Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
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Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Cel. Kasemodel do IAE Responde as Dúvidas do Blog BRAZILIAN SPACE
Olá amigos!
Como você que acompanha freqüentemente o blog “BRAZILIAN SPACE” e os amantes deste fascinaste tema devem saber, em 22/03 o portal E-Democracia ligado a Câmara Federal realizou um chat sobre a Política Espacial Brasileira.
O debate contou com a presença do deputado Rodrigo Rollemberg (relator do “Conselho de Altos Estudos da Câmara” para o Programa Espacial Brasileiro) e de diversos nomes importantes que integram o esforço em torno do PEB, jornalistas especializados, alem é claro de brasileiros interessados no assunto.
Infelizmente por um problema técnico com o nosso computador não podemos participar do debate em tempo, pois quando finalmente conseguimos a conexão e começamos tomar ciência da situação o mediador do debate encerrou a discussão.
Porém, após termos acesso ao que foi discutido no debate, uma informação divulgada pelo Cel. Carlos Antônio Kasemodel, representante do IAE no chat e Vice-Diretor de Espaço do IAE/DCTA, chamou a atenção do blog fazendo com que através do portal E-Democracia procurássemos contato com o coronel para podermos esclarecer melhor o que havia sido colocado por ele.
Aproveitando a oportunidade de contato com o coronel Kasemodel que nos foi dada pelo citado portal (ao qual gostaríamos de agradecer publicamente) procuramos esclarecer com o mesmo não só a informação que nos levou a entrar em contato, mas também esclarecer outras dúvidas que temos levantando no blog nos últimos meses.
Desde já, o blog BRAZILIAN SPACE gostaria de agradecer publicamente a atenção dispensada pelo Cel. Kasemodel e pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA).
Abaixo segue na íntegra o email enviado ao blog pelo Cel. Kasemodel com os devidos esclarecimentos aos questionamentos colocados.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Caro Eduardo Falcão
Em resposta ao seu questionamento, segue os esclarecimentos a seguir. Desde já, agradeço pelo interesse demonstrado nos projetos e atividades desenvolvidos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço.
Continuamos à disposição para futuros esclarecimentos.
Atenciosamente,
Cel Kasemodel
BLOG BRAZILIAN SPACE: Coronel Kasemodel, recentemente (04/03) foi publicado no jornal “VALOR ECONÔMICO” uma matéria que falava que o satélite universitário ITASAT seria lançado por um lançador nacional em 2012. Já em (25/03) foi publicado no jornal “CORREIO BRAZILIENSE” que o lançamento deste satélite será feito de carona por um lançador estrangeiro. Sabemos através do que foi divulgado coronel que em 2012 está programado o vôo tecnológico do VLS-1 XVT-02 e sendo assim tenho duas perguntas a fazer ao senhor sobre este assunto. Qual é a informação correta coronel, seria a do “VALOR ECONÔMICO” ou a do “CORREIO BRAZILIENSE”? No caso da informação correta for a do “VALOR ECONÔMICO”, o senhor não acha que seria uma temeridade arriscar o lançamento de tão importante satélite para o “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais” num vôo tecnológico?
CEL. KASEMODEL: Não existe nenhuma definição quanto ao lançamento do ITASAT pelo VLS-1. O atual plano de desenvolvimento do VLS-1 prevê o lançamento de dois vôos tecnológicos denominados XVT-01 e XVT-02. O XVT-01 decolará somente com o primeiro e segundo estágios ativos e portanto, não possui capacidade de satelitização. O XVT-02, com todos os estágios ativos, possuirá uma carga útil tecnológica para informar aos sistemas de solo se a satelitização foi alcançada. Somente o protótipo V04, que voará após os vôos tecnológicos, estará disponível para lançamento de satélites.
Quanto à sua questão de número 2, embora não seja esse o nosso caso, é muito comum que veículos lançadores em desenvolvimento já transportem algum tipo de satélite de baixo custo, mesmo correndo-se o risco da não satelitização, uma vez que os custos de desenvolvimento dos lançadores, em geral, é muito superior.
OBS: O blog concorda com o coronel que seja comum usar veículos em desenvolvimento para transportarem satélites de baixo custo como o caso do ITASAT em vôos tecnológicos, mais acontece que devido à importância estratégica adquirida por este satélite devido ao mesmo ser direcionado ao já surrado “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais - SBCDA” composto pelos velhos SCD-1 e 2 e o já em final de carreira CBERS-2B, achamos uma temeridade se fazer isto. O mais sensato seria desenvolver um outro SATEC (satélite Tecnológico), aproveitando a oportunidade para se testar novas tecnologias e ao mesmo tempo preservar este tão importante satélite para o SBCDA.
BRAZILIAN SPACE: Continuando coronel, o IAE tem um interessante acordo de cooperação com o alemães que tem rendido bastante frutos e não resta qualquer dúvida quanto a isto. No chat do dia 22/03 no site E-Democracia o senhor disse que o IAE está desenvolvendo um lançador menor que o VLS-1 com a DLR alemã.
CEL KASEMODEL: Temos realmente uma excelente cooperação com os alemães cujo fruto mais recente, o veículo sub-orbital VSB-30, é atualmente o principal vetor do Programa Europeu de Microgravidade e já realizou sete lançamentos da Base de Kiruna, todos com excelentes resultados.
O programa SHEFEX também utiliza propulsores nacionais. O SHEFEX 1 foi lançado por um veículo VS-30/Orion; O SHEFEX-2 será lançado por um veículo desenvolvido pelo DLR que utilizará os propulsores S-40 e S-44, tal como utilizado em nosso VS-40.
Recentemente, iniciamos os estudos de viabilidade para o desenvolvimento de um novo veículo, denominado VLM-1, que visa atender ao experimento SHEFEX -3 e também poderia vir a ser utilizado como lançador para o promissor mercado de microssatelites.
Considerando as informações acima, passo a responder mais diretamente aos seus questionamentos:
BRAZILIAN SPACE: Seria este lançador suborbital ou orbital?
CEL KASEMODEL: Será um lançador orbital, embora para o experimento SHEFEX 3 o mesmo deverá realizar um vôo suborbital.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, seria este lançador o VS-43?
CEL: KASEMODEL: Não. A concepção para o VS-43 seria de um lançador sub-orbital, com controle de atitude, que utilizaria um propulsor S43, o mesmo utilizado no primeiro e segundo estágios do VLS-1. Contudo, para o VS-43, só foram feitos estudos de concepção e o projeto ainda não saiu do papel.
OBS: Na realidade houve aqui um erro de digitação por parte do blog, já que a pergunta seria: Caso seja suborbital, seria este lançador o VS-43? No entanto, o coronel acaba esclarecendo o que o blog já desconfiava, ou seja, o projeto do VS-43 continua parado.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
BRAZILIAN SPACE: Como há o envolvimento da DLR, seria este projeto para atender inicialmente o “Programa SHEFEX (SHEFEX-3)” europeu?
CEL KASEMODEL: Sim, como já disse acima, a origem desse projeto partiu da necessidade de um veículo para o experimento SHEFEX-3.
BRAZILIAN SPACE: É pretensão do IAE certificar o VS-40 como foi feito com o VSB-30 visando a sua industrialização?
CEL KASEMODEL: Não é somente pretensão do IAE, mas uma orientação da AEB que todos os veículos desenvolvidos passem por um processo de certificação, a exemplo do que ocorreu com o VSB-30.
BRAZILIAN SPACE: E por fim coronel, qual será o destino da plataforma de integração do foguete SONDA IV que se encontra (se não me engano) no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)?
CEL KASEMODEL: No momento, não se tem uma aplicação para aquela plataforma de integração uma vez que o projeto Sonda IV foi encerrado após seu último vôo em 1989.
Por outro lado, atualmente o CLBI enfrenta restrições, quanto aos aspectos de segurança de vôo, para lançar veículos do porte de um Sonda IV, dado ao crescimento urbano em torno daquele Centro.
BRAZILIAN SPACE: Passando para outro projeto do IAE coronel que eu considero de suma importância para o PEB, ou seja, ao Projeto SARA. Recentemente durante a solenidade de mudança de direção do CLA, o coronel Ricardo Rangel divulgou que vários lançamentos serão realizados do CLA ainda este ano, citando outros vôos do foguete FTB, os primeiros vôos do foguete FTI e o vôo do VSB-30 do “Programa Microgravidade” da AEB que está previsto para ocorrer em setembro. Foi divulgado por diversas vezes pela imprensa que o vôo da SARA Suborbital estaria marcado para ocorrer no final de 2010. Sendo assim coronel pergunto-lhe: Este vôo da SARA Suborbital foi adiado e se foi para quando?
CEL KASEMODEL: O vôo do Sara Suborbital está previsto para 2011, a partir do CLA utilizando um veículo VS-40.
BRAZILIAN SPACE: Neste caso qual foi o motivo?
CEL KASEMODEL: O adiamento se deve à atrasos no desenvolvimento do projeto Sara.
BRAZILIAN SPACE: O senhor não acha um tempo extremamente excessivo testar em vôo de quatro em quatro anos as fases previstas do Projeto SARA como divulgado pela mídia pelo seu engenheiro responsável?
CEL KASEMODEL: Concordo com você e temos orientação superior para tentar reduzir esses prazos. No entanto, o atual quadro de recursos humanos do IAE não nos permite desenvolver projetos do porte do VLS-1 e Sara com a velocidade que desejamos.
BRAZILIAN SPACE: Pra finalizar coronel, gostaria de abordar agora o programa de motores-foguetes a propulsão líquida essencial se quisermos nos tornar um player importante no setor espacial internacional. Sendo assim tenho as seguintes dúvidas: Existe alguma aplicação prática prevista para o motor L5?
CEL KASEMODEL: O motor L5 (de 5 kN de empuxo) foi o nosso primeiro motor a propulsão líquida, desenvolvido com o objetivo de capacitação das equipes num cenário de baixo investimento e sem cooperação estrangeira. Entretanto, a principal justificativa para seu valor de empuxo seria o de substituir com vantagens o propulsor sólido do 4º estágio do VLS-1, o que, teoricamente, permitiria quase dobrar a carga-útil do nosso atual lançador.
BRAZILIAN SPACE: Sabemos que o motor L15 será usado pelo foguete de sondagem VS-15. Já existe alguma previsão de quando este foguete será lançado?
CEL KASEMODEL: Foguetes de sondagem, usualmente, são concebidos sobre motores que possuem desempenho bastante conhecido, o que não é o caso aqui. O motor L15, ainda em desenvolvimento, é parte crítica desse veículo. Assim, somente após os ensaios em solo do motor L15 para confirmação dos parâmetros propulsivos, bem como, das medidas de massa, conseguidas nos modelos de engenharia de seus componentes (tanques, válvulas e reguladores), será possível afirmar sobre a viabilidade de prosseguimento do VS-15 diante da comparação com os requisitos de projeto. No momento, existem alguns desafios que precisam ainda ser superados pela empresa contratada para execução da fabricação do motor e tanques. Espera-se que em breve sejam reiniciados os ensaios a quente do L15 e que os tanques passem pelos ensaios de qualificação.
BRAZILIAN SPACE: Qual a previsão otimista e pessimista para o motor L75 está com seu modelo de vôo pronto para ser usado?
CEL KASEMODEL: Historicamente, observando o desenvolvimento em outros países de motores similares, que empregam sistema de alimentação por turbobomba, o tempo entre a concepção até o lançamento em veículos lançadores é de 5 anos, obviamente, dependendo dos recursos (humanos e financeiros) investidos e a participação de colaboradores/parceiros estrangeiros que já detenham essa tecnologia. O motor L75 é um grande desafio tecnológico, ele serve para verificar a possibilidade de fabricação de componentes críticos no País, tal como a câmara de combustão com alta pressão e turbombomba de grandes vazões operando com oxigênio líquido.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a previsão para a instalação do banco de provas para o motores-foguetes de propulsão liquida de até 400 kN previsto no acordo com os russos?
CEL KASEMODEL: O acordo existente com os russos é somente para a especificação de um Banco de Provas de 400 kN de empuxo. Após a entrega do relatório final da empresa russa, a ocorrer em 2010, e de posse das definições gerais do Banco, é que será possível saber qual o montante envolvido para contratação do projeto básico e o tempo de execução.
BRAZILIAN SPACE: Existe alguma ação em curso visando também o desenvolvimento do motor L1500 paralelo ao desenvolvimento do motor L75?
CEL KASEMODEL: No momento não existe.
BRAZILIAN SPACE: Se não existe, qual é a razão?
CEL KASEMODEL: Um motor com esse nível de empuxo é para ser utilizado em primeiro estágio de veículos lançadores de satélites. Atualmente, o foco de desenvolvimento é de motores de estágio superior e de apogeu. A tecnologia de propulsores sólidos, já dominada no País, permite o desenvolvimento de propulsores sólidos de maior porte ou vários funcionando em conjunto, visando atender aos estágios baixos de veículos lançadores.
BRAZILIAN SPACE: Fala-se também no desenvolvimento em parceria com os russos do motor a propulsão sólida P36, importante passo para a concretização do Programa Cruzeiro do Sul. Em que situação encontra-se este projeto?
CEL KASEMODEL: Quanto ao Programa Cruzeiro do Sul, iniciamos os estudos preliminares do VLS-Alfa com os russos, contudo, estamos aguardando a revisão do PNAE para definir o futuro desse programa. Como é do seu conhecimento, na versão atual do PNAE não é previsto o desenvolvimento de um Programa desse porte.
BRAZILIAN SPACE: Já há alguma previsão de quando será instalada a nova usina de propelente no CLA ou não existe mais esta pretensão?
CEL KASEMODEL: O desenvolvimento de propulsores sólidos de grande porte, com certeza, exigirá a implantação de uma Usina de Propelentes nas proximidades do Centro de Lançamento (tal como ocorre em Kourou, na Guiana Francesa), de forma a minimizar os problemas logísticos de transporte. Contudo, no momento, ainda não existe nenhuma previsão a esse respeito.
BRAZILIAN SPACE: E quanto a UCA, caso seja instalada a nova usina no CLA, ela será desativada?
CEL KASEMODEL: Creio que não. A UCA, pela sua proximidade com o IAE, continuará a ser utilizada para carregamento de motores menores já desenvolvidos e também no carregamento de protótipos respeitando a sua capacidade.
Fonte: Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) - Coronel Carlos Antônio Kasemodel.
Comentário: Importantes esclarecimentos feitos pelo Cel Kasemodel que certamente aguça ainda mais as nossas expectativas quanto aos projetos em andamento dentro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Na opinião do blog o coronel parece deixar claro nas entre linhas que o grande problema que vem afetando os projetos atualmente em curso no instituto é o de recursos humanos, fazendo com que os cronogramas de desenvolvimentos desses projetos sejam esticados ou mesmos adiados impedindo assim uma consistência dinâmica de trabalho que possibilite um avanço mais rápido do Brasil neste setor.
Olá amigos!
Como você que acompanha freqüentemente o blog “BRAZILIAN SPACE” e os amantes deste fascinaste tema devem saber, em 22/03 o portal E-Democracia ligado a Câmara Federal realizou um chat sobre a Política Espacial Brasileira.
O debate contou com a presença do deputado Rodrigo Rollemberg (relator do “Conselho de Altos Estudos da Câmara” para o Programa Espacial Brasileiro) e de diversos nomes importantes que integram o esforço em torno do PEB, jornalistas especializados, alem é claro de brasileiros interessados no assunto.
Infelizmente por um problema técnico com o nosso computador não podemos participar do debate em tempo, pois quando finalmente conseguimos a conexão e começamos tomar ciência da situação o mediador do debate encerrou a discussão.
Porém, após termos acesso ao que foi discutido no debate, uma informação divulgada pelo Cel. Carlos Antônio Kasemodel, representante do IAE no chat e Vice-Diretor de Espaço do IAE/DCTA, chamou a atenção do blog fazendo com que através do portal E-Democracia procurássemos contato com o coronel para podermos esclarecer melhor o que havia sido colocado por ele.
Aproveitando a oportunidade de contato com o coronel Kasemodel que nos foi dada pelo citado portal (ao qual gostaríamos de agradecer publicamente) procuramos esclarecer com o mesmo não só a informação que nos levou a entrar em contato, mas também esclarecer outras dúvidas que temos levantando no blog nos últimos meses.
Desde já, o blog BRAZILIAN SPACE gostaria de agradecer publicamente a atenção dispensada pelo Cel. Kasemodel e pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA).
Abaixo segue na íntegra o email enviado ao blog pelo Cel. Kasemodel com os devidos esclarecimentos aos questionamentos colocados.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Caro Eduardo Falcão
Em resposta ao seu questionamento, segue os esclarecimentos a seguir. Desde já, agradeço pelo interesse demonstrado nos projetos e atividades desenvolvidos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço.
Continuamos à disposição para futuros esclarecimentos.
Atenciosamente,
Cel Kasemodel
BLOG BRAZILIAN SPACE: Coronel Kasemodel, recentemente (04/03) foi publicado no jornal “VALOR ECONÔMICO” uma matéria que falava que o satélite universitário ITASAT seria lançado por um lançador nacional em 2012. Já em (25/03) foi publicado no jornal “CORREIO BRAZILIENSE” que o lançamento deste satélite será feito de carona por um lançador estrangeiro. Sabemos através do que foi divulgado coronel que em 2012 está programado o vôo tecnológico do VLS-1 XVT-02 e sendo assim tenho duas perguntas a fazer ao senhor sobre este assunto. Qual é a informação correta coronel, seria a do “VALOR ECONÔMICO” ou a do “CORREIO BRAZILIENSE”? No caso da informação correta for a do “VALOR ECONÔMICO”, o senhor não acha que seria uma temeridade arriscar o lançamento de tão importante satélite para o “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais” num vôo tecnológico?
CEL. KASEMODEL: Não existe nenhuma definição quanto ao lançamento do ITASAT pelo VLS-1. O atual plano de desenvolvimento do VLS-1 prevê o lançamento de dois vôos tecnológicos denominados XVT-01 e XVT-02. O XVT-01 decolará somente com o primeiro e segundo estágios ativos e portanto, não possui capacidade de satelitização. O XVT-02, com todos os estágios ativos, possuirá uma carga útil tecnológica para informar aos sistemas de solo se a satelitização foi alcançada. Somente o protótipo V04, que voará após os vôos tecnológicos, estará disponível para lançamento de satélites.
Quanto à sua questão de número 2, embora não seja esse o nosso caso, é muito comum que veículos lançadores em desenvolvimento já transportem algum tipo de satélite de baixo custo, mesmo correndo-se o risco da não satelitização, uma vez que os custos de desenvolvimento dos lançadores, em geral, é muito superior.
OBS: O blog concorda com o coronel que seja comum usar veículos em desenvolvimento para transportarem satélites de baixo custo como o caso do ITASAT em vôos tecnológicos, mais acontece que devido à importância estratégica adquirida por este satélite devido ao mesmo ser direcionado ao já surrado “Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais - SBCDA” composto pelos velhos SCD-1 e 2 e o já em final de carreira CBERS-2B, achamos uma temeridade se fazer isto. O mais sensato seria desenvolver um outro SATEC (satélite Tecnológico), aproveitando a oportunidade para se testar novas tecnologias e ao mesmo tempo preservar este tão importante satélite para o SBCDA.
BRAZILIAN SPACE: Continuando coronel, o IAE tem um interessante acordo de cooperação com o alemães que tem rendido bastante frutos e não resta qualquer dúvida quanto a isto. No chat do dia 22/03 no site E-Democracia o senhor disse que o IAE está desenvolvendo um lançador menor que o VLS-1 com a DLR alemã.
CEL KASEMODEL: Temos realmente uma excelente cooperação com os alemães cujo fruto mais recente, o veículo sub-orbital VSB-30, é atualmente o principal vetor do Programa Europeu de Microgravidade e já realizou sete lançamentos da Base de Kiruna, todos com excelentes resultados.
O programa SHEFEX também utiliza propulsores nacionais. O SHEFEX 1 foi lançado por um veículo VS-30/Orion; O SHEFEX-2 será lançado por um veículo desenvolvido pelo DLR que utilizará os propulsores S-40 e S-44, tal como utilizado em nosso VS-40.
Recentemente, iniciamos os estudos de viabilidade para o desenvolvimento de um novo veículo, denominado VLM-1, que visa atender ao experimento SHEFEX -3 e também poderia vir a ser utilizado como lançador para o promissor mercado de microssatelites.
Considerando as informações acima, passo a responder mais diretamente aos seus questionamentos:
BRAZILIAN SPACE: Seria este lançador suborbital ou orbital?
CEL KASEMODEL: Será um lançador orbital, embora para o experimento SHEFEX 3 o mesmo deverá realizar um vôo suborbital.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, seria este lançador o VS-43?
CEL: KASEMODEL: Não. A concepção para o VS-43 seria de um lançador sub-orbital, com controle de atitude, que utilizaria um propulsor S43, o mesmo utilizado no primeiro e segundo estágios do VLS-1. Contudo, para o VS-43, só foram feitos estudos de concepção e o projeto ainda não saiu do papel.
OBS: Na realidade houve aqui um erro de digitação por parte do blog, já que a pergunta seria: Caso seja suborbital, seria este lançador o VS-43? No entanto, o coronel acaba esclarecendo o que o blog já desconfiava, ou seja, o projeto do VS-43 continua parado.
BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
BRAZILIAN SPACE: Como há o envolvimento da DLR, seria este projeto para atender inicialmente o “Programa SHEFEX (SHEFEX-3)” europeu?
CEL KASEMODEL: Sim, como já disse acima, a origem desse projeto partiu da necessidade de um veículo para o experimento SHEFEX-3.
BRAZILIAN SPACE: É pretensão do IAE certificar o VS-40 como foi feito com o VSB-30 visando a sua industrialização?
CEL KASEMODEL: Não é somente pretensão do IAE, mas uma orientação da AEB que todos os veículos desenvolvidos passem por um processo de certificação, a exemplo do que ocorreu com o VSB-30.
BRAZILIAN SPACE: E por fim coronel, qual será o destino da plataforma de integração do foguete SONDA IV que se encontra (se não me engano) no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)?
CEL KASEMODEL: No momento, não se tem uma aplicação para aquela plataforma de integração uma vez que o projeto Sonda IV foi encerrado após seu último vôo em 1989.
Por outro lado, atualmente o CLBI enfrenta restrições, quanto aos aspectos de segurança de vôo, para lançar veículos do porte de um Sonda IV, dado ao crescimento urbano em torno daquele Centro.
BRAZILIAN SPACE: Passando para outro projeto do IAE coronel que eu considero de suma importância para o PEB, ou seja, ao Projeto SARA. Recentemente durante a solenidade de mudança de direção do CLA, o coronel Ricardo Rangel divulgou que vários lançamentos serão realizados do CLA ainda este ano, citando outros vôos do foguete FTB, os primeiros vôos do foguete FTI e o vôo do VSB-30 do “Programa Microgravidade” da AEB que está previsto para ocorrer em setembro. Foi divulgado por diversas vezes pela imprensa que o vôo da SARA Suborbital estaria marcado para ocorrer no final de 2010. Sendo assim coronel pergunto-lhe: Este vôo da SARA Suborbital foi adiado e se foi para quando?
CEL KASEMODEL: O vôo do Sara Suborbital está previsto para 2011, a partir do CLA utilizando um veículo VS-40.
BRAZILIAN SPACE: Neste caso qual foi o motivo?
CEL KASEMODEL: O adiamento se deve à atrasos no desenvolvimento do projeto Sara.
BRAZILIAN SPACE: O senhor não acha um tempo extremamente excessivo testar em vôo de quatro em quatro anos as fases previstas do Projeto SARA como divulgado pela mídia pelo seu engenheiro responsável?
CEL KASEMODEL: Concordo com você e temos orientação superior para tentar reduzir esses prazos. No entanto, o atual quadro de recursos humanos do IAE não nos permite desenvolver projetos do porte do VLS-1 e Sara com a velocidade que desejamos.
BRAZILIAN SPACE: Pra finalizar coronel, gostaria de abordar agora o programa de motores-foguetes a propulsão líquida essencial se quisermos nos tornar um player importante no setor espacial internacional. Sendo assim tenho as seguintes dúvidas: Existe alguma aplicação prática prevista para o motor L5?
CEL KASEMODEL: O motor L5 (de 5 kN de empuxo) foi o nosso primeiro motor a propulsão líquida, desenvolvido com o objetivo de capacitação das equipes num cenário de baixo investimento e sem cooperação estrangeira. Entretanto, a principal justificativa para seu valor de empuxo seria o de substituir com vantagens o propulsor sólido do 4º estágio do VLS-1, o que, teoricamente, permitiria quase dobrar a carga-útil do nosso atual lançador.
BRAZILIAN SPACE: Sabemos que o motor L15 será usado pelo foguete de sondagem VS-15. Já existe alguma previsão de quando este foguete será lançado?
CEL KASEMODEL: Foguetes de sondagem, usualmente, são concebidos sobre motores que possuem desempenho bastante conhecido, o que não é o caso aqui. O motor L15, ainda em desenvolvimento, é parte crítica desse veículo. Assim, somente após os ensaios em solo do motor L15 para confirmação dos parâmetros propulsivos, bem como, das medidas de massa, conseguidas nos modelos de engenharia de seus componentes (tanques, válvulas e reguladores), será possível afirmar sobre a viabilidade de prosseguimento do VS-15 diante da comparação com os requisitos de projeto. No momento, existem alguns desafios que precisam ainda ser superados pela empresa contratada para execução da fabricação do motor e tanques. Espera-se que em breve sejam reiniciados os ensaios a quente do L15 e que os tanques passem pelos ensaios de qualificação.
BRAZILIAN SPACE: Qual a previsão otimista e pessimista para o motor L75 está com seu modelo de vôo pronto para ser usado?
CEL KASEMODEL: Historicamente, observando o desenvolvimento em outros países de motores similares, que empregam sistema de alimentação por turbobomba, o tempo entre a concepção até o lançamento em veículos lançadores é de 5 anos, obviamente, dependendo dos recursos (humanos e financeiros) investidos e a participação de colaboradores/parceiros estrangeiros que já detenham essa tecnologia. O motor L75 é um grande desafio tecnológico, ele serve para verificar a possibilidade de fabricação de componentes críticos no País, tal como a câmara de combustão com alta pressão e turbombomba de grandes vazões operando com oxigênio líquido.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a previsão para a instalação do banco de provas para o motores-foguetes de propulsão liquida de até 400 kN previsto no acordo com os russos?
CEL KASEMODEL: O acordo existente com os russos é somente para a especificação de um Banco de Provas de 400 kN de empuxo. Após a entrega do relatório final da empresa russa, a ocorrer em 2010, e de posse das definições gerais do Banco, é que será possível saber qual o montante envolvido para contratação do projeto básico e o tempo de execução.
BRAZILIAN SPACE: Existe alguma ação em curso visando também o desenvolvimento do motor L1500 paralelo ao desenvolvimento do motor L75?
CEL KASEMODEL: No momento não existe.
BRAZILIAN SPACE: Se não existe, qual é a razão?
CEL KASEMODEL: Um motor com esse nível de empuxo é para ser utilizado em primeiro estágio de veículos lançadores de satélites. Atualmente, o foco de desenvolvimento é de motores de estágio superior e de apogeu. A tecnologia de propulsores sólidos, já dominada no País, permite o desenvolvimento de propulsores sólidos de maior porte ou vários funcionando em conjunto, visando atender aos estágios baixos de veículos lançadores.
BRAZILIAN SPACE: Fala-se também no desenvolvimento em parceria com os russos do motor a propulsão sólida P36, importante passo para a concretização do Programa Cruzeiro do Sul. Em que situação encontra-se este projeto?
CEL KASEMODEL: Quanto ao Programa Cruzeiro do Sul, iniciamos os estudos preliminares do VLS-Alfa com os russos, contudo, estamos aguardando a revisão do PNAE para definir o futuro desse programa. Como é do seu conhecimento, na versão atual do PNAE não é previsto o desenvolvimento de um Programa desse porte.
BRAZILIAN SPACE: Já há alguma previsão de quando será instalada a nova usina de propelente no CLA ou não existe mais esta pretensão?
CEL KASEMODEL: O desenvolvimento de propulsores sólidos de grande porte, com certeza, exigirá a implantação de uma Usina de Propelentes nas proximidades do Centro de Lançamento (tal como ocorre em Kourou, na Guiana Francesa), de forma a minimizar os problemas logísticos de transporte. Contudo, no momento, ainda não existe nenhuma previsão a esse respeito.
BRAZILIAN SPACE: E quanto a UCA, caso seja instalada a nova usina no CLA, ela será desativada?
CEL KASEMODEL: Creio que não. A UCA, pela sua proximidade com o IAE, continuará a ser utilizada para carregamento de motores menores já desenvolvidos e também no carregamento de protótipos respeitando a sua capacidade.
Fonte: Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) - Coronel Carlos Antônio Kasemodel.
Comentário: Importantes esclarecimentos feitos pelo Cel Kasemodel que certamente aguça ainda mais as nossas expectativas quanto aos projetos em andamento dentro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Na opinião do blog o coronel parece deixar claro nas entre linhas que o grande problema que vem afetando os projetos atualmente em curso no instituto é o de recursos humanos, fazendo com que os cronogramas de desenvolvimentos desses projetos sejam esticados ou mesmos adiados impedindo assim uma consistência dinâmica de trabalho que possibilite um avanço mais rápido do Brasil neste setor.
Editado pela última vez por Brazilian Space em Qui Jul 08, 2010 4:00 pm, em um total de 2 vezes.
Re: Entrevista do Cel. Kasemodel (IAE) ao Blog BRAZILIAN SPACE
Sem grana , sem conhecimento, alguns anos atraz estavamos na quase juntos com a China hoje...
E pior nossos Engenheiros se forman e vão trabalhar nos Bancos, nda pessoal ja que o salario dos pesquisadores e baixo , e cada um tem que ver o que é melhor pra si, entretanto acredito q os formandos em Instituições Militare ITA . IME deveriam ficar obrigatoriamente um tempo ( 2 anos por exemplo ) trabalhando em projetos para o desenvolvimento do Pais , ja que foi investido uma alta grana em sua formação.
2 anos não prejudicaria a vida profissional dos jovens formandos , e seria uma mão na roda para nosso desenvolvimento.
E pior nossos Engenheiros se forman e vão trabalhar nos Bancos, nda pessoal ja que o salario dos pesquisadores e baixo , e cada um tem que ver o que é melhor pra si, entretanto acredito q os formandos em Instituições Militare ITA . IME deveriam ficar obrigatoriamente um tempo ( 2 anos por exemplo ) trabalhando em projetos para o desenvolvimento do Pais , ja que foi investido uma alta grana em sua formação.
2 anos não prejudicaria a vida profissional dos jovens formandos , e seria uma mão na roda para nosso desenvolvimento.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Entrevista com o Astronauta Marcos Cesar Pontes
Olá amigos!
Desde que resolvi criar o blog “BRAZILIAN SPACE” tenho o desejo de entrevistar as personalidades do PEB que mais tem contribuído para o futuro do programa. Sendo assim, não poderia deixar de ter como meta entrevistar uma dessas personalidades que é um grande exemplo de brasilidade.
Refiro-me ao astronauta Marcos Cesar Pontes, um brasileiro que tem contribuído muito para o ensino das ciências e na luta pela educação de qualidade entre as crianças e jovens de escolas públicas e privadas do país inteiro.
Assim sendo, entramos em contato com sua assessoria de imprensa representada pelo Sr. Hermes Suzuki (ao qual agradecemos publicamente a atenção) solicitando ao astronauta a gentileza de responder algumas perguntas visando assim esclarecer as dúvidas e curiosidades do blog.
Prontamente após a sua assessoria ter enviado as perguntas via e-mail ao astronauta em Houston, o mesmo as respondeu com propriedade esclarecendo todas as nossas dúvidas e curiosidades.
Aproveito para agradecer ao astronauta Marcos Cesar Pontes pela atenção dispensada ao blog “BRAZILIAN SPACE” e transcrevo abaixo na íntegra para o leitor a entrevista realizada com o mesmo.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Bom coronel gostaria de iniciar a entrevista com a seguinte pergunta:
BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua visão do cancelamento do programa Constellation por parte do presidente Obama?
MARCOS PONTES: Por enquanto isso é uma possibilidade. A sugestão do Presidente ainda precisa ser analisada e aprovada pelo Congresso. Com centros da NASA distribuídos por diversos estados e empregando milhares de eleitores em cada um deles, certamente haverá forte rejeição política à essa sugestão. Precisamos esperar para ver o que acontece. Historicamente, todas as vezes que algum orçamento importante foi colocado como passível de corte, a NASA acabou conseguindo ainda mais recursos do que o original. Eles tem um bom histórico.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, qual é a atual situação do Brasil junto ao programa da “Estação Espacial Internacional”, o Brasil foi realmente expulso do programa?
MARCOS PONTES: O Brasil não foi expulso do programa, apesar de nunca ter conseguido produzir as partes acordadas na indústria nacional. Depois de esgotadas as negociações entre NASA e AEB para a continuidade do programa, a discussão “subiu” para o nível MRE e Departamento de Estado. Lembre-se que este é um acordo assinado entre dois países e não entre duas agências. O acordo nunca foi cancelado. Atualmente, o pais continua no programa em uma situação de congelamento técnico. Isto é, não há nenhuma parte da espaçonave que possa ser produzida no país e encaixada nos manifestos dos vôos (que já estão fechados). Porém, dependendo das direções que o programa constelação tomar, o programa da ISS pode ter modificações e impulsos, o que pode até reativar a nossa participação.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua atual função em Houston?
MARCOS PONTES: Eu tenho a função de astronauta. Isto é, fico à disposição da AEB para uma nova escalação para vôo espacial. Posso ser escalado a qualquer momento, à critério único de decisão da AEB/Governo Brasileiro. Uma escalação ocorre normalmente com 1 ano a 6 meses de antecedência. A partir do momento da escalação, eu passo a ter dedicação exclusiva ao treinamento específico da missão (atualização de sistemas, procedimentos específicos, experimentos, etc.). Da mesma forma que falamos dos possíveis impactos dos destinos do programa constelação sobre o programa da ISS, também as probabilidades de uma nova escalação podem ser alteradas por isso. No momento, acho improvável (porém muito mais simples do que antes do ano de 2000, visto que agora o Brasil tem um astronauta profissional formado e à disposição). Enquanto não sou escalado, caso a AEB precise de algum contato técnico que eu possa realizar em Houston, eu também estou à disposição para executar. Isto é, fico à disposição como liaison técnico (função que já tenho desde 2000). Com a situação de “congelamento técnico” do Brasil na ISS, as coisas estão extremamente silenciosas no setor técnico também.
BRAZILIAN SPACE: O senhor está atualmente envolvido diretamente com algum projeto de desenvolvimento ligado ao PEB?
MARCOS PONTES: O meu trabalho, seja como professor, ou como pesquisador, ou como Diretor Técnico Espacial do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, ou junto à AEB, tem impactos importantes para o desenvolvimento do PEB. Como visto nas questões anteriores, o meu envolvimento direto é com a AEB, que é o órgão central de estratégia e administração do PEB. A execução dos projetos técnicos do PEB fica por conta, basicamente, do CTA e do INPE. Além da participação direta, pelos últimos doze anos, no projeto da Estação Espacial Internacional, certamente, eu represento um grande trunfo no PEB no setor técnico de gerenciamento de projetos, desenvolvimento de RH, e nas relações institucionais do programa. Eu conheço e trabalho com os mais avançados projetos do setor espacial do mundo há muitos anos. Essa experiência tem sido atualmente focada para o setor do PEB onde temos um enorme gargalo: a motivação e formação de recursos humanos. Nesse ponto, além da motivação de jovens para as carreiras de C&T em todo o Brasil através de palestras, AEB escola, mídia e eventos educacionais, eu trabalho junto à USP em São Carlos, no Departamento de Engenharia Aeronáutica, para a criação de um curso público de engenharia aeroespacial que possa envolver pessoal altamente qualificado de diversos países (NASA, JAXA, ESA, etc) para formarmos engenheiros de grande gabarito para o nosso programa espacial.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o seu trabalho no setor de educação junto às escolas da rede pública através da organização FIRST e de sua participação no programa “AEB Escola” é exemplar e merecedor de todos os elogios. No entanto, não existe por parte do senhor a idéia de realizar um programa semelhante ao prestado pela FIRST com o apoio de alguma instituição brasileira, como a Petrobrás, por exemplo?
MARCOS PONTES: Tentamos algumas aproximações com possíveis sponsors para programas de educação, como a AEB escola. Infelizmente, diferente dos USA, onde iniciativas voltadas para a educação, como a FIRST, tem muitos patrocinadores (a FIRST tem 4000 patrocinadores), os patrocinadores no Brasil não se interessam tanto pelo assunto educação. Isto é, de forma geral, aqui é mais fácil conseguir patrocínio para um show de pagode do que para um programa educativo.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o astronauta de origem costa riquenha, Franklin Chang Diaz, após ter deixado a NASA montou uma empresa que está atualmente envolvida no desenvolvimento de um motor iônico (a plasma) que se espera ser o propulsor do futuro nas viagens espaciais. Com as devidas proporções e com o conhecimento adquirido pelo senhor durante todo seu período de formação, uma empreitada como esta não poderia ser realizada com o apoio do governo ou com recursos privados visando acelerar o desenvolvimento de motores-foguetes líquidos no Brasil?
MARCOS PONTES: Sem dúvida! O empreendedorismo deveria ser mais incentivado nesse setor no Brasil. Além disso, precisamos ter uma participação MUITO mais ativa do setor privado na área de pesquisa e desenvolvimento. No Brasil isso é praticamente uma função exclusiva do setor público, ficando o setor privado apenas na produção. No cenário atual, e se queremos participar do mercado internacional de alta tecnologia, a parceria dos setores público, privado, e terceiro setor, é algo ESSENCIAL!
BRAZILIAN SPACE: Recentemente em entrevista ao blog o Coronel Antônio Carlos Kasemodel do IAE divulgou que o instituto está se mobilizando com a DLR alemã para desenvolverem em conjunto o VLM-1 (Veículo Lançador de Microsatélites). Em sua opinião realmente existe mercado para esse tipo de foguete no mundo?
MARCOS PONTES: Existe, mas para isso, na minha opinião, é preciso ter um pacote completo e competitivo. A inclusão das operações de lançamento, telemetria e tratamento de dados poderia tornar o produto bastante atraente para universidades, empresas e centros de pesquisas de diversos países.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o INPE, a UFABC, a UnB, UNESP, USP, UFRJ e o ON estão numa luta difícil para aprovar junto ao AEB/MCT um dos projetos de desenvolvimento que o blog considera como sendo um dos mais inovadores surgidos no PEB nos últimos anos, ou seja, o projeto ASTER (missão para um asteróide próximo da terra) em parceria com os russos. Em sua opinião, quais seriam os ganhos de uma missão como essa para o Brasil, caso a mesma venha a ser aprovada?
MARCOS PONTES: Sou favorável ao projeto, mas observo que é essencial que o projeto tenha uma forte componente de interação internacional no desenvolvimento dos sistemas e operação da missão. O que quero dizer com isso é que precisamos ir muito além da construção de algumas partes no Brasil e da integração das mesmas no equipamento (sem troca de conhecimento de desenvolvimento). Precisamos ter intercâmbio intenso de pesquisadores, engenheiros, etc., com participação ativa do nosso pessoal durante todas as fases e com foco nos sistemas que mais nos interessam como controle e propulsão.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, tem chegado ao nosso conhecimento rumores ainda não confirmados de que o acordo de cooperação espacial com os russos para o desenvolvimento do motor L75 e do VLS ALFA não vai bem, inclusive com os russos se recusando a cumprir o acordado, o que em nossa opinião não é de se estranhar, já que o governo brasileiro não vem dando a atenção devida a esse crucial acordo, preferindo apoiar a mal engenhada ACS e completando o desastre esta de namoro explicito com a EADS Astruim. Qual é a sua opinião sobre esta situação toda?
MARCOS PONTES: Não tenho conhecimento dos detalhes desses possíveis “ruídos” nos projetos. Contudo, pela experiência do Brasil na ISS, é importante que haja muita análise nos termos dos acordos durante a fase de negociação e que, uma vez assinados, eles sejam cumpridos à risca e com toda a consideração internacional necessária e que haja toda a transparência possível com as partes interessadas. Isso costuma evitar problemas dessa natureza.
BRAZILIAN SPACE: Em uma recente entrevista do senhor a “Rádio Vida Nova” de Jaboticabal (SP), o senhor ressaltou a importância do Programa de Microgravidade da AEB para o Brasil, programa esse que vem fazendo um vôo de quatro em quatro anos. O senhor não acha que essa freqüência baixa de vôos prejudica o andamento das pesquisas em curso desestimulando o pesquisador e levando-o a procurar outras opções?
MARCOS PONTES: Concordo 100% contigo. A freqüência de vôos é baixa e não é só isso que nos prejudica. Precisamos ter mais meios de desenvolvimento científico disponíveis: rede de tecnologia ativa e forte, para congregar instituições de pesquisa, academia, empresas e AEB, focando e centralizando o conhecimento gerado em alinhamento com as políticas ditadas pela AEB, temos que ter um grupo dedicado para análise e aprovação de experimentos e projetos e também temos que ter laboratórios e meios (como aeronave tripulada para zero g, centrifuga, torre de soltura, UAVs para zero g, satélites/plataformas para experimentos, etc.). Alem de tudo isso, temos que ter maior interação entre os setores publico e privado, maior estabilidade de orçamentos e objetivos dos projetos, e um plano de carreira mais “atraente” para o pessoal de pesquisa e desenvolvimento no setor.
Este problema é exatamente o foco principal do nosso trabalho na USP, no Instituto de Estudos Avançados, com a criação, idealizada pelo Professor Dr. Sérgio Mascarenhas, da ALICE (Associação de Laboratórios Interdisciplinares de Ciências Espaciais) .
BRAZILIAN SPACE: Continuando no Programa de Microgravidade da AEB coronel, em 21/11/2006 foi lançado pela a agência o 3° AO (Anúncio de Oportunidade) que previa o lançamento de experimentos por um foguete VSB-30 (estava prevista para ocorrer em julho de 2008 e está agora prevista para outubro de 2010) e uma outra série de experimentos (prevista para ser lançada em setembro de 2009 e atualmente sem previsão de lançamento) que seria enviada a estação espacial por uma nave Soyuz. O senhor sabe quando essa missão para a ISS será realizada?
MARCOS PONTES: Todo o cenário envolvendo missões internacionais para a ISS está um tanto “nebuloso” no momento, enquanto os USA não decidem sobre o programa Constelação. Assim que a decisão seja feita nos USA e a situação estabilizar teremos uma condição melhor de “apontar” o nosso esforço. O que eu espero, e o que eu lutarei para acontecer, é que consigamos incluir o Brasil, nossas universidades, centros de pesquisas e empresas, no desenvolvimento de experimentos e sistemas interessantes para o nosso pais no programa em parceria com a NASA (ou com as empresas do setor privado responsável), ou em outra hipótese, com a Rússia ou o Japão (com o qual tenho ótimo relacionamento devido aos anos de trabalho no programa do Kibo).
BRAZILIAN SPACE: Bem coronel, completando a nossa pequena entrevista, existe alguma previsão ou data agendada para um segundo vôo do senhor ao espaço?
MARCOS PONTES: Ainda não. Mas a expectativa é sempre muito grande. Logicamente, sei que, com toda a incerteza do momento no programa americano e as atuais prioridades do PEB, a probabilidade de uma escalação são baixas. Porém....são muito maiores do que eram antes de 1998. Pense nisso: naquela época, eu sonhava com o espaço, mas não havia como. Era como se existisse uma floresta densa entre meu sonho e eu. Hoje eu continuo sonhando com o espaço... e, ao invés da floresta, existe uma estrada de asfalto (interditada temporariamente) que pode me levar de volta ao espaço, ou levar um dos meus alunos para lá (o que me deixaria até mais, feliz!!!)
Olá amigos!
Desde que resolvi criar o blog “BRAZILIAN SPACE” tenho o desejo de entrevistar as personalidades do PEB que mais tem contribuído para o futuro do programa. Sendo assim, não poderia deixar de ter como meta entrevistar uma dessas personalidades que é um grande exemplo de brasilidade.
Refiro-me ao astronauta Marcos Cesar Pontes, um brasileiro que tem contribuído muito para o ensino das ciências e na luta pela educação de qualidade entre as crianças e jovens de escolas públicas e privadas do país inteiro.
Assim sendo, entramos em contato com sua assessoria de imprensa representada pelo Sr. Hermes Suzuki (ao qual agradecemos publicamente a atenção) solicitando ao astronauta a gentileza de responder algumas perguntas visando assim esclarecer as dúvidas e curiosidades do blog.
Prontamente após a sua assessoria ter enviado as perguntas via e-mail ao astronauta em Houston, o mesmo as respondeu com propriedade esclarecendo todas as nossas dúvidas e curiosidades.
Aproveito para agradecer ao astronauta Marcos Cesar Pontes pela atenção dispensada ao blog “BRAZILIAN SPACE” e transcrevo abaixo na íntegra para o leitor a entrevista realizada com o mesmo.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
Bom coronel gostaria de iniciar a entrevista com a seguinte pergunta:
BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua visão do cancelamento do programa Constellation por parte do presidente Obama?
MARCOS PONTES: Por enquanto isso é uma possibilidade. A sugestão do Presidente ainda precisa ser analisada e aprovada pelo Congresso. Com centros da NASA distribuídos por diversos estados e empregando milhares de eleitores em cada um deles, certamente haverá forte rejeição política à essa sugestão. Precisamos esperar para ver o que acontece. Historicamente, todas as vezes que algum orçamento importante foi colocado como passível de corte, a NASA acabou conseguindo ainda mais recursos do que o original. Eles tem um bom histórico.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, qual é a atual situação do Brasil junto ao programa da “Estação Espacial Internacional”, o Brasil foi realmente expulso do programa?
MARCOS PONTES: O Brasil não foi expulso do programa, apesar de nunca ter conseguido produzir as partes acordadas na indústria nacional. Depois de esgotadas as negociações entre NASA e AEB para a continuidade do programa, a discussão “subiu” para o nível MRE e Departamento de Estado. Lembre-se que este é um acordo assinado entre dois países e não entre duas agências. O acordo nunca foi cancelado. Atualmente, o pais continua no programa em uma situação de congelamento técnico. Isto é, não há nenhuma parte da espaçonave que possa ser produzida no país e encaixada nos manifestos dos vôos (que já estão fechados). Porém, dependendo das direções que o programa constelação tomar, o programa da ISS pode ter modificações e impulsos, o que pode até reativar a nossa participação.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua atual função em Houston?
MARCOS PONTES: Eu tenho a função de astronauta. Isto é, fico à disposição da AEB para uma nova escalação para vôo espacial. Posso ser escalado a qualquer momento, à critério único de decisão da AEB/Governo Brasileiro. Uma escalação ocorre normalmente com 1 ano a 6 meses de antecedência. A partir do momento da escalação, eu passo a ter dedicação exclusiva ao treinamento específico da missão (atualização de sistemas, procedimentos específicos, experimentos, etc.). Da mesma forma que falamos dos possíveis impactos dos destinos do programa constelação sobre o programa da ISS, também as probabilidades de uma nova escalação podem ser alteradas por isso. No momento, acho improvável (porém muito mais simples do que antes do ano de 2000, visto que agora o Brasil tem um astronauta profissional formado e à disposição). Enquanto não sou escalado, caso a AEB precise de algum contato técnico que eu possa realizar em Houston, eu também estou à disposição para executar. Isto é, fico à disposição como liaison técnico (função que já tenho desde 2000). Com a situação de “congelamento técnico” do Brasil na ISS, as coisas estão extremamente silenciosas no setor técnico também.
BRAZILIAN SPACE: O senhor está atualmente envolvido diretamente com algum projeto de desenvolvimento ligado ao PEB?
MARCOS PONTES: O meu trabalho, seja como professor, ou como pesquisador, ou como Diretor Técnico Espacial do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, ou junto à AEB, tem impactos importantes para o desenvolvimento do PEB. Como visto nas questões anteriores, o meu envolvimento direto é com a AEB, que é o órgão central de estratégia e administração do PEB. A execução dos projetos técnicos do PEB fica por conta, basicamente, do CTA e do INPE. Além da participação direta, pelos últimos doze anos, no projeto da Estação Espacial Internacional, certamente, eu represento um grande trunfo no PEB no setor técnico de gerenciamento de projetos, desenvolvimento de RH, e nas relações institucionais do programa. Eu conheço e trabalho com os mais avançados projetos do setor espacial do mundo há muitos anos. Essa experiência tem sido atualmente focada para o setor do PEB onde temos um enorme gargalo: a motivação e formação de recursos humanos. Nesse ponto, além da motivação de jovens para as carreiras de C&T em todo o Brasil através de palestras, AEB escola, mídia e eventos educacionais, eu trabalho junto à USP em São Carlos, no Departamento de Engenharia Aeronáutica, para a criação de um curso público de engenharia aeroespacial que possa envolver pessoal altamente qualificado de diversos países (NASA, JAXA, ESA, etc) para formarmos engenheiros de grande gabarito para o nosso programa espacial.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o seu trabalho no setor de educação junto às escolas da rede pública através da organização FIRST e de sua participação no programa “AEB Escola” é exemplar e merecedor de todos os elogios. No entanto, não existe por parte do senhor a idéia de realizar um programa semelhante ao prestado pela FIRST com o apoio de alguma instituição brasileira, como a Petrobrás, por exemplo?
MARCOS PONTES: Tentamos algumas aproximações com possíveis sponsors para programas de educação, como a AEB escola. Infelizmente, diferente dos USA, onde iniciativas voltadas para a educação, como a FIRST, tem muitos patrocinadores (a FIRST tem 4000 patrocinadores), os patrocinadores no Brasil não se interessam tanto pelo assunto educação. Isto é, de forma geral, aqui é mais fácil conseguir patrocínio para um show de pagode do que para um programa educativo.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o astronauta de origem costa riquenha, Franklin Chang Diaz, após ter deixado a NASA montou uma empresa que está atualmente envolvida no desenvolvimento de um motor iônico (a plasma) que se espera ser o propulsor do futuro nas viagens espaciais. Com as devidas proporções e com o conhecimento adquirido pelo senhor durante todo seu período de formação, uma empreitada como esta não poderia ser realizada com o apoio do governo ou com recursos privados visando acelerar o desenvolvimento de motores-foguetes líquidos no Brasil?
MARCOS PONTES: Sem dúvida! O empreendedorismo deveria ser mais incentivado nesse setor no Brasil. Além disso, precisamos ter uma participação MUITO mais ativa do setor privado na área de pesquisa e desenvolvimento. No Brasil isso é praticamente uma função exclusiva do setor público, ficando o setor privado apenas na produção. No cenário atual, e se queremos participar do mercado internacional de alta tecnologia, a parceria dos setores público, privado, e terceiro setor, é algo ESSENCIAL!
BRAZILIAN SPACE: Recentemente em entrevista ao blog o Coronel Antônio Carlos Kasemodel do IAE divulgou que o instituto está se mobilizando com a DLR alemã para desenvolverem em conjunto o VLM-1 (Veículo Lançador de Microsatélites). Em sua opinião realmente existe mercado para esse tipo de foguete no mundo?
MARCOS PONTES: Existe, mas para isso, na minha opinião, é preciso ter um pacote completo e competitivo. A inclusão das operações de lançamento, telemetria e tratamento de dados poderia tornar o produto bastante atraente para universidades, empresas e centros de pesquisas de diversos países.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, o INPE, a UFABC, a UnB, UNESP, USP, UFRJ e o ON estão numa luta difícil para aprovar junto ao AEB/MCT um dos projetos de desenvolvimento que o blog considera como sendo um dos mais inovadores surgidos no PEB nos últimos anos, ou seja, o projeto ASTER (missão para um asteróide próximo da terra) em parceria com os russos. Em sua opinião, quais seriam os ganhos de uma missão como essa para o Brasil, caso a mesma venha a ser aprovada?
MARCOS PONTES: Sou favorável ao projeto, mas observo que é essencial que o projeto tenha uma forte componente de interação internacional no desenvolvimento dos sistemas e operação da missão. O que quero dizer com isso é que precisamos ir muito além da construção de algumas partes no Brasil e da integração das mesmas no equipamento (sem troca de conhecimento de desenvolvimento). Precisamos ter intercâmbio intenso de pesquisadores, engenheiros, etc., com participação ativa do nosso pessoal durante todas as fases e com foco nos sistemas que mais nos interessam como controle e propulsão.
BRAZILIAN SPACE: Coronel, tem chegado ao nosso conhecimento rumores ainda não confirmados de que o acordo de cooperação espacial com os russos para o desenvolvimento do motor L75 e do VLS ALFA não vai bem, inclusive com os russos se recusando a cumprir o acordado, o que em nossa opinião não é de se estranhar, já que o governo brasileiro não vem dando a atenção devida a esse crucial acordo, preferindo apoiar a mal engenhada ACS e completando o desastre esta de namoro explicito com a EADS Astruim. Qual é a sua opinião sobre esta situação toda?
MARCOS PONTES: Não tenho conhecimento dos detalhes desses possíveis “ruídos” nos projetos. Contudo, pela experiência do Brasil na ISS, é importante que haja muita análise nos termos dos acordos durante a fase de negociação e que, uma vez assinados, eles sejam cumpridos à risca e com toda a consideração internacional necessária e que haja toda a transparência possível com as partes interessadas. Isso costuma evitar problemas dessa natureza.
BRAZILIAN SPACE: Em uma recente entrevista do senhor a “Rádio Vida Nova” de Jaboticabal (SP), o senhor ressaltou a importância do Programa de Microgravidade da AEB para o Brasil, programa esse que vem fazendo um vôo de quatro em quatro anos. O senhor não acha que essa freqüência baixa de vôos prejudica o andamento das pesquisas em curso desestimulando o pesquisador e levando-o a procurar outras opções?
MARCOS PONTES: Concordo 100% contigo. A freqüência de vôos é baixa e não é só isso que nos prejudica. Precisamos ter mais meios de desenvolvimento científico disponíveis: rede de tecnologia ativa e forte, para congregar instituições de pesquisa, academia, empresas e AEB, focando e centralizando o conhecimento gerado em alinhamento com as políticas ditadas pela AEB, temos que ter um grupo dedicado para análise e aprovação de experimentos e projetos e também temos que ter laboratórios e meios (como aeronave tripulada para zero g, centrifuga, torre de soltura, UAVs para zero g, satélites/plataformas para experimentos, etc.). Alem de tudo isso, temos que ter maior interação entre os setores publico e privado, maior estabilidade de orçamentos e objetivos dos projetos, e um plano de carreira mais “atraente” para o pessoal de pesquisa e desenvolvimento no setor.
Este problema é exatamente o foco principal do nosso trabalho na USP, no Instituto de Estudos Avançados, com a criação, idealizada pelo Professor Dr. Sérgio Mascarenhas, da ALICE (Associação de Laboratórios Interdisciplinares de Ciências Espaciais) .
BRAZILIAN SPACE: Continuando no Programa de Microgravidade da AEB coronel, em 21/11/2006 foi lançado pela a agência o 3° AO (Anúncio de Oportunidade) que previa o lançamento de experimentos por um foguete VSB-30 (estava prevista para ocorrer em julho de 2008 e está agora prevista para outubro de 2010) e uma outra série de experimentos (prevista para ser lançada em setembro de 2009 e atualmente sem previsão de lançamento) que seria enviada a estação espacial por uma nave Soyuz. O senhor sabe quando essa missão para a ISS será realizada?
MARCOS PONTES: Todo o cenário envolvendo missões internacionais para a ISS está um tanto “nebuloso” no momento, enquanto os USA não decidem sobre o programa Constelação. Assim que a decisão seja feita nos USA e a situação estabilizar teremos uma condição melhor de “apontar” o nosso esforço. O que eu espero, e o que eu lutarei para acontecer, é que consigamos incluir o Brasil, nossas universidades, centros de pesquisas e empresas, no desenvolvimento de experimentos e sistemas interessantes para o nosso pais no programa em parceria com a NASA (ou com as empresas do setor privado responsável), ou em outra hipótese, com a Rússia ou o Japão (com o qual tenho ótimo relacionamento devido aos anos de trabalho no programa do Kibo).
BRAZILIAN SPACE: Bem coronel, completando a nossa pequena entrevista, existe alguma previsão ou data agendada para um segundo vôo do senhor ao espaço?
MARCOS PONTES: Ainda não. Mas a expectativa é sempre muito grande. Logicamente, sei que, com toda a incerteza do momento no programa americano e as atuais prioridades do PEB, a probabilidade de uma escalação são baixas. Porém....são muito maiores do que eram antes de 1998. Pense nisso: naquela época, eu sonhava com o espaço, mas não havia como. Era como se existisse uma floresta densa entre meu sonho e eu. Hoje eu continuo sonhando com o espaço... e, ao invés da floresta, existe uma estrada de asfalto (interditada temporariamente) que pode me levar de volta ao espaço, ou levar um dos meus alunos para lá (o que me deixaria até mais, feliz!!!)
Editado pela última vez por Brazilian Space em Qui Jul 08, 2010 4:49 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
ITASAT - Entrevista com o Coordenador do Projeto
Olá amigos!
Dando continuidade a série de entrevista com personalidades do Programa Espacial Brasileiro, segue abaixo a entrevista com o coordenador do projeto do satélite universitário ITASAT, o professor de Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), David Fernandes, ao qual agradeço publicamente pela atenção dispensada a nosso blog.
Aproveito também para agradecer ao jovem engenheiro Danilo Miranda da turma pioneira de Engenharia Aeroespacial do ITA pela intermediação deste contato.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
BRAZILIAN SPACE: Em que situação encontra-se o desenvolvimento do satélite ITASAT?
PROF. DAVID FERNANDES: No momento o Projeto está concluindo a fase A (viabilidade) e iniciando a fase B (definição preliminar) estando previsto para novembro de 2010 a Revisão do Projeto Preliminar (PDR - Preliminary Design Review).
Como está configurado no presente momento o satélite ITASAT-1 será um satélite de coleta de dados espinado que ficará em uma órbita polar ou de grande inclinação (maior ou igual a 25o) a uma altitude aproximada de 600km de altitude (baixa órbita). Tem as dimensões aproximadas de 60x60x60 cm e uma massa estimada de 85kg. A Carga útil principal do ITASAT-1 é um equipamento de coleta de dados digital. O satélite terá ainda, como carga útil, dois experimentos: um estimador de atitude que utiliza dispositivos MEMS e um experimento no qual serão realizadas medidas térmicas para fins de validação de modelos térmicos teóricos.
Estrutura do satélite e da sua configuração interna
O ITASAT tem dimensões de 600x600x600 mm
BRAZILIAN SPACE: Já existe previsão para o seu lançamento?
DAVID FERNANDES: O ITASAT deverá estar pronto para ser lançado, como carona (carga secundária de um lançador) no fim de 2012, início de 2013. O Lançador poderá ser qualquer um que possa injetar o satélite em órbita polar, ou de inclinação superior a 25o, a uma altitude aproximada de 600 km.
BRAZILIAN SPACE: Existe interesse do ITA e das instituições envolvidas em prosseguir com esse tipo de projeto, após o lançamento do ITASAT?
DAVID FERNANDES: O projeto ITASAT tem: a) o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) como o responsável pela execução do Projeto e coordenador da participação de outras instituições de ensino e pesquisa; b) o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) como provedor de consultoria técnica, de infra-estrutura laboratorial e gestor financeiro do Projeto e c) a Agência Espacial Brasileira (AEB) como coordenadora geral e patrocinadora principal do Projeto.
Através do ITA participam ainda a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da USP), a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Também já participou do projeto a UnB (Universidade de Brasília). Participam alunos da FEG-UNESP (Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da UNESP) e alunos a TU Berlin (Universidade Técnica de Berlin) estes últimos através do Programa UNIBRAL da CAPES/DAAD.
O ITASAT está inserido no contexto da Ação 4934/AEB do Plano Plurianual – PPA, de “Desenvolvimento e Lançamento de Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte”. A Ação 4934 consiste na realização de uma série de missões destinadas a realizar experimentos, desenvolver e testar inovações de tecnologia de satélites e cargas úteis, e capacitar a indústria espacial brasileira neste segmento. O Projeto “Missão” ITASAT é o primeiro projeto-missão desse programa.
Pretende-se ter uma família de satélites ITASAT sendo o primeiro, o ITASAT-1, um satélite de coleta de dados.
BRAZILIAN SPACE: Quais serão os reais ganhos para o PEB, além do conhecido beneficio que esse satélite trará para o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais”?
DAVID FERNANDES: O Projeto ITASAT-1 visa o projeto, construção, lançamento e operação de um satélite universitário tecnológico com a missão de coleta de dados. Mesmo não sendo um satélite operacional ele esta sendo projetado para ser compatível com o Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais.
Com este projeto está se formando recursos humanos (graduação e pós-graduação no ITA e nas instituições participantes) na área espacial e em todos os aspectos que se relacional ao projeto, construção e operação de um satélite. Em março de 2010 o projeto contava com 17 alunos bolsistas de pós-graduação e 7 alunos bolsista de graduação.
O ITASAT, como satélite universitário, testará vários conceitos, entre eles o controle de atitude do satélite, o computador de bordo, o sistema de suprimento de energia, a estrutura do satélite e o seu controle térmico, além das cargas úteis, que incluem dois experimentos. Este projeto também poderá servir de referência para outras iniciativas de satélites universitários.
BRAZILIAN SPACE: Com a desativação do CBERS-2B e o avançado estágio de envelhecimento dos satélites SCD-1 e SCD-2, parece claro que o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais” pode entrar em colapso a qualquer momento. Se assim for, a importância hoje do projeto do satélite ITASAT ganha proporções bastante significativas, e como tal não deve ser tratado como carga útil descartável como divulgado por algumas matérias em jornais de grande circulação, dando entender que o mesmo seria lançado num dos vôos tecnológicos do VLS-1. Qual é a sua visão sobre esta possibilidade levantada pela mídia?
DAVID FERNANDES: Apesar da importância e da relevância da missão do ITASAT-1 ele é um satélite tecnológico projetado e construído por estudantes, com o apoio dos seus orientadores e dos engenheiros e pesquisadores do INPE. Na sua construção procura-se utilizar componentes COTS (Commertial off-the-shelf) e que não tenham restrições de compra, além disso ele deve ser de baixo custo. Nos satélites universitários procura-se também testar novos conceitos e pode-se, por assim dizer, arriscar mais.
Devido as restrições de custo os satélites universitários eles são lançados, em geral, como caronas. Este será o caso do ITASAT. Temos em vista vários lançadores e o projeto do ITASAT prevê as restrições que os possíveis lançadores possam impor. A incerteza do lançador, no início do projeto, também impõe desafios e uma série de restrições, que acabam complicando o projeto.
Espera-se que o ITASAT seja lançado como carona de um lançador qualificado que atenda o envelope de restrições do satélite.
BRAZILIAN SPACE: Se o blog não estiver enganado existe um acordo assinado com a Índia que cobre perfeitamente o lançamento deste satélite por um foguete indiano em “piggy-back” (Carona). Não seria esta uma boa opção para a satelitização do ITASAT?
DAVID FERNANDES: Está é uma das possibilidades e a equipe de projeto do ITASAT está levando as características deste lançador em conta.
BRAZILIAN SPACE: Outra opção talvez fosse o lançamento do mesmo pelos chineses de carona com o CBERS-3 ou 4. Existe essa possibilidade?
DAVID FERNANDES: Assim como o lançador Indiano é uma possibilidade outras opções também estão sendo levadas em conta.
A escolha definitiva do lançador deverá ocorrer em 2012 e nesta escolha vários aspectos estarão presentes, entre eles: a compatibilidade entre o ITASAT-1, o lançador e a carga principal do lançador, os acordos existentes entre as empresas/governos e AEB, o custo do lançamento, a época em que ocorrerá o lançamento etc.
Olá amigos!
Dando continuidade a série de entrevista com personalidades do Programa Espacial Brasileiro, segue abaixo a entrevista com o coordenador do projeto do satélite universitário ITASAT, o professor de Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), David Fernandes, ao qual agradeço publicamente pela atenção dispensada a nosso blog.
Aproveito também para agradecer ao jovem engenheiro Danilo Miranda da turma pioneira de Engenharia Aeroespacial do ITA pela intermediação deste contato.
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
http://brazilianspace.blogspot.com/
BRAZILIAN SPACE: Em que situação encontra-se o desenvolvimento do satélite ITASAT?
PROF. DAVID FERNANDES: No momento o Projeto está concluindo a fase A (viabilidade) e iniciando a fase B (definição preliminar) estando previsto para novembro de 2010 a Revisão do Projeto Preliminar (PDR - Preliminary Design Review).
Como está configurado no presente momento o satélite ITASAT-1 será um satélite de coleta de dados espinado que ficará em uma órbita polar ou de grande inclinação (maior ou igual a 25o) a uma altitude aproximada de 600km de altitude (baixa órbita). Tem as dimensões aproximadas de 60x60x60 cm e uma massa estimada de 85kg. A Carga útil principal do ITASAT-1 é um equipamento de coleta de dados digital. O satélite terá ainda, como carga útil, dois experimentos: um estimador de atitude que utiliza dispositivos MEMS e um experimento no qual serão realizadas medidas térmicas para fins de validação de modelos térmicos teóricos.
Estrutura do satélite e da sua configuração interna
O ITASAT tem dimensões de 600x600x600 mm
BRAZILIAN SPACE: Já existe previsão para o seu lançamento?
DAVID FERNANDES: O ITASAT deverá estar pronto para ser lançado, como carona (carga secundária de um lançador) no fim de 2012, início de 2013. O Lançador poderá ser qualquer um que possa injetar o satélite em órbita polar, ou de inclinação superior a 25o, a uma altitude aproximada de 600 km.
BRAZILIAN SPACE: Existe interesse do ITA e das instituições envolvidas em prosseguir com esse tipo de projeto, após o lançamento do ITASAT?
DAVID FERNANDES: O projeto ITASAT tem: a) o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) como o responsável pela execução do Projeto e coordenador da participação de outras instituições de ensino e pesquisa; b) o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) como provedor de consultoria técnica, de infra-estrutura laboratorial e gestor financeiro do Projeto e c) a Agência Espacial Brasileira (AEB) como coordenadora geral e patrocinadora principal do Projeto.
Através do ITA participam ainda a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da USP), a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Também já participou do projeto a UnB (Universidade de Brasília). Participam alunos da FEG-UNESP (Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da UNESP) e alunos a TU Berlin (Universidade Técnica de Berlin) estes últimos através do Programa UNIBRAL da CAPES/DAAD.
O ITASAT está inserido no contexto da Ação 4934/AEB do Plano Plurianual – PPA, de “Desenvolvimento e Lançamento de Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte”. A Ação 4934 consiste na realização de uma série de missões destinadas a realizar experimentos, desenvolver e testar inovações de tecnologia de satélites e cargas úteis, e capacitar a indústria espacial brasileira neste segmento. O Projeto “Missão” ITASAT é o primeiro projeto-missão desse programa.
Pretende-se ter uma família de satélites ITASAT sendo o primeiro, o ITASAT-1, um satélite de coleta de dados.
BRAZILIAN SPACE: Quais serão os reais ganhos para o PEB, além do conhecido beneficio que esse satélite trará para o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais”?
DAVID FERNANDES: O Projeto ITASAT-1 visa o projeto, construção, lançamento e operação de um satélite universitário tecnológico com a missão de coleta de dados. Mesmo não sendo um satélite operacional ele esta sendo projetado para ser compatível com o Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais.
Com este projeto está se formando recursos humanos (graduação e pós-graduação no ITA e nas instituições participantes) na área espacial e em todos os aspectos que se relacional ao projeto, construção e operação de um satélite. Em março de 2010 o projeto contava com 17 alunos bolsistas de pós-graduação e 7 alunos bolsista de graduação.
O ITASAT, como satélite universitário, testará vários conceitos, entre eles o controle de atitude do satélite, o computador de bordo, o sistema de suprimento de energia, a estrutura do satélite e o seu controle térmico, além das cargas úteis, que incluem dois experimentos. Este projeto também poderá servir de referência para outras iniciativas de satélites universitários.
BRAZILIAN SPACE: Com a desativação do CBERS-2B e o avançado estágio de envelhecimento dos satélites SCD-1 e SCD-2, parece claro que o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais” pode entrar em colapso a qualquer momento. Se assim for, a importância hoje do projeto do satélite ITASAT ganha proporções bastante significativas, e como tal não deve ser tratado como carga útil descartável como divulgado por algumas matérias em jornais de grande circulação, dando entender que o mesmo seria lançado num dos vôos tecnológicos do VLS-1. Qual é a sua visão sobre esta possibilidade levantada pela mídia?
DAVID FERNANDES: Apesar da importância e da relevância da missão do ITASAT-1 ele é um satélite tecnológico projetado e construído por estudantes, com o apoio dos seus orientadores e dos engenheiros e pesquisadores do INPE. Na sua construção procura-se utilizar componentes COTS (Commertial off-the-shelf) e que não tenham restrições de compra, além disso ele deve ser de baixo custo. Nos satélites universitários procura-se também testar novos conceitos e pode-se, por assim dizer, arriscar mais.
Devido as restrições de custo os satélites universitários eles são lançados, em geral, como caronas. Este será o caso do ITASAT. Temos em vista vários lançadores e o projeto do ITASAT prevê as restrições que os possíveis lançadores possam impor. A incerteza do lançador, no início do projeto, também impõe desafios e uma série de restrições, que acabam complicando o projeto.
Espera-se que o ITASAT seja lançado como carona de um lançador qualificado que atenda o envelope de restrições do satélite.
BRAZILIAN SPACE: Se o blog não estiver enganado existe um acordo assinado com a Índia que cobre perfeitamente o lançamento deste satélite por um foguete indiano em “piggy-back” (Carona). Não seria esta uma boa opção para a satelitização do ITASAT?
DAVID FERNANDES: Está é uma das possibilidades e a equipe de projeto do ITASAT está levando as características deste lançador em conta.
BRAZILIAN SPACE: Outra opção talvez fosse o lançamento do mesmo pelos chineses de carona com o CBERS-3 ou 4. Existe essa possibilidade?
DAVID FERNANDES: Assim como o lançador Indiano é uma possibilidade outras opções também estão sendo levadas em conta.
A escolha definitiva do lançador deverá ocorrer em 2012 e nesta escolha vários aspectos estarão presentes, entre eles: a compatibilidade entre o ITASAT-1, o lançador e a carga principal do lançador, os acordos existentes entre as empresas/governos e AEB, o custo do lançamento, a época em que ocorrerá o lançamento etc.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Vai ser feito para o SHEFEX, mas nós estamos interessados em utilizá-lo para o SARA, que pesa 350 kg.BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
Lançar 350 kg em órbita de mais de 200 km é desempenho que ultrapassa o do VLS-1.
Penso que esse S44 está limitando o foguete. Deveriam pensar em avaliar o L-5 (como já foi pensado para o VLS-1, aumentando seu desempenho) ou mesmo o L-15.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Nem assim este foguete seria capaz de colocar 350 Kg m órbita, sendo muito otimista seriam uns 50 Kg.Brasileiro escreveu:Vai ser feito para o SHEFEX, mas nós estamos interessados em utilizá-lo para o SARA, que pesa 350 kg.BRAZILIAN SPACE: Caso seja orbital, estamos falando do VLM?
CEL KASEMODEL: O VLM-1 do qual falamos acima e que estamos iniciando os estudos com os alemães, é completamente diferente do VLM inicialmente concebido e que basicamente seria a parte central do VLS-1.
O VLM-1 deverá empregar no primeiro e segundo estágios, um motor (a ser desenvolvido) a propelente sólido de 10 toneladas de propelente e no terceiro estágio utilizará o propulsor S44, já desenvolvido.
Lançar 350 kg em órbita de mais de 200 km é desempenho que ultrapassa o do VLS-1.
Penso que esse S44 está limitando o foguete. Deveriam pensar em avaliar o L-5 (como já foi pensado para o VLS-1, aumentando seu desempenho) ou mesmo o L-15.
abraços]
Um quarto estágio sólido ou o terceiro com combustível líquido poderia levar isso para uns 120Kg. Mais do que isso só se utilizassem o novo motor de 10 toneladas na mesma configuração cluster do VLS, com todo o custo, complexidade, e riscos envolvidos. Acho que o pessoal da AEB tem um mínimo de bom senso para nem pensar em fazer isso.
O Sara poderá ser lançado com este foguete, mas para vôos sub-orbitais de teste.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Ué, mas se for suborbital não precisa dessa trabalheira toda. Põe num VS-40 que consegue o mesmo efeito...LeandroGCard escreveu:O Sara poderá ser lançado com este foguete, mas para vôos sub-orbitais de teste.
Leandro G. Card
O mesmo vale para o SHEFEX e esse VLM. Não acho válido um foguete novo só para lançar uma carga útil tão específica.
Se conseguirem um nível mínimo de segurança para o VLS-1 (e acho que agora conseguirão), seria ele o lançador mais adequado para essas missões.
abraços]
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Primeiro, o custo do VLS é muito, muito maior que o de um foguete como este, bem mais leve e com um menor número de motores empilhados normalmente ao invés de montados em cluster.Brasileiro escreveu:Ué, mas se for suborbital não precisa dessa trabalheira toda. Põe num VS-40 que consegue o mesmo efeito...LeandroGCard escreveu:O Sara poderá ser lançado com este foguete, mas para vôos sub-orbitais de teste.
Leandro G. Card
O mesmo vale para o SHEFEX e esse VLM. Não acho válido um foguete novo só para lançar uma carga útil tão específica.
Se conseguirem um nível mínimo de segurança para o VLS-1 (e acho que agora conseguirão), seria ele o lançador mais adequado para essas missões.
abraços]
Segundo, o VLS será sempre um foguete inseguro, pois tem eventos demais por vôo.
Agora, dependendo do peso desta carga útil do Shefex pode ser que seja mesmo necessário aumentar um pouco o tamanho do motor S-43 para garantir um tempo adequado em microgravidade, ou uma velocidade suficiente de reentrada. O aumento da carga de propelente para 10 toneladas significa apenas um incremento de aprox. 15% com relação ao S-43, o que pode ser obtido simplesmente com o aumento do comprimento do motor, mantendo tudo o mais praticamente igual. O custo de desenvolver isso seria uma fração do custo de um único VLS.
E o programa espacial brasileiro ainda estará utilizando apenas derivados dos motores-foguetes do programa Sonda da década de 70, como manda a tradição.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Olá Brasileiro e Leandro!
A concepção de um lançador de Microsatélites e para atender cargas úteis (plataformas espaciais e microsatélites) de 20 a 100 kg em óbitas baixas, direcionado para projetos de satélites universitários e tecnologicos de centros de pesquisas, que hoje são lançados de carona em grandes lançadores.
O VLM-1 atenderá o lançamento do SHEFEX III e provavelmente do SHEFEX IV. Isso é realmente estranho, pois o SHEFEX III terá 350 kg, o que transformaria o VLM-1 não mais num lançador de Microsatélite e sim de mini-satelites, segundo a classificação internacional usada atualmente.
Já o Projeto SARA, o mesmo é divido em subobital e orbital.
No caso suborbital, sempre será usado um VS-40 e no futuro, no caso de um aumento de carga dessa plataforma, o VS-43.
No caso orbital, estava previsto desde o início uso do VLS-1 para o seu lançamento. Levando-se em conta que a SARA terá o mesmo peso do SHEFEX III e que os planos do IAE continue como planejado anteriormente, me faz questionar se com a reformulação do foguete feita pelos russos o ultimo estagio não será trocado por um motor de maior capacidade?
Abs
Duda Falcão
A concepção de um lançador de Microsatélites e para atender cargas úteis (plataformas espaciais e microsatélites) de 20 a 100 kg em óbitas baixas, direcionado para projetos de satélites universitários e tecnologicos de centros de pesquisas, que hoje são lançados de carona em grandes lançadores.
O VLM-1 atenderá o lançamento do SHEFEX III e provavelmente do SHEFEX IV. Isso é realmente estranho, pois o SHEFEX III terá 350 kg, o que transformaria o VLM-1 não mais num lançador de Microsatélite e sim de mini-satelites, segundo a classificação internacional usada atualmente.
Já o Projeto SARA, o mesmo é divido em subobital e orbital.
No caso suborbital, sempre será usado um VS-40 e no futuro, no caso de um aumento de carga dessa plataforma, o VS-43.
No caso orbital, estava previsto desde o início uso do VLS-1 para o seu lançamento. Levando-se em conta que a SARA terá o mesmo peso do SHEFEX III e que os planos do IAE continue como planejado anteriormente, me faz questionar se com a reformulação do foguete feita pelos russos o ultimo estagio não será trocado por um motor de maior capacidade?
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Olá amigos!
Está explicado, o vôo do SHEFEX III será suborbital, permitindo assim o uso do VLM-1. No caso de um vôo orbital, sua capacida não utrapassa a 100 kg.
Abs
Duda Falcão
Está explicado, o vôo do SHEFEX III será suborbital, permitindo assim o uso do VLM-1. No caso de um vôo orbital, sua capacida não utrapassa a 100 kg.
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Re: Entrevista com Personalidades do PEB ao Blog BRAZILIAN SPACE
Agora sim faz sentido.Brazilian Space escreveu:Olá amigos!
Está explicado, o vôo do SHEFEX III será suborbital, permitindo assim o uso do VLM-1. No caso de um vôo orbital, sua capacida não utrapassa a 100 kg.
Abs
Duda Falcão
Um foguete usando combustível sólido nos 3 estágios e com motores na faixa de 10 toneladas não pode levar mais que estes 100 Kg até a órbita, na verdade para chegar nisso já deverão ser introduzidas melhorias significativas com relação ao motor S-43 além do aumento do comprimento (provavelmente um estojo de fibra de carbono, que já estava em estudos).
Mas para vôos sub-orbitais daria para colocar muito mais carga, até mais de 500 Kg, dependendo do perfil de vôo desejado.
Leandro G. Card