aplicada. “Imagine o que esse número absolutamente irrelevante representa para essa região imensa”, diz Odenildo Teixeira Sena, secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas. Embora seja maior que a França e a Espanha juntas, o Amazonas possui somente um arqueólogo PhD residente, e apesar de seu vasto sistema fluvial, nenhum engenheiro naval, diz Teixeira.
Uma força de trabalho cada vez mais científica na região poderia ajudar a encontrar alternativas para a agricultura baseada na derrubada e nas queimadas. Mas as ansiedades nacionais também figuram no cálculo. “A maioria das publicações sobre a Amazônia não tem um autor brasileiro. Isso nos preocupa”, diz Jorge Guimarães, o funcionário do Ministério da Educação que supervisiona a educação superior no Brasil. “Precisamos de mais brasileiros participando.”
O Brasil nunca se sentiu seguro de seu controle sobre a vasta região que a Espanha cedeu a Portugal pelo Tratado de Madri de 1750. Com a Amazônia, um foco de manobras internacionais sobre créditos de carbono, a dependência do Brasil da produção externa de conhecimento se tornou “uma questão muito delicada”, diz Adalberto Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em Manaus. Durante uma conferência nacional de ciência e tecnologia em maio último, Val propôs uma “hegemonia informacional” brasileira sobre o bioma da floresta. “Existe uma questão de soberania nacional”, diz ele
Esses tons nacionalistas podem parecer hostis fora do Brasil, mas eles caem bem no país. O físico Luiz Davidovich, que presidiu a conferência de maio, diz que a comunidade científica brasileira precisa levantar “grandes bandeiras” para mobilizar o país. “´A Amazônia é nossa` é uma delas”, diz ele.
Mesmo alguns especialistas estrangeiros responderam ao apelo. Daniel Nepstad, um renomado ecologista americano especializado em florestas tropicais largou seu emprego em outubro no Woods Hole Research Center, em Massachusetts. para se tornar residente brasileiro e empregado em tempo integral do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, uma organização sem fins lucrativos que ele cofundou, baseada na cidade de Belém.
Daniel Nepstad trocou Massachusetts pelo Instituto Pesquisa Ambiental da Amazônia
Nepstad diz que sua filiação americana “era interpretada no sentido de que eu seria menos comprometido com a agenda científica no Brasil”. A política florestal brasileira está evoluindo rapidamente e, diz Nepstad, “enquanto a ciência for liderada por pesquisadores do Hemisfério Norte, estamos perdendo a oportunidade de tornar informações realmente boas em decisões políticas.”
Fazendo acontecer
Apesar de suas ambições crescentes, o Brasil ainda precisa provar que pode fazer pesquisa básica de classe mundial. A contagem dos impactos de seus papers científicos é modesta, cerca de dois terços da média mundial, e caiu em algumas áreas. Nenhum brasileiro ganhou o Prêmio Nobel em ciência ou medicina, enquanto a rival regional, Argentina, tem três. Os cientistas culpam problemas estruturais nas universidades estatais do Brasil. Críticos dizem que eles desencorajam a competição, por exemplo, com mandatos automáticos após três anos no emprego e avaliações que premiam a publicação em língua portuguesa.
“A atitude durante muitos anos foi evitar a competição, manter a cabeça baixa, e escolher um tema marginal”, diz Ribeiro. Em vez de competir de igual para igual em tópicos quentes com grandes laboratórios do exterior, diz ele, os pesquisadores brasileiros às vezes têm se contentado em estudar questões locais. “O pensamento era, ´O tamanduá é nosso por isso não se preocupem com os gringos`.”
Os cientistas brasileiros que voltavam do exterior, atraídos por empregos e os recursos de empresas iniciantes, se queixam de que ainda há muitos obstáculos que tornam quase impossível produzir uma ciência de classe mundial. Após 11 anos nos Estados Unidos, a bióloga Luciana Relly Bertolini retornou ao Brasil em 2006 com seu marido, Marcelo, para começar um laboratório para clonar cabras transgênicas. Embora o esforço esteja financiado de maneira adequada, Bertolini diz que a pesada carga de ensino requerida de professores e a falta de pessoa treinada implica que “aqui se faz ciência por teimosia”.
Também são notórios os regulamentos de importação kafkianos do Brasil. Mesmo simples reagentes demoram meses para chegar, com amostras radioativas e biológicas muitas vezes em condições duvidosas. Bertolini diz que um equipamento de fusão celular que ela encomendou da Hungria ficou preso por quatro meses na alfândega. “Pode-se ter a melhor cabeça do mundo e não conseguir jamais a competitividade porque o governo trabalha contra nós”, diz Bertolini. “Quando começamos a pensar nisso, queremos voltar.”
Alguns dizem que as perspectivas continuarão sombrias até esses problemas ser resolvidos. “Não tenho conhecimento de nenhuma ciência extraordinária no Brasil”, diz Andrew J. G. Simpson, diretor científico do Ludwig Institute for Cancer Research na cidade de Nova York.
Cidadão naturalizado brasileiro, Simpson viveu em São Paulo por sete anos e coordenou um dos triunfos memoráveis do Brasil, o seqüenciamento do patógeno de planta Xylella fastidiosa, que foi parar na capa da revista Nature em 2000. Mas quando Simpson retornou este ano para uma celebração de 10 anos do feito, ele notou que, pelo menos no campo da genômica, “não houve mais nenhum paper de grande impacto. Não houve um processo ascendente. Foi uma situação anormal.”
Autoridades brasileiras se concentraram antes em resolver outro problema: a insegurança nos recursos para pesquisa. Em 2008, em sua maior rodada de financiamento da pesquisa básica em todos os tempos, o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil ofereceu US$ 350 milhões em três anos para financiar 122 institutos nacionais para enfrentarem temas que variam da computação quântica e células-tronco a modernização da estação de pesquisa na Antártica.
“Eles viram que precisávamos de programas de longo prazo com estabilidade”, diz Davidovich, que divide a direção do programa de computação quântica. Outros cientistas manifestam dúvidas privadamente sobre institutos com nomes grandiosos, notando que na verdade eles são redes virtuais com uma média de 20 pesquisadores universitários cada e dinheiro espalhado demais para se conseguir muita coisa. Em papers de posicionamento, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência disse que o Brasil precisa se concentrar na criação de mais empregos de pesquisa pura fora do sistema universitário. Ela quer um novo instituto com grande staff para estudar os oceanos, e outro para a Amazônia, moldados na agência de estudos agrícolas Embrapa *– neste caso com financiamento condizente com a visão grandiosa.
Na cidade de Natal, o instituto de neurociência de Nicolelis, atualmente abrigado num hotel convertido, ainda precisa produzir uma ruptura brasileira. Mas ele está cada vez mais bem posicionado para isso. Possui laboratórios razoavelmente equipados, uma instalação para primatas, e uma multidão contratada de jovens professores com currículos promissores, incluindo dois recrutados do Max Planck Center, na Alemanha. Em agosto, a École Polytechnique Fédérale de Lausanne na Suíça doou um supercomputador IBM Blue Gene/L, que Nicolelis diz será o mais rápido da América do Sul.
Ribeiro, o brasileiro que retornou de um pós-doc na Rockefeller para ser o diretor científico do instituto, diz que o ano de ciência que ele esperava perder enquanto organizava o centro se estendeu para três, na medida em que teve que lidar com as autoridades alfandegárias e com um grande número de alunos mal formados. “Agora, eu finalmente estou começando a enfrentar avaliadores de novo, em vez de burocratas, o que é um sinal de que o plano funcionou”, diz Ribeiro, cujo trabalho inclui experimentos para observar o efeito do sono e do sonho na retenção da capacidade motora e perceptiva.
A rua de terra na frente de seu prédio que leva para uma favela próxima, o faz lembrar uma fotografia que viu do Founder`s Hall da Rockefeller depois que ela foi construída em 1906 e ainda estava cercada por campos lamacentos e carruagens puxadas por cavalos: “Eles não começaram com o melhor lugar para fazer ciência tampouco.”
Antonio Regalado
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Re: P&D no Brasil
15/06/2011 - 08h27
UFMG faz composto capaz de dissolver quase qualquer coisa
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GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Não importa se é pedra, cabelo, madeira ou carne. Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) criaram um composto capaz de dissolver praticamente qualquer material orgânico ou inorgânico em até 30 minutos.
"Outros agentes conhecidos e comuns de solubilização demoram cerca de 12 horas para dissolver, por exemplo, amostras de unhas ou de fios de cabelo, enquanto o nosso realiza essa solubilização em cerca de meia hora", diz um dos autores da descoberta, Claudio Donnici, do Departamento de Química.
Batizado de Universol, o novo produto resolve um antigo problema que envolve muitos solventes: ele é capaz de dissolver sem alterar a composição química das amostras analisadas.
Ou seja, poderia ser usado para testes de controle de qualidade ou mesmo para verificação da presença de substâncias ou elementos tóxicos, como metais pesados.
Além disso, diferentemente do que ocorre em muitas outras técnicas, funciona em temperatura ambiente e não precisa de métodos adicionais, como micro-ondas e ultrassom. Isso economiza tempo e energia no processo.
"Com certeza nossa metodologia torna os métodos analíticos mais baratos e mais eficientes, pois encurta o tempo global de análise e possibilita maior número de análises com menos custos de outros métodos adicionais e de outros agentes que, em geral, também são corrosivos e perigosos" diz Donnici.
A patente do Universol já foi requerida e, por conta disso, os pesquisadores não podem revelar detalhes de sua composição ou de seu processo de fabricação.
Os cientistas, que incluem ainda o professor da UFMG José Bento Borba da Silva, afirmam que podem transferir rapidamente a tecnologia de produção para as indústrias interessadas.
"Nossos laboratórios estão abertos às demandas de instituições de pesquisa e empresas", completa Donnici.
Os técnicos de laboratório não precisam ter medo de manusear o Universol: ele não dissolve vidro e plástico.
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Re: P&D no Brasil
Poli-USP quer captar verba para pesquisa nos moldes de Harvard
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
O orçamento anual da Universidade Harvard (EUA), considerada a melhor do mundo, beira os R$ 6 bilhões. Mas só 20% desse montante vem do governo americano.
O resto do dinheiro é uma soma de anuidades, doações e rendimentos dos chamados "endowments", fundos de investimentos da instituição.
Esse é o modelo importado pela Escola Politécnica da USP, que agora terá seu fundo de investimentos --iniciativa pioneira nas universidades públicas brasileiras.
Assim como em Harvard, o fundo será gerenciado por uma empresa, a Endowments do Brasil, responsável por aplicar o que virá do setor privado e de ex-alunos.
"O dinheiro permanecerá intocável. Os dividendos da aplicação serão revertidos em recursos para pesquisa", explica José Roberto Cardoso, diretor da unidade da USP.
A escola ganha autonomia para financiar parte de seus trabalhos sem depender de agências de fomento e do Estado (85% dos R$ 2,89 bilhões liberados pelo governo à USP são consumidos pela folha de pagamento da universidade).
A iniciativa, no caso da Poli, veio dos próprios alunos. Foi o Grêmio da Poli que criou o "endowment" e fez a primeira doação: R$ 100 mil. Agora, a expectativa é por recursos vindos de fora.
"Esperamos que o fundo desenvolva uma cultura de doação que ainda não existe no país", diz Danielle Gazarini, presidente do grêmio.
A falta de "costume" em doar e receber doações é tão grande que a própria USP não contabiliza quanto dinheiro extraorçamentário recebe.
Cardoso diz que a ideia é difundir a proposta internamente na universidade. "Já fomos procurados por algumas unidades da USP para falar da nossa iniciativa."
Por enquanto, a estrutura gerencial do fundo é pequena. A Endowments do Brasil tem alguns sócios, e só. "O custo do gerenciamento não consumirá mais de 10% do valor que se resgate", diz Felipe Sotto-Maior, um dos diretores da empresa.
Por isso, não está previsto inicialmente uma equipe de captação de recursos, ou seja, pessoas responsáveis por contatar os ex-alunos e seduzi-los para que contribuam.
Em Harvard, há 150 funcionários gerenciando os vários "endowments" da universidade e fazendo a captação. De acordo com Sotto-Maior, o fundo pode ainda ajudar a aproximar o setor produtivo da universidade.
Mas as empresas não vão interferir no gerenciamento do fundo. Quem decidirá quais projetos receberão os recursos será um conselho, afirmam os idealizadores. "Será como uma agência de fomento: o pesquisador submete um projeto e o conselho avalia", diz Cardoso.
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Re: P&D no Brasil
17/06/2011 - 17h50
Governo quer empresa para impulsionar inovação industrial
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
O ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) disse nesta sexta-feira que está preparando a criação da Embrapi (Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial), nos moldes da Embrapa.
A empresa, embora de concepção estatal, segundo o ministro, deverá ser financiada majoritariamente por recursos privados.
A proposta é integrar os centros de inovação, como Senai, Instituto Nacional de Tecnologia, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas e os laboratórios do Inmetro sob um guarda-chuva. O objetivo é aumentar a inovação dentro do setor produtivo.
O modelo de operação da Embrapi não está pronto, mas segundo Mercadante, a direção deverá ser feita pelo setor privado. Mercadante disse, no entanto, que não será uma empresa a custo zero. "Nós queremos aumentar o investimento em tecnologia".
Ainda assim, não será uma nova estatal, enfatiza o ministro.
"Não vamos criar cargos, empregos, vamos organizar o que já existe, mudando o foco e priorizando o atendimento à indústria", disse.
Mercadante participou de uma reunião com empresários da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), grupo organizado pela Confederação Nacional da Indústria.
DESAFIOS
A novidade encontra, no entanto, alguns desafios. A maior parte dos recursos do Senai, por exemplo, entidade com maior participação privada, é voltada para formação de pessoal e não em inovação propriamente dito.
"Não adianta, em todo o mundo, boa parte do incentivo tecnológico ao setor produtivo passa pelo investimento público", avalia um interlocutor do ministro, que participou da reunião com empresários onde foi apresentada a proposta.
Mercadante se inspirou na fundação alemã Fraunhofer, que deverá ser parceira do governo nessa iniciativa. Lá, no entanto, dois terços dos recursos que vão para inovação são públicos e um terço é privado.
Uma reunião no dia 27, com empresários e CNI, deve acertar os detalhes para a formatação da Embrapi.
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Re: P&D no Brasil
Mercadante: Brasil tem déficit de R$ 18,8 bi por ano em TIC
17 de junho de 2011 • 17h14 • atualizado às 17h29
Ministro conversou com o Terra sobre tecnologia, investimentos e projetos
Foto: Léo Pinheiro/Terra
Vagner Magalhães
Direto de São Paulo
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, vai à Coreia do Sul, em julho, na expectativa de trazer novos investimentos em Tecnologia da Informação e Comunicação, setor em que o Brasil tem um déficit de R$ 18,8 bilhões anuais. Mercadante afirma que o projeto da planta da Foxconn - fabricante de produtos da Apple como iPad e iPhone - no País deve estar pronto até final de julho e que é preciso aumentar o número de patentes nos setores de média e alta tecnologia. Ele defende ainda que não deve haver mistificação da tecnologia e que ela pode ajudar muito em um salto de qualidade na educação brasileira. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao Terra:
Terra - Quais são as principais demandas do País hoje em termos de tecnologia?
Aloizio Mercadante -Quando a gente olha o número de patentes, que é muito baixo, e quando analisamos os setores de média e alta tecnologia, nós estamos com déficits comerciais muito elevados. No setor de Tecnologia da Informação e Comunicação, o déficit global é de US$ 18,8 bilhões anuais. Se você pegar o setor, por exemplo, de fármacos, remédios, nós temos ali um déficit de US$ 6,5 bilhões. Se você pegar o complexo de equipamentos de saúde, mais US$ 5,5 bilhões. Mais de US$ 12 bilhões só em fármacos e complexo de equipamentos de saúde, que é uma área cada vez de mais esforço científico e tecnológico. A mesma coisa no setor de bens de capital. Nós estamos com déficit da ordem de US$ 12 bilhões. Esses setores são todos de alta e média tecnologia e revelam que o Brasil está perdendo competitividade nessas áreas. Nós estamos consolidando uma liderança em tudo o que se chama economia do conhecimento natural. Temos grande capacidade de inovação, eficiência, redução de custos, produtividade na agricultura...
Terra - E como mudar isso?
Mercadante - Você pega o etanol, desde o lançamento do programa, em que nós aumentamos a produtividade em 135% e reduzimos o custo quase 70% da produção. Então, nós temos a economia mais competitiva do mundo nesse setor. Na mineração e no petróleo, a mesma coisa. Com os fortes investimentos que a Petrobras fez em ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, se tornou a terceira empresa do mundo na área de petróleo e a oitava do mundo em valor de mercado. Temos o exemplo da Embraer. O País acreditou há 60 anos que poderia fazer uma empresa de aviação, formou várias gerações de engenheiros de excelente qualidade e hoje a Embraer é a terceira empresa de aviação do mundo. Tem 4,2 mil engenheiros trabalhando. Nós precisamos olhar esses bons exemplos do País e levar para esses outros setores estratégicos, como por exemplo, de Tecnologia da Informação. Esse é um setor portador de futuro. É um setor que cada vez vai ser mais importante. Nós precisamos olhar esses setores com prioridade, estabelecer uma política de desenvolvimento que permita alavancar o investimento, internalizar a cadeia produtiva e dar um salto estratégico. Estamos fazendo isso, com grande esforço, na área de Tecnologia da Informação.
Terra - Estão previstos novos investimentos de empresas estrangeiras no País?
Mercadante - A Coreia é um grande polo na área de TI. Samsumg, LG, são empresas que faturam US$ 200 bilhões, são líderes em algumas dessas cadeias, estão no Brasil, queremos ver o que é possível ampliar em termos de investimentos, de possibilidade, criar várias parcerias nas áreas de ciência e tecnologia com eles. É um País muito dinâmico e que também tem muito interesse em uma parceria estratégica com o Brasil. Já tem um acúmulo de relacionamento. O embaixador já está trabalhando. O Paulo Bernardo (ministro das Comunicações) esteve lá, já iniciou algumas negociações importantes na área de telecomunicações e eu vou lá para ver se a gente conclui. Estamos indo em julho para trazermos projetos, investimentos. Tivemos de janeiro a abril US$ 23 bilhões de investimento no Brasil. Este ano devemos ter entre US$ 55 bilhões e US$ 60 bilhões em investimento externo. Então nós temos de aproveitar esse momento para negociar transferência de tecnologia, sociedade com empresas brasileiras, que é o que permite ter transferência de tecnologia, formação de recursos humanos e mais esforço em pesquisa e desenvolvimento. Acho que esse é o grande esforço que nós estamos fazendo.
Terra - O Brasil tem algum interesse específico na Coreia?
Mercadante - Tem vários. Na área de comunicações, na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, toda essa cadeia de eletroeletrônicos, em que eles são muito fortes. Também na parte de nanotecnologia. Também estamos analisando o modelo de gestão de inovação deles, como fizemos na Alemanha, na China. Como é que os países administram essas coisas do modelo de inovação dá uma boa discussão.
Terra - O setor de Tecnologia da Informação gerou R$ 39 bilhões em 2009, mas a receita de exportação disso ainda é muito baixa...
Mercadante - Nós faturamos no ano passado, em torno de US$ 50 bilhões, com déficit de US$ 18,8 bilhões, e somos o 27º País exportador na área de Tecnologia da Informação e Comunicação. Nós somos a 7ª economia do mundo. Então isso mostra que nesse setor, que é estratégico, nós temos de rever a nossa política e ter atitudes mais ousadas e mais agressivas. O que nós estamos fazendo? Primeiro fizemos essa Medida Provisória dos tablets, que permite dar um desconto, que só dos impostos federais é 31%, mas pode chegar a 40% se você pegar toda a cadeia de impostos. É um ganho espetacular. Estamos editando o Processo Produtivo Básico (PPB), que é o que tem de ter de produção local. Já na Medida Provisória, para produzir no Brasil, tem de ter o benefício da lei e 20% de conteúdo nacional. Em três anos queremos 80% dos principais componentes sendo produzidos no Brasil. Na média 80%. Há produtos que têm de chegar a 95%. Nós queremos estender essa visão também para outras áreas, para os notebooks, para os celulares, para os televisores. Aumentar o PPB, aumentar a produção local. Nós estamos vendendo hoje 12 milhões de televisores. Nós achamos que este ano nós vamos chegar a 15 milhões de computadores e hoje dos televisores, metade tem tela LCD. Só tem quatro países no mundo que produzem essa tela. Então nós estamos fazendo um grande esforço para trazer para o Brasil essa indústria e também a de semicondutores. Só tem 20 países no mundo que produzem semicondutores e chips. Estamos negociando atrair grandes investimentos para a produção de semicondutores no Brasil porque temos escala, temos um mercado. E nós queremos que parte desses US$ 18,8 bilhões retornem como investimento, como geração de emprego e desenvolvimento do País.
Terra - E em relação à instalação da Foxconn?
Mercadante - A Foxconn chegou no Brasil, começou a negociar. A prioridade deles agora é implantar uma linha para fazer o iPhone e o iPad. Eles querem essa planta pronta já no final de julho, para começar a produção. Vão começar pelo iPhone e estão encaminhando agora 200 engenheiros e técnicos de alto nível em eletrônica para a China, para serem formados. Depois vão encaminhar mais 200. A prioridade absoluta é implantar essa planta. E estamos iniciando a negociação do projeto mais estruturante que é uma planta de verticalização de toda a produção. Desde os componentes elétrico-eletrônicos, chips, até o display, que como eu disse, só quatro países produzem. É uma tecnologia bem sofisticada. É uma planta de produção global. Nós não temos muitos setores com essas condições. Talvez só a mineração e parte da agricultura. Então a escala é muito grande. Nós precisamos de uma área muito grande também. E é uma área da ordem de cerca de 50 km² para implantar essa unidade. A perspectiva é muito forte. Além da planta, você tem de desenvolver, você cria um arranjo produtivo de alta tecnologia. A expectativa é atrair outras empresas associadas. Por exemplo, na área de óptica, automação, telemedicina, LED, energia fotovoltaica. A ideia é você criar esse espaço. Por isso precisa de uma área grande.
Terra - E em relação aos tablets. Já existe alguma empresa liberada para produção?
Mercadante - Três empresas já têm as licenças autorizadas: Samsung, Positivo e MXT. E nós esperamos dar prioridade absoluta para esse licenciamento. Vamos procurar liberar todas as empresas. Algumas têm alguns pequenos ajustes que precisam fazer, mas nós vamos prioridade absoluta para que elas comecem a produzir.
Terra - O governo tem se empenhado em trazer os tablets para o Brasil. Como é que fica a questão dos smartphones, que não tiveram um benefício tão grande, principalmente na questão de impostos?
Mercadante - É um tema que está na nossa pauta. Eu acho que nós precisamos criar uma política semelhante para notebooks, para celular, para smartphones no sentido de aumentar a produção local, desencadear investimentos em semicondutores, telas, displays, enfim, todos os componentes críticos para que a gente domine essa tecnologia e aproveite essa oportunidade fantástica que o mercado brasileiro representa. Estamos produzindo 80 milhões de celulares por ano. Então tem um mercado muito robusto, que tem escala. O índice de produção local ainda é muito baixo, no meu ponto de vista, nos celulares. Nós temos também de rever o PPB e estabelecer um PPB para o smartphone.
Terra - Há alguma previsão para incentivo na área de software?
Mercadante - Essa vai ser uma das prioridades do nosso programa estratégico de Tecnologia da Informação. O Brasil tem um potencial muito grande de softwares e games. São mercados muito importantes na economia mundial e o nosso desenvolvimento nesses setores é ainda muito deficiente. Nós estamos pensando em realizar uma Olimpíada de Tecnologia da Informação para tentar atrair talentos, como nós estamos fazendo na matemática, para descobrir talentos nessas áreas e ter uma política de incentivo fiscal, para alimentar essa rede. Ter uma atitude mais agressiva, como nós estamos fazendo com os tablets, para estimular a geração e desenvolvimento de softwares no País. Essa é uma área que pode gerar muito emprego de qualidade, é muito estratégica e nós achamos que o brasileiro, pela criatividade, pela cultura, se adapta muito bem a essas áreas.
Terra - O governo Lula se mostrou favorável ao software livre. Já no início do governo Dilma, teve a retirada do selo do Creative Commons do ministério. Como é que o senhor está tratando o software livre?
Mercadante - Nós temos todo o interesse no fomento ao software livre. Ele é um instrumento que permite uma construção coletiva. Ele ajuda a baratear o custo do acesso ao software e é um vetor muito promissor que vem crescendo em toda a economia mundial. Então nós temos todo o incentivo ao software livre. Nós queremos fomentar essa política no País.
Terra - De que maneira?
Mercadante - Tem vários programas, tem redes na área de TI que nós apoiamos e que desenvolvem produtos, processos. Temos redes de pesquisa, institutos nacionais de tecnologia que desenvolvem softwares nessa área. Temos dado apoio a várias iniciativas e temos uma política de fomento e apoio ao software livre.
Terra - Pesquisa da Cisco aponta que 100% dos profissionais da educação no Brasil acreditam que o uso da tecnologia pode melhorar o ensino, acima da média mundial que é de 85%. Como é que o senhor acha que a tecnologia pode contribuir com a educação?
Mercadante - No meu mandato (de senador), eu me dediquei muito a isso. Aprovei um projeto por unamidade no Senado, de pegar R$ 1 bilhão do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e colocar no programa de inclusão digital todo o ano. Formar professores, produzir material pedagógico, expandir essa rede. Na Câmara, a comissão especial já aprovou, falta a votação final. Eu acho que deveria ser a prioridade das prioridades. Nós estamos também, com um grande esforço da presidente Dilma, em dar prioridade ao plano nacional de banda larga, para poder chegar nas escolas. Está atrasado o acordo que foi feito com as empresas. Elas não cumpriram o calendário que foi estabelecido pelo Ministério das Comunicações. Nós precisamos avançar isso. No ministério, nós estamos fazendo vários projetos-piloto para desenvolver tecnologia e fazer avaliação pedagógica de qual o melhor caminho. Que tipo de equipamento, de material digital mais exitoso, qual a estratégia de implantação das novas tecnologias. Estive reunido com o secretário de Educação de São Paulo, que esteve lá no gabinete, propondo uma parceria com o ministério para nós ampliarmos um programa em São Paulo de lousa digital. Iniciar o processo de inclusão digital pela lousa digital, com a qual o professor se sente mais seguro. É um instrumento que motiva muito os alunos, principalmente português e matemática, física e química. E isso tem de ser feito com acompanhamento, com sistema de avaliação de monitoramento. O MEC vem fazendo alguns projetos-piloto com o uso de notebooks. O Acre tinha a pior qualidade de ensino no Brasil e hoje tem alguns indicadores em sétimo e sexto lugar. E eles já colocaram banda larga em todas as escolas do Estado e estão distribuindo notebooks para os alunos. A gente não pode mistificar a tecnologia. Não adianta chegar lá e jogar o computador na sala de aula. Isso tem de ser muito bem construído com orientação pedagógica, com treinamento, com formação. Por isso, essas experiências. Nós queremos desenvolver material conjunto. Em países como Taiwan, você já não tem mais livro didático. É o tablet. A Coréia, em dois anos, também já não produzirá livro didático. Já tem toda produção didática digitalizada. É um investimento que vai trazer uma grande economia, com grande aumento de eficiência. O governo pretende utilizar o seu poder de compra nessa rede de 69 milhões de alunos... Nós já somos o terceiro mercado do mundo em venda de computadores. Com Olimpíada e Copa vai ter uma demanda crescente. E com esse programa de inclusão social, nós somos um dos mercados mais promissores do mundo. É exatamente essa condição que nós estamos usando para internalizar toda a cadeia produtiva.
Terra - A tecnologia é vista como fator de inclusão de pessoas portadoras de deficiência. Há projetos em andamento nessa área?
Mercadante - Nós temos um projeto para ser lançado, estamos já na fase final de ajuste. Devo conversar com a presidente o mais breve possível sobre isso. É um programa de utilizar tecnologia assistível. Nós fizemos um cadastro com dez países que mais tem tecnologia nessa área, de todos os produtos para pessoas com deficiência, todo tipo de produto desde os mais sofisticados, até os mais simples. São cerca de 1,6 mil produtos que nós vamos colocar em um portal na Internet, dedicado. Além disso, estamos lançando uma linha da Finep para o desenvolvimento de empresas para a produção de tecnologia assistível no Brasil. Vamos abrir uma linha de financiamento, estamos negociando com Caixa e Banco do Brasil para ter juros mais acessíveis para a população de mais baixa renda adquirir esses equipamentos. Então é um programa muito bem desenhado, que vai ajudar muito muitas famílias, muitas pessoas, que às vezes não tem mobilidade nenhuma por falta de acesso a esses equipamentos.
Terrra - Houve uma reunião do G8 que sobre a regulamentação da Internet. Qual o posicionamento do Brasil nesse setor?
Mercadante - Tem vários níveis de discussão. Tem o problema do Comitê Gestor da Internet, que o ministério faz parte. A gente coordena um pouco essa política, que tem sempre ajustes e aprimoramentos a serem feitos. Agora, existe uma outra discussão que é o problema da responsabilização dos usuários de Internet pelos crimes que são praticados na rede. Na realidade, todo o crime que tem na sociedade pode ter também na web. Estelionato, furto, roubo, pedofilia. Então você tem de ter instrumentos para fiscalizar, para punir. O que você não pode é matar a essência da Internet que é a liberdade. A liberdade é absolutamente fundamental. A liberdade de pensamento, de expressão, de debate, de reflexão. Nós tivemos esse debate, por exemplo, no Congresso Nacional, sobre a legislação eleitoral. Havia uma tentativa de estabelecer regras rígidas sobre o posicionamento em relação às eleições. E eu defendi uma emenda que era liberdade total na Internet em relação às eleições. O que primeiro é um erro histórico. Segundo é absolutamente inviável você imaginar que vai conseguir censurar, cercear. Então nós precisamos de liberdade e estabelecer os limites dos crimes que podem ser praticados pelas pessoas para elas serem responsabilizadas.
Terra - Quanto à Comissão do Futuro, vocês tiveram algumas reuniões. Já há algum resultado?
Mercadante - Já tivemos uma primeira reunião de planejamento, ela já foi instalada, criando grupos de trabalho para algumas áreas importantes. Vão fazer audiências para ouvir a sociedade, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Academia Brasileira de Ciência, as entidades das áreas específicas. Nós chamamos cientistas renomados de várias áreas com experiência internacional, inclusive cientistas de outros países, cientistas de ponta para que essa comissão tenha toda a liberdade para sugerir políticas e provocar agendas e recomendar ajustes. E vamos também convocar o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que é comandado pela presidente da República, onde tem também cientistas. Ali tem um acento orgânico das entidades. Tem também alguns empresários com foco na área de inovação para que faça o debate sobre o novo plano de ação de Ciência e Tecnologia e Inovação que nós vamos lançar e está pronto.
Terra - E o programa espacial brasileiro? Depois daquela tragédia de Alcântara, ficou paralisado. Tem previsão de investimentos? Como o senhor está tratando o assunto?
Mercadante - Estamos fazendo fortes investimentos nesse setor. Vamos lançar dois satélites com a China, que vão ajudar no monitoramento. Na Amazônia, temos projetos complementares. Alguns pequenos satélites científicos e estamos discutindo a possibilidade de um satélite dedicado à banda larga na Amazônia. Aí seria um satélite com outros países da Amazônia, porque você não consegue chegar com banda larga a todas as regiões da Amazônia via fibra ótica. Então você precisa de um satélite e baratear o acesso ao satélite aberto. Além disso, temos uma parceria com a Ucrânia para o desenvolvimento do Ciclone 4. A Ucrânia é um país que lançou cerca de 270 foguetes. Eles tem lá um acervo importante e estamos desenvolvendo juntos o quarto estágio do Ciclone 4 que é o satélite que vai carregar mais carga e vai a uma distância mais longa para a gente disputar o nicho do mercado internacional nessa área. E estamos desenvolvendo o VLS, que é o nosso Veículo Lançador de Satélite. Nós esperamos já um novo teste em 2012. Estamos aprimorando bastante o projeto. Estamos desenvolvendo também um foguete de porte médio, o VLM, e temos também já pronto também um satélite meteorológico. O último lançamento que nós fizemos foi na Suécia, agora em março, em uma parceria com a Alemanha. O Brasil precisa avançar mais rápido na área de satélites. É uma área muito estratégica para comunicação, segurança, previsão meteorológica, controle de desmatamento, gestão territorial. É uma área que gera muito emprego qualificado, muito valor agregado. Nós estamos reestruturando, definindo novas prioridades. A gente quer mais parceria com a indústria. Com a política industrial brasileira e estamos muito otimistas em relação ao nosso programa espacial.
Terra - Há recursos para financiamento para inovação?
Mercadante - Nós temos um volume de financiamento para inovação muito pequeno no Brasil diante da demanda. E o que acontece com a inovação? No mundo, nos países da OCDE, nos países desenvolvidos, industrializados, que têm mais capacidade de inovação, dois terços da inovação quem faz são as empresas. No caso do Brasil, se você tirar a Petrobras, empresa que investe 2% do faturamento em inovação, porque é uma regra, uma lei, sobra muito pouco. Mais ou menos um terço só do que investido em inovação vem do setor privado. Precisamos reverter isso, ter política de fomento para a inovação do setor privado. Nós estamos criando uma política de podermos participar do investimento de empresas inovadoras, que hoje não pode, desde que esteja compatível com a política de investimento, prioridade da política industrial de Ciência e Tecnologia. Temos de fazer uma adaptação na lei. Porque assim você participa do risco da inovação, mas do ganho. Se a empresa consolidar a inovação, você realimenta os fundos setoriais. De outro lado, nós estamos querendo também combinar créditos, subvenção e investimentos para ter uma política mais agressiva de fomento à inovação. Criamos aquele movimento empresarial pela inovação, que é uma rede de instituições de apoio à inovação, e que está praticamente em quase todos os Estados do Brasil. Estamos debatendo agora a ideia de criar a Embrapa da indústria e estar atento atender às demandas para a inovação.
Terra - Em relação ao monitoramento dos desastres naturais. Para o ano que vem já vai haver algum resultado prático, de pelo menos minimizar o número de vítimas, com o sistema já funcionando?
Mercadante - A nossa parte do sistema é basicamente o monitoramento de satélite, radares, pluviômetros... Nós vamos fazer isso em Cachoeira Paulista, com uma equipe 24h por dia, com vários especialistas de plantão todos os dias do ano, fazendo análise e o alerta das regiões críticas. A informação mais deficiente que nós estamos coletando é o levantamento geofísico dos municípios para identificar áreas de risco. Nós temos mapeados, com padrão de excelência, 25 municípios apenas. Então nós estamos fazendo um levantamento do que tem de área de risco mapeada. Não basta ter a informação do volume de chuva. Você tem de saber o tipo do terreno que está enfrentando para poder cruzar as informações e disparar o alerta. As cidades que já tem um bom mapeamento, acreditamos que teremos já para o próximo verão, um sistema funcionando com eficiência. Por exemplo, essa última chuva que nós tivemos no Rio de Janeiro foi muito forte, fora dos padrões... Em 13 comunidades foi disparado o alerta, as comunidades foram mobilizadas. Houve 80 microdeslizamentos, inclusive de residências e as famílias saíram a tempo. O último capítulo dessa história é o Ministério da Integração, que está trabalhando muito nessa área para que a haja um plano de contingência, tenha as áreas de recuo para onde a população vai ser mobilizada e que a gente possa disparar o alarme e ter uma Defesa Civil atuante. Vai precisar um tempo para a gente implantar no Brasil todo. Nós estamos com capacidade de resposta para o próximo verão nas 25 cidades que estão bem mapeadas.
Terra - Como o ministério pode contribuir no controle do desmatamento?
Mercadante - Nós temos condições, com imagens de satélite, de fazer um desenho muito mais substantivo e a partir da realidade de cada bioma, de cada região, desenhar uma política mais consistente. É possível fazer em um prazo de dois anos. Você pode identificar áreas de encosta, de mangue, onde estão os recursos hídricos, como está a ocupação de cada região, o que teria de ser corrigido, o que teria de ser preservado. Portanto, não foi possível reverter a discussão. O que o ministério faz hoje é o levantamento do Inpe, por satélite, que é o levantamento para cada 250 metros. Então não adianta o indíviduo achar que está lá no meio da floresta e que ele pode desmatar, que ninguém está vendo, porque o satélite vê. Nós temos o histórico de cada um dos desmatamentos. Portanto, podemos sustentar na Justiça quando aconteceu e de que forma aconteceu. E dá muita segurança às decisões judiciais em relação aos crimes ambientais. Das propriedades que estão embargadas, nós podemos apresentar todo o histórico do que foi feito. Neste momento, está tendo um processo muito intenso, concentrado especialmente no Mato Grosso. Nós estamos centrados nessa atividade de acompanhamento diário. Estamos com um gabinete de crise, fornecendo todas as informações de campo e eu acredito que o resultado vai ser muito eficiente. No ano que vem nós estamos lançando o Cibers 3 , que estamos lançando com a China. Estamos lançando o 3 e o 4. Mas o três já vai permitir que a gente faça o leventamento com áreas de até 50m2. A imagem é 250 vezes mais eficiente, a imagem e a informação. Então a gente vai conseguir também identificar os micro-desmatamentos, aquela coisa de formiguinha que vai corroendo e você só vê depois que o estrago já é grande.
Terra - Mas o desmatamento vem crescendo...
Mercadante - O ministério do Meio Ambiente não tem todas as informações para chegar a uma conclusão, porque é que houve esse processo, que é atípico na história recente. O desmatamento vem caindo ano a ano. Em abril teve um pico. É muito preocupante. Houve uma mobilização forte de todas as principais equipes do Ibama e da Polícia Federal. Nós estamos dando informação online todo dia para a equipe que está em campo. Até o mês passado, 34 tratores de esteira já tinham sido apreendidos, correntões - que é uma prática absolutamente ilegal - e o que mais preocupou é que inclusive propriedades que tinham licença para o desmatamento controlado, deamataram além da conta. Então foi desencadeada uma operação sufocar. Nós estamos centrados nessa atividade de acompanhamento diário. Estamos com um gabinete de crise, fornecendo todas as informações de campo e eu acredito que o resultado vai ser muito eficiente, pois estamos utilizando com muita competência as informações. No ano que vem nós estamos lançando o Cibers 3, que estamos lançando com a China. Estamos lançando o 3 e o 4. Mas o três já vai permitir que a gente faça o leventamento com áreas de até 50m². A imagem é 250 vezes mais eficiente, a imagem e a informação. Então a gente vai conseguir também identificar os micro-desmatamentos, aquela coisa de formiguinha que vai corroendo e você só vê depois que o estrago já é grande. E você só vê depois que o estrago já é grande. Vamos ter mais eficiência ainda na identificação do problema do desmatamento. Nós queremos ampliar essa política de desmatamento para outros biomas, como por exemplo o cerrado. Então nós vamos melhorar bastante a eficiência do processo de fiscalização. O ministério do Meio-Ambiente não cortou nenhum recurso da política de fiscalização. Isso foi totalmente preservado.
http://tecnologia.terra.com.br/noticias ... m+TIC.html
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Re: P&D no Brasil
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: P&D no Brasil
27/06/2011 - 10h18
Governo oferece recursos para estudar mercado de biotecnologia
ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
O modelo de incubadoras de empresas de base tecnológica, como as de biotecnologia, é importante para que essas empresas se estabeleçam no mercado, diz Giacomazzi.
Essas incubadoras ""muitas ligadas a universidades"" aproveitam a produção dos pesquisadores em formação.
É o caso da Prospecta, incubadora ligada à faculdade de ciências agronômicas da Unesp em Botucatu.
Atualmente, há 18 empresas residentes, segundo o gerente da incubadora, Antonio Vicente da Silva. Elas desenvolvem pesquisas nas áreas de agronegócio, meio ambiente e biotecnologia.
A Multigene, por exemplo, desenvolve tecnologia para fazer o diagnóstico molecular do DNA e, assim, tratar individualmente um doente grave, dosando exatamente a quantidade de remédio.
De acordo com Silva, os pesquisadores dominam os produtos, mas têm dificuldade em conhecer o mercado.
As empresas têm financiamento de instituições públicas voltadas à pesquisa, como da própria Finep.
Recentemente, o governo tem pensado também na inserção dessas empresas no mercado pós-incubação. Desde 2007, a Finep tem um edital voltado para isso.
São R$ 120 mil para cada empresa contemplada. O edital prevê, por exemplo, que 25% do recurso deve ser destinado para o marketing da empresa estudar o mercado.
"Sem incentivos, a pesquisa pode se tornar obsoleta", diz Silva.
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Re: P&D no Brasil
27/06/2011 - 09h42
Biotecnologia brasileira precisa de dinheiro privado
ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
A biotecnologia no Brasil é representada por 237 empresas, sendo 63% delas criadas na última década. A maior parte (78%) depende de financiamento do governo.
Os dados fazem parte de um mapeamento feito pela BrBiotec (Associação Brasileira de Biotecnologia) e divulgados com exclusividade para a Folha.
A pesquisa foi feita em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos) e o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), e será apresentada nesta semana na Bio Convention, em Washington, EUA.
Nas empresas de biotecnologia, o país se destaca na pesquisa em saúde humana (40% das companhias), saúde animal (14%), reagentes (13%), agricultura (10%) e ambiente e bioenergia (15%) ""os mais "promissores".
Eduardo Giacomazzi, diretor-executivo da BrBiotec, diz que, apesar de incipiente, o setor tem potencial para crescer. "Precisamos incentivar as empresas a olhar para o mercado externo e atrair investimentos", diz.
Isso porque o retorno do investimento em pesquisa é incerto, especialmente nas empresas pequenas e micros, que compõem 80% do setor de biotecnologia no Brasil.
SEM DINHEIRO
O problema é que cerca de 20% das empresas de biotecnologia do país trabalham sem gerar receita porque estão em fase de desenvolvimento do produto ""o que pode levar em média dez anos.
Com isso, poucas conseguem sair das chamadas incubadoras de empresas e não sobrevivem no mercado. "Há recursos para a fase inicial de pesquisa. Mas falta para investir nos testes dos produtos e para sair das incubadoras", diz José Maria Silveira, economista da Unicamp e estudioso da área.
De acordo com ele, os fundos setoriais têm um papel importante para colocar dinheiro nos polos tecnológicos e nas incubadoras. Os 16 fundos que existem hoje são mantidos com recursos federais pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
"Parte das empresas de biotecnologia não sobrevive porque é comprada por empresas maiores", explica a bióloga Marie-Anne Sluys, especialista no assunto.
Esse foi o caso da Alellyx, empresa muito atuante no genoma da xylella fastidiosa (o "amarelinho" dos laranjais). Ela foi comprada pela Monsanto em 2008.
Um dos criadores da Alellyx, o biólogo Fernando Reinach, hoje trabalha no desenvolvimento de um fundo que visa justamente investir em empresas de base tecnológica para gerar inovação.
Segundo Giacomazzi, o setor, apesar de movimentar US$ 27 trilhões no mundo, ainda atrai pouco investimento estrangeiro ao Brasil.
A Invent Biotecnologia, empresa do setor de fármacos, de Ribeirão Preto, conhece essa realidade.
"Seriam necessários de R$ 5 a R$ 6 milhões para escalonar [aumentar] a empresa, mas os recursos públicos chegam no máximo a R$ 3 milhões", diz Sandro Soares, diretor da Invent.
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Re: P&D no Brasil
20/07/2011 - 08h20
Brasil supera Índia em lista de inovação
GABRIEL BALDOCCHI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Brasil avançou 21 posições no ranking mundial de inovação de 2011 elaborado pela Confederação da Indústria da Índia em parceria com o instituto de administração europeu Insead e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Wipo, na siga em inglês).
A alta no ranking representa mais uma recuperação de uma queda do que uma grande evolução. Em 2009, o país ocupava a posição de número 50 na lista das 125 nações. Caiu para o 68º lugar no ano passado e voltou a subir neste ano, para o posto de 47.
Ficou à frente de Rússia e Índia, perdendo apenas para a China no grupo dos Brics. Suíça e Suécia lideram o ranking neste ano.
A classificação é feita a partir da ponderação de mais de 50 indicadores, agrupados em dois subitens.
Uma divisão reúne informações sobre o ambiente de inovação, com dados desde educação e infraestrutura até a incidência de impostos.
Na outra ponta aparecem os resultados no campo da inovação. São dados como produção de patentes, artigos científicos e exportação de bens criativos.
O Brasil vai melhor nessa segunda área. Enquanto o país foi o 32º nos resultados, figurou o 68º lugar na lista por ambiente de inovação.
A relação entre os dois deu destaque ao país, que ficou na 7ª posição na classificação de eficiência. Significa dizer que o Brasil conseguiu um bom saldo na área de inovação com um ambiente ainda desfavorável.
A parte dos resultados é também a que gerou a oscilação de posições nos últimos anos. Nesse subítem, o país ganhou mais de 40 posições de 2010 para este ano. Boa parte da explicação para tamanha mudança está na incorporação de novos indicadores, como a produção nacional de filmes, que passou a ser considerada neste ano.
INDICADOR
Roberto Nicolsky, diretor-geral da Protec (Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica), questiona a liderança do Brasil em relação à Índia. Para ele, a grande variação do país sugere a ineficiência do indicador.
A Índia perdeu posições por conta de seus indicadores de ambiente para inovação. No item capital humano, que reflete políticas educacionais, o país caiu mais de 60 posições em um ano.
Nicolsky cita o deficit de serviços e produtos de alta tecnologia e média-alta tecnologia como justificativa. A cifra saiu de US$ 20 bilhões em 2006, para mais de US$ 80 bilhões em 2010.
O presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica, Luiz Antônio Antoniazzi, avalia que houve uma melhora na cultura de inovação e cita a exigência de conteúdo nacional para o setor de petróleo como exemplo de política de incentivo. Ainda assim, ele afirma não ser possível comparar Brasil e Índia.
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Re: P&D no Brasil
Talvez valha a pena colocar aqui um link para um texto meu publicado em outro site, que tem o fim de tentar deixar mais claras as idéias sobre esta questão de pesquisas e desenvolvimento efetuados no Brasil, e onde a intervenção do governo pode realmente ajudar:
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2377521
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Re: P&D no Brasil
23/07/2011
Nova geração de cientistas
Planalto vê como estratégica para o país a formação de mão de obra especializada em tecnologia e pretende oferecer a estudantes brasileiros 100 mil bolsas de estudo nas melhores universidades do exterior, além de recrutar pesquisadores estrangeiros
Luiz Carlos Azedo e Tiago Pariz
O governo pretende aumentar de 75 mil para 100 mil o número de bolsas que serão disponibilizadas, até 2014, para brasileiros estudarem nas 30 melhores universidades do mundo. A diferença de 25 mil benefícios em relação ao anunciado no início de maio seria bancada por empresários que fazem parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidência. O programa, batizado de Brasil sem Fronteiras, tem outra vertente: trazer cientistas estrangeiros para liderar pesquisas em universidades nacionais. A proposta da presidente deve movimentar entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões até o fim de seu mandato.
A presidente Dilma Rousseff disse que o governo pretende conceder as bolsa prioritariamente aos melhores alunos qualificados no Programa Universidade para Todos (ProUni), no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Com isso, ela pretende privilegiar estudantes de baixa renda, mas com alto potencial de aprendizagem e conhecimento. "O critério será por mérito. Só os melhores vão ser escolhidos", afirmou a presidente ontem. "Vamos oferecer bolsas para graduação, pós-graduação, doutorado e pós-doutorado", emendou.
As primeiras bolsas do Brasil sem Fronteiras devem começar a ser distribuídas no ano que vem. Hoje, existem 5 mil brasileiros estudando no exterior. Os destinos mais procurados são Estados Unidos, França e Alemanha.
O objetivo do governo é melhorar a qualificação da mão de obra disponível no país capaz de empreender um ciclo de desenvolvimento de alta tecnologia. O Brasil tem deficit, por exemplo, de doutores. A presidente disse, em outras ocasiões, que o país não consegue dar um salto de qualidade se for dependente de outras nações na área tecnológica. "O Brasil tem um gap de conhecimento que precisa ser resolvido", afirmou a presidente.
Nasa
No exterior, Dilma está de olho especificamente em milhares de engenheiros demitidos da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa, na sigla em inglês) nos últimos anos em decorrência do fim das missões com ônibus espaciais. "Tem muito cientista desempregado nos Estados Unidos e na Europa. Só a Nasa demitiu 4 mil engenheiros", afirmou a presidente. Os estrangeiros seriam admitidos, de acordo com a ideia de Dilma, por até 10 anos pelas instituições de ensino brasileiras. "É preciso criar uma carreira especial temporária com duração de cinco anos, renovável por mais cinco anos", emendou. "Nós precisamos de cientistas e pesquisadores de fora", emendou. Como atrativo aos estrangeiros, o governo pretende conceder uma série de benefícios, como auxílio-moradia.
Dilma afirmou ter discutido a proposta com o professor Miguel Nicolelis, neurocientista, pesquisador da Duke University e entusiasta de iniciativas que visem descentralizar a pesquisa científica brasileira do eixo Rio-São Paulo (leia para saber mais).
Parceria
Inicialmente, a proposta de Dilma para o Brasil sem Fronteira era conceder 75 mil bolsas no exterior, mas ela decidiu elevar o número tendo como ideia fazer uma pareceria com a iniciativa privada, começando com os integrantes do Conselhão, que são afáveis à ideia. Os 75 mil benefícios serão divididas entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com 45 mil; e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com 30 mil. Ainda não foi estipulado como serão distribuídos as 25 mil bolsas restantes.
O Capes pretende oferecer 65% das vagas para graduação e doutorado dividido, chamado de sanduíche no jargão acadêmico. Nessa modalidade, parte do curso é feito no Brasil e a outra, no exterior. Este ano, a Capes tem como meta chegar a 8 mil bolsas. Em 2012 seriam 13 mil, até chegar a 4 mil por ano até 2014.
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: P&D no Brasil
26/07/2011 12h13 - Atualizado em 26/07/2011 15h12
Governo lança programa para oferecer 100 mil bolsas no exterior
Programa vai financiar bolsas nas principais universidades estrangeiras.
Intenção de ministério é promover avanço da ciência e tecnologia no país.
Débora Santos Do G1, em Brasília
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, anunciou nesta terça (25) o programa Ciência Sem Fronteiras que vai custear 100 mil bolsas de intercâmbio nas principais universidades do exterior para estudantes, desde o nível médio ao pós-doutorado. A intenção é promover o avanço da ciência, tecnologia e competitividade do Brasil.
O anúncio foi feito durante a 38ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), com a presença da presidente da República, Dilma Rousseff e de ministros da área econômica do governo.
Pelo programa, que é uma parceria entre os ministérios da Ciência e Tecnologia e Educação, o governo federal vai oferecer 75 mil bolsas de estudos. As outras 25 mil são resultado de uma parceria com a iniciativa privada. As áreas prioritárias para o programa são engenharias, ciências exatas (matemática, física, química), computação, produção agrícola, tecnologia aeroespacial, petróleo gás e demais áreas tecnológicas.
saiba mais
Critérios
As bolsas serão oferecidas em mais de 200 universidades estrangeiras nas áreas de ciências da saúde, ciências da vida e engenharia e tecnologia. Entre essas universidades, estão instituições como Harvard, Stanford e Cambridge, informou o Ministério da Ciência e Tecnologia. A lista completa das universidades não está finalizada porque ainda não estão firmados todos os acordos e convênios com as instituições.
O valor médio da bolsa é de cerca de US$ 800 mensais, segundo o ministério. Poderá ser maior ou menor de acordo com o tipo de curso ou da instituição. As 75 mil bolsas custeadas pela União representarão um investimento de R$ 3,1 bilhões.
A inscrição para as bolsas deve começar neste ano, mas ainda não há data definida. O processo de seleção e oferta será administrado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - para saber mais sobre o programa, veja a apresentação feita no Palácio do Planalto pelo ministro Aloizio Mercadante.
'Autoria intelectual'
Mercadante afirmou que a “autoria intelectual” do programa é da presidente Dilma Rousseff e disse que ainda é necessário um diagnóstico aprofundado sobre a dificuldade do Brasil em produzir patentes.
Um dos problemas apontados pelo ministro é o baixo investimento da iniciativa privada em pesquisa e desenvolvimento. De acordo com o ministro, dois terços das patentes registradas no mundo são feitas por empresas. Enquanto no Brasil, dois terços das patentes do país têm origem nas universidades públicas.
“É evidente que há descompasso entre a evolução científica e a nossa capacidade de transformar isso em patentes”, afirmou Mercadante.
Segundo o ministro, o programa contempla todas as regiões e todos os estados do Brasil e tem público-alvo de 124 mil alunos que poderão ser selecionados. “O critério é mérito e mérito não é QI, quem indica. O método é o desempenho que o aluno teve em critérios objetivos e republicanos”, disse.
O programa dividiu a oferta das 75 mil bolsas pelo nível de formação acadêmica. Serão 27,1 mil bolsas para alunos de graduação, 24,5 mil para doutorado de um ano, 9,7 mil para doutorado integral e 2,6 mil para pós-doutorado. Outras 700 bolsas vão beneficiar o treinamento de especialistas, 860 serão para jovens cientistas e grandes talentos e 390 serão dedicadas a pesquisadores visitantes no Brasil.
As bolsas serão oferecidas em mais de 200 universidades fora do Brasil nas áreas de ciências da saúde, ciências da vida e engenharia e tecnologia.
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Re: P&D no Brasil
Sem um ambiente de negócios que incentive as empresas em geral e as inovadoras em particular, a solução do custo-Brasil bem como dos gargalos de infra-estrutura, todos estes esforços vão resultar no máximo em mais teses acadêmicas e artigos publicados em revistas.
Muito bom para os pesquisadores. Inútil para o país.
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