Centrífuga Paquistanesa (Importante!)
Enviado: Sex Out 01, 2004 12:52 pm
Brasil nega compra de centrífugas do Paquistão
Agência Internacional de Energia Atômica suspeita de operação clandestina
TÂNIA MONTEIRO
BRASíLIA - O governo brasileiro, por meio do Comando da Marinha e do Ministério da Ciência e Tecnologia, repudiou a notícia de que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem insistido em fazer uma inspeção completa no processo brasileiro de enriquecimento de urânio em Resende (RJ), por desconfiar que as centrífugas tenham sido compradas clandestinamente no Paquistão, conforme informou ao Estado um ex-funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
"O Ministério da Ciência e Tecnologia repudia notícias que vêm sendo divulgadas e atribuídas a fontes anônimas e sem respaldo de qualquer instituição ou país, e que tentam associar décadas de desenvolvimento científico e tecnológico a procedimentos escusos ou a escândalos internacionais, cabendo a essas fontes e à mídia que as abriga, o ônus da prova", diz a nota oficial. A Marinha, por sua vez, "nega qualquer tipo de ligação com o Paquistão, quanto ao desenvolvimento das ultracentrífugas brasileiras".
A notícia divulgada ontem pelo Estado causou "surpresa" e "irritação" entre autoridades militares que lembraram o esforço feito, particularmente pelo antigo Ministério da Marinha, para garantir, apesar da falta de recursos, a continuidade do projeto de enriquecimento de urânio para fins pacíficos.
O Ministério da Ciência e Tecnologia esclareceu "que o processo de negociação sobre os procedimentos de inspeção de salvaguardas, a serem implantados na unidade de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil, seguem procedimento absolutamente normal em negociações dessa natureza, não cabendo especulações sobre negação de acesso ou tentativa de não-cumprimento de acordos internacionais por parte do Brasil." "Assim como são infundadas quaisquer especulações sobre suspeita do governo brasileiro em relação às intenções da AIEA." A inspeção está prevista para o dia 18.Governo defende tecnologia nuclear e nega ligação com rede clandestina
Ricardo Balthazar De São Paulo
O Ministério da Ciência e Tecnologia reagiu ontem com irritação à divulgação de notícias em que analistas estrangeiros lançaram dúvidas sobre a origem das tecnologias nucleares usadas pelo Brasil. Esses analistas desconfiam que o país recorreu no passado à mesma rede clandestina de fornecedores que alimentou o programa nuclear de países como Irã, Líbia e Coréia do Norte.
Nota distribuída pelo ministério afirma que ele "não reconhece qualquer sombra de veracidade" nessas notícias e diz que elas "tentam associar décadas de desenvolvimento científico e tecnológico a procedimentos escusos ou a escândalos internacionais, cabendo a essas fontes e à mídia que as abriga o ônus da prova".
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) vem investigando há mais de um ano a rede de empresas que transferiu ilegalmente tecnologias nucleares para o Irã, a Líbia e a Coréia do Norte. Essa rede parece ter sido formada a partir de iniciativas do físico Abdul Qadeer Khan, pai do programa nuclear do Paquistão.
Não apareceu até agora nenhum indício de que o Brasil tenha comprado algo dessas empresas, mas especulações sobre isso tornaram-se freqüentes em meio à queda de braço que o governo brasileiro trava há meses com a AIEA, por causa da planta de enriquecimento de urânio que está prestes a inaugurar na fábrica das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ).
O Brasil não deixa que inspetores da agência examinem suas máquinas de enriquecimento de urânio. O governo alega que precisa proteger a tecnologia desenvolvida no país, mantendo-a longe da curiosidade de observadores estrangeiros, e argumenta que os fiscais da AIEA têm instrumentos para cumprir sua missão e verificar a circulação de material nuclear na fábrica de Resende mesmo sem ver as máquinas.
A suspeita de que o programa nuclear brasileiro recebeu ajuda do Paquistão apareceu pela primeira vez em público em junho, no meio de um artigo da revista britânica "The Economist". Ninguém no governo pareceu se incomodar. Na terça-feira, um especialista manifestou a mesma desconfiança num seminário do Instituto Empresarial Americano, um influente centro de estudos baseado em Washington.
Provocado por um jornalista na platéia, Joseph Cirincione, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, disse que tem ouvido "rumores" sobre o Brasil e o Paquistão e foi direto ao ponto. "Precisamos que o Brasil permita aos inspetores da AIEA acesso integral ao seu programa de enriquecimento de urânio para que possamos entender as origens desse equipamento", afirmou.
Depois foi a vez de Henry Sokolski, um ex-funcionário do Pentágono que hoje dirige o Centro de Educação sobre Política de Não-Proliferação em Washington. Na quarta-feira e ontem, ele deu entrevistas lançando suspeitas sobre o Brasil. Sokolski disse à agência Reuters que os fiscais da AIEA estão "preocupados" com a possibilidade de que Khan tenha apoiado o programa nuclear brasileiro. "Não posso dizer como eu sei, mas eu sei", disse Sokolski.
Essas manifestações são consideradas ofensivas pelo governo brasileiro. Um diplomata que acompanha o assunto de perto disse ao Valor que, na sua opinião, os rumores são alimentados por grupos conservadores sem nenhum aval de autoridades americanas. Para Brasília, o objetivo dessas pessoas seria criar constrangimentos para o Brasil no momento em que ele parece perto de um acordo com a AIEA sobre as inspeções em Resende.
O governo sabe muito pouco sobre as tecnologias que deseja proteger. Elas foram desenvolvidas em segredo pela Marinha, num projeto iniciado na década de 70 que sobrevive com dificuldade hoje. Existem estrangeiros entre os fornecedores da Marinha, mas a lista das empresas ligadas ao programa nuclear é confidencial. Oficiais da Marinha temem que inspeções internacionais mais rigorosas afastem esses fornecedores e ameacem a continuidade do programa.
Agência Internacional de Energia Atômica suspeita de operação clandestina
TÂNIA MONTEIRO
BRASíLIA - O governo brasileiro, por meio do Comando da Marinha e do Ministério da Ciência e Tecnologia, repudiou a notícia de que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem insistido em fazer uma inspeção completa no processo brasileiro de enriquecimento de urânio em Resende (RJ), por desconfiar que as centrífugas tenham sido compradas clandestinamente no Paquistão, conforme informou ao Estado um ex-funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
"O Ministério da Ciência e Tecnologia repudia notícias que vêm sendo divulgadas e atribuídas a fontes anônimas e sem respaldo de qualquer instituição ou país, e que tentam associar décadas de desenvolvimento científico e tecnológico a procedimentos escusos ou a escândalos internacionais, cabendo a essas fontes e à mídia que as abriga, o ônus da prova", diz a nota oficial. A Marinha, por sua vez, "nega qualquer tipo de ligação com o Paquistão, quanto ao desenvolvimento das ultracentrífugas brasileiras".
A notícia divulgada ontem pelo Estado causou "surpresa" e "irritação" entre autoridades militares que lembraram o esforço feito, particularmente pelo antigo Ministério da Marinha, para garantir, apesar da falta de recursos, a continuidade do projeto de enriquecimento de urânio para fins pacíficos.
O Ministério da Ciência e Tecnologia esclareceu "que o processo de negociação sobre os procedimentos de inspeção de salvaguardas, a serem implantados na unidade de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil, seguem procedimento absolutamente normal em negociações dessa natureza, não cabendo especulações sobre negação de acesso ou tentativa de não-cumprimento de acordos internacionais por parte do Brasil." "Assim como são infundadas quaisquer especulações sobre suspeita do governo brasileiro em relação às intenções da AIEA." A inspeção está prevista para o dia 18.Governo defende tecnologia nuclear e nega ligação com rede clandestina
Ricardo Balthazar De São Paulo
O Ministério da Ciência e Tecnologia reagiu ontem com irritação à divulgação de notícias em que analistas estrangeiros lançaram dúvidas sobre a origem das tecnologias nucleares usadas pelo Brasil. Esses analistas desconfiam que o país recorreu no passado à mesma rede clandestina de fornecedores que alimentou o programa nuclear de países como Irã, Líbia e Coréia do Norte.
Nota distribuída pelo ministério afirma que ele "não reconhece qualquer sombra de veracidade" nessas notícias e diz que elas "tentam associar décadas de desenvolvimento científico e tecnológico a procedimentos escusos ou a escândalos internacionais, cabendo a essas fontes e à mídia que as abriga o ônus da prova".
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) vem investigando há mais de um ano a rede de empresas que transferiu ilegalmente tecnologias nucleares para o Irã, a Líbia e a Coréia do Norte. Essa rede parece ter sido formada a partir de iniciativas do físico Abdul Qadeer Khan, pai do programa nuclear do Paquistão.
Não apareceu até agora nenhum indício de que o Brasil tenha comprado algo dessas empresas, mas especulações sobre isso tornaram-se freqüentes em meio à queda de braço que o governo brasileiro trava há meses com a AIEA, por causa da planta de enriquecimento de urânio que está prestes a inaugurar na fábrica das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ).
O Brasil não deixa que inspetores da agência examinem suas máquinas de enriquecimento de urânio. O governo alega que precisa proteger a tecnologia desenvolvida no país, mantendo-a longe da curiosidade de observadores estrangeiros, e argumenta que os fiscais da AIEA têm instrumentos para cumprir sua missão e verificar a circulação de material nuclear na fábrica de Resende mesmo sem ver as máquinas.
A suspeita de que o programa nuclear brasileiro recebeu ajuda do Paquistão apareceu pela primeira vez em público em junho, no meio de um artigo da revista britânica "The Economist". Ninguém no governo pareceu se incomodar. Na terça-feira, um especialista manifestou a mesma desconfiança num seminário do Instituto Empresarial Americano, um influente centro de estudos baseado em Washington.
Provocado por um jornalista na platéia, Joseph Cirincione, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, disse que tem ouvido "rumores" sobre o Brasil e o Paquistão e foi direto ao ponto. "Precisamos que o Brasil permita aos inspetores da AIEA acesso integral ao seu programa de enriquecimento de urânio para que possamos entender as origens desse equipamento", afirmou.
Depois foi a vez de Henry Sokolski, um ex-funcionário do Pentágono que hoje dirige o Centro de Educação sobre Política de Não-Proliferação em Washington. Na quarta-feira e ontem, ele deu entrevistas lançando suspeitas sobre o Brasil. Sokolski disse à agência Reuters que os fiscais da AIEA estão "preocupados" com a possibilidade de que Khan tenha apoiado o programa nuclear brasileiro. "Não posso dizer como eu sei, mas eu sei", disse Sokolski.
Essas manifestações são consideradas ofensivas pelo governo brasileiro. Um diplomata que acompanha o assunto de perto disse ao Valor que, na sua opinião, os rumores são alimentados por grupos conservadores sem nenhum aval de autoridades americanas. Para Brasília, o objetivo dessas pessoas seria criar constrangimentos para o Brasil no momento em que ele parece perto de um acordo com a AIEA sobre as inspeções em Resende.
O governo sabe muito pouco sobre as tecnologias que deseja proteger. Elas foram desenvolvidas em segredo pela Marinha, num projeto iniciado na década de 70 que sobrevive com dificuldade hoje. Existem estrangeiros entre os fornecedores da Marinha, mas a lista das empresas ligadas ao programa nuclear é confidencial. Oficiais da Marinha temem que inspeções internacionais mais rigorosas afastem esses fornecedores e ameacem a continuidade do programa.