Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Enviado: Sex Abr 23, 2010 12:58 pm
Cel. Kasemodel do IAE Responde as Dúvidas do Blog BRAZILIAN SPACE
Olá amigos!
Como você que acompanha freqüentemente o blog “BRAZILIAN SPACE” e os amantes deste fascinaste tema devem saber, em 22/03 o portal E-Democracia ligado a Câmara Federal realizou um chat sobre a Política Espacial Brasileira.
O debate contou com a presença do deputado Rodrigo Rollemberg (relator do “Conselho de Altos Estudos da Câmara” para o Programa Espacial Brasileiro) e de diversos nomes importantes que integram o esforço em torno do PEB, jornalistas especializados, alem é claro de brasileiros interessados no assunto.
Infelizmente por um problema técnico com o nosso computador não podemos participar do debate em tempo, pois quando finalmente conseguimos a conexão e começamos tomar ciência da situação o mediador do debate encerrou a discussão.
Porém, após termos acesso ao que foi discutido no debate, uma informação divulgada pelo Cel. Carlos Antônio Kasemodel, representante do IAE no chat e Vice-Diretor de Espaço do IAE/DCTA, chamou a atenção do blog fazendo com que através do portal E-Democracia procurássemos contato com o coronel para podermos esclarecer melhor o que havia sido colocado por ele.
Aproveitando a oportunidade de contato com o coronel Kasemodel que nos foi dada pelo citado portal (ao qual gostaríamos de agradecer publicamente) procuramos esclarecer com o mesmo não só a informação que nos levou a entrar em contato, mas também esclarecer outras dúvidas que temos levantando no blog nos últimos meses.
Desde já, o blog BRAZILIAN SPACE gostaria de agradecer publicamente a atenção dispensada pelo Cel. Kasemodel e pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA).
Abaixo segue na íntegra o email enviado ao blog pelo Cel. Kasemodel com os devidos esclarecimentos aos questionamentos colocados.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Caro Eduardo Falcão
Em resposta ao seu questionamento, segue os esclarecimentos a seguir. Desde já, agradeço pelo interesse demonstrado nos projetos e atividades desenvolvidos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço.
Continuamos à disposição para futuros esclarecimentos.
Atenciosamente,
Cel Kasemodel
BLOG BRAZILIAN SPACE: Coronel Kasemodel, recentemente (04/03) foi publicado no jornal “VALOR ECONÔMICO” uma matéria que falava que o satélite universitário ITASAT seria lançado por um lançador nacional em 2012. Já em (25/03) foi publicado no jornal “CORREIO BRAZILIENSE” que o lançamento deste satélite será feito de carona por um lançador estrangeiro. Sabemos através do que foi divulgado coronel que em 2012 está programado o vôo tecnológico do VLS-1 XVT-02 e sendo assim tenho duas perguntas a fazer ao senhor sobre este assunto. Qual é a informação correta coronel, seria a do “VALOR ECONÔMICO” ou a do “CORREIO BRAZILIENSE”? No caso da informação correta for a do “VALOR ECONÔMICO”, o senhor não acha que seria uma temeridade arriscar o lançamento de tão importante satélite para o “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais” num vôo tecnológico?
CEL. KASEMODEL: Não existe nenhuma definição quanto ao lançamento do ITASAT pelo VLS-1. O atual plano de desenvolvimento do VLS-1 prevê o lançamento de dois vôos tecnológicos denominados XVT-01 e XVT-02. O XVT-01 decolará somente com o primeiro e segundo estágios ativos e portanto, não possui capacidade de satelitização. O XVT-02, com todos os estágios ativos, possuirá uma carga útil tecnológica para informar aos sistemas de solo se a satelitização foi alcançada. Somente o protótipo V04, que voará após os vôos tecnológicos, estará disponível para lançamento de satélites.
Quanto à sua questão de número 2, embora não seja esse o nosso caso, é muito comum que veículos lançadores em desenvolvimento já transportem algum tipo de satélite de baixo custo, mesmo correndo-se o risco da não satelitização, uma vez que os custos de desenvolvimento dos lançadores, em geral, é muito superior.
OBS: O blog concorda com o coronel que seja comum usar veículos em desenvolvimento para transportarem satélites de baixo custo como o caso do ITASAT em vôos tecnológicos, mais acontece que devido à importância estratégica adquirida por este satélite devido ao mesmo ser direcionado ao já surrado “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais - SBCDA” composto pelos velhos SCD-1 e 2 e o já em final de carreira CBERS-2B, achamos uma temeridade se fazer isto. O mais sensato seria desenvolver um outro SATEC (satélite Tecnológico), aproveitando a oportunidade para se testar novas tecnologias e ao mesmo tempo preservar este tão importante satélite para o SBCDA.
BRAZILIAN SPACE: Continuando coronel, o IAE tem um interessante acordo de cooperação com o alemães que tem rendido bastante frutos e não resta qualquer dúvida quanto a isto. No chat do dia 22/03 no site E-Democracia o senhor disse que o IAE está desenvolvendo um lançador menor que o VLS-1 com a DLR alemã.
CEL KASEMODEL: Temos realmente uma excelente cooperação com os alemães cujo fruto mais recente, o veículo sub-orbital VSB-30, é atualmente o principal vetor do Programa Europeu de Microgravidade e já realizou sete lançamentos da Base de Kiruna, todos com excelentes resultados.
O programa SHEFEX também utiliza propulsores nacionais. O SHEFEX 1 foi lançado por um veículo VS-30/Orion; O SHEFEX-2 será lançado por um veículo desenvolvido pelo DLR que utilizará os propulsores S-40 e S-44, tal como utilizado em nosso VS-40.
Recentemente, iniciamos os estudos de viabilidade para o desenvolvimento de um novo veículo, denominado VLM-1, que visa atender ao experimento SHEFEX -3 e também poderia vir a ser utilizado como lançador para o promissor mercado de microssatelites.
Considerando as informações acima, passo a responder mais diretamente aos seus questionamentos:
BRAZILIAN SPACE: Seria este lançador suborbital ou orbital?
CEL KASEMODEL: Será um lançador orbital, embora para o experimento SHEFEX 3 o mesmo deverá realizar um vôo suborbital.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, seria este lançador o VS-43?
CEL: KASEMODEL: Não. A concepção para o VS-43 seria de um lançador sub-orbital, com controle de atitude, que utilizaria um propulsor S43, o mesmo utilizado no primeiro e segundo estágios do VLS-1. Contudo, para o VS-43, só foram feitos estudos de concepção e o projeto ainda não saiu do papel.
OBS: Na realidade houve aqui um erro de digitação por parte do blog, já que a pergunta seria: Caso seja suborbital, seria este lançador o VS-43? No entanto, o coronel acaba esclarecendo o que o blog já desconfiava, ou seja, o projeto do VS-43 continua parado.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
BRAZILIAN SPACE: Como há o envolvimento da DLR, seria este projeto para atender inicialmente o “Programa SHEFEX (SHEFEX-3)” europeu?
CEL KASEMODEL: Sim, como já disse acima, a origem desse projeto partiu da necessidade de um veículo para o experimento SHEFEX-3.
BRAZILIAN SPACE: É pretensão do IAE certificar o VS-40 como foi feito com o VSB-30 visando a sua industrialização?
CEL KASEMODEL: Não é somente pretensão do IAE, mas uma orientação da AEB que todos os veículos desenvolvidos passem por um processo de certificação, a exemplo do que ocorreu com o VSB-30.
BRAZILIAN SPACE: E por fim coronel, qual será o destino da plataforma de integração do foguete SONDA IV que se encontra (se não me engano) no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)?
CEL KASEMODEL: No momento, não se tem uma aplicação para aquela plataforma de integração uma vez que o projeto Sonda IV foi encerrado após seu último vôo em 1989.
Por outro lado, atualmente o CLBI enfrenta restrições, quanto aos aspectos de segurança de vôo, para lançar veículos do porte de um Sonda IV, dado ao crescimento urbano em torno daquele Centro.
BRAZILIAN SPACE: Passando para outro projeto do IAE coronel que eu considero de suma importância para o PEB, ou seja, ao Projeto SARA. Recentemente durante a solenidade de mudança de direção do CLA, o coronel Ricardo Rangel divulgou que vários lançamentos serão realizados do CLA ainda este ano, citando outros vôos do foguete FTB, os primeiros vôos do foguete FTI e o vôo do VSB-30 do “Programa Microgravidade” da AEB que está previsto para ocorrer em setembro. Foi divulgado por diversas vezes pela imprensa que o vôo da SARA Suborbital estaria marcado para ocorrer no final de 2010. Sendo assim coronel pergunto-lhe: Este vôo da SARA Suborbital foi adiado e se foi para quando?
CEL KASEMODEL: O vôo do Sara Suborbital está previsto para 2011, a partir do CLA utilizando um veículo VS-40.
BRAZILIAN SPACE: Neste caso qual foi o motivo?
CEL KASEMODEL: O adiamento se deve à atrasos no desenvolvimento do projeto Sara.
BRAZILIAN SPACE: O senhor não acha um tempo extremamente excessivo testar em vôo de quatro em quatro anos as fases previstas do Projeto SARA como divulgado pela mídia pelo seu engenheiro responsável?
CEL KASEMODEL: Concordo com você e temos orientação superior para tentar reduzir esses prazos. No entanto, o atual quadro de recursos humanos do IAE não nos permite desenvolver projetos do porte do VLS-1 e Sara com a velocidade que desejamos.
BRAZILIAN SPACE: Pra finalizar coronel, gostaria de abordar agora o programa de motores-foguetes a propulsão líquida essencial se quisermos nos tornar um player importante no setor espacial internacional. Sendo assim tenho as seguintes dúvidas: Existe alguma aplicação prática prevista para o motor L5?
CEL KASEMODEL: O motor L5 (de 5 kN de empuxo) foi o nosso primeiro motor a propulsão líquida, desenvolvido com o objetivo de capacitação das equipes num cenário de baixo investimento e sem cooperação estrangeira. Entretanto, a principal justificativa para seu valor de empuxo seria o de substituir com vantagens o propulsor sólido do 4º estágio do VLS-1, o que, teoricamente, permitiria quase dobrar a carga-útil do nosso atual lançador.
BRAZILIAN SPACE: Sabemos que o motor L15 será usado pelo foguete de sondagem VS-15. Já existe alguma previsão de quando este foguete será lançado?
CEL KASEMODEL: Foguetes de sondagem, usualmente, são concebidos sobre motores que possuem desempenho bastante conhecido, o que não é o caso aqui. O motor L15, ainda em desenvolvimento, é parte crítica desse veículo. Assim, somente após os ensaios em solo do motor L15 para confirmação dos parâmetros propulsivos, bem como, das medidas de massa, conseguidas nos modelos de engenharia de seus componentes (tanques, válvulas e reguladores), será possível afirmar sobre a viabilidade de prosseguimento do VS-15 diante da comparação com os requisitos de projeto. No momento, existem alguns desafios que precisam ainda ser superados pela empresa contratada para execução da fabricação do motor e tanques. Espera-se que em breve sejam reiniciados os ensaios a quente do L15 e que os tanques passem pelos ensaios de qualificação.
BRAZILIAN SPACE: Qual a previsão otimista e pessimista para o motor L75 está com seu modelo de vôo pronto para ser usado?
CEL KASEMODEL: Historicamente, observando o desenvolvimento em outros países de motores similares, que empregam sistema de alimentação por turbobomba, o tempo entre a concepção até o lançamento em veículos lançadores é de 5 anos, obviamente, dependendo dos recursos (humanos e financeiros) investidos e a participação de colaboradores/parceiros estrangeiros que já detenham essa tecnologia. O motor L75 é um grande desafio tecnológico, ele serve para verificar a possibilidade de fabricação de componentes críticos no País, tal como a câmara de combustão com alta pressão e turbombomba de grandes vazões operando com oxigênio líquido.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a previsão para a instalação do banco de provas para o motores-foguetes de propulsão liquida de até 400 kN previsto no acordo com os russos?
CEL KASEMODEL: O acordo existente com os russos é somente para a especificação de um Banco de Provas de 400 kN de empuxo. Após a entrega do relatório final da empresa russa, a ocorrer em 2010, e de posse das definições gerais do Banco, é que será possível saber qual o montante envolvido para contratação do projeto básico e o tempo de execução.
BRAZILIAN SPACE: Existe alguma ação em curso visando também o desenvolvimento do motor L1500 paralelo ao desenvolvimento do motor L75?
CEL KASEMODEL: No momento não existe.
BRAZILIAN SPACE: Se não existe, qual é a razão?
CEL KASEMODEL: Um motor com esse nível de empuxo é para ser utilizado em primeiro estágio de veículos lançadores de satélites. Atualmente, o foco de desenvolvimento é de motores de estágio superior e de apogeu. A tecnologia de propulsores sólidos, já dominada no País, permite o desenvolvimento de propulsores sólidos de maior porte ou vários funcionando em conjunto, visando atender aos estágios baixos de veículos lançadores.
BRAZILIAN SPACE: Fala-se também no desenvolvimento em parceria com os russos do motor a propulsão sólida P36, importante passo para a concretização do Programa Cruzeiro do Sul. Em que situação encontra-se este projeto?
CEL KASEMODEL: Quanto ao Programa Cruzeiro do Sul, iniciamos os estudos preliminares do VLS-Alfa com os russos, contudo, estamos aguardando a revisão do PNAE para definir o futuro desse programa. Como é do seu conhecimento, na versão atual do PNAE não é previsto o desenvolvimento de um Programa desse porte.
BRAZILIAN SPACE: Já há alguma previsão de quando será instalada a nova usina de propelente no CLA ou não existe mais esta pretensão?
CEL KASEMODEL: O desenvolvimento de propulsores sólidos de grande porte, com certeza, exigirá a implantação de uma Usina de Propelentes nas proximidades do Centro de Lançamento (tal como ocorre em Kourou, na Guiana Francesa), de forma a minimizar os problemas logísticos de transporte. Contudo, no momento, ainda não existe nenhuma previsão a esse respeito.
BRAZILIAN SPACE: E quanto a UCA, caso seja instalada a nova usina no CLA, ela será desativada?
CEL KASEMODEL: Creio que não. A UCA, pela sua proximidade com o IAE, continuará a ser utilizada para carregamento de motores menores já desenvolvidos e também no carregamento de protótipos respeitando a sua capacidade.
Fonte: Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) - Coronel Carlos Antônio Kasemodel.
Comentário: Importantes esclarecimentos feitos pelo Cel Kasemodel que certamente aguça ainda mais as nossas expectativas quanto aos projetos em andamento dentro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Na opinião do blog o coronel parece deixar claro nas entre linhas que o grande problema que vem afetando os projetos atualmente em curso no instituto é o de recursos humanos, fazendo com que os cronogramas de desenvolvimentos desses projetos sejam esticados ou mesmos adiados impedindo assim uma consistência dinâmica de trabalho que possibilite um avanço mais rápido do Brasil neste setor.
Olá amigos!
Como você que acompanha freqüentemente o blog “BRAZILIAN SPACE” e os amantes deste fascinaste tema devem saber, em 22/03 o portal E-Democracia ligado a Câmara Federal realizou um chat sobre a Política Espacial Brasileira.
O debate contou com a presença do deputado Rodrigo Rollemberg (relator do “Conselho de Altos Estudos da Câmara” para o Programa Espacial Brasileiro) e de diversos nomes importantes que integram o esforço em torno do PEB, jornalistas especializados, alem é claro de brasileiros interessados no assunto.
Infelizmente por um problema técnico com o nosso computador não podemos participar do debate em tempo, pois quando finalmente conseguimos a conexão e começamos tomar ciência da situação o mediador do debate encerrou a discussão.
Porém, após termos acesso ao que foi discutido no debate, uma informação divulgada pelo Cel. Carlos Antônio Kasemodel, representante do IAE no chat e Vice-Diretor de Espaço do IAE/DCTA, chamou a atenção do blog fazendo com que através do portal E-Democracia procurássemos contato com o coronel para podermos esclarecer melhor o que havia sido colocado por ele.
Aproveitando a oportunidade de contato com o coronel Kasemodel que nos foi dada pelo citado portal (ao qual gostaríamos de agradecer publicamente) procuramos esclarecer com o mesmo não só a informação que nos levou a entrar em contato, mas também esclarecer outras dúvidas que temos levantando no blog nos últimos meses.
Desde já, o blog BRAZILIAN SPACE gostaria de agradecer publicamente a atenção dispensada pelo Cel. Kasemodel e pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA).
Abaixo segue na íntegra o email enviado ao blog pelo Cel. Kasemodel com os devidos esclarecimentos aos questionamentos colocados.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Caro Eduardo Falcão
Em resposta ao seu questionamento, segue os esclarecimentos a seguir. Desde já, agradeço pelo interesse demonstrado nos projetos e atividades desenvolvidos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço.
Continuamos à disposição para futuros esclarecimentos.
Atenciosamente,
Cel Kasemodel
BLOG BRAZILIAN SPACE: Coronel Kasemodel, recentemente (04/03) foi publicado no jornal “VALOR ECONÔMICO” uma matéria que falava que o satélite universitário ITASAT seria lançado por um lançador nacional em 2012. Já em (25/03) foi publicado no jornal “CORREIO BRAZILIENSE” que o lançamento deste satélite será feito de carona por um lançador estrangeiro. Sabemos através do que foi divulgado coronel que em 2012 está programado o vôo tecnológico do VLS-1 XVT-02 e sendo assim tenho duas perguntas a fazer ao senhor sobre este assunto. Qual é a informação correta coronel, seria a do “VALOR ECONÔMICO” ou a do “CORREIO BRAZILIENSE”? No caso da informação correta for a do “VALOR ECONÔMICO”, o senhor não acha que seria uma temeridade arriscar o lançamento de tão importante satélite para o “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais” num vôo tecnológico?
CEL. KASEMODEL: Não existe nenhuma definição quanto ao lançamento do ITASAT pelo VLS-1. O atual plano de desenvolvimento do VLS-1 prevê o lançamento de dois vôos tecnológicos denominados XVT-01 e XVT-02. O XVT-01 decolará somente com o primeiro e segundo estágios ativos e portanto, não possui capacidade de satelitização. O XVT-02, com todos os estágios ativos, possuirá uma carga útil tecnológica para informar aos sistemas de solo se a satelitização foi alcançada. Somente o protótipo V04, que voará após os vôos tecnológicos, estará disponível para lançamento de satélites.
Quanto à sua questão de número 2, embora não seja esse o nosso caso, é muito comum que veículos lançadores em desenvolvimento já transportem algum tipo de satélite de baixo custo, mesmo correndo-se o risco da não satelitização, uma vez que os custos de desenvolvimento dos lançadores, em geral, é muito superior.
OBS: O blog concorda com o coronel que seja comum usar veículos em desenvolvimento para transportarem satélites de baixo custo como o caso do ITASAT em vôos tecnológicos, mais acontece que devido à importância estratégica adquirida por este satélite devido ao mesmo ser direcionado ao já surrado “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais - SBCDA” composto pelos velhos SCD-1 e 2 e o já em final de carreira CBERS-2B, achamos uma temeridade se fazer isto. O mais sensato seria desenvolver um outro SATEC (satélite Tecnológico), aproveitando a oportunidade para se testar novas tecnologias e ao mesmo tempo preservar este tão importante satélite para o SBCDA.
BRAZILIAN SPACE: Continuando coronel, o IAE tem um interessante acordo de cooperação com o alemães que tem rendido bastante frutos e não resta qualquer dúvida quanto a isto. No chat do dia 22/03 no site E-Democracia o senhor disse que o IAE está desenvolvendo um lançador menor que o VLS-1 com a DLR alemã.
CEL KASEMODEL: Temos realmente uma excelente cooperação com os alemães cujo fruto mais recente, o veículo sub-orbital VSB-30, é atualmente o principal vetor do Programa Europeu de Microgravidade e já realizou sete lançamentos da Base de Kiruna, todos com excelentes resultados.
O programa SHEFEX também utiliza propulsores nacionais. O SHEFEX 1 foi lançado por um veículo VS-30/Orion; O SHEFEX-2 será lançado por um veículo desenvolvido pelo DLR que utilizará os propulsores S-40 e S-44, tal como utilizado em nosso VS-40.
Recentemente, iniciamos os estudos de viabilidade para o desenvolvimento de um novo veículo, denominado VLM-1, que visa atender ao experimento SHEFEX -3 e também poderia vir a ser utilizado como lançador para o promissor mercado de microssatelites.
Considerando as informações acima, passo a responder mais diretamente aos seus questionamentos:
BRAZILIAN SPACE: Seria este lançador suborbital ou orbital?
CEL KASEMODEL: Será um lançador orbital, embora para o experimento SHEFEX 3 o mesmo deverá realizar um vôo suborbital.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, seria este lançador o VS-43?
CEL: KASEMODEL: Não. A concepção para o VS-43 seria de um lançador sub-orbital, com controle de atitude, que utilizaria um propulsor S43, o mesmo utilizado no primeiro e segundo estágios do VLS-1. Contudo, para o VS-43, só foram feitos estudos de concepção e o projeto ainda não saiu do papel.
OBS: Na realidade houve aqui um erro de digitação por parte do blog, já que a pergunta seria: Caso seja suborbital, seria este lançador o VS-43? No entanto, o coronel acaba esclarecendo o que o blog já desconfiava, ou seja, o projeto do VS-43 continua parado.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
BRAZILIAN SPACE: Como há o envolvimento da DLR, seria este projeto para atender inicialmente o “Programa SHEFEX (SHEFEX-3)” europeu?
CEL KASEMODEL: Sim, como já disse acima, a origem desse projeto partiu da necessidade de um veículo para o experimento SHEFEX-3.
BRAZILIAN SPACE: É pretensão do IAE certificar o VS-40 como foi feito com o VSB-30 visando a sua industrialização?
CEL KASEMODEL: Não é somente pretensão do IAE, mas uma orientação da AEB que todos os veículos desenvolvidos passem por um processo de certificação, a exemplo do que ocorreu com o VSB-30.
BRAZILIAN SPACE: E por fim coronel, qual será o destino da plataforma de integração do foguete SONDA IV que se encontra (se não me engano) no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)?
CEL KASEMODEL: No momento, não se tem uma aplicação para aquela plataforma de integração uma vez que o projeto Sonda IV foi encerrado após seu último vôo em 1989.
Por outro lado, atualmente o CLBI enfrenta restrições, quanto aos aspectos de segurança de vôo, para lançar veículos do porte de um Sonda IV, dado ao crescimento urbano em torno daquele Centro.
BRAZILIAN SPACE: Passando para outro projeto do IAE coronel que eu considero de suma importância para o PEB, ou seja, ao Projeto SARA. Recentemente durante a solenidade de mudança de direção do CLA, o coronel Ricardo Rangel divulgou que vários lançamentos serão realizados do CLA ainda este ano, citando outros vôos do foguete FTB, os primeiros vôos do foguete FTI e o vôo do VSB-30 do “Programa Microgravidade” da AEB que está previsto para ocorrer em setembro. Foi divulgado por diversas vezes pela imprensa que o vôo da SARA Suborbital estaria marcado para ocorrer no final de 2010. Sendo assim coronel pergunto-lhe: Este vôo da SARA Suborbital foi adiado e se foi para quando?
CEL KASEMODEL: O vôo do Sara Suborbital está previsto para 2011, a partir do CLA utilizando um veículo VS-40.
BRAZILIAN SPACE: Neste caso qual foi o motivo?
CEL KASEMODEL: O adiamento se deve à atrasos no desenvolvimento do projeto Sara.
BRAZILIAN SPACE: O senhor não acha um tempo extremamente excessivo testar em vôo de quatro em quatro anos as fases previstas do Projeto SARA como divulgado pela mídia pelo seu engenheiro responsável?
CEL KASEMODEL: Concordo com você e temos orientação superior para tentar reduzir esses prazos. No entanto, o atual quadro de recursos humanos do IAE não nos permite desenvolver projetos do porte do VLS-1 e Sara com a velocidade que desejamos.
BRAZILIAN SPACE: Pra finalizar coronel, gostaria de abordar agora o programa de motores-foguetes a propulsão líquida essencial se quisermos nos tornar um player importante no setor espacial internacional. Sendo assim tenho as seguintes dúvidas: Existe alguma aplicação prática prevista para o motor L5?
CEL KASEMODEL: O motor L5 (de 5 kN de empuxo) foi o nosso primeiro motor a propulsão líquida, desenvolvido com o objetivo de capacitação das equipes num cenário de baixo investimento e sem cooperação estrangeira. Entretanto, a principal justificativa para seu valor de empuxo seria o de substituir com vantagens o propulsor sólido do 4º estágio do VLS-1, o que, teoricamente, permitiria quase dobrar a carga-útil do nosso atual lançador.
BRAZILIAN SPACE: Sabemos que o motor L15 será usado pelo foguete de sondagem VS-15. Já existe alguma previsão de quando este foguete será lançado?
CEL KASEMODEL: Foguetes de sondagem, usualmente, são concebidos sobre motores que possuem desempenho bastante conhecido, o que não é o caso aqui. O motor L15, ainda em desenvolvimento, é parte crítica desse veículo. Assim, somente após os ensaios em solo do motor L15 para confirmação dos parâmetros propulsivos, bem como, das medidas de massa, conseguidas nos modelos de engenharia de seus componentes (tanques, válvulas e reguladores), será possível afirmar sobre a viabilidade de prosseguimento do VS-15 diante da comparação com os requisitos de projeto. No momento, existem alguns desafios que precisam ainda ser superados pela empresa contratada para execução da fabricação do motor e tanques. Espera-se que em breve sejam reiniciados os ensaios a quente do L15 e que os tanques passem pelos ensaios de qualificação.
BRAZILIAN SPACE: Qual a previsão otimista e pessimista para o motor L75 está com seu modelo de vôo pronto para ser usado?
CEL KASEMODEL: Historicamente, observando o desenvolvimento em outros países de motores similares, que empregam sistema de alimentação por turbobomba, o tempo entre a concepção até o lançamento em veículos lançadores é de 5 anos, obviamente, dependendo dos recursos (humanos e financeiros) investidos e a participação de colaboradores/parceiros estrangeiros que já detenham essa tecnologia. O motor L75 é um grande desafio tecnológico, ele serve para verificar a possibilidade de fabricação de componentes críticos no País, tal como a câmara de combustão com alta pressão e turbombomba de grandes vazões operando com oxigênio líquido.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a previsão para a instalação do banco de provas para o motores-foguetes de propulsão liquida de até 400 kN previsto no acordo com os russos?
CEL KASEMODEL: O acordo existente com os russos é somente para a especificação de um Banco de Provas de 400 kN de empuxo. Após a entrega do relatório final da empresa russa, a ocorrer em 2010, e de posse das definições gerais do Banco, é que será possível saber qual o montante envolvido para contratação do projeto básico e o tempo de execução.
BRAZILIAN SPACE: Existe alguma ação em curso visando também o desenvolvimento do motor L1500 paralelo ao desenvolvimento do motor L75?
CEL KASEMODEL: No momento não existe.
BRAZILIAN SPACE: Se não existe, qual é a razão?
CEL KASEMODEL: Um motor com esse nível de empuxo é para ser utilizado em primeiro estágio de veículos lançadores de satélites. Atualmente, o foco de desenvolvimento é de motores de estágio superior e de apogeu. A tecnologia de propulsores sólidos, já dominada no País, permite o desenvolvimento de propulsores sólidos de maior porte ou vários funcionando em conjunto, visando atender aos estágios baixos de veículos lançadores.
BRAZILIAN SPACE: Fala-se também no desenvolvimento em parceria com os russos do motor a propulsão sólida P36, importante passo para a concretização do Programa Cruzeiro do Sul. Em que situação encontra-se este projeto?
CEL KASEMODEL: Quanto ao Programa Cruzeiro do Sul, iniciamos os estudos preliminares do VLS-Alfa com os russos, contudo, estamos aguardando a revisão do PNAE para definir o futuro desse programa. Como é do seu conhecimento, na versão atual do PNAE não é previsto o desenvolvimento de um Programa desse porte.
BRAZILIAN SPACE: Já há alguma previsão de quando será instalada a nova usina de propelente no CLA ou não existe mais esta pretensão?
CEL KASEMODEL: O desenvolvimento de propulsores sólidos de grande porte, com certeza, exigirá a implantação de uma Usina de Propelentes nas proximidades do Centro de Lançamento (tal como ocorre em Kourou, na Guiana Francesa), de forma a minimizar os problemas logísticos de transporte. Contudo, no momento, ainda não existe nenhuma previsão a esse respeito.
BRAZILIAN SPACE: E quanto a UCA, caso seja instalada a nova usina no CLA, ela será desativada?
CEL KASEMODEL: Creio que não. A UCA, pela sua proximidade com o IAE, continuará a ser utilizada para carregamento de motores menores já desenvolvidos e também no carregamento de protótipos respeitando a sua capacidade.
Fonte: Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) - Coronel Carlos Antônio Kasemodel.
Comentário: Importantes esclarecimentos feitos pelo Cel Kasemodel que certamente aguça ainda mais as nossas expectativas quanto aos projetos em andamento dentro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Na opinião do blog o coronel parece deixar claro nas entre linhas que o grande problema que vem afetando os projetos atualmente em curso no instituto é o de recursos humanos, fazendo com que os cronogramas de desenvolvimentos desses projetos sejam esticados ou mesmos adiados impedindo assim uma consistência dinâmica de trabalho que possibilite um avanço mais rápido do Brasil neste setor.