Fuzis e cartuchos - Um resumo
Moderadores: J.Ricardo, Conselho de Moderação
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Fuzis e cartuchos - Um resumo
FUZIS SEMI-AUTOMÁTICOS.
O desenvolvimento das armas de fogo no século XIX levou os desenhistas e inventores de fuzis a concluírem que, uma vez tendo um cartucho composto confiável e um sistema de carregadores que funcionava, o próximo passo lógico seria dominar o recuo da arma ou os gases produzidos pelo cartucho disparado, de forma a permitir que arma carregasse a si mesma. Este passo era necessário por, pelo menos, duas razões: o recarregamento automático economizava ao usuário o contínuo esforço físico de recarregar manualmente e permitia à infantaria disparar mais rapidamente, o que era de grande importância em alcances mais curtos.
A resistência a este indesejável gasto de munição era ainda sentida, particulamente nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, onde especialistas e instrutores em mosquetes sustentavam que tiros únicos bem-visados eram necessários em alcances de batalha maiores. Os fuzis europeus e americanos eram dotados com miras que iam (na média) além dos 900 metros e alguns iam além dos 2.000 metros. A argumentação era de que o fuzileiro individual e a fração de fuzileiros (GC, pelotão, até mesmo a companhia) podiam, sob controle e com específicas ordens de fogo, dispor fogo emassado além de alcances, hoje em dia, considerados como de total desperdício de munição.
A chegada das metralhadoras médias e pesadas, tirou dos fuzileiros, o papel de produzir fogo de apoio e de interdição, pois as metralhadoras podiam alcançar além dos 2.700 metros e desfechar eficaz fogo concentrado. Os fuzis, agora, deveriam ser utilizados para os alcances nos quais era possível ver o inimigo. A situação ainda sofria, no entando, do desejo de todos os instrutores de mosquetaria de economizarem munição. O oposto deste argumento era, naturalmente, que a economia de munição, em si mesma, significaria que os fuzileiros treinados seriam avessos a disparar em alvos fugidios, desta forma, dando a oportunidade, ao inimigo, para cerrar, quando, então, ocorreria o assalto final.
Há pouca dúvida de que o medo do gasto de munição foi o fator primordial na decisão de qual tipo de fuzil seria atribuído à tropa. Os chefões da Springfield Armory ainda eram fortes, e a dotação de uma cópia do Mauser, o Modelo 1903, ocorreu, ao mesmo tempo, que o desenhista mexicano, Manuel Mondragon, estava preparando seu fuzil semi-automático para ser utilizado pelo Exército do México.
Pretensões para o primeiro fuzil semi-automático recuam muito antes disto, e no Manual de Armas Leves de 1929 oficial britânico, há uma nota de que o princípio da arma automática "parece ter sido uma invenção britânica", uma afirmativa que se baseia numa entrada nos registros da Real Sociedade Britânica.
(...)
Há outros relatos de primitivos dispositivos de auto-carregamento, e está claro que o princípio, se não o método, de fabricar armas que carregassem a si mesmas, era conhecido. Entretanto, até a invenção do cartucho composto e do carregador, pouco ou nenhum progresso podia ser feito para concretizar este sonho. Hiram Maxim fez uma boa tentativa com sistema de recuo mecânico e outros tinham patenteado desenhos, vinte anos antes dele. Maxim usou o recuo da arma inteira para operar a ação Winchester de alavanca, por meio de uma placa de coronha contra a qual o fuzil recuava, anexada por um sistema de alavancagem à alavanca de acionamento do fuzil. O problema com esta arma era que o usuário tinha de ter muito cuidado onde botava os dedos, no momento do disparo.
Embora, quase totalmente ignorado nos Estados Unidos, o dispositivo teve considerável sucesso na Europa, e o Exército turco adotou tais fuzis Winchester modificados. Então, em 1884, Maxim patenteou seu sistema de recuo de culatra trancada (locked-breech recoil system). Este era uma aplicação para metralhadoras, mas o conceito foi, rapidamente, colocado na prancheta por outros desenhistas de armas e, em 1885, o fuzil semi-automático Mannlicher de curto-recuo, apareceu. Este não era nada mais do que um artefato experimental, mas lançou os princípios sobre os quais tais armas deveriam ser desenvolvidas.
O período de 1885-1900 viu uma grande quantidade de trabalho e um número de fuzis que eram, autenticamente, de auto-carregamento, mesmo, embora, a maioria fosse incertos demais para serem atribuídos á tropa, ou, até mesmo, serem testados pelas forças armadas. O Mondragon, entretanto, teve uma história diferente. Mannlicher não teve sucesso nenhum em vender seus semi-automáticos aos miilitares, mas o Mondragon saiu do México, onde já tinha sido testado. Porfírio Díaz (1830-1915), o ditador mexicano decidiu que o Exército do México deveria ser, totalmente, armado com fuzis semi-automáticos. O fuzil escolhido foi este desenhado por Mondragon (1858-1922). O progresso no desenvolvimento da arma foi lento e, eventualmente, o fuzil foi manufaturado na Suíça pela Schweizerische Industrie-Gesellschaft (SIG). Apenas 400 dos fuzis foram entregues, tarde demais para salvar Díaz, que foi derrubado na Revolução Mexicana de 1911. O novo governo mexicano renegou o contrato e a SIG armazenou os 1 mil fuzis produzidos mas não entregues.
No começo da Grande Guerra, a SIG decidiu cortar suas perdas oferecendo os Mondragons para qualquer interessado. Uns poucos foram para os Estados Unidos, mas a maioria foi vendida para os alemães para uso em aviões. As armas, somente, entraram em ação, em 1917, com a maioria nas mãos da arma aérea alemã e o restante para a Marinha. Neste época a arma era conhecida como FSK-15 (Flieger Selbstladerkarabiner ou Carabina Semi-Automática de Aviador Modelo 1915). Ela não foi um grande sucesso, mesmo embora os alemães a dotassem de um carregador-tambor de 30 cartuchos. Ela sofria de engasgos e mau-funcionamento, e a maioria foi retirada de serviço, antes do fim da guerra, devido, não só à falta de confiança, mas, também, ao fato de metralhadoras fixas tornaram-se, totalmente, eficazes, com a invenção das engrenagens interruptoras, que interrompiam o disparo das metralhadoras, quando as lâminas das hélices podiam ser atingidas pelas balas da arma.
Os alemães não se basearam, somente, no Mondragon; Mauser desenhou um fuzil semi-automático (Flieger-Ballon-und Zeppelin Truppe Model 16), dos quais 1 mil foram feitos. Eles tinham de ser mantidos, escrupulosamente limpos, mas a demanda, de longe, excedia o fornecimento. A fabricação posterior foi um problema não resolvido por Mauser, e as armas que sobrevivem são, extremamente, raras. A idéia ficoui, entretanto, e os alemães nunca pararam de experimentar com semi-automáticos. O primeiro dos semi-automáticos de Mauser no pós-guerra, foi o G35, desenhado como um resultado do sucesso do ZH-29 tcheco (desenhado por Vladimir Holek, centenas foram vendidos, incluindo, pelo menos, 500 para a Manchúria.) O G35 era uma arma de curto recuo do cano, e não era favorecido, quando comparado com sistemas operados à gás, aparecendo alhures. A Walther (a firma de Carl Walther em Zella-Mehlis, vinha fabricando armas, desde 1886, e sua reputação cresceu, enormemente, no século XX), desenhou o A115, que era uma arma operada à gás, fabricada com estampagem de metal, e daí vieram os desenvolvimentos posteriores na manufatura de armas alemãs (particularmente, a MG42, a MP40, e a família de armas MP44/StG). Mais uma vez, problemas técnicos e operacionais surgiram, enquanto a arma estava sendo testada, e o desenvolvimento do fuzil semi-automático fraquejou em 1938, apenas para ser revivido uns poucos anos depois.
(contiua...)
O desenvolvimento das armas de fogo no século XIX levou os desenhistas e inventores de fuzis a concluírem que, uma vez tendo um cartucho composto confiável e um sistema de carregadores que funcionava, o próximo passo lógico seria dominar o recuo da arma ou os gases produzidos pelo cartucho disparado, de forma a permitir que arma carregasse a si mesma. Este passo era necessário por, pelo menos, duas razões: o recarregamento automático economizava ao usuário o contínuo esforço físico de recarregar manualmente e permitia à infantaria disparar mais rapidamente, o que era de grande importância em alcances mais curtos.
A resistência a este indesejável gasto de munição era ainda sentida, particulamente nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, onde especialistas e instrutores em mosquetes sustentavam que tiros únicos bem-visados eram necessários em alcances de batalha maiores. Os fuzis europeus e americanos eram dotados com miras que iam (na média) além dos 900 metros e alguns iam além dos 2.000 metros. A argumentação era de que o fuzileiro individual e a fração de fuzileiros (GC, pelotão, até mesmo a companhia) podiam, sob controle e com específicas ordens de fogo, dispor fogo emassado além de alcances, hoje em dia, considerados como de total desperdício de munição.
A chegada das metralhadoras médias e pesadas, tirou dos fuzileiros, o papel de produzir fogo de apoio e de interdição, pois as metralhadoras podiam alcançar além dos 2.700 metros e desfechar eficaz fogo concentrado. Os fuzis, agora, deveriam ser utilizados para os alcances nos quais era possível ver o inimigo. A situação ainda sofria, no entando, do desejo de todos os instrutores de mosquetaria de economizarem munição. O oposto deste argumento era, naturalmente, que a economia de munição, em si mesma, significaria que os fuzileiros treinados seriam avessos a disparar em alvos fugidios, desta forma, dando a oportunidade, ao inimigo, para cerrar, quando, então, ocorreria o assalto final.
Há pouca dúvida de que o medo do gasto de munição foi o fator primordial na decisão de qual tipo de fuzil seria atribuído à tropa. Os chefões da Springfield Armory ainda eram fortes, e a dotação de uma cópia do Mauser, o Modelo 1903, ocorreu, ao mesmo tempo, que o desenhista mexicano, Manuel Mondragon, estava preparando seu fuzil semi-automático para ser utilizado pelo Exército do México.
Pretensões para o primeiro fuzil semi-automático recuam muito antes disto, e no Manual de Armas Leves de 1929 oficial britânico, há uma nota de que o princípio da arma automática "parece ter sido uma invenção britânica", uma afirmativa que se baseia numa entrada nos registros da Real Sociedade Britânica.
(...)
Há outros relatos de primitivos dispositivos de auto-carregamento, e está claro que o princípio, se não o método, de fabricar armas que carregassem a si mesmas, era conhecido. Entretanto, até a invenção do cartucho composto e do carregador, pouco ou nenhum progresso podia ser feito para concretizar este sonho. Hiram Maxim fez uma boa tentativa com sistema de recuo mecânico e outros tinham patenteado desenhos, vinte anos antes dele. Maxim usou o recuo da arma inteira para operar a ação Winchester de alavanca, por meio de uma placa de coronha contra a qual o fuzil recuava, anexada por um sistema de alavancagem à alavanca de acionamento do fuzil. O problema com esta arma era que o usuário tinha de ter muito cuidado onde botava os dedos, no momento do disparo.
Embora, quase totalmente ignorado nos Estados Unidos, o dispositivo teve considerável sucesso na Europa, e o Exército turco adotou tais fuzis Winchester modificados. Então, em 1884, Maxim patenteou seu sistema de recuo de culatra trancada (locked-breech recoil system). Este era uma aplicação para metralhadoras, mas o conceito foi, rapidamente, colocado na prancheta por outros desenhistas de armas e, em 1885, o fuzil semi-automático Mannlicher de curto-recuo, apareceu. Este não era nada mais do que um artefato experimental, mas lançou os princípios sobre os quais tais armas deveriam ser desenvolvidas.
O período de 1885-1900 viu uma grande quantidade de trabalho e um número de fuzis que eram, autenticamente, de auto-carregamento, mesmo, embora, a maioria fosse incertos demais para serem atribuídos á tropa, ou, até mesmo, serem testados pelas forças armadas. O Mondragon, entretanto, teve uma história diferente. Mannlicher não teve sucesso nenhum em vender seus semi-automáticos aos miilitares, mas o Mondragon saiu do México, onde já tinha sido testado. Porfírio Díaz (1830-1915), o ditador mexicano decidiu que o Exército do México deveria ser, totalmente, armado com fuzis semi-automáticos. O fuzil escolhido foi este desenhado por Mondragon (1858-1922). O progresso no desenvolvimento da arma foi lento e, eventualmente, o fuzil foi manufaturado na Suíça pela Schweizerische Industrie-Gesellschaft (SIG). Apenas 400 dos fuzis foram entregues, tarde demais para salvar Díaz, que foi derrubado na Revolução Mexicana de 1911. O novo governo mexicano renegou o contrato e a SIG armazenou os 1 mil fuzis produzidos mas não entregues.
No começo da Grande Guerra, a SIG decidiu cortar suas perdas oferecendo os Mondragons para qualquer interessado. Uns poucos foram para os Estados Unidos, mas a maioria foi vendida para os alemães para uso em aviões. As armas, somente, entraram em ação, em 1917, com a maioria nas mãos da arma aérea alemã e o restante para a Marinha. Neste época a arma era conhecida como FSK-15 (Flieger Selbstladerkarabiner ou Carabina Semi-Automática de Aviador Modelo 1915). Ela não foi um grande sucesso, mesmo embora os alemães a dotassem de um carregador-tambor de 30 cartuchos. Ela sofria de engasgos e mau-funcionamento, e a maioria foi retirada de serviço, antes do fim da guerra, devido, não só à falta de confiança, mas, também, ao fato de metralhadoras fixas tornaram-se, totalmente, eficazes, com a invenção das engrenagens interruptoras, que interrompiam o disparo das metralhadoras, quando as lâminas das hélices podiam ser atingidas pelas balas da arma.
Os alemães não se basearam, somente, no Mondragon; Mauser desenhou um fuzil semi-automático (Flieger-Ballon-und Zeppelin Truppe Model 16), dos quais 1 mil foram feitos. Eles tinham de ser mantidos, escrupulosamente limpos, mas a demanda, de longe, excedia o fornecimento. A fabricação posterior foi um problema não resolvido por Mauser, e as armas que sobrevivem são, extremamente, raras. A idéia ficoui, entretanto, e os alemães nunca pararam de experimentar com semi-automáticos. O primeiro dos semi-automáticos de Mauser no pós-guerra, foi o G35, desenhado como um resultado do sucesso do ZH-29 tcheco (desenhado por Vladimir Holek, centenas foram vendidos, incluindo, pelo menos, 500 para a Manchúria.) O G35 era uma arma de curto recuo do cano, e não era favorecido, quando comparado com sistemas operados à gás, aparecendo alhures. A Walther (a firma de Carl Walther em Zella-Mehlis, vinha fabricando armas, desde 1886, e sua reputação cresceu, enormemente, no século XX), desenhou o A115, que era uma arma operada à gás, fabricada com estampagem de metal, e daí vieram os desenvolvimentos posteriores na manufatura de armas alemãs (particularmente, a MG42, a MP40, e a família de armas MP44/StG). Mais uma vez, problemas técnicos e operacionais surgiram, enquanto a arma estava sendo testada, e o desenvolvimento do fuzil semi-automático fraquejou em 1938, apenas para ser revivido uns poucos anos depois.
(contiua...)
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
O DESENVOLVIMENTO DO FUZIL SEMI-AUTOMÁTICO ALEMÃO DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
A questão da munição recusava a morrer, entretanto, e a liderança em tecnologia de munições que os alemães estabeleceram durante a Segunda Guerra Mundial trouxe a questão à baila, após o fim desta guerra. Os alemães começaram o conflito com o Mauser Gew 98k, calibre 7,92 mm. Este era uma versão encurtada do famoso Gew 98 da Mauser. Entretanto, as experiências na Frente Russa durante a Operação BARBAROSSA, convenceram os alemães de que, a fim de combater as massas de soldados russos contra-atacando, eles necessitavam de um fuzil capaz de fogo automático, ou, pelo menos, de um rápido fogo semi-automático.
Uma tentativa inicial para fornecer tal arma resultou em fracasso. O Mauser G41 (M), foi considerado pesado demais (mais de 5 Kg), e longo demais, e a ação era desajeitada. A arma foi descartada em favor do Walther G41, que, em breve, tornou-se o alvo das exigências das Waffen-SS para prover "as unidades SS na linha de frente com uma carabina semi-automática." Eventualmente, as SS receberam 3 mil desses fuzis. O fuzil Walther operava com um cano de livre flutuação, e uma haste de pistão (piston rod) que acionava o mecanismo. A arma foi adotada em dezembro de 1942, e uma versão capturada, testada no Campo de Provas de Aberdeen, concluiu que "este fuzil semi-automático alemão é uma arma operada à gás, alimentada por clipes, que desempenha, aproximadamente, a mesma missão tática que o M1 Garand dos Estados Unidos."
Portanto, os alemães tinham chegado à mesma solução que os americanos, e estavam disparando o cartucho de fuzil padronizado da Wehrmacht (Forças Armadas), o 7,92 x 57 mm sS. Desnecessário dizer, o problema da precisão, quando disparado no automático surgiu, e provou ser impossível manter a arma no alvo, quando disparada desta forma. O fuzil passou por algumas mudanças, e sua versão G43 foi, também, utilizada como fuzil de tocaieiro, apesar do fato de que miras telescópicas utilizáveis, estavam indisponíveis, até maio de 1944. Os reais desenvolvimentos de importância estavam tendo lugar, enquanto este fuzil estava sendo atribuído, e, de acordo com os melhores princípios, o cartucho veio antes da arma.
O cartucho 7,92 x 57 mm sS (schweres Spitzgecholss ou "bala de ponta pesada") foi um desenvolvimento dos cartuchos anteriores, Mauser 7,92 x 57 mm I (Infanterie) e 7,92 x 57 mm IS (Infanterie, Spitz ou "infantaria, de ponta") e era um cartucho militar de alta-potência, adequado para fuzis de ação de ferrolho, do anos iniciais da guerra. Os alemães perceberam que as ações de infantaria tinham lugar, na vasta maioria dos casos, dentro de um alcance de 350 metros. E mais ainda, eles tinham aprendido, com a experiência, que o fogo automático, mesmo se não matasse o inimigo visado, se fosse razoavelmente concentrado sobre a posição deste, o obrigaria a manter a cabeça baixa, tornando a aproximação e o assalto, muito mais fáceis, para os fuzileiros envolvidos. Quando a isto se somava o fato de que os russos estavam optando por submetralhadoras de aço estampado, baratas, os alemães chegaram à óbvia conclusão de que qualquer novo fuzil não necessitaria de uma alcance além dos 350 metros, mas necessitaria de ser controlável, quando disparando no automático.
O interesse alemão num cartucho intermediário, primeiro apareceu nos anos 1930. Muito trabalho em novos cartuchos era extra-oficial, e destes, o 7,75 x 40 mm da Genschow (fabricante de armas e munições) alemã parecia o mais promissor do ponto de vista militar. Eventualmente descartado, entretanto, foi substituído pelo 7 x 39 mm desenvolvido para a Luftwaffe, a nova e poderosa arma aérea alemã. O fato importante era que o cartucho tinha de ser poderoso o bastante para infligir um abate ou ferimento até 350 metros, e ainda permitir ao fuzileiro controlar sua arma quando disparando no automático.
Certo número de cartuchos semelhantes apareceram durante os anos pré-guerra, na Alemanha, mas a firma Polte, em Magdeburgo surgiu com a versão encurtada do cartucho padrão 7,92 x 57 mm. Este tornou-se o cartucho militar 7,9 x 33 mm (mais tarde, 7,92 x 33 mm kurz). O problema seguinte era qual a arma que deveria disparar o novo cartucho, e para isto o Waffenamt (o Departamento de Armamentos do Alto-Comando alemão) voltou-se para a firma Haenel de Suhl, cujo diretor era o famoso Hugo Schmeisser, filho do armeiro Louis Schmeisser, também de Suhl. A arma deveria chamar-se carabina automática, para distinguí-la do fuzil padrão, da submetralhadora (errôneamente batizada com o nome de Schmeisser) e possivelmente, a metralhadora leve. Ela deveria ser uma arma de baixo peso, com fogo seletivo, para ser disparada do ombro. Sua manufatura deveria ser de aço estampado, sempre que possível, e qualquer usinagem não poderia ser mais complexa do que para o fuzil padrão.
O Waffenamt, também, especifiou que ela teria de ser uma arma para qualquer condição climática, operando bem, em tudo, do frio severo até condições de deserto; ela tinha de ser operável em condições de poeira, sujeira e lama; e tinha de possuir um mecanismo simples. Ela não podia pesar mais do que o fuzil padrão, ainda que tivesse de ser mais curta. Balisticamente, ela tinha de ter uma trajetória muito similar a do fuzil padrão, até 550 metros e tinha de ser precisa quando disparada em semi-automático, até 350 metros. Ela tinha de ser eficaz disparando rajadas até 350 metros com uma moderada cadência de fogo automático. Naturalmente, como ocorre com todas as especificações de armamentos, um adendo foi acrescentado, especificando que ela tinha de ser capaz de acomodar um lançador de granadas de bocal.
O desenho era um fato, por volta de 1940, mas a Haenel tinha pouca experiência na produção real de armas de metal estampado. Ela aproximou-se da companhia Merz, em Frankfurt, que tinha esperiência e formas de metal, e a primeira Maschinenkarabiner (carabina automática, MKb na abreviação alemã) apareceu no final de 1941. Ao mesmo que a Haenel estava trabalhando neste fuzil, a firma de Carl Walther de Zella-Mehlis, também estava trabalhando num novo protótipo de arma e conseguiu um contrato oficial para continuar seu trabalho de desenvolvimento, em janeiro de 1941.
Ambas as firmas produziram o que eram desenhos muito similares, a versão da Haenel sendo o MK42 (H) e a versão da Walther, o MK42 (W). Por volta de 1942, o desenho da Haenel estava completo (com o acréscimo de um soquete para baioneta, em resposta a uma requisição do Waffenamt). A fabricação do fuzil (a ser fornecido com um carregador de 30 cartuchos) devia começar no final de 1942, com a produção programada para atingir 10 mil armas por mês, por volta de março de 1943. Este objetivo nunca foi atingido, devido aos problemas de produção da Haenel. Os testes com a tropa refletiam a atitude dos usuários para com a nova munição: "Contanto que haja um fornecimento adequado, a tropa está despreocupada," mas ela também relatou que a linha de mira era alta demais, e que o clarão de boca, de noite, era muito grande. Entretanto, a conclusão geral era de que "as armas são, especialmente adequadas para patrulhamento, incursão e ataque (ênfase acrescentada).
Os fundamentos tinham sido estabelecidos, e a tropa parecia satisfeita no principal, embora o problema do clarão de boca tivesse duas desvantagens: o clarão excessivo cegava o atirador de noite, e também o tornava muito visível ao oponente. A arma era aceitável como ponto de partida para desenvolvimento subseqüente, que incluía quebra-chamas e o MP43 foi o resultado.
A versão Walther não tinha se mostrado um sucesso, e quando a Haenel foi recompensada com o contrato de desenvolvimento para o MP43, a Walther retirou-se deste campo do cartucho curto. A Walther tinha estado envolvida neste campo, desde 1937, quando submeteu sua Maschinenkarabiner de cartucho curto para aprovação.. Seu envolvimento na posterior competição com a Haenel tinha resultado na produção do MK42 (W), que possuía uma sistema de trava de ferrolho rotativo (turning bolt-locking system), um dos fatores que falou contra o desenho, aos olhos das autoridades do Departamento de Testes de Armas alemão (o Waffenprüfungs Amt). Como mencionado acima, a Walther tinha estado no campo dos fuzis semi-automáticos com o fuzil G41, e o planejamento de produção para o MK42 (W), aparentemente sofreu, com apenas duas armas protótipos fabricadas no final de 1942, quando a produção foi programada para atingir o auge por volta de março do ano seguinte. Acrescentado a isto, estavam as dúvidas sobre o sistema de ferrolho rotativo, disparo de ferrolho fechado e martelo interno.
Ambas as armas foram produzidas por um método, até então desconhecido na manufatura de armas, que tinha sido um processo de precisão, altamente especializado. Agora, similar a metralhadora MG42, as armas deveriam ser feitas com o mínimo absoluto de usinagem e a máxima quantidade de estampagem. Apesar disto, com sua habilidade para produzir armas de fogo, os alemães estavam produzindo alguns dos mais eficazes desenhos em armas de infantaria jamais vistos.
A série de armas MP43 também foi desenhada pelo brilhante Hugo Schmeisser, e algumas das características do Walther MK42 apareceram nesta versão do fuzil. O sistema de ferrolho aberto, tornou-se um de ferrolho fechado, um martelo foi adaptado internamente e o mecanismo de segurança foi aperfeiçoado. Neste momento, a denominação do tipo mudou para Maschinenpistole, a palavra "carabina" sendo descartada. A nova abreviatura MP podia provocar alguma confusão, já que anteriormente era aplicada em submetralhadoras de 9 mm, antes do que em fuzis de assalto, como eram as novas armas. Entretanto, pode ser, como Senich argumenta, que "Foi dito que Hitler expressou um particular desdém com a perspectiva de introduzir uma arma e cartucho, totalmente novos," Hitler, entretanto, autorizou uma "série especial" para ser montada de partes já feitas em março de 1943.
Certo número de armas MP43 (também conhecidas, mais amplamente, como StG44) foram testadas na Frente Russa, com bons relatórios vindo da tropa. Isto foi repassado para Hitler que, começando a compreender que níveis de potencial humano ele estava encarando com o Exército russo, mudou de idéia e concedeu aprovação oficial para o projeto. Isto significava que a Haenel podia ir em frente com a produção, estes fuzis continuaram a ser feitos até o final da guerra.
O grande benefício do cartucho curto era que ele tinha as características balísticas de seu irmão maior até 350 metros, mas cada homem podia levar mais cartuchos para o mesmo peso de munição em comparação com o cartucho longo. O fuzileiro era, também, capaz de utilizar sua arma em automático total, e controlar seu fogo. Isto queria dizer que no assalto, o inimigo podia ser varrido com rajadas de tiros para mantê-lo de cabeça baixa, e na defesa, as tropas atacantes podiam ser cobertas com um peso de fogo muito maior, nos alcances médios e curtos.
A arma encontrou aprovação, não só dos soldados alemães: as armas capturadas pelos russos, naturalmente, incluiam estes fuzis que "eram altamente valorizados e ansiosamente voltados contra os alemães, em particular, durante a longa retirada." A arma e seu cartucho, também, chamaram a atenção dos desenhistas e engenheiros de armas leves russos, e há pouca dúvida de que ambos tiveram alguma influência sobre N. M. Elizarov e B. V. Semin, que desenharam o cartucho 7,62 x 39 mm Soviético M43, e, possivelmente, sobre Mikhail Timofeyevich Kalashnikov, o desenhista do conhecido e fabuloso AK47.
A arma tornou-se o MP43/1 e, então, o StG44. Mudanças de nome eram quase cosméticas, pois o princípio básico da arma não foi alterado, embora várias pequenas modificações e aperfeiçoamentos fossem feitos durante os últimos dois anos de guerra. Uma das melhores descrições da arma veio num artigo do major (reformado) A. L. Thompson:
Com um crescente número de relatórios favoráveis vindo das várias frentes, em 1944, e a necessidade de padronizar a nomenclatura, Hitler ordenou que a muito eficaz MG42 retivesse a mesma designação, o fuzil semi-automático G43 deveria tornar-se a Karabiner 43, e o MP43 deveria tornar-se o MP44. Este, não importando como Hitler o chamasse, permaneceu, essencialmente, a mesma arma. Um posterior novo batismo, em dezembro de 1944, resultou que a arma fosse, agora, chamada de StG44, em muitas armas anteriores foram, também, referidas da mesma forma, em documentos, mesmo se tivessem começado suas vidas como MP43s ou MP44s.
A importância desta série de armas não pode ser subestimada. Elas permanecem como os primeiros dos fuzis de assalto, que, hoje em dia, são lugar-comum. Do MK42 (H) desenvolveram-se todos os modernos fuzis semi-automáticos e de assalto, sejam eles de desenho convencional ou bullpups. O princípio fundamental é simples: o fuzil de assalto deve ser fácil de fazer e operar; deve disparar um cartucho que permita o controle quando a arma é disparada em fogo automático; e o fuzil precisa ser mais curto que os desenhos anteriores, para facilitar a armazenagem e a utilização em viaturas blindadas.
(continua...)
A questão da munição recusava a morrer, entretanto, e a liderança em tecnologia de munições que os alemães estabeleceram durante a Segunda Guerra Mundial trouxe a questão à baila, após o fim desta guerra. Os alemães começaram o conflito com o Mauser Gew 98k, calibre 7,92 mm. Este era uma versão encurtada do famoso Gew 98 da Mauser. Entretanto, as experiências na Frente Russa durante a Operação BARBAROSSA, convenceram os alemães de que, a fim de combater as massas de soldados russos contra-atacando, eles necessitavam de um fuzil capaz de fogo automático, ou, pelo menos, de um rápido fogo semi-automático.
Uma tentativa inicial para fornecer tal arma resultou em fracasso. O Mauser G41 (M), foi considerado pesado demais (mais de 5 Kg), e longo demais, e a ação era desajeitada. A arma foi descartada em favor do Walther G41, que, em breve, tornou-se o alvo das exigências das Waffen-SS para prover "as unidades SS na linha de frente com uma carabina semi-automática." Eventualmente, as SS receberam 3 mil desses fuzis. O fuzil Walther operava com um cano de livre flutuação, e uma haste de pistão (piston rod) que acionava o mecanismo. A arma foi adotada em dezembro de 1942, e uma versão capturada, testada no Campo de Provas de Aberdeen, concluiu que "este fuzil semi-automático alemão é uma arma operada à gás, alimentada por clipes, que desempenha, aproximadamente, a mesma missão tática que o M1 Garand dos Estados Unidos."
Portanto, os alemães tinham chegado à mesma solução que os americanos, e estavam disparando o cartucho de fuzil padronizado da Wehrmacht (Forças Armadas), o 7,92 x 57 mm sS. Desnecessário dizer, o problema da precisão, quando disparado no automático surgiu, e provou ser impossível manter a arma no alvo, quando disparada desta forma. O fuzil passou por algumas mudanças, e sua versão G43 foi, também, utilizada como fuzil de tocaieiro, apesar do fato de que miras telescópicas utilizáveis, estavam indisponíveis, até maio de 1944. Os reais desenvolvimentos de importância estavam tendo lugar, enquanto este fuzil estava sendo atribuído, e, de acordo com os melhores princípios, o cartucho veio antes da arma.
O cartucho 7,92 x 57 mm sS (schweres Spitzgecholss ou "bala de ponta pesada") foi um desenvolvimento dos cartuchos anteriores, Mauser 7,92 x 57 mm I (Infanterie) e 7,92 x 57 mm IS (Infanterie, Spitz ou "infantaria, de ponta") e era um cartucho militar de alta-potência, adequado para fuzis de ação de ferrolho, do anos iniciais da guerra. Os alemães perceberam que as ações de infantaria tinham lugar, na vasta maioria dos casos, dentro de um alcance de 350 metros. E mais ainda, eles tinham aprendido, com a experiência, que o fogo automático, mesmo se não matasse o inimigo visado, se fosse razoavelmente concentrado sobre a posição deste, o obrigaria a manter a cabeça baixa, tornando a aproximação e o assalto, muito mais fáceis, para os fuzileiros envolvidos. Quando a isto se somava o fato de que os russos estavam optando por submetralhadoras de aço estampado, baratas, os alemães chegaram à óbvia conclusão de que qualquer novo fuzil não necessitaria de uma alcance além dos 350 metros, mas necessitaria de ser controlável, quando disparando no automático.
O interesse alemão num cartucho intermediário, primeiro apareceu nos anos 1930. Muito trabalho em novos cartuchos era extra-oficial, e destes, o 7,75 x 40 mm da Genschow (fabricante de armas e munições) alemã parecia o mais promissor do ponto de vista militar. Eventualmente descartado, entretanto, foi substituído pelo 7 x 39 mm desenvolvido para a Luftwaffe, a nova e poderosa arma aérea alemã. O fato importante era que o cartucho tinha de ser poderoso o bastante para infligir um abate ou ferimento até 350 metros, e ainda permitir ao fuzileiro controlar sua arma quando disparando no automático.
Certo número de cartuchos semelhantes apareceram durante os anos pré-guerra, na Alemanha, mas a firma Polte, em Magdeburgo surgiu com a versão encurtada do cartucho padrão 7,92 x 57 mm. Este tornou-se o cartucho militar 7,9 x 33 mm (mais tarde, 7,92 x 33 mm kurz). O problema seguinte era qual a arma que deveria disparar o novo cartucho, e para isto o Waffenamt (o Departamento de Armamentos do Alto-Comando alemão) voltou-se para a firma Haenel de Suhl, cujo diretor era o famoso Hugo Schmeisser, filho do armeiro Louis Schmeisser, também de Suhl. A arma deveria chamar-se carabina automática, para distinguí-la do fuzil padrão, da submetralhadora (errôneamente batizada com o nome de Schmeisser) e possivelmente, a metralhadora leve. Ela deveria ser uma arma de baixo peso, com fogo seletivo, para ser disparada do ombro. Sua manufatura deveria ser de aço estampado, sempre que possível, e qualquer usinagem não poderia ser mais complexa do que para o fuzil padrão.
O Waffenamt, também, especifiou que ela teria de ser uma arma para qualquer condição climática, operando bem, em tudo, do frio severo até condições de deserto; ela tinha de ser operável em condições de poeira, sujeira e lama; e tinha de possuir um mecanismo simples. Ela não podia pesar mais do que o fuzil padrão, ainda que tivesse de ser mais curta. Balisticamente, ela tinha de ter uma trajetória muito similar a do fuzil padrão, até 550 metros e tinha de ser precisa quando disparada em semi-automático, até 350 metros. Ela tinha de ser eficaz disparando rajadas até 350 metros com uma moderada cadência de fogo automático. Naturalmente, como ocorre com todas as especificações de armamentos, um adendo foi acrescentado, especificando que ela tinha de ser capaz de acomodar um lançador de granadas de bocal.
O desenho era um fato, por volta de 1940, mas a Haenel tinha pouca experiência na produção real de armas de metal estampado. Ela aproximou-se da companhia Merz, em Frankfurt, que tinha esperiência e formas de metal, e a primeira Maschinenkarabiner (carabina automática, MKb na abreviação alemã) apareceu no final de 1941. Ao mesmo que a Haenel estava trabalhando neste fuzil, a firma de Carl Walther de Zella-Mehlis, também estava trabalhando num novo protótipo de arma e conseguiu um contrato oficial para continuar seu trabalho de desenvolvimento, em janeiro de 1941.
Ambas as firmas produziram o que eram desenhos muito similares, a versão da Haenel sendo o MK42 (H) e a versão da Walther, o MK42 (W). Por volta de 1942, o desenho da Haenel estava completo (com o acréscimo de um soquete para baioneta, em resposta a uma requisição do Waffenamt). A fabricação do fuzil (a ser fornecido com um carregador de 30 cartuchos) devia começar no final de 1942, com a produção programada para atingir 10 mil armas por mês, por volta de março de 1943. Este objetivo nunca foi atingido, devido aos problemas de produção da Haenel. Os testes com a tropa refletiam a atitude dos usuários para com a nova munição: "Contanto que haja um fornecimento adequado, a tropa está despreocupada," mas ela também relatou que a linha de mira era alta demais, e que o clarão de boca, de noite, era muito grande. Entretanto, a conclusão geral era de que "as armas são, especialmente adequadas para patrulhamento, incursão e ataque (ênfase acrescentada).
Os fundamentos tinham sido estabelecidos, e a tropa parecia satisfeita no principal, embora o problema do clarão de boca tivesse duas desvantagens: o clarão excessivo cegava o atirador de noite, e também o tornava muito visível ao oponente. A arma era aceitável como ponto de partida para desenvolvimento subseqüente, que incluía quebra-chamas e o MP43 foi o resultado.
A versão Walther não tinha se mostrado um sucesso, e quando a Haenel foi recompensada com o contrato de desenvolvimento para o MP43, a Walther retirou-se deste campo do cartucho curto. A Walther tinha estado envolvida neste campo, desde 1937, quando submeteu sua Maschinenkarabiner de cartucho curto para aprovação.. Seu envolvimento na posterior competição com a Haenel tinha resultado na produção do MK42 (W), que possuía uma sistema de trava de ferrolho rotativo (turning bolt-locking system), um dos fatores que falou contra o desenho, aos olhos das autoridades do Departamento de Testes de Armas alemão (o Waffenprüfungs Amt). Como mencionado acima, a Walther tinha estado no campo dos fuzis semi-automáticos com o fuzil G41, e o planejamento de produção para o MK42 (W), aparentemente sofreu, com apenas duas armas protótipos fabricadas no final de 1942, quando a produção foi programada para atingir o auge por volta de março do ano seguinte. Acrescentado a isto, estavam as dúvidas sobre o sistema de ferrolho rotativo, disparo de ferrolho fechado e martelo interno.
Ambas as armas foram produzidas por um método, até então desconhecido na manufatura de armas, que tinha sido um processo de precisão, altamente especializado. Agora, similar a metralhadora MG42, as armas deveriam ser feitas com o mínimo absoluto de usinagem e a máxima quantidade de estampagem. Apesar disto, com sua habilidade para produzir armas de fogo, os alemães estavam produzindo alguns dos mais eficazes desenhos em armas de infantaria jamais vistos.
A série de armas MP43 também foi desenhada pelo brilhante Hugo Schmeisser, e algumas das características do Walther MK42 apareceram nesta versão do fuzil. O sistema de ferrolho aberto, tornou-se um de ferrolho fechado, um martelo foi adaptado internamente e o mecanismo de segurança foi aperfeiçoado. Neste momento, a denominação do tipo mudou para Maschinenpistole, a palavra "carabina" sendo descartada. A nova abreviatura MP podia provocar alguma confusão, já que anteriormente era aplicada em submetralhadoras de 9 mm, antes do que em fuzis de assalto, como eram as novas armas. Entretanto, pode ser, como Senich argumenta, que "Foi dito que Hitler expressou um particular desdém com a perspectiva de introduzir uma arma e cartucho, totalmente novos," Hitler, entretanto, autorizou uma "série especial" para ser montada de partes já feitas em março de 1943.
Certo número de armas MP43 (também conhecidas, mais amplamente, como StG44) foram testadas na Frente Russa, com bons relatórios vindo da tropa. Isto foi repassado para Hitler que, começando a compreender que níveis de potencial humano ele estava encarando com o Exército russo, mudou de idéia e concedeu aprovação oficial para o projeto. Isto significava que a Haenel podia ir em frente com a produção, estes fuzis continuaram a ser feitos até o final da guerra.
O grande benefício do cartucho curto era que ele tinha as características balísticas de seu irmão maior até 350 metros, mas cada homem podia levar mais cartuchos para o mesmo peso de munição em comparação com o cartucho longo. O fuzileiro era, também, capaz de utilizar sua arma em automático total, e controlar seu fogo. Isto queria dizer que no assalto, o inimigo podia ser varrido com rajadas de tiros para mantê-lo de cabeça baixa, e na defesa, as tropas atacantes podiam ser cobertas com um peso de fogo muito maior, nos alcances médios e curtos.
A arma encontrou aprovação, não só dos soldados alemães: as armas capturadas pelos russos, naturalmente, incluiam estes fuzis que "eram altamente valorizados e ansiosamente voltados contra os alemães, em particular, durante a longa retirada." A arma e seu cartucho, também, chamaram a atenção dos desenhistas e engenheiros de armas leves russos, e há pouca dúvida de que ambos tiveram alguma influência sobre N. M. Elizarov e B. V. Semin, que desenharam o cartucho 7,62 x 39 mm Soviético M43, e, possivelmente, sobre Mikhail Timofeyevich Kalashnikov, o desenhista do conhecido e fabuloso AK47.
A arma tornou-se o MP43/1 e, então, o StG44. Mudanças de nome eram quase cosméticas, pois o princípio básico da arma não foi alterado, embora várias pequenas modificações e aperfeiçoamentos fossem feitos durante os últimos dois anos de guerra. Uma das melhores descrições da arma veio num artigo do major (reformado) A. L. Thompson:
O fuzil StG44 foi um desenho tão futurístico que, 50 anos mais tarde, ainda parece contemporâneo. A arma foi um feito tecnológico da mais alta ordem, abraçando o princípio de que um cartucho de potência reduzida poderia permitir a um fuzil mais curto produzir tiros isolados e rajadas automáticas. O fuzil operado à gás, empregava um ferrolho rotativo. Ele funcionava no sistema blow-back, no qual alguns dos gases criados quando da detonação do cartucho, eram utilizados para empurrar para trás o mecanismo, após cada disparo. A arma era confiável, robusta, precisa e fornecia fogo seletivo... Apesar dos esforços do desenho, a arma era pesada, relativamente à energia de boca gerada pelo cartucho 7,92 mm. Entretanto, era de bom manuseio, e resistia ao uso em combate. Era simples, barata e rápida de produzir - pré-requisitos essenciais para a fabricação de armas em tempo de guerra. O cartucho curto de baixa potência, naturalmente, levava a economia de custos em cartuchos, balas e material propelente. E mais, a capacidade alemã para usar estampagem de aço, também contribuía para reduções em custo e tempo de produção.
Com um crescente número de relatórios favoráveis vindo das várias frentes, em 1944, e a necessidade de padronizar a nomenclatura, Hitler ordenou que a muito eficaz MG42 retivesse a mesma designação, o fuzil semi-automático G43 deveria tornar-se a Karabiner 43, e o MP43 deveria tornar-se o MP44. Este, não importando como Hitler o chamasse, permaneceu, essencialmente, a mesma arma. Um posterior novo batismo, em dezembro de 1944, resultou que a arma fosse, agora, chamada de StG44, em muitas armas anteriores foram, também, referidas da mesma forma, em documentos, mesmo se tivessem começado suas vidas como MP43s ou MP44s.
A importância desta série de armas não pode ser subestimada. Elas permanecem como os primeiros dos fuzis de assalto, que, hoje em dia, são lugar-comum. Do MK42 (H) desenvolveram-se todos os modernos fuzis semi-automáticos e de assalto, sejam eles de desenho convencional ou bullpups. O princípio fundamental é simples: o fuzil de assalto deve ser fácil de fazer e operar; deve disparar um cartucho que permita o controle quando a arma é disparada em fogo automático; e o fuzil precisa ser mais curto que os desenhos anteriores, para facilitar a armazenagem e a utilização em viaturas blindadas.
(continua...)
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
FUZIS SEMI-AUTOMÁTICOS DOS ESTADOS UNIDOS.
O Exército dos Estados Unidos adotou seu primeiro fuzil semi-automático durante a Segunda Guerra Mundial. Este foi o fuzil Garand M1, em calibre .30-06 (o cartucho militar de carga total, que havia sido adotado para utilização com o fuzil M1903 de ação de ferrolho). Jean C. Garand, na verdade, nasceu em Saint-Rémi no Quebec, Canadá, mas mudou-se para os Estados Unidos, em 1912, para abrir um pequeno negócio de engenharia. Ao receber cidadania americana, em 1914, ele mudou seu nome para John. Quando a Grande Guerra irrompeu, ele começou a olhar em detalhes para armas de fogo, e um desenho de metralhadora seu foi analisado pelo Exército americano, em 1916.
Ele recebeu a oferta de um emprego no departamento de desenho da Springfield Armory, em 1919, onde permaneceu (eventualmente, ascendendo para a posição de desenhista principal de material bélico) até aposentar-se, em 1953 (Garand faleceu em 1974). Sua maior obra foi, indubitavelmente, o Garand M1 semi-automático, mas suas primeiras invenções tinham sido de interesse para as Forças Armadas americanas. Sua metralhadora tinha sido considerada uma arma excelente, mas não era diferente o bastante para obter uma recomendação para testes. Entretanto ele também desenvolveu o mecanismo de acionamento de espoleta (primer-actuated mechanism) para armas semi-automáticas. As invenções eram apoiadas pela facilidade com que Garand trabalhava com os outros, e ele chegou na Springfield Armory como um valioso membro da equipe.
Outro desenhista de armas da época era John D. Pedersen, que havia obtido sucesso com seu dispositivo que permitia ao Springfield 1903 disparar cartuchos de pistola .38, semi-automaticamente, de um carregador de 40 cartuchos. Este dispositivo deveria ser distribuído para a totalidade do Exército americano na França, em preparação para um ataque em 1919 que, devido ao poder de fogo gerado por estes fuzis adaptados, varreria o Exércio alemão do campo, e acabaria com a guerra. Pedidos de compra foram lançados para 500 mil dispositivos Pedersen, mas no momento em que 65 mil tinham sido feitos, a guerra acabou. Entretanto, a idéia de armar o Exército dos Estados Unidos com um fuzil semi-automático não desapareceu.
Pedersen, então, aproximou-se do Departamento da Guerra dos Estados Unidos com uma idéia para um fuzil calibre .27 pol (7 mm). Ele argumentava que o cartucho .30 pol era forte demais para um fuzil semi-automático e que seu novo cartucho .276 Pedersen (7 x 51 mm) operaria com temperaturas mais baixas e com menor recuo. A balística do projétil era tal que possuía uma trajetória mais plana, tornando a pontaria muito mais simples; ele seria mais barato para se produzir; e o fuzileiro individual poderia carregar mais munição.
Pedersen confrontou o pessoal do Material Bélico americano com um problema: o cartucho era tudo que ele dizia, mas tinha menos capacidade de perfuração de blindagem e um alcance menor. Isto numa época quando muitos nas Forças Armadas americanas ainda estavam convencidos da necessidade para o infante engajar alvos com tiros isolados visados, em alcances de até 550 metros ou mais. Apesar do fato de que o projétil Pedersen provasse ter efeito terminal mais eficaz, no final de sua trajetória - quando atingia um homem - os atiradores de longo alcance sustentaram sua posição e o novo fuzil, quase certamente, um semi-automático - deveria utilizar o comprovado cartucho .30-06.
Apesar disto, enquanto Garand percorria a escada da promoção na Springfield Armory, Pedersen recebeu espaço no novo Edifício do Departamento Experimental em Springfield, não muito distante de onde Garand estava trabalhando. Os dois homens eram, totalmente, diferentes em caráter: Garand era um homem de companhia, enquanto Pedersen não só era um grande desenhista de armas, mas um soberbo vendedor.
Agora, havia uma corrida entre os dois para produzir um fuzil semi-automático que o Exército dos Estados Unidos adotaria como seu novo fuzil de serviço, e, inicialmente, parecia que Pedersen tinha vencido: seu fuzil de ação retardada de recuo (delayed-action blowback toggle) apareceu no outono de 1925. Ele estava completo e pesava, somente, 3,700 Kg. Existiam questionamentos sobre a munição, mas, quando a arma foi testada, saiu-se admiravelmente bem.
A questão do cartucho não iria, entretanto, desaparecer, e enquanto o fuzil de Pedersen exigia remontagem, não só para seu fuzil, mas, também, para sua munição, o desenho de Garand exigia remontagem, somente, para a arma. Então, as coisas mudaram. O cartucho .30-06 foi reconfigurado e, agora, seria disparado por um novo tipo de propelente e uma nova espoleta crimpada, ambas as quais tornavam o mecanismo de acionamento de espoleta de Garand, incapaz de funcionar.
Muitos homens, neste ponto, passariam a tratar de outras coisas. Garand, entretanto, estava convencido que podia desenhar um fuzil semi-automático que dispararia o novo cartucho .30. Ele descartou o fuzil de atuação na espoleta de 1924, que disparava o velho cartucho .30-06. Tudo que ele tinha de fazer era desenvolver um novo fuzil, o que ele, prontamente fez. Este era uma arma de ferrolho rotativo operado à gás, que dispararia o novo cartucho calibre .30. Pedersen persistiu em sua crença de que o cartucho calibre .27, era um cartucho melhor, mas não estava tão consciente do fundo político, como estava Garand.
Os problemas que Garand confrontava eram que o novo cartucho era mais poderoso que seu predecessor, e, também, que o fuzil de Pedersen estava recebendo análises excitantes de todos os lados. A Comissão de Infantaria relatou, em 1928, que "este fuzil é adequado e deve, agora, ser adotado para uso da infantaria como um substituto completo para o fuzil de serviço e o Fuzil Automático Browning. O Pedersen se desempenhou, admiravelmente nos testes da "Comissão de Porcos", (testes usando porcos como alvos vivos. Santos Direitos dos Animais, Batman!) e o Departamento da Guerra decidiu conduzir mais testes, mas, desta vez, com fuzis em calibre .276.
O Pedersen era um concorrente óbvio, mas, desta vez, Garand tinha preparado seus primeiros fuzis operados à gás, e no calibre .276. Esta arma emergiu para os testes como o único outro concorrente, e a corrida, agora, tinha dois cavalos: o Pedersen e o Garand. A indecisão parecia ser o sabor da época, e a Comissão de Fuzis Semi-automáticos determinou que vintes fuzis Garand calibre .30 fossem fornecidos para a série seguinte de testes. Pelo menos, Garand estava ganhando terrendo, pois o desenho original para seu novo fuzil era neste calibre. Então, como raio vindo de céu azul, os fuzis calibre .30 foram cancelados: o cartucho .276 estava de volta no páreo.
O culto do atirador de precisão tinha sido, de há muito tempo, uma tradição santificada nos Estados Unidos. Os advogados do tiro de precisão viam o fuzil nas mãos de um infante como arma para atingir o inimigo à 550 metros, antes do que apenas engajá-lo quando ele estivesse muito mais perto. O argumento baseava-se em que um único tiro visado podia retirar um homem do campo de batalha e que, quanto maior a distância, mais homens poderiam ser retirados. E mais ainda, tal método economizaria munição, o que tornava este conceito querido para a Springfield Armory e outros. O Corpo de Material Bélico do Exército dos Estados Unidos, era totalmente favorável ao fogo lento e deliberado, em contraposição ao tiro rápido em alcances mais curtos.
Toda esta vacilação tinha de chegar a um fim. Nada estava sendo feito para tomar a decisão final, que era simples: qual calibre devia ser escolhido para o próximo fuzil de serviço dos Estados Unidos. Em novembro de 1929, a Comissão de Infantaria empreendeu os Testes de Fuzil Semi-automáticos em Fort Benning, Georgia. O Garand .276 saiu na frente de todos os outros participantes, quer eram o Pedersen .276, o Springfield 1903 e, de forma muito interessante, o Fuzil Automático Browning. O relatório considerou o Garand como sendo "o melhor fuzil testado até aquela data" e acrescentou que "um fuzil de calibre .276 é preferível a um de calibre .30 para uso como arma básica de infantaria.
Um teste posterior foi levado a cabo em 1931, e, mais uma vez, o Garand .276 venceu, mesmo contra sua versão calibre .30, que sofreu um rompimento de ferrolho, efetivamente tirando-o da disputa. O relatório destes testres, foi emitido em 1932, e concluiu que uma arma calibre .30 era grande demais, em todos os sentidos, para fogo automático e provocava fadiga excessiva para o soldado. O Garand T3E1 calibre .276 pol foi a arma escolhida. O relatório dizia,
O Garand também se beneficiava de ter menos partes do que as outras armas. (O Pedersen tinha 99 partes, o Springfield, 93 e o BAR, 154.) Parcela do "Relatório da Infantaria sobre o T3E2 (Garand)" incluía o seguinte comentário: o Pedersen "requer o uso de munição lubrificada, o que é uma característica, extremamente, indesejável," e a ação de culatra "possivelmente, interferirá com o capacete. Tendo uma tendência de atingir a cobertura do usuário. Algumas vezes, abrindo buracos no chapéu." Ele também mencionou como indesejável que a intercambialidade de partes seria um problema, e que, após o último tiro ser disparado do carregador, "a culatra trava na posição aberta e... a junção e o mecanismo do bloco de culatrra ficam expostos a ... areia, sujeira ou lama."
O Garand foi altamente louvado, e embora o "sistema de operação à gás com ligação na boca e pistão sob o cano sempre apresentem alguma desvantagem," esta não era "considerada séria o bastante para afetar, diversamente, a operação prática da peça." Houve comentários sobre o clipe de oito cartuchnos do Garand, mencionando que a recarga envolvia um clipe completo, antes do que o acréscimo de cartuchos o bastante para preencher o carregador, novamente, mas "a tropa prefere o bloco de clipe, por causa da dificuldade experimentada no adestramento de recrutas, no uso do atual clipe Springfield e, também, de forma a tirar plena vantagem do princípio do fuzil semi-automático e permitir o máximo de tempo para mirar e premir o gatilho."
Foi neste ponto, no início dos anos 1930,que o general Douglas MacArthur entrou no quadro. Ele era, na época, chefe do estado-maior do Exército dos Estados Unidos, e, como tal, era o responsável pelo cordão da bolsa. O Exército estava muito carente de dinheiro e tinha milhões de cartuchos de munição calibre .30 nos estoques e depósitos. MacArthur era de opinião de que havia pouca probabilidade de os Estados Unidos serem arrastados para uma guerra européia no futuro próximo, se fosse. Somando-se a isto, estava o raciocínio do soldado de que o Exército queria um só cartucho para fuzil e metralhadora, enquanto a decisão de optar pelo calibre .276 para fuzis e reter o calibre .30 para metralhadoras era anti-econômica, tanto em termos fiscais quanto militares. Ele vetou o Garand calibre .276 e provou que John Garand tinha razão. O país não iria adotar um novo calibre para o novo fuzil de serviço.
Em 1936, o fuzil M1 calibre .30 Garand foi, oficialmente adotado pelos Estados Unidos como seu novo fuzil de serviço, e isto significava que os Estados Unidos assumiram a liderança do desenho de armas de fogo, pois foram o primeiro país, no mundo, a dotar com um fuzil semi-automático, toda sua tropa de infantaria. Havia alguns pequenos problemas com a arma, o principal dos quais era de que a munição, alimentada por clipes de oito cartuchos, tinha de ser disparada inteiramente, antes que a arma fosse recarregada. Era possível recarregar um clipe completo, ejetando um clipe, parcialmente disparado, mas isto significava que o velho clipe precisava ser preenchido, antes que pudesse ser utilizado, novamente. E mais, era sabido que o inimigo aprendeu a aguardar pelo distintivo som de um clipe vazio sendo ejetado do fuzil, antes de se movimentar, então ganhando um ou dois segundos de graça, antes que o infante americano pudesse recarregar com um novo clipe, e voltar a atirar.
Há pouca dúvida, entretanto, que o M1 provou ser uma arma de primeira classe, nas mãos treinadas de fuzileiros navais e soldados americanos. Ele funcionava em toda parte, para completa satisfação de seus usuários, algo que não pode ser dito de todos os fuzis semi-automáticos. O fato de que a arma precisava de realimentação, apenas a cada oito tiros, permitindo que os soldados pudessem se concentrar em seu trabalho - atingir alvos no campo de batalha - significava que o M1 era um grande aperfeiçoamento sobre as ações de ferrolho com os quais tantas outras nações envolvidas entraram na Segunda Guerra Mundial. Ele foi louvado por seu poder de impacto quanto por sua capacidade de funcionar em todos os terrenos e condições climáticas. No todo, ele foi "a arma perfeita do infante."
(continua...)
O Exército dos Estados Unidos adotou seu primeiro fuzil semi-automático durante a Segunda Guerra Mundial. Este foi o fuzil Garand M1, em calibre .30-06 (o cartucho militar de carga total, que havia sido adotado para utilização com o fuzil M1903 de ação de ferrolho). Jean C. Garand, na verdade, nasceu em Saint-Rémi no Quebec, Canadá, mas mudou-se para os Estados Unidos, em 1912, para abrir um pequeno negócio de engenharia. Ao receber cidadania americana, em 1914, ele mudou seu nome para John. Quando a Grande Guerra irrompeu, ele começou a olhar em detalhes para armas de fogo, e um desenho de metralhadora seu foi analisado pelo Exército americano, em 1916.
Ele recebeu a oferta de um emprego no departamento de desenho da Springfield Armory, em 1919, onde permaneceu (eventualmente, ascendendo para a posição de desenhista principal de material bélico) até aposentar-se, em 1953 (Garand faleceu em 1974). Sua maior obra foi, indubitavelmente, o Garand M1 semi-automático, mas suas primeiras invenções tinham sido de interesse para as Forças Armadas americanas. Sua metralhadora tinha sido considerada uma arma excelente, mas não era diferente o bastante para obter uma recomendação para testes. Entretanto ele também desenvolveu o mecanismo de acionamento de espoleta (primer-actuated mechanism) para armas semi-automáticas. As invenções eram apoiadas pela facilidade com que Garand trabalhava com os outros, e ele chegou na Springfield Armory como um valioso membro da equipe.
Outro desenhista de armas da época era John D. Pedersen, que havia obtido sucesso com seu dispositivo que permitia ao Springfield 1903 disparar cartuchos de pistola .38, semi-automaticamente, de um carregador de 40 cartuchos. Este dispositivo deveria ser distribuído para a totalidade do Exército americano na França, em preparação para um ataque em 1919 que, devido ao poder de fogo gerado por estes fuzis adaptados, varreria o Exércio alemão do campo, e acabaria com a guerra. Pedidos de compra foram lançados para 500 mil dispositivos Pedersen, mas no momento em que 65 mil tinham sido feitos, a guerra acabou. Entretanto, a idéia de armar o Exército dos Estados Unidos com um fuzil semi-automático não desapareceu.
Pedersen, então, aproximou-se do Departamento da Guerra dos Estados Unidos com uma idéia para um fuzil calibre .27 pol (7 mm). Ele argumentava que o cartucho .30 pol era forte demais para um fuzil semi-automático e que seu novo cartucho .276 Pedersen (7 x 51 mm) operaria com temperaturas mais baixas e com menor recuo. A balística do projétil era tal que possuía uma trajetória mais plana, tornando a pontaria muito mais simples; ele seria mais barato para se produzir; e o fuzileiro individual poderia carregar mais munição.
Pedersen confrontou o pessoal do Material Bélico americano com um problema: o cartucho era tudo que ele dizia, mas tinha menos capacidade de perfuração de blindagem e um alcance menor. Isto numa época quando muitos nas Forças Armadas americanas ainda estavam convencidos da necessidade para o infante engajar alvos com tiros isolados visados, em alcances de até 550 metros ou mais. Apesar do fato de que o projétil Pedersen provasse ter efeito terminal mais eficaz, no final de sua trajetória - quando atingia um homem - os atiradores de longo alcance sustentaram sua posição e o novo fuzil, quase certamente, um semi-automático - deveria utilizar o comprovado cartucho .30-06.
Apesar disto, enquanto Garand percorria a escada da promoção na Springfield Armory, Pedersen recebeu espaço no novo Edifício do Departamento Experimental em Springfield, não muito distante de onde Garand estava trabalhando. Os dois homens eram, totalmente, diferentes em caráter: Garand era um homem de companhia, enquanto Pedersen não só era um grande desenhista de armas, mas um soberbo vendedor.
Agora, havia uma corrida entre os dois para produzir um fuzil semi-automático que o Exército dos Estados Unidos adotaria como seu novo fuzil de serviço, e, inicialmente, parecia que Pedersen tinha vencido: seu fuzil de ação retardada de recuo (delayed-action blowback toggle) apareceu no outono de 1925. Ele estava completo e pesava, somente, 3,700 Kg. Existiam questionamentos sobre a munição, mas, quando a arma foi testada, saiu-se admiravelmente bem.
A questão do cartucho não iria, entretanto, desaparecer, e enquanto o fuzil de Pedersen exigia remontagem, não só para seu fuzil, mas, também, para sua munição, o desenho de Garand exigia remontagem, somente, para a arma. Então, as coisas mudaram. O cartucho .30-06 foi reconfigurado e, agora, seria disparado por um novo tipo de propelente e uma nova espoleta crimpada, ambas as quais tornavam o mecanismo de acionamento de espoleta de Garand, incapaz de funcionar.
Muitos homens, neste ponto, passariam a tratar de outras coisas. Garand, entretanto, estava convencido que podia desenhar um fuzil semi-automático que dispararia o novo cartucho .30. Ele descartou o fuzil de atuação na espoleta de 1924, que disparava o velho cartucho .30-06. Tudo que ele tinha de fazer era desenvolver um novo fuzil, o que ele, prontamente fez. Este era uma arma de ferrolho rotativo operado à gás, que dispararia o novo cartucho calibre .30. Pedersen persistiu em sua crença de que o cartucho calibre .27, era um cartucho melhor, mas não estava tão consciente do fundo político, como estava Garand.
Os problemas que Garand confrontava eram que o novo cartucho era mais poderoso que seu predecessor, e, também, que o fuzil de Pedersen estava recebendo análises excitantes de todos os lados. A Comissão de Infantaria relatou, em 1928, que "este fuzil é adequado e deve, agora, ser adotado para uso da infantaria como um substituto completo para o fuzil de serviço e o Fuzil Automático Browning. O Pedersen se desempenhou, admiravelmente nos testes da "Comissão de Porcos", (testes usando porcos como alvos vivos. Santos Direitos dos Animais, Batman!) e o Departamento da Guerra decidiu conduzir mais testes, mas, desta vez, com fuzis em calibre .276.
O Pedersen era um concorrente óbvio, mas, desta vez, Garand tinha preparado seus primeiros fuzis operados à gás, e no calibre .276. Esta arma emergiu para os testes como o único outro concorrente, e a corrida, agora, tinha dois cavalos: o Pedersen e o Garand. A indecisão parecia ser o sabor da época, e a Comissão de Fuzis Semi-automáticos determinou que vintes fuzis Garand calibre .30 fossem fornecidos para a série seguinte de testes. Pelo menos, Garand estava ganhando terrendo, pois o desenho original para seu novo fuzil era neste calibre. Então, como raio vindo de céu azul, os fuzis calibre .30 foram cancelados: o cartucho .276 estava de volta no páreo.
O culto do atirador de precisão tinha sido, de há muito tempo, uma tradição santificada nos Estados Unidos. Os advogados do tiro de precisão viam o fuzil nas mãos de um infante como arma para atingir o inimigo à 550 metros, antes do que apenas engajá-lo quando ele estivesse muito mais perto. O argumento baseava-se em que um único tiro visado podia retirar um homem do campo de batalha e que, quanto maior a distância, mais homens poderiam ser retirados. E mais ainda, tal método economizaria munição, o que tornava este conceito querido para a Springfield Armory e outros. O Corpo de Material Bélico do Exército dos Estados Unidos, era totalmente favorável ao fogo lento e deliberado, em contraposição ao tiro rápido em alcances mais curtos.
Toda esta vacilação tinha de chegar a um fim. Nada estava sendo feito para tomar a decisão final, que era simples: qual calibre devia ser escolhido para o próximo fuzil de serviço dos Estados Unidos. Em novembro de 1929, a Comissão de Infantaria empreendeu os Testes de Fuzil Semi-automáticos em Fort Benning, Georgia. O Garand .276 saiu na frente de todos os outros participantes, quer eram o Pedersen .276, o Springfield 1903 e, de forma muito interessante, o Fuzil Automático Browning. O relatório considerou o Garand como sendo "o melhor fuzil testado até aquela data" e acrescentou que "um fuzil de calibre .276 é preferível a um de calibre .30 para uso como arma básica de infantaria.
Um teste posterior foi levado a cabo em 1931, e, mais uma vez, o Garand .276 venceu, mesmo contra sua versão calibre .30, que sofreu um rompimento de ferrolho, efetivamente tirando-o da disputa. O relatório destes testres, foi emitido em 1932, e concluiu que uma arma calibre .30 era grande demais, em todos os sentidos, para fogo automático e provocava fadiga excessiva para o soldado. O Garand T3E1 calibre .276 pol foi a arma escolhida. O relatório dizia,
"O Garand era superior em cadência de tiro, em impactos por minuto e em impactos por grama de munição consumida... o leve choque do recuo do fuzil calibre .276 não desarruma a linha de mira, como o faz o fuzil calibre .30 e é menos fatigante para o atirador."
O Garand também se beneficiava de ter menos partes do que as outras armas. (O Pedersen tinha 99 partes, o Springfield, 93 e o BAR, 154.) Parcela do "Relatório da Infantaria sobre o T3E2 (Garand)" incluía o seguinte comentário: o Pedersen "requer o uso de munição lubrificada, o que é uma característica, extremamente, indesejável," e a ação de culatra "possivelmente, interferirá com o capacete. Tendo uma tendência de atingir a cobertura do usuário. Algumas vezes, abrindo buracos no chapéu." Ele também mencionou como indesejável que a intercambialidade de partes seria um problema, e que, após o último tiro ser disparado do carregador, "a culatra trava na posição aberta e... a junção e o mecanismo do bloco de culatrra ficam expostos a ... areia, sujeira ou lama."
O Garand foi altamente louvado, e embora o "sistema de operação à gás com ligação na boca e pistão sob o cano sempre apresentem alguma desvantagem," esta não era "considerada séria o bastante para afetar, diversamente, a operação prática da peça." Houve comentários sobre o clipe de oito cartuchnos do Garand, mencionando que a recarga envolvia um clipe completo, antes do que o acréscimo de cartuchos o bastante para preencher o carregador, novamente, mas "a tropa prefere o bloco de clipe, por causa da dificuldade experimentada no adestramento de recrutas, no uso do atual clipe Springfield e, também, de forma a tirar plena vantagem do princípio do fuzil semi-automático e permitir o máximo de tempo para mirar e premir o gatilho."
Foi neste ponto, no início dos anos 1930,que o general Douglas MacArthur entrou no quadro. Ele era, na época, chefe do estado-maior do Exército dos Estados Unidos, e, como tal, era o responsável pelo cordão da bolsa. O Exército estava muito carente de dinheiro e tinha milhões de cartuchos de munição calibre .30 nos estoques e depósitos. MacArthur era de opinião de que havia pouca probabilidade de os Estados Unidos serem arrastados para uma guerra européia no futuro próximo, se fosse. Somando-se a isto, estava o raciocínio do soldado de que o Exército queria um só cartucho para fuzil e metralhadora, enquanto a decisão de optar pelo calibre .276 para fuzis e reter o calibre .30 para metralhadoras era anti-econômica, tanto em termos fiscais quanto militares. Ele vetou o Garand calibre .276 e provou que John Garand tinha razão. O país não iria adotar um novo calibre para o novo fuzil de serviço.
Em 1936, o fuzil M1 calibre .30 Garand foi, oficialmente adotado pelos Estados Unidos como seu novo fuzil de serviço, e isto significava que os Estados Unidos assumiram a liderança do desenho de armas de fogo, pois foram o primeiro país, no mundo, a dotar com um fuzil semi-automático, toda sua tropa de infantaria. Havia alguns pequenos problemas com a arma, o principal dos quais era de que a munição, alimentada por clipes de oito cartuchos, tinha de ser disparada inteiramente, antes que a arma fosse recarregada. Era possível recarregar um clipe completo, ejetando um clipe, parcialmente disparado, mas isto significava que o velho clipe precisava ser preenchido, antes que pudesse ser utilizado, novamente. E mais, era sabido que o inimigo aprendeu a aguardar pelo distintivo som de um clipe vazio sendo ejetado do fuzil, antes de se movimentar, então ganhando um ou dois segundos de graça, antes que o infante americano pudesse recarregar com um novo clipe, e voltar a atirar.
Há pouca dúvida, entretanto, que o M1 provou ser uma arma de primeira classe, nas mãos treinadas de fuzileiros navais e soldados americanos. Ele funcionava em toda parte, para completa satisfação de seus usuários, algo que não pode ser dito de todos os fuzis semi-automáticos. O fato de que a arma precisava de realimentação, apenas a cada oito tiros, permitindo que os soldados pudessem se concentrar em seu trabalho - atingir alvos no campo de batalha - significava que o M1 era um grande aperfeiçoamento sobre as ações de ferrolho com os quais tantas outras nações envolvidas entraram na Segunda Guerra Mundial. Ele foi louvado por seu poder de impacto quanto por sua capacidade de funcionar em todos os terrenos e condições climáticas. No todo, ele foi "a arma perfeita do infante."
(continua...)
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
O PÓS-GUERRA E O CARTUCHO 7,62 NATO.
Por volta de 1950, na Europa, os primeiros passos na direção da mudança de armamentos estavam tendo lugar, como resultado das experiências na Segunda Guerra Mundial, particularmente, devido ao sucesso dos fuzis semi-automáticos americanos, russos e alemães. Na Grã-Bretanha o fuzil EM estava causando alvoroço e o novo FAL (Fusil Automatique Leger) belga tinha enchido os olhos de alguns militares. O Projeto Nº 2231 era uma avaliação dos méritos do novo fuzil de baixo peso, com o propósito de "determinar a adequabilidade comparativa dos fuzis testados e sua munição para a utilização dos países participantes do teste." Os fuzis sob consideração eram o EM2 britânico (Enfield Model); o FN (Fabrique Nationale d'Armes de Guerre, sediada em Herstal). De forma interessante, a arma americana de comparação era o T25, um desenho de bloco oscilante (tilting-block), com uma esquisita coronha e punho de pistola. O EM2 disparava o novo cartucho calibre .280 British (7 x 43 mm), como também o fuzil FN, mas o fuzil americano continuava a disparar o cartucho padrão .30 pol, que estava em serviço desde a virada do século XX (nota do Clermont: na verdade, embora o calibre fosse o .30, o cartucho era a versão, então conhecida como .30 Light Rifle, que seria denominado, posteriormente, de 7,62 NATO ou 7,62 x 51 mm)
O relatório salientava que um objetivo dos testes era "a padronização conjunta das armas leves e sua munição". Este louvável objetivo estava nas mentes de muitos pensadores militares de vistas largas, de há muito tempo, pois a experiência tinha demonstrado que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, com freqüência, lutavam lado-a-lado, e a comunalidade seria em benefício de todos, incluindo o soldado em campanha. Entretanto, os resultados do processo causaram muita discórdia, e o papel do coronel René Studler, (Chefe de Material Bélico do Exército americano) foi suspeito, ao extremo.
A decisão de testar as armas foi o resultado de encontros em Washington, D.C., em 1949, quando foi proposto que "armas padrão de ambos os países deveriam ser convertidas para dispararem a nova munição e seriam testados em Fort Benning, para demonstrar a plausibilidade da conversão". Os testes de Fort Benning começaram em 3 de maio de 1950, e os testes balísticos de ferimentos foram executados no Centro Químico do Exército dos Estados Unidos, no Maryland.
Na época, numerosas especificações e critérios foram aplicados aos testes, entre eles, trajetória, penetração e capacidade para usar munição incendiária e perfurante de blindagem. Também haviam testes práticos para o usuário que incluíam disparar as armas em automático total, uma exigência que foi imposta nos desenvolvimentos de armas alemãs e russas durante a a campanha na Frente Russa e sobre todas as armas no pós-guerra.
Logo ficou claro, no relatório sobre os testes, que o cartucho mais leve .280 pol, apesar da oposição (particularmente, dos militares americanos), era, balísticamente, "melhor que (...) o cartucho .30 pol." Agourentamente, no entanto, uma emenda foi acrescentada ao relatório que declarava, "o cartucho calibre .30 tinha trajetória mais plana." Os velhos protagonistas do fuzil de longo alcance ainda estavam vivos e se agitando, ansiosos para frustrar qualquer desenvolvimento se este interferisse com sua defesa da munição de calibre .30 pol.
No concernente à potência, o cartucho .280 pol "está bem acima da potência marginal necessária para ferir ou matar o alvo", e, naturalmente, o calibre menor pesava menos, permitindo ao fuzileiro carregar mais munição em operações. De forma interessante, embora o lógico fosse, justamente o contrário, "cartuchos de observação e traçantes, no calibre .280 pol, são superiores ao cartucho calibre .30 T65 (7,62 x 51 mm). A traçante .280 produz um rastro mais comprido e mais visível."
O relatório então, voltou-se para os fuzis, e eles foram submetidos a uma ampla gama de testes, nas semanas posteriores. Testes iniciais mostraram que "a precisão básica dos fuzis é comparável... Em qualquer caso, a precisão deles, embora não satisfazendo características militares, não é inferior do que a do fuzil M1, disparando a munição de bala M2."
Pelo fato de todos os fuzis, na verdade, serem quase versões experimentais (apesar da exigência original de que fossem armas de serviço padrão, recalibradas para disparar a nova munição), não foi surpresa que ocorressem numerosas quebras de partes, tanto quanto problemas com o funcionamento. "Todos os fuzis tornaram-se quentes demais para segurar pela telha (forearm, the fore end furniture) após cerca de 1280 cartuchos disparados," dizia o relatório, que também concluiu que o "FN, definitivamente, é superior aos outros dois fuzis." Este comentário foi, posteriormente reforçado pela nota de que, "somente o FN podia ser manutenido em campanha, sem a utilização de ferramental especial... A simplicidade de desenho do FN esua facilidade de desmontagem e montagem, possibilita a substituição de partes, muito mais rapidamente do que para qualquer dos outros dois fuzis." O louvor pelo FN é constante, através de todos os testes, e a decisão final do Exército dos Estados Unidos desafia a compreensão, exceto pelo papel da Springfield Armory e da velha guarda.
As conclusões finais foram de que o cartucho T65 era insatisfatório, devido às excessivas detonação, clarão e fumaça. E mais, embora o cartucho .280 tivesse uma trajetória insatisfatória, ele foi a munição preferida. As recomendações finais foram de que mais trabalho deveria ser empreendido no cartucho .280 British e, no caso de uma emergência, que o fuzil FN e o cartucho .280 fossem modificados para adequarem-se às exigências militares americanas.
A chaleira internacional estava prester a ferver: para tornar o cartucho .280 aceitável pelos militares americanos, sua base foi tornada "idêntica com a do cartucho .30-1906 dos Estados Unidos, para que fosse fácil a conversão das armas já existentes." Conversas sobre padronização estavam estendendo-se por tempo considerável, em vista do estabelecimento da OTAN, para a qual a padronização de armas e equipamentos era uma necessidade tanto militar quanto econômica. Interessantemente, Clinton Ezell, comenta que "parecia, na época, que o nacionalismo poderia e seria superado na padronização de todas as categorias de material, exceto no caso das armas de infantaria.... Um dos primeiros e mais duradouros desapontamentos foi o fracasso em transformar o desejo por padronização numa realidade." Parecia, disse Ezell, que a causa parcial disto foi a falta de vontade do restante da OTAN em se curvar aos desejos dos Estados Unidos.
Os britânicos rejeitaram seu produto nacional, o EM2, em favor do fuzil FN-FAL (modificado para as exigências britânicas e privado de sua opção para fogo automático) e calibrado para o novo cartucho calibre 7,62 NATO, que tinha sido imposto forçosamente, pelos Estados Unidos. O argumento em favor do cartucho NATO foi liderado (sem surpresas) pelo coronel Studler, que afirmou que o custo de recalibrar armas para o .280 era elevado demais, que o cartucho .280 (apesar dos testes do Fort Benning) não era tão poderoso quanto o cartucho M2, e que a necessidade por munição perfurante de blindagem-incendiária, significava que o .280 não era capaz de desempenhar esta tarefa (de novo, apesar dos resultados de Fort Benning). O argumento final era de que o Congresso não aprovaria uma tal mudança (aparentemente, apesar do fato de que o Congresso estava, virtualmente, na ignorância da proposta) e, sendo assim, o Departamento de Material Bélico dos Estados Unidos não poderia, seriamente, considerar quaisquer mudanças de natureza tão fundamental. Os membros britânicos das missões aos Estados Unidos afirmaram, não sem razões, que tinham sido derrotados por Studler, de novo.
Em 1951, parecia haver outra oportunidade para racionalizar este assunto, e o FN foi testado contra o EM2, de novo, e contra o velho T25 (ou T47) e o novo T44 (na verdade, nada mais do que um Garand remodelado). Os britânicos escolheram adotar o FN-FAL belga, que tornou-se o SLR (Self-Reloading Rifle), e os Estados Unidos elegeram o T44, a escolha de Studler, que logo seria conhecido como M14. Parecia que a escolha para os Estados Unidos tinha sido feita pelo coronel Studler, que era implacavelmente contra a redução no calibre e contra fuzis bullpup e de desenhos estrangeiros.
A rixa entre os dois países, provocada, em certa extensão, pelo coronel Studler, tornou-se tão séria que o primeiro-ministro Winston Churchill e o presidente Harry Truman discutiram a questão durante um encontro em janeiro de 1952. Eles emitiram um comunicado expressando a crença na futura padronização, mas as coisas, neste meio tempo, reverteram para o status quo. Finalmente, em 1953, foi alcançado um entendimento entre Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, de que o cartucho calibre padrão deveria ser o 7,62 x 51 mm, realmente, o cartucho americano pelo qual Studler tinha batalhado tão ardentemente.
Isto significou que os Estados Unidos, agora, estavam atolados com um cartucho que era, extremamente poderoso, mas, também altamente desconfortável, tanto para o atirador quanto para os outros em volta dele, e com a exigência subseqüente de que o novo fuzil militar fosse capaz de disparar em automático total. A arma híbrida escolhida para calçar o cartucho foi o Garand remodelado - o M14.
O FUZIL M14.
A história do M14 não é feliz. Talvez a melhor forma de detalhar isto seja pela forma como, inicialmente, a manufatura dele foi posta em movimento, ou antes, não foi. John Stennis do Comitê de Investigação da Prontidão, do Senado dos Estados Unidos, escreveu um documento no qual relatava seus achados sobre o que era, em outras palavras, um escândalo. Ele citou o Secretário da Defesa Robert S. McNamara, que disse,
O relatório observou que, embora aprovado em 1957, nenhum pedido foi apresentado para o fuzil até 1958, e que a produção tinha sido magra. Esta história de lamentação era apoiada pelo fato de que, os primeiro dezenove fuzis foram produzidos em setembro de 1959; pelo fim de junho de 1960, apenas mais 9.741 fuzis tinham sido entregues, e por volta de 30 de junho de 1961, a produção subiu para 133.386 peças. Por esta época, a Springfield Armory, a Harrington-Richardson e a Winchester, estavam todas produzindo o fuzil. O preparo para a produção total tinha levado tempo demais, e em 1960, os reforços americanos para Berlim, ainda estavam armados com fuzis M1 Garand. O relatório, também, mencionou que, em 1961, havia mais Garands M1 nos depósitos do que haviam fuzileiros no Exército dos Estados Unidos. Os padrões da Springfield Armory ainda estavam sendo mantidos.
Um ponto interessante feito pelo relatório era de que "as quantidades adquiridas do [M14] não deviam ser, de forma alguma, um impedimento para o desenvolvimento e produção de um eventual e mais moderno substituto para o M14, em algum momento futuro." Esta previsão, eventualmente, daria origem aos desenvolvimentos que levaram ao fuzil M16, num calibre ainda menor do que o cartucho .280 British (7 mm) que tinha sido tão criticado pelo coronel Studler e seus seguidores.
No serviço, o M14 logo ganhou uma reputação dúbia. Ele chutava como uma mula, era incontrolável quando disparado no automático e não era leve, de jeito algum. O M14 era comprido e pesado demais para ser carregado, o dia inteiro, em climas quentes e úmidos (como demonstrado pelas experiências das forças americanas e sul-vietnamitas na Guerra do Vietnam. A munição 7,62 NATO era pesada demais, limitando a quantidade de munição portada pelos soldados em patrulha. A capacidade de fogo seletivo era, na maior parte, inútil, já que o M14 era leve demais para o cartucho tão poderoso que disparava, e subia, excessivamente, quando disparado em rajadas. De fato, a maioria dos M14 foi atribuída para a tropa com os seletores travados em modo semi-automático, para evitar o desnecessário gasto de munição em fogo automático. Em outras palavras, o M14 foi um fracasso como arma de serviço. O que é, realmente, surpreendente é que seus defensores tivessem continuado a argumentar, forçosamente, pela sua manutenção, em face do surgimento dos fuzis Armalite.
(continua...)
Por volta de 1950, na Europa, os primeiros passos na direção da mudança de armamentos estavam tendo lugar, como resultado das experiências na Segunda Guerra Mundial, particularmente, devido ao sucesso dos fuzis semi-automáticos americanos, russos e alemães. Na Grã-Bretanha o fuzil EM estava causando alvoroço e o novo FAL (Fusil Automatique Leger) belga tinha enchido os olhos de alguns militares. O Projeto Nº 2231 era uma avaliação dos méritos do novo fuzil de baixo peso, com o propósito de "determinar a adequabilidade comparativa dos fuzis testados e sua munição para a utilização dos países participantes do teste." Os fuzis sob consideração eram o EM2 britânico (Enfield Model); o FN (Fabrique Nationale d'Armes de Guerre, sediada em Herstal). De forma interessante, a arma americana de comparação era o T25, um desenho de bloco oscilante (tilting-block), com uma esquisita coronha e punho de pistola. O EM2 disparava o novo cartucho calibre .280 British (7 x 43 mm), como também o fuzil FN, mas o fuzil americano continuava a disparar o cartucho padrão .30 pol, que estava em serviço desde a virada do século XX (nota do Clermont: na verdade, embora o calibre fosse o .30, o cartucho era a versão, então conhecida como .30 Light Rifle, que seria denominado, posteriormente, de 7,62 NATO ou 7,62 x 51 mm)
O relatório salientava que um objetivo dos testes era "a padronização conjunta das armas leves e sua munição". Este louvável objetivo estava nas mentes de muitos pensadores militares de vistas largas, de há muito tempo, pois a experiência tinha demonstrado que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, com freqüência, lutavam lado-a-lado, e a comunalidade seria em benefício de todos, incluindo o soldado em campanha. Entretanto, os resultados do processo causaram muita discórdia, e o papel do coronel René Studler, (Chefe de Material Bélico do Exército americano) foi suspeito, ao extremo.
A decisão de testar as armas foi o resultado de encontros em Washington, D.C., em 1949, quando foi proposto que "armas padrão de ambos os países deveriam ser convertidas para dispararem a nova munição e seriam testados em Fort Benning, para demonstrar a plausibilidade da conversão". Os testes de Fort Benning começaram em 3 de maio de 1950, e os testes balísticos de ferimentos foram executados no Centro Químico do Exército dos Estados Unidos, no Maryland.
Na época, numerosas especificações e critérios foram aplicados aos testes, entre eles, trajetória, penetração e capacidade para usar munição incendiária e perfurante de blindagem. Também haviam testes práticos para o usuário que incluíam disparar as armas em automático total, uma exigência que foi imposta nos desenvolvimentos de armas alemãs e russas durante a a campanha na Frente Russa e sobre todas as armas no pós-guerra.
Logo ficou claro, no relatório sobre os testes, que o cartucho mais leve .280 pol, apesar da oposição (particularmente, dos militares americanos), era, balísticamente, "melhor que (...) o cartucho .30 pol." Agourentamente, no entanto, uma emenda foi acrescentada ao relatório que declarava, "o cartucho calibre .30 tinha trajetória mais plana." Os velhos protagonistas do fuzil de longo alcance ainda estavam vivos e se agitando, ansiosos para frustrar qualquer desenvolvimento se este interferisse com sua defesa da munição de calibre .30 pol.
No concernente à potência, o cartucho .280 pol "está bem acima da potência marginal necessária para ferir ou matar o alvo", e, naturalmente, o calibre menor pesava menos, permitindo ao fuzileiro carregar mais munição em operações. De forma interessante, embora o lógico fosse, justamente o contrário, "cartuchos de observação e traçantes, no calibre .280 pol, são superiores ao cartucho calibre .30 T65 (7,62 x 51 mm). A traçante .280 produz um rastro mais comprido e mais visível."
O relatório então, voltou-se para os fuzis, e eles foram submetidos a uma ampla gama de testes, nas semanas posteriores. Testes iniciais mostraram que "a precisão básica dos fuzis é comparável... Em qualquer caso, a precisão deles, embora não satisfazendo características militares, não é inferior do que a do fuzil M1, disparando a munição de bala M2."
Pelo fato de todos os fuzis, na verdade, serem quase versões experimentais (apesar da exigência original de que fossem armas de serviço padrão, recalibradas para disparar a nova munição), não foi surpresa que ocorressem numerosas quebras de partes, tanto quanto problemas com o funcionamento. "Todos os fuzis tornaram-se quentes demais para segurar pela telha (forearm, the fore end furniture) após cerca de 1280 cartuchos disparados," dizia o relatório, que também concluiu que o "FN, definitivamente, é superior aos outros dois fuzis." Este comentário foi, posteriormente reforçado pela nota de que, "somente o FN podia ser manutenido em campanha, sem a utilização de ferramental especial... A simplicidade de desenho do FN esua facilidade de desmontagem e montagem, possibilita a substituição de partes, muito mais rapidamente do que para qualquer dos outros dois fuzis." O louvor pelo FN é constante, através de todos os testes, e a decisão final do Exército dos Estados Unidos desafia a compreensão, exceto pelo papel da Springfield Armory e da velha guarda.
As conclusões finais foram de que o cartucho T65 era insatisfatório, devido às excessivas detonação, clarão e fumaça. E mais, embora o cartucho .280 tivesse uma trajetória insatisfatória, ele foi a munição preferida. As recomendações finais foram de que mais trabalho deveria ser empreendido no cartucho .280 British e, no caso de uma emergência, que o fuzil FN e o cartucho .280 fossem modificados para adequarem-se às exigências militares americanas.
A chaleira internacional estava prester a ferver: para tornar o cartucho .280 aceitável pelos militares americanos, sua base foi tornada "idêntica com a do cartucho .30-1906 dos Estados Unidos, para que fosse fácil a conversão das armas já existentes." Conversas sobre padronização estavam estendendo-se por tempo considerável, em vista do estabelecimento da OTAN, para a qual a padronização de armas e equipamentos era uma necessidade tanto militar quanto econômica. Interessantemente, Clinton Ezell, comenta que "parecia, na época, que o nacionalismo poderia e seria superado na padronização de todas as categorias de material, exceto no caso das armas de infantaria.... Um dos primeiros e mais duradouros desapontamentos foi o fracasso em transformar o desejo por padronização numa realidade." Parecia, disse Ezell, que a causa parcial disto foi a falta de vontade do restante da OTAN em se curvar aos desejos dos Estados Unidos.
Os britânicos rejeitaram seu produto nacional, o EM2, em favor do fuzil FN-FAL (modificado para as exigências britânicas e privado de sua opção para fogo automático) e calibrado para o novo cartucho calibre 7,62 NATO, que tinha sido imposto forçosamente, pelos Estados Unidos. O argumento em favor do cartucho NATO foi liderado (sem surpresas) pelo coronel Studler, que afirmou que o custo de recalibrar armas para o .280 era elevado demais, que o cartucho .280 (apesar dos testes do Fort Benning) não era tão poderoso quanto o cartucho M2, e que a necessidade por munição perfurante de blindagem-incendiária, significava que o .280 não era capaz de desempenhar esta tarefa (de novo, apesar dos resultados de Fort Benning). O argumento final era de que o Congresso não aprovaria uma tal mudança (aparentemente, apesar do fato de que o Congresso estava, virtualmente, na ignorância da proposta) e, sendo assim, o Departamento de Material Bélico dos Estados Unidos não poderia, seriamente, considerar quaisquer mudanças de natureza tão fundamental. Os membros britânicos das missões aos Estados Unidos afirmaram, não sem razões, que tinham sido derrotados por Studler, de novo.
Em 1951, parecia haver outra oportunidade para racionalizar este assunto, e o FN foi testado contra o EM2, de novo, e contra o velho T25 (ou T47) e o novo T44 (na verdade, nada mais do que um Garand remodelado). Os britânicos escolheram adotar o FN-FAL belga, que tornou-se o SLR (Self-Reloading Rifle), e os Estados Unidos elegeram o T44, a escolha de Studler, que logo seria conhecido como M14. Parecia que a escolha para os Estados Unidos tinha sido feita pelo coronel Studler, que era implacavelmente contra a redução no calibre e contra fuzis bullpup e de desenhos estrangeiros.
A rixa entre os dois países, provocada, em certa extensão, pelo coronel Studler, tornou-se tão séria que o primeiro-ministro Winston Churchill e o presidente Harry Truman discutiram a questão durante um encontro em janeiro de 1952. Eles emitiram um comunicado expressando a crença na futura padronização, mas as coisas, neste meio tempo, reverteram para o status quo. Finalmente, em 1953, foi alcançado um entendimento entre Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, de que o cartucho calibre padrão deveria ser o 7,62 x 51 mm, realmente, o cartucho americano pelo qual Studler tinha batalhado tão ardentemente.
Isto significou que os Estados Unidos, agora, estavam atolados com um cartucho que era, extremamente poderoso, mas, também altamente desconfortável, tanto para o atirador quanto para os outros em volta dele, e com a exigência subseqüente de que o novo fuzil militar fosse capaz de disparar em automático total. A arma híbrida escolhida para calçar o cartucho foi o Garand remodelado - o M14.
O FUZIL M14.
A história do M14 não é feliz. Talvez a melhor forma de detalhar isto seja pela forma como, inicialmente, a manufatura dele foi posta em movimento, ou antes, não foi. John Stennis do Comitê de Investigação da Prontidão, do Senado dos Estados Unidos, escreveu um documento no qual relatava seus achados sobre o que era, em outras palavras, um escândalo. Ele citou o Secretário da Defesa Robert S. McNamara, que disse,
"Penso que é uma desgraça a forma como o projeto foi manipulado... É uma tarefa, relativamente simples, construir um fuzil... e mesmo assim, este projeto tem se arrastado há meses, na verdade, anos. E eu não vejo desculpas para permitir que isto continue."
O relatório observou que, embora aprovado em 1957, nenhum pedido foi apresentado para o fuzil até 1958, e que a produção tinha sido magra. Esta história de lamentação era apoiada pelo fato de que, os primeiro dezenove fuzis foram produzidos em setembro de 1959; pelo fim de junho de 1960, apenas mais 9.741 fuzis tinham sido entregues, e por volta de 30 de junho de 1961, a produção subiu para 133.386 peças. Por esta época, a Springfield Armory, a Harrington-Richardson e a Winchester, estavam todas produzindo o fuzil. O preparo para a produção total tinha levado tempo demais, e em 1960, os reforços americanos para Berlim, ainda estavam armados com fuzis M1 Garand. O relatório, também, mencionou que, em 1961, havia mais Garands M1 nos depósitos do que haviam fuzileiros no Exército dos Estados Unidos. Os padrões da Springfield Armory ainda estavam sendo mantidos.
Um ponto interessante feito pelo relatório era de que "as quantidades adquiridas do [M14] não deviam ser, de forma alguma, um impedimento para o desenvolvimento e produção de um eventual e mais moderno substituto para o M14, em algum momento futuro." Esta previsão, eventualmente, daria origem aos desenvolvimentos que levaram ao fuzil M16, num calibre ainda menor do que o cartucho .280 British (7 mm) que tinha sido tão criticado pelo coronel Studler e seus seguidores.
No serviço, o M14 logo ganhou uma reputação dúbia. Ele chutava como uma mula, era incontrolável quando disparado no automático e não era leve, de jeito algum. O M14 era comprido e pesado demais para ser carregado, o dia inteiro, em climas quentes e úmidos (como demonstrado pelas experiências das forças americanas e sul-vietnamitas na Guerra do Vietnam. A munição 7,62 NATO era pesada demais, limitando a quantidade de munição portada pelos soldados em patrulha. A capacidade de fogo seletivo era, na maior parte, inútil, já que o M14 era leve demais para o cartucho tão poderoso que disparava, e subia, excessivamente, quando disparado em rajadas. De fato, a maioria dos M14 foi atribuída para a tropa com os seletores travados em modo semi-automático, para evitar o desnecessário gasto de munição em fogo automático. Em outras palavras, o M14 foi um fracasso como arma de serviço. O que é, realmente, surpreendente é que seus defensores tivessem continuado a argumentar, forçosamente, pela sua manutenção, em face do surgimento dos fuzis Armalite.
(continua...)
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
NOVO FUZIL, NOVO CALIBRE. (Parte Final.)
Como havia sido antevisto pelo Relatório Russel, o caminho estava aberto na mente do Congresso para a substituição do M14. O fuzil que deveria desempenhar esta tarefa teve uma caminhada dura, entretanto, antes de, por fim, alcançar o estrelato. A produção do M14 continuou por apenas cinco anos, desde sua concepção, pela simples razão de que ele era um tapa-buraco, no melhor dos casos e um dispendioso fracasso, no pior. A ênfase sobre os valores do calibre .30 tinha embaralhado tudo, e a velha guarda que aderia ao calibre estava grasnando a volta de uma era quando "homens eram homens... e podiam agüentar um grande cartucho sem piscar o olho". Entretanto, dois estudos americanos tinham apontado (em 1950 e 1952) certos fatos que não eram do agrado dos entusiastas dos grandes calibres.
O primeiro destes foi o Relatório Hall, propondo que um projétil muito menor podia causar mais danos a um homem do que o cartucho calibre .30 pol. Embora teórico (e admitido como tal pelo autor), este relatório tinha a aura do senso comum em volta dele. Em breve, apareceu o Relatório Hitchman, que acrescentou peso ao Relatório Hall, ao observar que o alcance padrão de batalha não excedia 250 metros, o que estava de acordo com os comentários de S.L.A. Marshall. A pontaria declinava, consideravelmente, após o alcance de 90 metros, "projéteis de calibre menor que o atual calibre .30 podem ser utilizados sem perda no efeito de ferimentos e com substanciais ganhos logísticos e militares."
O cartucho menor podia ser obtido, mas até meados dos anos 1950 parecia não haver nenhum tal cartucho em existência. Entretanto, Eugene Stoner (que foi responsável por muitos desenhos de armas leves, as mais famosas sendo a família de armas AR) vinha experimentando com um calibre, extremamente pequeno - o .223. O resultado eventual foi o M16.
O que é mais interessante sobre o desenvolvimento do M16 a partir da família Armalite de armas foi a meia-volta total dos militares americanos: anteriormente, eles tinham sido obstinados defensores do cartucho .30-06, apoiados pela constantemente repetida máxima de que o fuzileiro precisava ser capaz de disparar até 550 metros, apesar de os relatórios de batalha confirmarem que 250 metros era o alcance máximo de engajamento para o GC mediano e que 90-150 metros era a real zona de fogo para os fuzis padrão de infantaria. Este dogma tinha resistido firmemente contra o calibre do fuzil EM2 britânico e o resultado tinha sido o M14, um fuzil que fracassou em fazer o desenho de fuzis avançar um centímetro que fosse.
Muito tem sido escrito sobre o desenho e desenvolvimento do M16 e o fracasso de produzir uma ferramenta confiável para a infantaria. Há pouca dúvida de que a dotação dos primeiros fuzis provocou grandes problemas devido a negligência com a limpeza. Isso se deveu, surpreendemente, não à preguiça dos soldados, mas a confusão das instruções - manuais confirmavam que a limpeza era necessária, apenas depois de disparar 1 mil cartuchos, mas o propelente padrão do fuzil provocava tal acúmulo de carbono que este não era o caso. E mais, o cano era impossível de ser limpo, a menos que uma vareta de limpeza fosse atribuída, o que não aconteceu. Isto foi similar ao fiasco da vareta de limpeza britânica, quando a vareta para o SA80 não era comprida o bastante para o cano que, supostamente, devia limpar.
O M16 agora, chegou a maioridade e, apesar de interferência de agências que deviam ter se mantido afastadas, provou ser valoroso. Entretanto, vem á tona, com freqüência a questão de que o calibre é pequeno demais para fogo eficaz até 250 metros e deveria ser aumentado para cerca de 7 mm (por volta de .276 pol - o calibre do Pedersen e do EM2). Ter equipado a infantaria do Exército com um fuzil, originariamente escolhido pela Força Aérea para proteger aeródromos, parece dar a idéia de uma disposição de pegar qualquer coisa em troca do M14, e talvez se possa ver nisso uma vitória para a nova guarda contra a Obsessão Studler.
O EXÉRCITO BRITÂNICO E O FUZIL SEMI-AUTOMÁTICO.
A história dos fuzis semi-automáticos no Exército britânico não é totalmente feliz. Tem havido desenhos de semi-automáticos britânicos, desde a virada do século XX, com armas tais como o Gabbet-Fairfax de 1896 e o Farquhar-Hill de 1909, mas a mente militar britânica não estava preparada para tais novas idéias. É de interesse, no entanto, que o calibre .27 já estivesse debaixo de sérios estudos, um pouco antes da Grande Guerra, mas a eclosão das hostilidades pôs o trabalho em suspenso.
Desta forma, o soldado britânico travou a Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial com um fuzil de ação de ferrolho, variações da família Lee-Enfield, e não foi até depois da Segunda Guerra Mundial que pensamento sério voltou-se, novamente, para as possibilidades de um fuzil semi-automático para as tropas britânicas. Em 1945, tomou-se a decisão de que os soldados britânicos deveriam possuir um fuzil semi-automático, sendo considerado como o calibre ideal, o .27 pol (7 mm). De forma interessante, este era o mesmo calibre que havia sido escolhido em 1913, e também no início dos anos 1930 para o fuzil americano Pedersen. Dois cartuchos foram desenhados, um em calibre .270 pol (6,8 mm) e o outro em calibre .276 (7,21 x 43 mm, este ficando conhecido como .280 pol, na tipicamente perversa moda britânica). O cartucho .270, logo foi abandonado, por sua demasiada baixa potência; o trabalho ficou concentrado sobre o cartucho, minimamente maior, com uma velocidade de boca eventual de 771 m/s (2.530 pés/s) com uma bala de 140 grains (9,07 gramas). Este tornou-se conhecido com o 7 mm Mark 1Z, e os belgas o utilizaram em seus desenhos para o fuzil curto FN (um bullpup) e o fuzil longo (eventualmente, o FN-FAL).
Para calçar o novo cartucho, fez-se um novo fuzil, desenvolvido na Royal Small Arms Factory, sob controle de Noel Kent-Lemon, que decidiu pelo conceito bullpup como base para seu trabalho. Uma equipe de desenho era liderada por Stanley Thorp e surgiu com um fuzil operado à gás, com um sistema de trava baseado sobre o do StG44 alemão, com numerosas estampagens de metal em sua manufatura. O aço estampado provou-se impossível de se obter, confiavelmente, e este desenho foi descartado. A outra equipe, sob Stefan Janson (e Stalowa Wola no desenho de armas), veio com um desenho bem-sucedido que se tornaria o centro de uma tempestade internacional.
O EM2, como o novo fuzil ficou conhecido, também era de desenho bullpup e sofreu por ser, de alguma forma, complexo no campo. Entretanto, era um bom desenho e os desenvolvedores tinham elevadas esperanças para a arma nos testes comparataivos programados para terem lugar em 1950. A padronização de armas e munições, especialmente na OTAN e entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, tinham sido um sonho por anos, mas pouco tinha sido feito, com as duas guerras mundiais intervindo para retardar o processo. Em 1950, entretanto, o sonho poderia ter virado realidade, se não fosse pelos esforços do coronel René Studler (diretor de material bélico do Exército dos Estados Unidos, sediado na Springfield Armory) e outros. O coronel Studler já tinha seu pequeno projeto, o T25 (mais tarde, M14), e parecia não ter vontade alguma de permitir que qualquer outra arma ficasse no caminho de sua ambição de fornecer a próxima geração de fuzis de serviço para o Exército dos Estados Unidos. O fato de que a OTAN agora estava em existência, e a padronização era a senha, importava pouco em sua forma de encarar o problema.
Os testes começaram em fevereiro de 1950, e Janson e Kent-Lemon lideravam os desenhistas britânicos, junto com A.W. Dunclift do Painel do Calibre Ideal .280, um grupo estabelecido para examinar a totalidade do conceiro de mudança de calibre no Exército britânico. O resumo dos testes dispunha que
O EM2 britânico desempenhou-se bem e, realmente, provou ser mais do que páreo para o T25 americano e o FN .280 belga, os outros competidores. Entretanto, isto não era do inteiro agrado dos observadores americanos, e Lucian Cary, o escritor de armas de fogo americano, escreveu, um artigo muito revelador, sobre o assunto:
Cary comentou que a padronização da munição não tinha chegado a lugar nennhum, o que era verdade, e tudo que se concordou era de que um novo e mais leve fuzil semi-automático era necessário. Os americanos, entretanto, não admitiram o valor do EM2, ainda baseando-se, fortemente, no velho princípio, um tiro-uma morte, que, na realidade, tinha, quase, desaparecido da vista durante a Segunda Guerra Mundial. Poder de fogo era o que importava, face às massas de inimigos, como os Estados Unidos, em breve, aprenderiam na Coréia. Mais argumentos anti-britânicos centravam-se no cartucho, e foi aí que o EM2 fracassou. Os Estados Unidos estavam decididos pelo calibre .30, e até mesmo o Primeiro-Ministro Winston Churchill reconheceu que este era um obstáculo de proporções intransponíveis. Os americanos argumentaram que a bala calibre .280 não funcionava bem, além dos 550 metros, e não era capaz de perfurar um capacete de aço, a 820 metros. Eles esqueciam que o combate mediano de infantaria ocorria em cerca de 45-140 metros, e tais alcances longos de tiro para fuzileiros, de 550-820 metros, eram puro devaneio.
Portanto, o EM2 pereceu de morte política, e os americanos prometeram que, se os britânicos aceitassem seu novo cartucho, o 7,62 x 51 mm (um .30 encurtado), como o padrão a ser imposto sobre a OTAN, eles, por sua vez, aceitariam o FN-FAL, neste calibre, como seu novo fuzil de serviço. Os britânicos concordaram, e os americanos foram em frente, e acabaram ficando com o cartucho 7,62 NATO, e com o fuzil M14. E ocorreu um profundo gelo no Atlântico.
A Grã-Bretanha voltou-se para o FN-FAL como seu novo fuzil semi-automático, e o Exército britânico, após um período de desenvolvimento e calibragem, foi dotado com seu novo fuzil de serviço, o L1A1 SLR. Este fuzil era de calibre 7,62 x 51 mm, o novo calibre padrão da OTAN, e o calibre do fuzil M14 americano. O relatório original do teste sobre o FN .280 mencionava que ele era o único fuzil em teste, capaz de ser manutenido em campanha, sem a utilização de uma ferramenta especial, e quando o SLR foi atribuído aos soldados britânicos no calibre maior, o mesmo era verdadeiro. O conjunto de limpeza incluía uma ferramenta combinada que era utilizada para zerar as miras, mas a manutenção de campo era tão simples quanto podia ser. Todas as partes que eram desmontáveis em campo eram de um tamanho que dificultava a sua perda, e o martelo e o mecanismo interno do fuzil estavam, prontamente, acessíveis uma vez que cobertura de cima tivesse sido removida e a guia do ferrolho (bolt carrier) e este fossem retirados.
A ação era, extremamente, simples - um bloco basculante (tilting block) dentro de uma guia de ferrolho, acionado por uma armadilha de gás (gas trap), a meio caminho do cano. A energia do gás era transmitida, por meio de um pistão que atingia face da guia do ferrolho para dar início ao movimento para trás, da guia e do ferrolho, para a câmara. A extração e ejeção seguiam-se com o ferrolho alimentando outro cartucho para a câmara, enquanto a ação retornava a posição avançada onde, com o fuzil engatilhado, tudo que o usuário tinha que fazer para disparar o próximo tiro era premir o gatilho. A mira era simples, com uma mira de folha calibrada de 150-350 metros. Colocar e retirar o carregador era fácil e a trava de carregador era muito firme. O seletor de segurança, na versão britânica, só permitia tiros isolados, já que a opção de fogo automático foi removida, para impedir desperdício de munição. A arma era fácil de transportar e, embora uma alça de tranporte fosse instalada, era raramente usada, e algumas unidades a cortavam fora, totalmente.
O SLR permanece no serviço britânico até meados dos anos 1980, quando a fatídica decisão de adotar o SA80 foi, lentamente, implementada. O legado do EM2 foi uma crença dos tomadores de decisão britânicos de que as armas de estilo bullpup eram o caminho do futuro. Certamente, o pouco comprimento da arma a tornava mais fácil de manusear em espaços confinados (tais como em viaturas, ou em combate de casa-em-casa), e em terreno íngreme, especialmente, quando vadeando por água. Entretanto, ele foi calibrado para o novo cartucho americano, o 5,56 x 45 mm NATO. Para aperfeiçoar a precisão, ele foi dotado com a mira SUSAT (Sight Unit Small Arms Trilux) e a escolha desta mira, certamente, melhorou o desempenho da pontaria dos britânicos.
O real problema do SA80 foi que ele não foi, meticulosamente, pensado, e na pressa de adotar o cartucho da OTAN, o fuzil foi "encaixado no cartucho". Um relatório faz a crônica da história, inicialmente, desastrosa do fuzil, do estágio dos primeiros desenhos, até sua adoção e dotação. O fuzil entrou em serviço com o Exército britânico, em 1986 e, quase imediatamente, caiu sob críticas que eram justificadas. Peças caíam do fuzil, o gatilho não voltava para a posição de tiro, pinos de disparo quebravam, o seletor de segurança partia, o conjunto de limpeza era inadequado, e os carregadores eram malfeitos. O soldado britânico teve sérias dúvidas sobre a arma.(Santa IMBEL, Batman!)
As coisas chegaram ao cume, quando as tropas britânicas foram engajadas na Guerra do Golfo de 1990-91, durante a Operação GRANBY. Seguindo uma enorme quantidade de críticas nos jornais, a Casa dos Comuns reuniu o Comitê de Defesa para analisar os problemas e achar quais soluções seriam, ou deveriam ser, implementadas. Ele emitiu um relatório, em 1993, e apesar dos esforços do Exército britânico para acobertar as muitas falhas da arma, o relatório contém muitas repreensões. O comité observou que ficou
Haviam nada menos do que trinta e dois defeitos com as duas armas, sendo cinco, exclusivos, apenas do LSW (Light Support Weapon - capaz de fogo totalmente automático, a partir de bipé, e dotado para cada seção de fuzileiros, como fuzil-metralhadora). O restante eram, firmemente, do SA80. Defeitos sérios (quebra do pino de disparo, falha da trava do carregador, guias de ferrolho com o tamanho errado) e irritações menores (coices de coronha ásperos) são todos descritos no relatório, e é interessante observar que levou, nada menos, do que oito anos, para começar a resolver o problema da retenção do gatilho, e oito anos para substituir o conjunto deficiente de limpeza. A história dos defeitos e seu conserto é lamentável e um sério fracasso do Governo e dos militares: soldados foram enviados para a guerra com armas que eram inseguras e que os soldados sabiam que não mereciam confiança.
Em comum com o M16 e sua variantes, o SA80, também tinha uma intolerância para com poeira e areia. O SA80 é descrito como uma "arma de precisão". O SLR, dizia o relatório, "em ambiente arenoso não requeria uma grande quantidade de óleo e a razão para isto, era, muito simplesmente, de que ele era uma arma de muito maior tolerância". Há poucas dúvidas de que se os soldados pudessem escolher entre um fuzil com maior tolerância e menor tecnologia ou o SA80, a escolha teria sido simples. Na verdade, o problema com areia e poeira continuou a atormentar o SA80, e nas recentes operações no Golfo Pérsico (Operação TELIC) muitas unidades britânicas ainda sofriam com o problema.
Um recente artigo proclama que os defeitos são coisa do passado, mas é de se admirar por quê o fuzil precisa de tanto apoio se ele é tão confiável quanto se afirma ser. Certamente, alguns soldados, voltando da Guerra do Iraque, tem dito que arma disparava o primeiro tiro e, então, enjambrava. Outros, entretanto, relatam que se o SA80 for mantido, absolutamente limpo, até, realmente, entrar em ação, e então, for oleado, liberalmente, funciona bem. As dúvidas permanecem, no entanto, e rumores são ouvidos sobre uma mudança de calibre para o .276 pol (7 mm) do Pedersen e do EM2.
Parece que a maior crítica ao cartucho de pequeno calibre é de que não desfecha sua energia, especialmente, em alcances curtos, onde ele tende a atravessar o alvo, sem liberar a energia necessária para ferir ou matar. Reclamações tem sido feitas de que, até mesmo três tiros, a 9 ou 15 metros, são insuficientes para nocautear o alvo, o que é, afinal de contas, o objetivo primordial de qualquer cartucho de infantaria. Certamente, a volta a uma bala, ligeiramente maior, satisfaria os aficcionados pelo longo alcance (embora o argumento deles seja tênue, já que a maior parte dos infantes é incapaz de atingir alvos além dos 250 metros, e tais alcances, provavelmente, pertencem às metralhadoras médias); mais importnte, mesmo com inferior capacidade de penetração, a bala pode provocar ferimentos nos alcances curtso, agora, utilizados no combate. Operações de limpeza de trincheiras e de casas, certamente, se beneficiariam, especialmente, já que os soldados envolvidos teriam mais confiança em sei fuzil está desfechando uma substancial quantidade e energia, quando for necessário.
CONCLUSÃO.
O fuzil, como arma de infantaria, tem mais de duzentos anos de idade. Ele atravessou vários estágios importantes de desenvolvimento, atingindo a maturidade no final do século XIX, como uma arma de carregador integral e ação de ferrolho, de alta precisão, razoável cadência de fogo, e adequado poder de abate. Ele alcançou seu apogeu na forma do Mauser Gew 98, o Lee-Enfield Nº 1 e o Springfield M1903 (embora este último fosse, realmente, uma cópia do primeiro). Os soldados, para os quais confiabilidade e desempenho eram fundamentais, gostavam destes fuzis e achavam pouca coisa para reclamar deles. Os fuzis semi-automáticos (ou de auto-carregamento) do século XX não são mais do que desenvolvimentos tecnológicos, freqüentemente, com tendência a enguiços que nunca afetaram as mais simples armas de ação de ferrolho.
Antes que esses tipos aparecessem, muitos esforços tinham sido feitos para colocar o fuzil no páreo com seu antecessor, o arco longo. Este tinha ficado famoso por seu alcance, poder de tiro e efeito; estes fatores não foram ultrapassados pelos fuzis até os últimos anos do século XIX, e é razoável supor que, se um dos exércitos em Waterloo, ou até mesmo, Sebastopol, lutasse com o arco longo, o efeito sobre o inimigo teria sido igual, se não fosse maior. O arco longo, nas mãos de arqueiros treinados emassados, podia produzir um poder de tiro devastador, até 250 metros, suficiente para lidar com infantaria ou cavalaria emassadas. Talvez, o efeito equivalente tenha sido visto na Retirada de Mons, em 1914, quando a treinada infantaria britânica, rapidamente, convenceu os alemães de que estavam sendo alvejados por montes de metralhadoras.
A metralhadora obscureceu os fuzis, com efeito. Do momento em que Hiram Maxim e seus co-inventores mostraram que o cartuco metálico composto podia ser alimentado, continuamente, numa arma de repetição, foi esta arma que provocou, de longe, mais mortes do que o fuzil jamais teria podido. Da Grande Guerra, há estatísticas que demonstram que a metralhadora foi muito mais uma máquina de matança do que o fuzil, e que a artilharia, de longe, superou a metralhadora em semear a morte no campo de batalha.
No entanto, não se pode esperar que o infante individual entre na batalha sem uma arma pessoal, portanto, o fuzil sobreviveu como uma arma local de guerra, mesmo embora não seja, particularmente eficaz, comparado com a metralhadora e a peça de artilharia. Mas, os infantes tem, de tempos em tempos, sido dotados com armas que eram suspeitas em sua confiabilidade e/ou desempenho, mesmo antes de pararem em suas mãos. Os fuzis M14, M16 e o SA80 são, talvez, as mais bem conhecidas destas armas, devido a velocidade com que as notícias viajam pelo mundo, nestes dias. Mas, o Martini-Henry tinha tendência a enjambrar, e o fuzil de agulha prussiano, como o fuzil Chassepôt francês, tinham seus defeitos, também; a história é sempre a mesma.
É de fundamental importância para todas as nações que enviarão seus homens para o combate, enviá-los com uma arma que funcionará em todas as condições, não requeira manutenção excessiva em campanha, e que detenha o inimigo quando o usuário precisar disto. E mais, ela precisa ser capaz de desfechar fogo preciso, e o usuário necessita ser treinado para mirar sua arma, nos alcances que ele deseja atingir. Com freqüência demais, a televisão mostra a infantaria disparando suas armas, cegamente, sobre ou em volta de cobertura, na crença de que o barulho, apenas, deterá a aproximação do inimigo. Esta falácia não é restrita às milícias e insurgentes armados de países de Terceiro Mundo.
Entretanto, a ênfase precisa repousar no fornecimento de fuzis de campo de batalha confiáveis, que infligirão danos o suficiente sobre o alvo, para que este seja impedido de causar danos ao usuário da arma. Ter o "mais novo" em tecnologia não assegura que o indivíduo será capaz de usar isto, ou que isto vá sempre funcionar; de longe, é melhor usar fuzis (e outras armas) que tenham tido algum teste para provarem que são confiáveis, e que tais testes tenham sido pelas mãos destes que vão confiar suas vidas a esses fuzis. As tecnologias podem ser substituídas, mas não há substituição para colocar as armas nas mãos de soldados, inicialmente, longe do campo de batalha, e deixar que eles tentem acabar com elas. Os examinadores precisam pensar pela cabeça destes que utilizarão a arma para valer: ela vai continuar disparando? Ela pode ser disparada sem muita tensão? Ela pode derrubar o alvo e, se derrubar, este vai ficar derrubado, ou vai se levantar pedindo mais?
_________________________________________________________
Extraído de WESTWOOD, David - Rifles - An Illustrated History of Their Impact - ABC-CLIO, 2005, Santa Barbara, Califórnia.
Como havia sido antevisto pelo Relatório Russel, o caminho estava aberto na mente do Congresso para a substituição do M14. O fuzil que deveria desempenhar esta tarefa teve uma caminhada dura, entretanto, antes de, por fim, alcançar o estrelato. A produção do M14 continuou por apenas cinco anos, desde sua concepção, pela simples razão de que ele era um tapa-buraco, no melhor dos casos e um dispendioso fracasso, no pior. A ênfase sobre os valores do calibre .30 tinha embaralhado tudo, e a velha guarda que aderia ao calibre estava grasnando a volta de uma era quando "homens eram homens... e podiam agüentar um grande cartucho sem piscar o olho". Entretanto, dois estudos americanos tinham apontado (em 1950 e 1952) certos fatos que não eram do agrado dos entusiastas dos grandes calibres.
O primeiro destes foi o Relatório Hall, propondo que um projétil muito menor podia causar mais danos a um homem do que o cartucho calibre .30 pol. Embora teórico (e admitido como tal pelo autor), este relatório tinha a aura do senso comum em volta dele. Em breve, apareceu o Relatório Hitchman, que acrescentou peso ao Relatório Hall, ao observar que o alcance padrão de batalha não excedia 250 metros, o que estava de acordo com os comentários de S.L.A. Marshall. A pontaria declinava, consideravelmente, após o alcance de 90 metros, "projéteis de calibre menor que o atual calibre .30 podem ser utilizados sem perda no efeito de ferimentos e com substanciais ganhos logísticos e militares."
O cartucho menor podia ser obtido, mas até meados dos anos 1950 parecia não haver nenhum tal cartucho em existência. Entretanto, Eugene Stoner (que foi responsável por muitos desenhos de armas leves, as mais famosas sendo a família de armas AR) vinha experimentando com um calibre, extremamente pequeno - o .223. O resultado eventual foi o M16.
O que é mais interessante sobre o desenvolvimento do M16 a partir da família Armalite de armas foi a meia-volta total dos militares americanos: anteriormente, eles tinham sido obstinados defensores do cartucho .30-06, apoiados pela constantemente repetida máxima de que o fuzileiro precisava ser capaz de disparar até 550 metros, apesar de os relatórios de batalha confirmarem que 250 metros era o alcance máximo de engajamento para o GC mediano e que 90-150 metros era a real zona de fogo para os fuzis padrão de infantaria. Este dogma tinha resistido firmemente contra o calibre do fuzil EM2 britânico e o resultado tinha sido o M14, um fuzil que fracassou em fazer o desenho de fuzis avançar um centímetro que fosse.
Muito tem sido escrito sobre o desenho e desenvolvimento do M16 e o fracasso de produzir uma ferramenta confiável para a infantaria. Há pouca dúvida de que a dotação dos primeiros fuzis provocou grandes problemas devido a negligência com a limpeza. Isso se deveu, surpreendemente, não à preguiça dos soldados, mas a confusão das instruções - manuais confirmavam que a limpeza era necessária, apenas depois de disparar 1 mil cartuchos, mas o propelente padrão do fuzil provocava tal acúmulo de carbono que este não era o caso. E mais, o cano era impossível de ser limpo, a menos que uma vareta de limpeza fosse atribuída, o que não aconteceu. Isto foi similar ao fiasco da vareta de limpeza britânica, quando a vareta para o SA80 não era comprida o bastante para o cano que, supostamente, devia limpar.
O M16 agora, chegou a maioridade e, apesar de interferência de agências que deviam ter se mantido afastadas, provou ser valoroso. Entretanto, vem á tona, com freqüência a questão de que o calibre é pequeno demais para fogo eficaz até 250 metros e deveria ser aumentado para cerca de 7 mm (por volta de .276 pol - o calibre do Pedersen e do EM2). Ter equipado a infantaria do Exército com um fuzil, originariamente escolhido pela Força Aérea para proteger aeródromos, parece dar a idéia de uma disposição de pegar qualquer coisa em troca do M14, e talvez se possa ver nisso uma vitória para a nova guarda contra a Obsessão Studler.
O EXÉRCITO BRITÂNICO E O FUZIL SEMI-AUTOMÁTICO.
A história dos fuzis semi-automáticos no Exército britânico não é totalmente feliz. Tem havido desenhos de semi-automáticos britânicos, desde a virada do século XX, com armas tais como o Gabbet-Fairfax de 1896 e o Farquhar-Hill de 1909, mas a mente militar britânica não estava preparada para tais novas idéias. É de interesse, no entanto, que o calibre .27 já estivesse debaixo de sérios estudos, um pouco antes da Grande Guerra, mas a eclosão das hostilidades pôs o trabalho em suspenso.
Desta forma, o soldado britânico travou a Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial com um fuzil de ação de ferrolho, variações da família Lee-Enfield, e não foi até depois da Segunda Guerra Mundial que pensamento sério voltou-se, novamente, para as possibilidades de um fuzil semi-automático para as tropas britânicas. Em 1945, tomou-se a decisão de que os soldados britânicos deveriam possuir um fuzil semi-automático, sendo considerado como o calibre ideal, o .27 pol (7 mm). De forma interessante, este era o mesmo calibre que havia sido escolhido em 1913, e também no início dos anos 1930 para o fuzil americano Pedersen. Dois cartuchos foram desenhados, um em calibre .270 pol (6,8 mm) e o outro em calibre .276 (7,21 x 43 mm, este ficando conhecido como .280 pol, na tipicamente perversa moda britânica). O cartucho .270, logo foi abandonado, por sua demasiada baixa potência; o trabalho ficou concentrado sobre o cartucho, minimamente maior, com uma velocidade de boca eventual de 771 m/s (2.530 pés/s) com uma bala de 140 grains (9,07 gramas). Este tornou-se conhecido com o 7 mm Mark 1Z, e os belgas o utilizaram em seus desenhos para o fuzil curto FN (um bullpup) e o fuzil longo (eventualmente, o FN-FAL).
Para calçar o novo cartucho, fez-se um novo fuzil, desenvolvido na Royal Small Arms Factory, sob controle de Noel Kent-Lemon, que decidiu pelo conceito bullpup como base para seu trabalho. Uma equipe de desenho era liderada por Stanley Thorp e surgiu com um fuzil operado à gás, com um sistema de trava baseado sobre o do StG44 alemão, com numerosas estampagens de metal em sua manufatura. O aço estampado provou-se impossível de se obter, confiavelmente, e este desenho foi descartado. A outra equipe, sob Stefan Janson (e Stalowa Wola no desenho de armas), veio com um desenho bem-sucedido que se tornaria o centro de uma tempestade internacional.
O EM2, como o novo fuzil ficou conhecido, também era de desenho bullpup e sofreu por ser, de alguma forma, complexo no campo. Entretanto, era um bom desenho e os desenvolvedores tinham elevadas esperanças para a arma nos testes comparataivos programados para terem lugar em 1950. A padronização de armas e munições, especialmente na OTAN e entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, tinham sido um sonho por anos, mas pouco tinha sido feito, com as duas guerras mundiais intervindo para retardar o processo. Em 1950, entretanto, o sonho poderia ter virado realidade, se não fosse pelos esforços do coronel René Studler (diretor de material bélico do Exército dos Estados Unidos, sediado na Springfield Armory) e outros. O coronel Studler já tinha seu pequeno projeto, o T25 (mais tarde, M14), e parecia não ter vontade alguma de permitir que qualquer outra arma ficasse no caminho de sua ambição de fornecer a próxima geração de fuzis de serviço para o Exército dos Estados Unidos. O fato de que a OTAN agora estava em existência, e a padronização era a senha, importava pouco em sua forma de encarar o problema.
Os testes começaram em fevereiro de 1950, e Janson e Kent-Lemon lideravam os desenhistas britânicos, junto com A.W. Dunclift do Painel do Calibre Ideal .280, um grupo estabelecido para examinar a totalidade do conceiro de mudança de calibre no Exército britânico. O resumo dos testes dispunha que
Há uma exigência para um fuzil possuindo peso menor e incorporando várias características não encontradas nas presentes armas padrão. É desejável desenvolver um fuzil e cartucho satisfazendo tal exigência e, então, para padronizar tais itens, para utilização nos exércitos das nações Aliadas.
... É desejável obter uma comparação das características e desempenho destes modelos quando submetidos a um teste acordado pelos representantes dos países submetendo os itens a serem examinados. Parece provável que um fuzil satisfazendo tal requerimento substituirá várias armas individuais do presente.
O EM2 britânico desempenhou-se bem e, realmente, provou ser mais do que páreo para o T25 americano e o FN .280 belga, os outros competidores. Entretanto, isto não era do inteiro agrado dos observadores americanos, e Lucian Cary, o escritor de armas de fogo americano, escreveu, um artigo muito revelador, sobre o assunto:
O novo fuzil militar britânico é assunto de aguda controvérsia, beirando a amargura. Nosso pessoal do Material Bélico do Exército desaprova... Você poderia pensar... que esses britânicos não tem nada que se meterem a desenvolver um novo fuzil. Nosso povo segue a linha de que, ao introduzirem um novo fuzil, os britânicos não estão ajudando a padronizar o equipamento militar dos exércitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte... Os britânicos poderiam retorquir que, nós também, estamos planejando um novo fuzil e um novo cartucho. Naturalmente, de nosso ponto de vista, a coisa é diferente.
Cary comentou que a padronização da munição não tinha chegado a lugar nennhum, o que era verdade, e tudo que se concordou era de que um novo e mais leve fuzil semi-automático era necessário. Os americanos, entretanto, não admitiram o valor do EM2, ainda baseando-se, fortemente, no velho princípio, um tiro-uma morte, que, na realidade, tinha, quase, desaparecido da vista durante a Segunda Guerra Mundial. Poder de fogo era o que importava, face às massas de inimigos, como os Estados Unidos, em breve, aprenderiam na Coréia. Mais argumentos anti-britânicos centravam-se no cartucho, e foi aí que o EM2 fracassou. Os Estados Unidos estavam decididos pelo calibre .30, e até mesmo o Primeiro-Ministro Winston Churchill reconheceu que este era um obstáculo de proporções intransponíveis. Os americanos argumentaram que a bala calibre .280 não funcionava bem, além dos 550 metros, e não era capaz de perfurar um capacete de aço, a 820 metros. Eles esqueciam que o combate mediano de infantaria ocorria em cerca de 45-140 metros, e tais alcances longos de tiro para fuzileiros, de 550-820 metros, eram puro devaneio.
Portanto, o EM2 pereceu de morte política, e os americanos prometeram que, se os britânicos aceitassem seu novo cartucho, o 7,62 x 51 mm (um .30 encurtado), como o padrão a ser imposto sobre a OTAN, eles, por sua vez, aceitariam o FN-FAL, neste calibre, como seu novo fuzil de serviço. Os britânicos concordaram, e os americanos foram em frente, e acabaram ficando com o cartucho 7,62 NATO, e com o fuzil M14. E ocorreu um profundo gelo no Atlântico.
A Grã-Bretanha voltou-se para o FN-FAL como seu novo fuzil semi-automático, e o Exército britânico, após um período de desenvolvimento e calibragem, foi dotado com seu novo fuzil de serviço, o L1A1 SLR. Este fuzil era de calibre 7,62 x 51 mm, o novo calibre padrão da OTAN, e o calibre do fuzil M14 americano. O relatório original do teste sobre o FN .280 mencionava que ele era o único fuzil em teste, capaz de ser manutenido em campanha, sem a utilização de uma ferramenta especial, e quando o SLR foi atribuído aos soldados britânicos no calibre maior, o mesmo era verdadeiro. O conjunto de limpeza incluía uma ferramenta combinada que era utilizada para zerar as miras, mas a manutenção de campo era tão simples quanto podia ser. Todas as partes que eram desmontáveis em campo eram de um tamanho que dificultava a sua perda, e o martelo e o mecanismo interno do fuzil estavam, prontamente, acessíveis uma vez que cobertura de cima tivesse sido removida e a guia do ferrolho (bolt carrier) e este fossem retirados.
A ação era, extremamente, simples - um bloco basculante (tilting block) dentro de uma guia de ferrolho, acionado por uma armadilha de gás (gas trap), a meio caminho do cano. A energia do gás era transmitida, por meio de um pistão que atingia face da guia do ferrolho para dar início ao movimento para trás, da guia e do ferrolho, para a câmara. A extração e ejeção seguiam-se com o ferrolho alimentando outro cartucho para a câmara, enquanto a ação retornava a posição avançada onde, com o fuzil engatilhado, tudo que o usuário tinha que fazer para disparar o próximo tiro era premir o gatilho. A mira era simples, com uma mira de folha calibrada de 150-350 metros. Colocar e retirar o carregador era fácil e a trava de carregador era muito firme. O seletor de segurança, na versão britânica, só permitia tiros isolados, já que a opção de fogo automático foi removida, para impedir desperdício de munição. A arma era fácil de transportar e, embora uma alça de tranporte fosse instalada, era raramente usada, e algumas unidades a cortavam fora, totalmente.
O SLR permanece no serviço britânico até meados dos anos 1980, quando a fatídica decisão de adotar o SA80 foi, lentamente, implementada. O legado do EM2 foi uma crença dos tomadores de decisão britânicos de que as armas de estilo bullpup eram o caminho do futuro. Certamente, o pouco comprimento da arma a tornava mais fácil de manusear em espaços confinados (tais como em viaturas, ou em combate de casa-em-casa), e em terreno íngreme, especialmente, quando vadeando por água. Entretanto, ele foi calibrado para o novo cartucho americano, o 5,56 x 45 mm NATO. Para aperfeiçoar a precisão, ele foi dotado com a mira SUSAT (Sight Unit Small Arms Trilux) e a escolha desta mira, certamente, melhorou o desempenho da pontaria dos britânicos.
O real problema do SA80 foi que ele não foi, meticulosamente, pensado, e na pressa de adotar o cartucho da OTAN, o fuzil foi "encaixado no cartucho". Um relatório faz a crônica da história, inicialmente, desastrosa do fuzil, do estágio dos primeiros desenhos, até sua adoção e dotação. O fuzil entrou em serviço com o Exército britânico, em 1986 e, quase imediatamente, caiu sob críticas que eram justificadas. Peças caíam do fuzil, o gatilho não voltava para a posição de tiro, pinos de disparo quebravam, o seletor de segurança partia, o conjunto de limpeza era inadequado, e os carregadores eram malfeitos. O soldado britânico teve sérias dúvidas sobre a arma.(Santa IMBEL, Batman!)
As coisas chegaram ao cume, quando as tropas britânicas foram engajadas na Guerra do Golfo de 1990-91, durante a Operação GRANBY. Seguindo uma enorme quantidade de críticas nos jornais, a Casa dos Comuns reuniu o Comitê de Defesa para analisar os problemas e achar quais soluções seriam, ou deveriam ser, implementadas. Ele emitiu um relatório, em 1993, e apesar dos esforços do Exército britânico para acobertar as muitas falhas da arma, o relatório contém muitas repreensões. O comité observou que ficou
"chocado que o Ministério da Defesa pudesse ter aceitado a arma em serviço, pagando por ela e por equipamentos, tais como o conjunto de limpeza, que parecem beirar ao ridículo."
Haviam nada menos do que trinta e dois defeitos com as duas armas, sendo cinco, exclusivos, apenas do LSW (Light Support Weapon - capaz de fogo totalmente automático, a partir de bipé, e dotado para cada seção de fuzileiros, como fuzil-metralhadora). O restante eram, firmemente, do SA80. Defeitos sérios (quebra do pino de disparo, falha da trava do carregador, guias de ferrolho com o tamanho errado) e irritações menores (coices de coronha ásperos) são todos descritos no relatório, e é interessante observar que levou, nada menos, do que oito anos, para começar a resolver o problema da retenção do gatilho, e oito anos para substituir o conjunto deficiente de limpeza. A história dos defeitos e seu conserto é lamentável e um sério fracasso do Governo e dos militares: soldados foram enviados para a guerra com armas que eram inseguras e que os soldados sabiam que não mereciam confiança.
Em comum com o M16 e sua variantes, o SA80, também tinha uma intolerância para com poeira e areia. O SA80 é descrito como uma "arma de precisão". O SLR, dizia o relatório, "em ambiente arenoso não requeria uma grande quantidade de óleo e a razão para isto, era, muito simplesmente, de que ele era uma arma de muito maior tolerância". Há poucas dúvidas de que se os soldados pudessem escolher entre um fuzil com maior tolerância e menor tecnologia ou o SA80, a escolha teria sido simples. Na verdade, o problema com areia e poeira continuou a atormentar o SA80, e nas recentes operações no Golfo Pérsico (Operação TELIC) muitas unidades britânicas ainda sofriam com o problema.
Um recente artigo proclama que os defeitos são coisa do passado, mas é de se admirar por quê o fuzil precisa de tanto apoio se ele é tão confiável quanto se afirma ser. Certamente, alguns soldados, voltando da Guerra do Iraque, tem dito que arma disparava o primeiro tiro e, então, enjambrava. Outros, entretanto, relatam que se o SA80 for mantido, absolutamente limpo, até, realmente, entrar em ação, e então, for oleado, liberalmente, funciona bem. As dúvidas permanecem, no entanto, e rumores são ouvidos sobre uma mudança de calibre para o .276 pol (7 mm) do Pedersen e do EM2.
Parece que a maior crítica ao cartucho de pequeno calibre é de que não desfecha sua energia, especialmente, em alcances curtos, onde ele tende a atravessar o alvo, sem liberar a energia necessária para ferir ou matar. Reclamações tem sido feitas de que, até mesmo três tiros, a 9 ou 15 metros, são insuficientes para nocautear o alvo, o que é, afinal de contas, o objetivo primordial de qualquer cartucho de infantaria. Certamente, a volta a uma bala, ligeiramente maior, satisfaria os aficcionados pelo longo alcance (embora o argumento deles seja tênue, já que a maior parte dos infantes é incapaz de atingir alvos além dos 250 metros, e tais alcances, provavelmente, pertencem às metralhadoras médias); mais importnte, mesmo com inferior capacidade de penetração, a bala pode provocar ferimentos nos alcances curtso, agora, utilizados no combate. Operações de limpeza de trincheiras e de casas, certamente, se beneficiariam, especialmente, já que os soldados envolvidos teriam mais confiança em sei fuzil está desfechando uma substancial quantidade e energia, quando for necessário.
CONCLUSÃO.
O fuzil, como arma de infantaria, tem mais de duzentos anos de idade. Ele atravessou vários estágios importantes de desenvolvimento, atingindo a maturidade no final do século XIX, como uma arma de carregador integral e ação de ferrolho, de alta precisão, razoável cadência de fogo, e adequado poder de abate. Ele alcançou seu apogeu na forma do Mauser Gew 98, o Lee-Enfield Nº 1 e o Springfield M1903 (embora este último fosse, realmente, uma cópia do primeiro). Os soldados, para os quais confiabilidade e desempenho eram fundamentais, gostavam destes fuzis e achavam pouca coisa para reclamar deles. Os fuzis semi-automáticos (ou de auto-carregamento) do século XX não são mais do que desenvolvimentos tecnológicos, freqüentemente, com tendência a enguiços que nunca afetaram as mais simples armas de ação de ferrolho.
Antes que esses tipos aparecessem, muitos esforços tinham sido feitos para colocar o fuzil no páreo com seu antecessor, o arco longo. Este tinha ficado famoso por seu alcance, poder de tiro e efeito; estes fatores não foram ultrapassados pelos fuzis até os últimos anos do século XIX, e é razoável supor que, se um dos exércitos em Waterloo, ou até mesmo, Sebastopol, lutasse com o arco longo, o efeito sobre o inimigo teria sido igual, se não fosse maior. O arco longo, nas mãos de arqueiros treinados emassados, podia produzir um poder de tiro devastador, até 250 metros, suficiente para lidar com infantaria ou cavalaria emassadas. Talvez, o efeito equivalente tenha sido visto na Retirada de Mons, em 1914, quando a treinada infantaria britânica, rapidamente, convenceu os alemães de que estavam sendo alvejados por montes de metralhadoras.
A metralhadora obscureceu os fuzis, com efeito. Do momento em que Hiram Maxim e seus co-inventores mostraram que o cartuco metálico composto podia ser alimentado, continuamente, numa arma de repetição, foi esta arma que provocou, de longe, mais mortes do que o fuzil jamais teria podido. Da Grande Guerra, há estatísticas que demonstram que a metralhadora foi muito mais uma máquina de matança do que o fuzil, e que a artilharia, de longe, superou a metralhadora em semear a morte no campo de batalha.
No entanto, não se pode esperar que o infante individual entre na batalha sem uma arma pessoal, portanto, o fuzil sobreviveu como uma arma local de guerra, mesmo embora não seja, particularmente eficaz, comparado com a metralhadora e a peça de artilharia. Mas, os infantes tem, de tempos em tempos, sido dotados com armas que eram suspeitas em sua confiabilidade e/ou desempenho, mesmo antes de pararem em suas mãos. Os fuzis M14, M16 e o SA80 são, talvez, as mais bem conhecidas destas armas, devido a velocidade com que as notícias viajam pelo mundo, nestes dias. Mas, o Martini-Henry tinha tendência a enjambrar, e o fuzil de agulha prussiano, como o fuzil Chassepôt francês, tinham seus defeitos, também; a história é sempre a mesma.
É de fundamental importância para todas as nações que enviarão seus homens para o combate, enviá-los com uma arma que funcionará em todas as condições, não requeira manutenção excessiva em campanha, e que detenha o inimigo quando o usuário precisar disto. E mais, ela precisa ser capaz de desfechar fogo preciso, e o usuário necessita ser treinado para mirar sua arma, nos alcances que ele deseja atingir. Com freqüência demais, a televisão mostra a infantaria disparando suas armas, cegamente, sobre ou em volta de cobertura, na crença de que o barulho, apenas, deterá a aproximação do inimigo. Esta falácia não é restrita às milícias e insurgentes armados de países de Terceiro Mundo.
Entretanto, a ênfase precisa repousar no fornecimento de fuzis de campo de batalha confiáveis, que infligirão danos o suficiente sobre o alvo, para que este seja impedido de causar danos ao usuário da arma. Ter o "mais novo" em tecnologia não assegura que o indivíduo será capaz de usar isto, ou que isto vá sempre funcionar; de longe, é melhor usar fuzis (e outras armas) que tenham tido algum teste para provarem que são confiáveis, e que tais testes tenham sido pelas mãos destes que vão confiar suas vidas a esses fuzis. As tecnologias podem ser substituídas, mas não há substituição para colocar as armas nas mãos de soldados, inicialmente, longe do campo de batalha, e deixar que eles tentem acabar com elas. Os examinadores precisam pensar pela cabeça destes que utilizarão a arma para valer: ela vai continuar disparando? Ela pode ser disparada sem muita tensão? Ela pode derrubar o alvo e, se derrubar, este vai ficar derrubado, ou vai se levantar pedindo mais?
_________________________________________________________
Extraído de WESTWOOD, David - Rifles - An Illustrated History of Their Impact - ABC-CLIO, 2005, Santa Barbara, Califórnia.
Vocês podem ter bombas atômicas, tanques e aviões, mas, apesar disso, vocês ainda precisam de um sujeito com um fuzil e uma baioneta, que é quem arranca o inimigo da toca e o obriga a assinar o Tratado de Paz!"
Palavras de um oficial americano.
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 62662
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6702 vezes
- Agradeceram: 7015 vezes
- Contato:
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Clermont escreveu:NOVO FUZIL, NOVO CALIBRE. (Parte Final.)
A produção do M14 continuou por apenas cinco anos, desde sua concepção, pela simples razão de que ele era um tapa-buraco, no melhor dos casos e um dispendioso fracasso, no pior. A ênfase sobre os valores do calibre .30 tinha embaralhado tudo, e a velha guarda que aderia ao calibre estava grasnando a volta de uma era quando "homens eram homens... e podiam agüentar um grande cartucho sem piscar o olho".
Isso me lembrou algo que a Imbel e mais recentemente o CTEx andam fazendo...
![Cool 8-]](./images/smilies/icon_cool.gif)
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Moccelin
- Sênior
- Mensagens: 4848
- Registrado em: Qua Abr 11, 2007 11:53 am
- Localização: Três Corações - MG
- Agradeceram: 2 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
O texto mostrar que os erros da Imbel não são uma exclusividade nacional, afinal parece que o MD-97 e um SA-80 1.0 sem o pulo de geração do Bullpup, até os defeitos são parecidos! Mas o que espanta é que nós já vimos isso acontecer inúmeras vezes: quando existe alguma força tentando impedir o desenvolvimento livre a coisa SEMPRE evolui menos do que poderia.
The cake is a lie...
- Bolovo
- Sênior
- Mensagens: 28558
- Registrado em: Ter Jul 12, 2005 11:31 pm
- Agradeceu: 547 vezes
- Agradeceram: 442 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Muito bom o tópico, Clermont.
"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
- Francoorp
- Sênior
- Mensagens: 3429
- Registrado em: Seg Ago 24, 2009 9:06 am
- Localização: Goiania-GO-Brasil, Voltei!!
- Contato:
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Gostei... depois dizem que somente nós é que erramos... e vendo que fizemos um FAL novamente, creio que somente copiamos...
Legal esta parte do Sturmgewerhn 44, sempre gostei deste fuzil, a base de tudo.... e o Hitler nem queria ele, e depois acabou dando até o nome segundo a lenda. o Mundo gira mesmo....
Legal esta parte do Sturmgewerhn 44, sempre gostei deste fuzil, a base de tudo.... e o Hitler nem queria ele, e depois acabou dando até o nome segundo a lenda. o Mundo gira mesmo....

- Bolovo
- Sênior
- Mensagens: 28558
- Registrado em: Ter Jul 12, 2005 11:31 pm
- Agradeceu: 547 vezes
- Agradeceram: 442 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
O Stg44 lançou os fz de assalto. Foi quem deu o nome ao conceito. E até hoje o Brasil não tem um.
"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Já que, nos últimos dias, ocorreram algumas discussões interessantes sobre munições e sobre comparações entre fuzis M-14 e FAL-FN, talvez esse tópico mereça sofrer um ligeiro "up".
-
- Sênior
- Mensagens: 8789
- Registrado em: Qua Set 10, 2003 8:28 pm
- Agradeceu: 1 vez
- Agradeceram: 419 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Só para acrescentar, a M16 na sua primeiro versão surgiu depois da Colt comrpar o projeto da AR-15 da Armalite e fazer suas próprias modificações nele, na forma como havia sido patenteado os gases não entrariam na camara e não haveria problemas com os gases, além disso haveria um revestimento para proteger as partes metálicas da sujeira, a Colt eliminou esses dios itens em nome da redução de custos e de peso.Clermont escreveu:O cartucho menor podia ser obtido, mas até meados dos anos 1950 parecia não haver nenhum tal cartucho em existência. Entretanto, Eugene Stoner (que foi responsável por muitos desenhos de armas leves, as mais famosas sendo a família de armas AR) vinha experimentando com um calibre, extremamente pequeno - o .223. O resultado eventual foi o M16.
O que é mais interessante sobre o desenvolvimento do M16 a partir da família Armalite de armas foi a meia-volta total dos militares americanos: anteriormente, eles tinham sido obstinados defensores do cartucho .30-06, apoiados pela constantemente repetida máxima de que o fuzileiro precisava ser capaz de disparar até 550 metros, apesar de os relatórios de batalha confirmarem que 250 metros era o alcance máximo de engajamento para o GC mediano e que 90-150 metros era a real zona de fogo para os fuzis padrão de infantaria. Este dogma tinha resistido firmemente contra o calibre do fuzil EM2 britânico e o resultado tinha sido o M14, um fuzil que fracassou em fazer o desenho de fuzis avançar um centímetro que fosse.
Muito tem sido escrito sobre o desenho e desenvolvimento do M16 e o fracasso de produzir uma ferramenta confiável para a infantaria. Há pouca dúvida de que a dotação dos primeiros fuzis provocou grandes problemas devido a negligência com a limpeza. Isso se deveu, surpreendemente, não à preguiça dos soldados, mas a confusão das instruções - manuais confirmavam que a limpeza era necessária, apenas depois de disparar 1 mil cartuchos, mas o propelente padrão do fuzil provocava tal acúmulo de carbono que este não era o caso. E mais, o cano era impossível de ser limpo, a menos que uma vareta de limpeza fosse atribuída, o que não aconteceu. Isto foi similar ao fiasco da vareta de limpeza britânica, quando a vareta para o SA80 não era comprida o bastante para o cano que, supostamente, devia limpar.
Cada arma tem sua função no campo de batalha, alguém realmente acha que a artilharia seria tão letal se não houvessem infantes com fuzis para bloquear a movimentação do inimigo? Ou que metralhadoras conseguiriam avançar 1 mm sem o suporte de soldados com fuzis?Clermont escreveu:A metralhadora obscureceu os fuzis, com efeito. Do momento em que Hiram Maxim e seus co-inventores mostraram que o cartuco metálico composto podia ser alimentado, continuamente, numa arma de repetição, foi esta arma que provocou, de longe, mais mortes do que o fuzil jamais teria podido. Da Grande Guerra, há estatísticas que demonstram que a metralhadora foi muito mais uma máquina de matança do que o fuzil, e que a artilharia, de longe, superou a metralhadora em semear a morte no campo de batalha.
"Quando um rico rouba, vira ministro" (Lula, 1988)
- dalton romao
- Sênior
- Mensagens: 1022
- Registrado em: Qua Jun 03, 2009 10:51 pm
- Agradeceu: 2 vezes
- Agradeceram: 53 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
muito bom, clermont. e lendo fica bem claro o que eu já tinha dito antes sobre a disputa M-14 x FAL.
Mostra também a simplicidade de desmontagem e a robustez do projeto da FN em detrimento de outros na época. o que o túlio tanto fala de fragilidade do mecanismo em contato com areia do deserto parece que isso não se verificou na versão inglesa. aqui já sabemos que o IA2 5.56 vai ser o mais usado e aí é outra mecânica mas o IA2 7.62 vai ser usado em determinadas circunstâncias também. ainda não sabemos é como será esse mix, se alguns batalhões usarão simplesmente ele ou vão ser usados misturados.
Mostra também a simplicidade de desmontagem e a robustez do projeto da FN em detrimento de outros na época. o que o túlio tanto fala de fragilidade do mecanismo em contato com areia do deserto parece que isso não se verificou na versão inglesa. aqui já sabemos que o IA2 5.56 vai ser o mais usado e aí é outra mecânica mas o IA2 7.62 vai ser usado em determinadas circunstâncias também. ainda não sabemos é como será esse mix, se alguns batalhões usarão simplesmente ele ou vão ser usados misturados.
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
QUALIDADES E DEFEITOS DO FAL-FN na versão SAW.
Bob Cashner - 2013


SAW significa Squad Automatic Weapon, ou "Arma Automática de Grupo de Combate", essencialmente, uma metralhadora leve utilizada para fornecer uma base de fogo para suprimir o inimigo enquanto os volteadores no GC manobram sobre este inimigo. Exemplo anteriores de armas cumprindo este papel podem incluir o Fuzil Automático Browning (BAR) e a metralhadora leve Bren da Comunidade Britânica. A versão 50.41 de cano pesado do fuzil FAL, originalmente conhecida por FALO (Fusil Automatique Lourde ou "fuzil automático pesado) foi utilizada como SAW e suas variantes fabricadas na Argentina e Brasil são conhecidas como FAP.
Os exércitos canadense e australiano trabalharam juntos em sua versão do FAL SAW, conhecida como C2A1 pelo primeiro e L2A1 pelo último. Como medida de economia de peso, o C2A1/L2A1 possuía um guarda-mão exclusivo que dobrava para baixo, servindo como bipé. Duas pernas de aço com sapatas metálicas eram cobertas de três lados com proteção contra o calor; quando dobradas para cima, para o cano, estas formavam uma braçadeira. Um problema imediato vem à mente, entretanto; o atirador, depois de fornecer apoio de fogo na posição deitado, pode correr para o avanço sem, antes, suspender o guarda-mão/bipé, recebendo severas queimaduras na mão.
Embora um peso de 6,8 Kg não seja leve para um infante carregar, subindo e descendo morros, o peso do FAP não é tão mau quando comparado com outros tipos de SAW. Ele pesa 2 Kg menos que o BAR; 3,4 Kg menos que o Bren e 3,18 Kg menos que a mais recente FN Minimi, cuja munição 5,56 x 45 mm carece do alcance e do impacto do cartucho 7,62 x 51 mm do FAP.
Mesmo assim, análises do FAP são mistas. Uma reclamação universal era que o carregador mais comprido de 30 cartuchos interferia com o uso da arma, quando disparada na posição deitado. Nem Argentina, nem Israel sequer se incomodaram com os carregadores maiores para 30 cartuchos e, universalmente, dotaram seus FAPs com os carregadores padrão de 20 cartuchos. A Austrália, posteriormente faria o mesmo. De acordo com o manual do Exército australiano, o L2A1 é capaz de:
E aqui está a fórmula. As versões SAW do FAL-FN exigem um soldado de infantaria bem-treinado que dispare rajadas curtas e visadas. Soldados do Serviço Militar Obrigatório, treinados, superficialmente, de modo padronizado, quase universalmente, apontam a boca do cano na direção geral do inimigo e esvaziam o carregdor em fogo automático pleno.
As versões do padrão-métrico do FAP mostraram ser mais amigas do usuário do que as versões canadense-australiana. O Makleon, a versão do FAP israelense tinha um guarda-mão aperfeiçoado com uma manga perfurada de metal ao redor do cano pesado, e um protetor de calor. O bipé dobrável era preso diretamente ao cano, semelhante à versão austríaca do fuzil FAL, o StG 58.
Apesar do cano reforçado, o FAP, na verdade, fica muito quente com qualquer período extenso de tiro. A maioria das metralhadoras dispara de um ferrolho aberto; isto é, quando não está, realmente atirando, o ferrolho trava à retaguarda, permitindo a circulação do ar através do cano. Disparando de um ferrolho fechado, o FAP não chega de modo algum próximo ao efeito resfriador de uma arma de ferrolho aberto. Após fogo sustentado e aquecimento do cano, "cook-offs" (detonação expontânea por calor induzido) são possíveis, o cartucho dispara, imediatamente quando é introduzido num cano incandescente.
O X2F2A2.
Os australianos experimentaram numerosos problemas com o L2A1 SAW como ele era fabricado originalmente no padrão FAP. Estes eram endêmicos ao modelo e incluíam: incontrolabilidade no fogo automático pleno; prolongamento do fogo levando ao superaquecimento e a cook-offs; o bipé saindo de posição debaixo do eixo do cano devido a vibração dos tiros; uma desajeitada posição de disparo na posição deitado com carregadores de 30 cartuchos; e problemas no disparo em posição de assalto. Durante o combate, mais de um soldado esqueceu de dobrar para cima o bipé para usá-lo como guarda-mão e, ao invés, pegou com a mão nua o cano incandescente.
Uma nova e aperfeiçoada arma, conhecida como Fuzil Automático X2F2A2 foi desenvolvida a partir dos L2A1s existentes. Melhorias incluiam uma coronha em linha, tipo SAW com uma empunhadura para a mão de apoio e uma soleira de borracha. A combinação bipé/guarda-mão de madeira foi substituída com um, mais convencional, bipé ajustável e giratório montado no cano, que trazia o benefício adicional de rebaixar o perfil do atirador em cerca de 7,6 cm. O carregador de 30 cartuchos foi descartado em favor do carregador padrão de 20 cartuchos. O novo guarda-mão tinha bandas de metal perfuradas, internas e externas, ao redor do cano para auxiliar o resfriamento, tanto por condução como por convexão, com a manga externa protegida por uma empunhadura de borracha. Um dispositivo de trava do ferrolho foi acrescentado para manter o ferrolho aberto após o último cartucho ter sido disparado; uma característica comum aos fuzis FAL do padrão-métrico.
Estas e outras modificações, grandemente aperfeiçoaram o manejo e precisão do FAP. Rajadas curtas de dois ou três tiros eram bem-centralizadas e a dispersão era 300 porcento melhor agrupada do que dos FAPs L2A1, que também, inevitavelmente, desviavam o tiro para baixo e para a esquerda devido à vibração do fogo automático. O X2F2A2, em modo semi-automático e com a utilização do bipé, era considerado preciso o bastante para ser utilizado numa função de tiro de tocaia, montado com a mira telescópica canadense C1 Leitz. Posteriores melhorias levaram ao culminar do projeto na versão X3F2A2.
Qual o potencial a arma poderia ter tido em combate, entretanto, permanece desconhecido. O desenvolvimento foi suspenso e o projeto, relutantemente, descartado, quando as forças australianas entraram na Guerra do Vietnam e foram equipadas com a metralhadora americana M60 de 7,62 x 51 mm - uma decisão duvidosa, levando-se em conta os problemas que a M60 mostrou durante todo o seu período de utilização.
Avaliando o FAP como SAW.
Os soldados da Comunidade Britânica que utilizaram tanto o FAP quanto a Bren, quase universalmente, preferiam a última. O FAP, entretanto, obteve índices melhores do que a metralhadora M60 daqueles que dispararam ambas. Tem sido observado que o FAP tende a experimentar uma falha de alimentação com o terceiro cartucho do carregador. A maioria dos atiradores experimentados com a utilização do FAP afirmam que estes engasgos sempre ocorrem com os carregadores de 30 cartuchos, especialmente se estiverem sujos. Um escritor de armas americano testou o FAP contra o M14A1 americano nos anos 1980. (O M14A1 deveria ter sido a versão FAP do M14, e tinha como característica um bipé dobrável e uma empunhadura dianteira para permitir ao atirador melhor controlde do recuo.) Utilizando carregadores de 20 cartuchos, ele experimentou apenas dois malfuncionamentos (um relacionado com a munição) enquanto disparava 2.500 cartuchos com o FAP FAL-FN.
_________________________________________________
Extraído de Osprey - Weapons 027 - The FN FAL Battle Rifle.
Bob Cashner - 2013


SAW significa Squad Automatic Weapon, ou "Arma Automática de Grupo de Combate", essencialmente, uma metralhadora leve utilizada para fornecer uma base de fogo para suprimir o inimigo enquanto os volteadores no GC manobram sobre este inimigo. Exemplo anteriores de armas cumprindo este papel podem incluir o Fuzil Automático Browning (BAR) e a metralhadora leve Bren da Comunidade Britânica. A versão 50.41 de cano pesado do fuzil FAL, originalmente conhecida por FALO (Fusil Automatique Lourde ou "fuzil automático pesado) foi utilizada como SAW e suas variantes fabricadas na Argentina e Brasil são conhecidas como FAP.
Os exércitos canadense e australiano trabalharam juntos em sua versão do FAL SAW, conhecida como C2A1 pelo primeiro e L2A1 pelo último. Como medida de economia de peso, o C2A1/L2A1 possuía um guarda-mão exclusivo que dobrava para baixo, servindo como bipé. Duas pernas de aço com sapatas metálicas eram cobertas de três lados com proteção contra o calor; quando dobradas para cima, para o cano, estas formavam uma braçadeira. Um problema imediato vem à mente, entretanto; o atirador, depois de fornecer apoio de fogo na posição deitado, pode correr para o avanço sem, antes, suspender o guarda-mão/bipé, recebendo severas queimaduras na mão.
Embora um peso de 6,8 Kg não seja leve para um infante carregar, subindo e descendo morros, o peso do FAP não é tão mau quando comparado com outros tipos de SAW. Ele pesa 2 Kg menos que o BAR; 3,4 Kg menos que o Bren e 3,18 Kg menos que a mais recente FN Minimi, cuja munição 5,56 x 45 mm carece do alcance e do impacto do cartucho 7,62 x 51 mm do FAP.
Mesmo assim, análises do FAP são mistas. Uma reclamação universal era que o carregador mais comprido de 30 cartuchos interferia com o uso da arma, quando disparada na posição deitado. Nem Argentina, nem Israel sequer se incomodaram com os carregadores maiores para 30 cartuchos e, universalmente, dotaram seus FAPs com os carregadores padrão de 20 cartuchos. A Austrália, posteriormente faria o mesmo. De acordo com o manual do Exército australiano, o L2A1 é capaz de:
A) desfechar uma elevada cadência de fogo visado em tiros isolados, ou rajadas de fogo automático, em alcances até 600 m;
B) fogo contínuo, utilizando, na maior parte, tiros isolados e algumas rajadas curtas de dois ou três cartuchos em fogo automático; e
C) rajadas longas até dez cartuchos por curtos períodos.
(Exército australiano, 1983.)
E aqui está a fórmula. As versões SAW do FAL-FN exigem um soldado de infantaria bem-treinado que dispare rajadas curtas e visadas. Soldados do Serviço Militar Obrigatório, treinados, superficialmente, de modo padronizado, quase universalmente, apontam a boca do cano na direção geral do inimigo e esvaziam o carregdor em fogo automático pleno.
As versões do padrão-métrico do FAP mostraram ser mais amigas do usuário do que as versões canadense-australiana. O Makleon, a versão do FAP israelense tinha um guarda-mão aperfeiçoado com uma manga perfurada de metal ao redor do cano pesado, e um protetor de calor. O bipé dobrável era preso diretamente ao cano, semelhante à versão austríaca do fuzil FAL, o StG 58.
Apesar do cano reforçado, o FAP, na verdade, fica muito quente com qualquer período extenso de tiro. A maioria das metralhadoras dispara de um ferrolho aberto; isto é, quando não está, realmente atirando, o ferrolho trava à retaguarda, permitindo a circulação do ar através do cano. Disparando de um ferrolho fechado, o FAP não chega de modo algum próximo ao efeito resfriador de uma arma de ferrolho aberto. Após fogo sustentado e aquecimento do cano, "cook-offs" (detonação expontânea por calor induzido) são possíveis, o cartucho dispara, imediatamente quando é introduzido num cano incandescente.
O X2F2A2.
Os australianos experimentaram numerosos problemas com o L2A1 SAW como ele era fabricado originalmente no padrão FAP. Estes eram endêmicos ao modelo e incluíam: incontrolabilidade no fogo automático pleno; prolongamento do fogo levando ao superaquecimento e a cook-offs; o bipé saindo de posição debaixo do eixo do cano devido a vibração dos tiros; uma desajeitada posição de disparo na posição deitado com carregadores de 30 cartuchos; e problemas no disparo em posição de assalto. Durante o combate, mais de um soldado esqueceu de dobrar para cima o bipé para usá-lo como guarda-mão e, ao invés, pegou com a mão nua o cano incandescente.
Uma nova e aperfeiçoada arma, conhecida como Fuzil Automático X2F2A2 foi desenvolvida a partir dos L2A1s existentes. Melhorias incluiam uma coronha em linha, tipo SAW com uma empunhadura para a mão de apoio e uma soleira de borracha. A combinação bipé/guarda-mão de madeira foi substituída com um, mais convencional, bipé ajustável e giratório montado no cano, que trazia o benefício adicional de rebaixar o perfil do atirador em cerca de 7,6 cm. O carregador de 30 cartuchos foi descartado em favor do carregador padrão de 20 cartuchos. O novo guarda-mão tinha bandas de metal perfuradas, internas e externas, ao redor do cano para auxiliar o resfriamento, tanto por condução como por convexão, com a manga externa protegida por uma empunhadura de borracha. Um dispositivo de trava do ferrolho foi acrescentado para manter o ferrolho aberto após o último cartucho ter sido disparado; uma característica comum aos fuzis FAL do padrão-métrico.
Estas e outras modificações, grandemente aperfeiçoaram o manejo e precisão do FAP. Rajadas curtas de dois ou três tiros eram bem-centralizadas e a dispersão era 300 porcento melhor agrupada do que dos FAPs L2A1, que também, inevitavelmente, desviavam o tiro para baixo e para a esquerda devido à vibração do fogo automático. O X2F2A2, em modo semi-automático e com a utilização do bipé, era considerado preciso o bastante para ser utilizado numa função de tiro de tocaia, montado com a mira telescópica canadense C1 Leitz. Posteriores melhorias levaram ao culminar do projeto na versão X3F2A2.
Qual o potencial a arma poderia ter tido em combate, entretanto, permanece desconhecido. O desenvolvimento foi suspenso e o projeto, relutantemente, descartado, quando as forças australianas entraram na Guerra do Vietnam e foram equipadas com a metralhadora americana M60 de 7,62 x 51 mm - uma decisão duvidosa, levando-se em conta os problemas que a M60 mostrou durante todo o seu período de utilização.
Avaliando o FAP como SAW.
Os soldados da Comunidade Britânica que utilizaram tanto o FAP quanto a Bren, quase universalmente, preferiam a última. O FAP, entretanto, obteve índices melhores do que a metralhadora M60 daqueles que dispararam ambas. Tem sido observado que o FAP tende a experimentar uma falha de alimentação com o terceiro cartucho do carregador. A maioria dos atiradores experimentados com a utilização do FAP afirmam que estes engasgos sempre ocorrem com os carregadores de 30 cartuchos, especialmente se estiverem sujos. Um escritor de armas americano testou o FAP contra o M14A1 americano nos anos 1980. (O M14A1 deveria ter sido a versão FAP do M14, e tinha como característica um bipé dobrável e uma empunhadura dianteira para permitir ao atirador melhor controlde do recuo.) Utilizando carregadores de 20 cartuchos, ele experimentou apenas dois malfuncionamentos (um relacionado com a munição) enquanto disparava 2.500 cartuchos com o FAP FAL-FN.
_________________________________________________
Extraído de Osprey - Weapons 027 - The FN FAL Battle Rifle.
- Wingate
- Sênior
- Mensagens: 5128
- Registrado em: Sex Mai 05, 2006 10:16 am
- Localização: Crato/CE
- Agradeceu: 819 vezes
- Agradeceram: 239 vezes
Re: Fuzis e cartuchos - Um resumo
Clermont escreveu:QUALIDADES E DEFEITOS DO FAL-FN na versão SAW.
Bob Cashner - 2013
SAW significa Squad Automatic Weapon, ou "Arma Automática de Grupo de Combate", essencialmente, uma metralhadora leve utilizada para fornecer uma base de fogo para suprimir o inimigo enquanto os volteadores no GC manobram sobre este inimigo. Exemplo anteriores de armas cumprindo este papel podem incluir o Fuzil Automático Browning (BAR) e a metralhadora leve Bren da Comunidade Britânica. A versão 50.41 de cano pesado do fuzil FAL, originalmente conhecida por FALO (Fusil Automatique Lourde ou "fuzil automático pesado) foi utilizada como SAW e suas variantes fabricadas na Argentina e Brasil são conhecidas como FAP.
Os exércitos canadense e australiano trabalharam juntos em sua versão do FAL SAW, conhecida como C2A1 pelo primeiro e L2A1 pelo último. Como medida de economia de peso, o C2A1/L2A1 possuía um guarda-mão exclusivo que dobrava para baixo, servindo como bipé. Duas pernas de aço com sapatas metálicas eram cobertas de três lados com proteção contra o calor; quando dobradas para cima, para o cano, estas formavam uma braçadeira. Um problema imediato vem à mente, entretanto; o atirador, depois de fornecer apoio de fogo na posição deitado, pode correr para o avanço sem, antes, suspender o guarda-mão/bipé, recebendo severas queimaduras na mão.
Embora um peso de 6,8 Kg não seja leve para um infante carregar, subindo e descendo morros, o peso do FAP não é tão mau quando comparado com outros tipos de SAW. Ele pesa 2 Kg menos que o BAR; 3,4 Kg menos que o Bren e 3,18 Kg menos que a mais recente FN Minimi, cuja munição 5,56 x 45 mm carece do alcance e do impacto do cartucho 7,62 x 51 mm do FAP.
Mesmo assim, análises do FAP são mistas. Uma reclamação universal era que o carregador mais comprido de 30 cartuchos interferia com o uso da arma, quando disparada na posição deitado. Nem Argentina, nem Israel sequer se incomodaram com os carregadores maiores para 30 cartuchos e, universalmente, dotaram seus FAPs com os carregadores padrão de 20 cartuchos. A Austrália, posteriormente faria o mesmo. De acordo com o manual do Exército australiano, o L2A1 é capaz de:
A) desfechar uma elevada cadência de fogo visado em tiros isolados, ou rajadas de fogo automático, em alcances até 600 m;
B) fogo contínuo, utilizando, na maior parte, tiros isolados e algumas rajadas curtas de dois ou três cartuchos em fogo automático; e
C) rajadas longas até dez cartuchos por curtos períodos.
(Exército australiano, 1983.)
E aqui está a fórmula. As versões SAW do FAL-FN exigem um soldado de infantaria bem-treinado que dispare rajadas curtas e visadas. Soldados do Serviço Militar Obrigatório, treinados, superficialmente, de modo padronizado, quase universalmente, apontam a boca do cano na direção geral do inimigo e esvaziam o carregdor em fogo automático pleno.
As versões do padrão-métrico do FAP mostraram ser mais amigas do usuário do que as versões canadense-australiana. O Makleon, a versão do FAP israelense tinha um guarda-mão aperfeiçoado com uma manga perfurada de metal ao redor do cano pesado, e um protetor de calor. O bipé dobrável era preso diretamente ao cano, semelhante à versão austríaca do fuzil FAL, o StG 58.
Apesar do cano reforçado, o FAP, na verdade, fica muito quente com qualquer período extenso de tiro. A maioria das metralhadoras dispara de um ferrolho aberto; isto é, quando não está, realmente atirando, o ferrolho trava à retaguarda, permitindo a circulação do ar através do cano. Disparando de um ferrolho fechado, o FAP não chega de modo algum próximo ao efeito resfriador de uma arma de ferrolho aberto. Após fogo sustentado e aquecimento do cano, "cook-offs" (detonação expontânea por calor induzido) são possíveis, o cartucho dispara, imediatamente quando é introduzido num cano incandescente.
O X2F2A2.
Os australianos experimentaram numerosos problemas com o L2A1 SAW como ele era fabricado originalmente no padrão FAP. Estes eram endêmicos ao modelo e incluíam: incontrolabilidade no fogo automático pleno; prolongamento do fogo levando ao superaquecimento e a cook-offs; o bipé saindo de posição debaixo do eixo do cano devido a vibração dos tiros; uma desajeitada posição de disparo na posição deitado com carregadores de 30 cartuchos; e problemas no disparo em posição de assalto. Durante o combate, mais de um soldado esqueceu de dobrar para cima o bipé para usá-lo como guarda-mão e, ao invés, pegou com a mão nua o cano incandescente.
Uma nova e aperfeiçoada arma, conhecida como Fuzil Automático X2F2A2 foi desenvolvida a partir dos L2A1s existentes. Melhorias incluiam uma coronha em linha, tipo SAW com uma empunhadura para a mão de apoio e uma soleira de borracha. A combinação bipé/guarda-mão de madeira foi substituída com um, mais convencional, bipé ajustável e giratório montado no cano, que trazia o benefício adicional de rebaixar o perfil do atirador em cerca de 7,6 cm. O carregador de 30 cartuchos foi descartado em favor do carregador padrão de 20 cartuchos. O novo guarda-mão tinha bandas de metal perfuradas, internas e externas, ao redor do cano para auxiliar o resfriamento, tanto por condução como por convexão, com a manga externa protegida por uma empunhadura de borracha. Um dispositivo de trava do ferrolho foi acrescentado para manter o ferrolho aberto após o último cartucho ter sido disparado; uma característica comum aos fuzis FAL do padrão-métrico.
Estas e outras modificações, grandemente aperfeiçoaram o manejo e precisão do FAP. Rajadas curtas de dois ou três tiros eram bem-centralizadas e a dispersão era 300 porcento melhor agrupada do que dos FAPs L2A1, que também, inevitavelmente, desviavam o tiro para baixo e para a esquerda devido à vibração do fogo automático. O X2F2A2, em modo semi-automático e com a utilização do bipé, era considerado preciso o bastante para ser utilizado numa função de tiro de tocaia, montado com a mira telescópica canadense C1 Leitz. Posteriores melhorias levaram ao culminar do projeto na versão X3F2A2.
Qual o potencial a arma poderia ter tido em combate, entretanto, permanece desconhecido. O desenvolvimento foi suspenso e o projeto, relutantemente, descartado, quando as forças australianas entraram na Guerra do Vietnam e foram equipadas com a metralhadora americana M60 de 7,62 x 51 mm - uma decisão duvidosa, levando-se em conta os problemas que a M60 mostrou durante todo o seu período de utilização.
Avaliando o FAP como SAW.
Os soldados da Comunidade Britânica que utilizaram tanto o FAP quanto a Bren, quase universalmente, preferiam a última. O FAP, entretanto, obteve índices melhores do que a metralhadora M60 daqueles que dispararam ambas. Tem sido observado que o FAP tende a experimentar uma falha de alimentação com o terceiro cartucho do carregador. A maioria dos atiradores experimentados com a utilização do FAP afirmam que estes engasgos sempre ocorrem com os carregadores de 30 cartuchos, especialmente se estiverem sujos. Um escritor de armas americano testou o FAP contra o M14A1 americano nos anos 1980. (O M14A1 deveria ter sido a versão FAP do M14, e tinha como característica um bipé dobrável e uma empunhadura dianteira para permitir ao atirador melhor controlde do recuo.) Utilizando carregadores de 20 cartuchos, ele experimentou apenas dois malfuncionamentos (um relacionado com a munição) enquanto disparava 2.500 cartuchos com o FAP FAL-FN.
_________________________________________________
Extraído de Osprey - Weapons 027 - The FN FAL Battle Rifle.
Não seria interessante desenvolver uma versão Tupiniquim para essa arma (com os devidos e possíveis aperfeiçoamentos e melhorias no projeto)?

Wingate