Cerveja
Moderador: Conselho de Moderação
Cerveja
Boa Tarde Srs.,
Como todos devem saber, minha saúde é bem debilitada. No entando, jamais fui proibido, por médico que fosse, de beber uma Cerveja, desde que, é claro, em doses bem moderadas.
O fato é que na minha mocidade, sempre gostei de cerveja "gelada e em aldas doses", mas a idade faz milagres com nosso modo de vida e com nosso fígado, eh, eh, eh.
Com o tempo, acostumei-me à degustar a cerveja, saboreá-la. Desta feita, gostaria de criar este tópico para debatermos este tão precioso tema.
Saudações,
Hayes.
Como todos devem saber, minha saúde é bem debilitada. No entando, jamais fui proibido, por médico que fosse, de beber uma Cerveja, desde que, é claro, em doses bem moderadas.
O fato é que na minha mocidade, sempre gostei de cerveja "gelada e em aldas doses", mas a idade faz milagres com nosso modo de vida e com nosso fígado, eh, eh, eh.
Com o tempo, acostumei-me à degustar a cerveja, saboreá-la. Desta feita, gostaria de criar este tópico para debatermos este tão precioso tema.
Saudações,
Hayes.
LUGAR DE OFF TOPIC É NO OUTRO TÓPICO
"Essa é a nossa eterna tragédia. Temos inveja dos outros, mas não queremos fazer os mesmos sacrificios."
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Re: Cerveja
Oriunda de meu estado-natal, está a Falke Bier, uma grande cervejaria. http://www.falkebier.com.br/
Recentemente, eles criaram a primeira cerveja Tripel do país, pelo menos até onde chegou ao meu conhecimento. Trata-se da Falke Tripel Monasterium, uma cerveja Ale (ou seja, de "alta fermentação", em oposição às Lagers, de "baixa fermentação"), estilo Belga de Abadia, refermentada na própria garrafa, e com teor mais alcoólico mais elevado.
Estas características lhe dão o status de "Cerveja de Guarda", isto é, uma cerveja que pelas características, pode ser guardada para ser "envelhecida", quase como se fora um vinho.
Explica-se, o lúpulo, considerado a "alma" da cerveja, tem propriedades anti-microbacteriológicas, assim como o álcool. Da mesma forma, o fato de ser refermentada na garrafa (daí o uso de rolhamento de cortiça) elimina resquícios de oxigênio dentro da garrafa, o que minimiza ao extremo a possibilidade de oxidação do líquido.
É sem dúvida um produto superior.
Sua espuma é consistente, possue aromas complexos e frutados, com notas de cítricos e laranja. A cor é alaranjada e turva, com 9% de teor alcoólico. Ideal para dias frios, mas lembrem-se, cervejas mais fortes requerem maior moderação no seu consumo.
Saudações,
Recentemente, eles criaram a primeira cerveja Tripel do país, pelo menos até onde chegou ao meu conhecimento. Trata-se da Falke Tripel Monasterium, uma cerveja Ale (ou seja, de "alta fermentação", em oposição às Lagers, de "baixa fermentação"), estilo Belga de Abadia, refermentada na própria garrafa, e com teor mais alcoólico mais elevado.
Estas características lhe dão o status de "Cerveja de Guarda", isto é, uma cerveja que pelas características, pode ser guardada para ser "envelhecida", quase como se fora um vinho.
Explica-se, o lúpulo, considerado a "alma" da cerveja, tem propriedades anti-microbacteriológicas, assim como o álcool. Da mesma forma, o fato de ser refermentada na garrafa (daí o uso de rolhamento de cortiça) elimina resquícios de oxigênio dentro da garrafa, o que minimiza ao extremo a possibilidade de oxidação do líquido.
É sem dúvida um produto superior.
Sua espuma é consistente, possue aromas complexos e frutados, com notas de cítricos e laranja. A cor é alaranjada e turva, com 9% de teor alcoólico. Ideal para dias frios, mas lembrem-se, cervejas mais fortes requerem maior moderação no seu consumo.
Saudações,
LUGAR DE OFF TOPIC É NO OUTRO TÓPICO
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Re: Cerveja
1) Belíssimo post, Hayes. Tópico superinteressante. Até pelo nosso clima e jeito informal de ser, a cerveja sempre reinará em terras brasileiras.
Mas acho que com o tempo, alguns destes influxos técnico-científico-organolépticos espraiar-se-ão do VINHO para a nossa querida cerveja. Bouquet, perlage e outras viadagens, coisas legais de serem ditas para a vizinha gostosa que tu encontras no happy hour.
Ou seja, haverá um refinamento na arte de beber cerveja. Cerveja, o pão líquido, talvez a mais antiga das bebidas alcoólicas (na época dos faraós, era bebida dos proletários construtores de pirâmides, junto com a cerveja).
Mas que pode ser uma baita bebida, capaz de se harmonizar com todo um leque de pratos.
2) Abração, Hayes. Tua ponderação e boa educação só engrandecem o DB.
alexandre.
PS - Prick, não vem urubuzar este tópico. Aliás, a cerva francesa é uma bost@ ...
Mas acho que com o tempo, alguns destes influxos técnico-científico-organolépticos espraiar-se-ão do VINHO para a nossa querida cerveja. Bouquet, perlage e outras viadagens, coisas legais de serem ditas para a vizinha gostosa que tu encontras no happy hour.

Ou seja, haverá um refinamento na arte de beber cerveja. Cerveja, o pão líquido, talvez a mais antiga das bebidas alcoólicas (na época dos faraós, era bebida dos proletários construtores de pirâmides, junto com a cerveja).
Mas que pode ser uma baita bebida, capaz de se harmonizar com todo um leque de pratos.
2) Abração, Hayes. Tua ponderação e boa educação só engrandecem o DB.
alexandre.
PS - Prick, não vem urubuzar este tópico. Aliás, a cerva francesa é uma bost@ ...
Editado pela última vez por pafuncio em Sáb Ago 16, 2008 10:40 am, em um total de 1 vez.
"Em geral, as instituições políticas nascem empiricamente na Inglaterra, são sistematizadas na França, aplicadas pragmaticamente nos Estados Unidos e esculhambadas no Brasil"
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Re: Cerveja
Saudações, Hayes.
Muito bom ver o companheiro de volta, como bem disse Alexandre Lemos, abrilhantando a casa do Fórum DB.
Abraços.
Muito bom ver o companheiro de volta, como bem disse Alexandre Lemos, abrilhantando a casa do Fórum DB.
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Re: Cerveja
Beleza.
Alguém aí já tomou a Lust, da Eisenbahn ???
Eu não, é caaaaaaaaaaaaaaraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!!! Método champenoise e tudo o mais ...
Alguém aí já tomou a Lust, da Eisenbahn ???
Eu não, é caaaaaaaaaaaaaaraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!!! Método champenoise e tudo o mais ...
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Re: Cerveja
Caramba......eu so bebo bebo e bebo
nao sabia que aqui no DB tinha estes Renatos Machados cervejeiros com suas harmonizacoes mirabolantes.
Em minha modesta opiniao, cerveja harmoniza com tira gosto
Sera que o nobre colega Hayes permitira falarmos tambem neste tópico de pinga, cachaca, aguardente e afins???

Em minha modesta opiniao, cerveja harmoniza com tira gosto

Sera que o nobre colega Hayes permitira falarmos tambem neste tópico de pinga, cachaca, aguardente e afins???
- delmar
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Re: Cerveja
Saiu na Zero Hora de hoje. O Brasil começa a fazer cervejas artesanais, fora das grande marcas, de boa qualidade. Vou hoje ao super e, se encontrar alguma das duas, vou comprar e e provar, em casa. Depois falo o que achei com todas aquelas palavras rebuscadas, cheia de frescura, dos críticos.Beers of the World, respeitada (e rigorosa) publicação inglesa especializada em cerveja, andou de olho nas loiras especiais brasileiras.
Duas das cervejas artesanais desenvolvidas pela Dado Bier, de Porto Alegre, foram avaliadas pelo crítico Jeff Evans. A Belgian Ale, de alto teor alcoólico, foi selecionada como a Editor’s Choice do mês e levou nota 8.
Já a Dado Bier Ilex, produzida com erva-mate, garantiu a nota 7,75.
As duas cervejas gaúchas não ficaram muito atrás de outras famosas cervejas do mundo avaliadas pela publicação, como a inglesa Fuller’s Vintage Ale, que levou nota 8,25, as belgasTrappist Achel Blonde (8,25) e Hoegaarden (7,75), a holandesa La Trappe Dubbel (8) e a checa Pilsener Urquell (8,25).
Espero que o sr. Hayes continue conosco por muitos anos ainda.
saudações
Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
- Glauber Prestes
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Re: Cerveja
Pra quem começa, é bom começar com algumas "menos caras". (Eu experimento de acordo com o que a cervejaria recomenda. Depois eu faço experiências próprias,e confirmo ou complemento a recomendação)
Como eu sou fã incondicional da Baden-Baden, vou dar as minhas impressões dessa cerva...
-Baden Baden Cristal:
Aconselho começar por esta cerveja aqui. É do tipo Pilsen, mas muito mais apurada. Acho que fica bem sozinha, ou com uma comida mais leve como peixe. Dá até pra tomar como uma cerveja comum, acompanhando tranqueiras.
-Baden Baden Red Ale
Uma das minhas favoritas, boa de tomar com comidas mais fortes, como porco, churrasco, além de uma boa feijuca. É escura, mas avermelhada. Ao contrário das cervejas escuras "populares", não é usado caramelo para escurecê-la, e sim grãos realmente torrados, que dão o sabor mais forte.
-Baden Baden Stout
Ela é bem escura, e bem acentuada no sabor. A cervejaria recomenda tomar na sobremesa, ou com condimentos. Não tem o que por ou tirar, e é isso mesmo.
-Baden Baden Tripel
Ganhei de presente. É uma cerveja caríssima (se fosse pra comprar, nunca tomaria.), e de tiragem limitadíssima (menos de mil eu acho. A minha era a garrafa 140), então eu segui todas as recomendações como um escoteiro. Comprei um bom queijo Rockefort, e tomei com a minha namorada. É uma cerveja indescritivel, com alto teor alcólico (14ºGL. É fermentada 3 vezes), e que não tem sabor de cerveja, mas algo semelhante a Champagne, com cerveja, amantegada. Eu achava que aquele lance de bouquet, complexidade e tal, era coisa de metido a besta. Não sacaneio mais.
-Baden Baden Christmas Beer
Outra cerveja meio frisante, e de tiragem sazonal (só época das festas). Prefiro gastar nessa cerveja do que em espumantes para comemorações. Fui a uma festa de natal de bêbado rico, e antes da meia noite, era só essa cerveja que rolava. Maravilhosa, e leve.
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Como eu sou fã incondicional da Baden-Baden, vou dar as minhas impressões dessa cerva...
-Baden Baden Cristal:
Aconselho começar por esta cerveja aqui. É do tipo Pilsen, mas muito mais apurada. Acho que fica bem sozinha, ou com uma comida mais leve como peixe. Dá até pra tomar como uma cerveja comum, acompanhando tranqueiras.
-Baden Baden Red Ale
Uma das minhas favoritas, boa de tomar com comidas mais fortes, como porco, churrasco, além de uma boa feijuca. É escura, mas avermelhada. Ao contrário das cervejas escuras "populares", não é usado caramelo para escurecê-la, e sim grãos realmente torrados, que dão o sabor mais forte.
-Baden Baden Stout
Ela é bem escura, e bem acentuada no sabor. A cervejaria recomenda tomar na sobremesa, ou com condimentos. Não tem o que por ou tirar, e é isso mesmo.
-Baden Baden Tripel
Ganhei de presente. É uma cerveja caríssima (se fosse pra comprar, nunca tomaria.), e de tiragem limitadíssima (menos de mil eu acho. A minha era a garrafa 140), então eu segui todas as recomendações como um escoteiro. Comprei um bom queijo Rockefort, e tomei com a minha namorada. É uma cerveja indescritivel, com alto teor alcólico (14ºGL. É fermentada 3 vezes), e que não tem sabor de cerveja, mas algo semelhante a Champagne, com cerveja, amantegada. Eu achava que aquele lance de bouquet, complexidade e tal, era coisa de metido a besta. Não sacaneio mais.
-Baden Baden Christmas Beer
Outra cerveja meio frisante, e de tiragem sazonal (só época das festas). Prefiro gastar nessa cerveja do que em espumantes para comemorações. Fui a uma festa de natal de bêbado rico, e antes da meia noite, era só essa cerveja que rolava. Maravilhosa, e leve.
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http://www.tireoide.org.br/tireoidite-de-hashimoto/
Cuidado com os sintomas.
Você é responsável pelo ambiente e a qualidade do fórum que participa. Faça sua parte.
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- Bolovo
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Re: Cerveja
Essas Baden Baden são fabricadas em Campos do Jordão e custam acho que dez realzes a garrata. São caras, mas é cerveja fina, coisa chique.
Glauber, está explicada a pança então.
![Gargalhada [003]](./images/smilies/003.gif)
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"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Re: Cerveja




1) Aproveito para parabenizar o Glauber.
Pena que tenha sido criada essa dicotomia, que quem aprecia vinho é chique, ao passo que os cervejeiros seriam meros balofos comedoras de salsichas.
Inegável que haja uma rivalidade entre essas tribos. Exemplos existem na net (comunidades específica), muitas vezes a razão sendo substituída por picuinhas e ofensas mútuas.
Nisso, concordo com o Saul Galvão, um dos maiores connaisseurs do Brasil, um cara com uma baita bagagem quanto à degustação de vinhos. Escreve ele no Estadão, no caderno de gastronomia, trazendo interesantes críticas dos vinhos do mundo.
Bem, o Saul Galvão é um crítico desta luta entre tribos. Diz ele que um bebedor de cerva, com os requintes e nuances de um cara como um Glauber, forçosamente estará em um processo de evolução, de educação dos sentidos (paladar e olfato), quiçá a reverber na sua forma de ver o mundo.
Nesta ordem das coisas, esse ser em evolução gastronômica repercutirá suas experiências nos seus gostos etílicos. Para tal prato, posso perfeitamente encarar uma cerva (por exemplo, a Eisenbahn Grolsch, com tiragem limitada, casa perfeitamente com frutos do mar, mesmo aqueles não fritos). Mesmo para pratos leves, posso enfrentá-los com um tinto. E por aí vai.
Mas tenho algumas certezas:
a) a turma da cerveja geralmente é mais legal, desencanada e sociável;
b) a turma do vinho tendo às vezes para a boçalidade e o uso de viadagens terminológicas;
c) espumante ainda é a bala de prata, quando estivermos falando de uma gata.

E viva o vinho !!! E viva a cerveja !!!
salu2, alexandre.
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- PQD
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Re: Cerveja
história da cerveja - a antiguidade
Não é tarefa fácil determinar em que período terá sido produzida a primeira cerveja. Acredita-se que essa tarefa seja talvez tão antiga como a própria agricultura. De facto, sabe-se que o Homem conhece o processo de fermentação há mais de 10.000 anos e obtinha nessa época, mesmo em pequenas quantidades, as primeiras bebidas alcoólicas. Especula-se que a cerveja, assim como o vinho, tenha sido descoberta acidentalmente, provavelmente fruto da fermentação não induzida de algum cereal.
A primeira prova arqueológica que temos relativamente à produção de cerveja é proveniente da Mesopotâmia, mais propriamente da Suméria. Tratam-se de inscrições feitas numa pedra, relativas a um cereal que se utilizava em algo similar à produção de cerveja. Afirma-se que a descoberta desta se deu pouco tempo depois do surgimento do pão. Os sumérios teriam percebido que a massa do pão, quando molhada, fermentava, ficando ainda melhor. Assim teria aparecido uma espécie primitiva de cerveja, como "pão líquido". Várias vezes repetido e até melhorado, este processo deu origem a um género de cerveja que os sumérios consideravam uma “bebida divina”, a qual era, por vezes, oferecida aos seus deuses.
A cerveja era feita por padeiros devido à natureza da matéria-prima utilizada: grãos de cereais e leveduras. A cevada era deixada de molho até germinar e, então, moída grosseiramente e moldada em bolos aos quais se adicionava a levedura. Os bolos, após parcialmente assados e desfeitos, eram colocados em jarras com água e deixados a fermentar. Esta cerveja rústica ainda é fabricada no Egipto com o nome de Bouza. O lúpulo, assim como outras ervas aromáticas, tais como zimbro, hortelã e losna, podiam ser adicionados à cerveja para corrigir as diferenças observadas no sabor.
Já no segundo milénio antes de Cristo e enquanto se assistia à queda do império sumério, surgia uma nova civilização na Mesopotâmia, descendente da civilização suméria mas mais avançada cultural e tecnologicamente, e que em muito contribuiu para o avanço no processo de fabricação de cerveja: os Babilónios. Documentos dessa altura indicam-nos que a produção de cerveja era uma profissão altamente respeitada, levada a cabo essencialmente por mulheres.
Em 2100 a.C. Hammurabi, o sexto rei da Babilónia, introduziu várias regras relacionadas com a cerveja no seu grande código de leis. Entre essas leis encontrava-se uma que estabelecia uma ração diária de cerveja, ração essa que dependia do estatuto social de cada indivíduo. Por exemplo, um trabalhador normal receberia 2 litros por dia, um funcionário público 3 litros, enquanto que os administradores e sacerdotes receberiam 5 litros por dia. Outra lei tinha como objectivo proteger os consumidores, de cerveja de má qualidade. Ficou assim definido que o castigo a aplicar por se servir má cerveja seria a morte por afogamento!
Hoje sabemos que os Babilónios sabiam elaborar vinte tipos diferentes de cerveja. Quase todas seriam opacas e produzidas sem filtragem. Tal facto fazia com que bebessem a cerveja através de um predecessor da actual palhinha (no caso dos reis essa palhinha seria de ouro…), o que evitava que ingerissem o resíduo que se acumulava no fundo e que seria bastante amargo. No entanto, essa situação não impedia que a cerveja aí produzida fosse bastante conceituada, chegando os babilónios a exportar grandes quantidades para o Egipto.
Tal como os Babilónios, os Egípcios produziam cerveja desde tempos ancestrais, sendo que esta fazia parte da dieta diária de nobres e fellahs (camponeses). Para além de bem alimentar, servia também como remédio para certas doenças. Um documento médico, datado de 1600 a.C. e descoberto nas escavações de um túmulo, descreve cerca de 700 prescrições médicas, das quais 100 contêm a palavra cerveja. A sua importância é também visível nos aspectos religiosos da cultura egípcia. Nos túmulos dos seus antepassados, para além dos artefactos habituais como incenso, jóias e comida, era também habitual encontrar provisões de cerveja. E em casos de calamidade ou desastre natural, era frequente a oferta de grandes quantidades de cerveja aos sacerdotes de forma a apaziguar a ira dos deuses.
A extrema relevância da cerveja para os egípcios reflectia-se não só na existência de um alto funcionário encarregado de controlar e manter a qualidade da cerveja produzida, como também na criação de hieróglifos extras que descrevessem produtos e actividades relacionadas com a cerveja. Curiosamente, existem alguns povos que vivem ao longo do Nilo que ainda hoje fabricam cerveja num estilo muito próximo ao da era faraónica.
Longe desta área geográfica, a China desde cedo desenvolveu técnicas de preparação de bebidas do tipo da cerveja, obtidas a partir de grãos de cereais. A "Samshu", fabricada a partir dos grãos de arroz e a "Kin" já eram produzidas cerca de 2300 a.C. As técnicas utilizadas eram algo diferentes das dos povos mesopotâmicos e egípcios. De facto, o desenvolvimento da cerveja até à forma pela qual hoje a conhecemos, deve-se mais a estes dois últimos do que à civilização chinesa. Foram mesmo os egípcios que ensinaram os gregos a produzir cerveja.
Apesar de ser considerada menos importante que o vinho, a cerveja evoluiu durante o período grego e romano. Atente-se nos escritos de Sófocles (450 a.C.) relativamente a recomendações sobre o consumo de cerveja, incluindo esta numa dieta que considerava equilibrada. Outros autores gregos como Heródoto e Xenofontes também mencionaram o acto de beber cerveja nos seus escritos.
Assim como o tinham aprendido com os egípcios, os gregos ensinaram a arte de produzir cerveja aos romanos. Todavia, em 500 a.C. e no período subsequente, gregos e romanos deram preferência ao vinho, a bebida dos deuses, tutelada por Baco. A cerveja passou então a ser a bebida das classes menos favorecidas, muito apreciada em regiões sob domínio romano, principalmente pelos germanos e gauleses. Muitos romanos consideravam a bebida horrível e típica de povos bárbaros. Foi nessa época que as palavras cervisia ou cerevisia passaram a ser utilizadas pelos romanos, em homenagem a Ceres, deusa da agricultura e da fertilidade. Plínio foi um dos autores clássicos que escreveu sobre o assunto, descrevendo a evolução do processo de fabrico da cerveja e os hábitos dos povos celtas e germânicos da Bretanha e Europa Central.
Editado pela última vez por PQD em Ter Ago 19, 2008 11:22 am, em um total de 2 vezes.
Cabeça dos outros é terra que ninguem anda... terras ermas...
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Re: Cerveja
história da cerveja - a era medieval
Na Idade Média, a produção e consumo de cerveja tiveram um grande impulso, muito por causa da influência dos mosteiros, locais onde esta era não só tecnicamente melhorada, como também produzida e vendida. Naquela altura, os mosteiros seriam algo semelhantes a um hotel para viajantes, oferecendo abrigo, comida e bebida a peregrinos e não só. E para além dos monges, a História relata-nos também o envolvimento de santos em milagres e outros acontecimentos em que a cerveja vem mencionada! Tomemos como exemplo o caso de S. Mungo, o padroeiro da mais velha cidade da Escócia, Glasgow. Foi nessa cidade que, por volta de 540 d.C., S. Mungo estabeleceu uma ordem religiosa, cuja principal actividade seria a produção de cerveja, sendo que esta arte é ainda hoje considerada como a mais antiga indústria da cidade. Outro exemplo será o de Santa Brígida que miraculosamente transformou a água do seu banho em cerveja, para que os seus visitantes clericais tivessem algo para beber. Para se ver a importância que a igreja tinha para a indústria da cerveja nessa época, basta referir que existiam três santos padroeiros, protectores da cerveja e dos cervejeiros: Santo Agostinho de Hippo, São Nicolau e São Lucas, o Evangelista.
Também neste período se manteve o hábito de produzir cerveja em casa, sendo que essa tarefa continuava maioritariamente entregue às mulheres. Sendo elas as cozinheiras, tinham igualmente a responsabilidade da produção de cerveja, que era vista como uma “comida-líquida”. Em certas zonas, a cerveja chegou mesmo a ser mais popular que a água já que, como é sabido, a Idade Média era uma época onde as práticas sanitárias eram muito más, pelo que se tornava mais seguro beber cerveja do que água. De facto, o processo de fabrico fazia com que muitas das impurezas fossem filtradas pelo que quem pudesse fazer a troca de água por cerveja raramente hesitava.
Nos mosteiros, as técnicas de fabricação iam sendo desenvolvidas, em busca de uma cerveja mais agradável ao palato e mais nutritiva. A importância da qualidade alimentar da cerveja era algo de relevante para os monges, dado que era um produto que os ajudava a passar os difíceis dias de jejum. Esses períodos caracterizavam-se pela abstinência dos monges em termos de comida sólida, mas nada os impedia de ingerir líquidos. Há relatos de monges que foram autorizados a beber até 5 litros de cerveja por dia. Isso só os incentivou a produzir mais e melhor cerveja, chegando ao ponto de se criarem pequenas tabernas nos mosteiros onde era cobrada uma pequena taxa para que as pessoas pudessem experimentar a cerveja de alta qualidade que ali se produzia. Em termos técnicos, os monges deram uma maior importância ao uso do lúpulo, substância que tornava as cervejas mais frescas devido à sua acidez natural e que, por outro lado, as ajudava a conservar. Ao dosearem a quantidade de malte e lúpulo, passaram a produzir uma cerveja com pouco álcool para consumo diário e uma cerveja mais pesada e alcoólica para ocasiões festivas. Esta indústria cervejeira teve tal sucesso que chamou a atenção dos nobres e soberanos, que passaram a cobrar pesadas taxas sobre a venda deste produto. Em certas zonas, chegou-se ao ponto de só ser permitida a produção de cerveja mediante autorização régia, envolvendo isso, claro está, o pagamento de uma determinada quantia. Infelizmente, esta ganância levou ao encerramento de muitas tabernas de abadias e mosteiros, que não conseguiram acompanhar as elevadas taxas que lhes eram impostas. Os conventos mais antigos que iniciaram a produção de cerveja foram os de St. Gallen, na Suíça, e os alemães Weihenstephan e St. Emmeran. Os beneditinos de Weihenstephan foram os primeiros a receber, oficialmente, a autorização profissional para fabricação e venda da cerveja, em 1040 d.C. Com isso, esta é a cervejaria mais antiga do mundo ainda em funcionamento e é hoje conhecida, principalmente, como o Centro de Ensino da Tecnologia de Cervejaria da Universidade Técnica de Munique.
Apesar das limitações atrás referidas, a cerveja continuou a ganhar importância na sociedade medieval, servindo como alimento, forma de pagamento de taxas, moeda de troca, entre outras funções social e economicamente relevantes. Essa importância é facilmente constatável em actos e leis de nobres e reis, que visavam proteger a produção e os rendimentos que daí advinham. Em 1295, o rei Venceslau garantiu à Pilsen Bohemia direitos de produção de um tipo de cerveja, numa área que é hoje ocupada pela República Checa. Em 1489, foi autorizada a criação da primeira associação (guild) de produtores de cerveja - a Brauerei Beck. E, como curiosidade, refira-se que quando Cristóvão Colombo chegou às Américas, descobriu que os nativos já produziam uma bebida muito semelhante à cerveja, feita a partir de milho. Todavia, seriam os ingleses que, em 1548, introduziriam a verdadeira cerveja neste continente.
1516 é uma data de grande proeminência para a produção de cerveja na Alemanha. As guildas bávaras, tentando precaver os seus interesses, pressionaram as autoridades para a criação de uma lei que defendesse a produção de cerveja de qualidade. De facto, utilizavam-se ingredientes muito estranhos para aromatizar as cervejas como, por exemplo, folhas de pinheiro, cerejas silvestres e ervas variadas. Foi assim que o Duque Wilhelm IV da Baviera criou a Reinheitsgebot - lei da pureza - que tornou ilegal o uso de outros ingredientes no fabrico de cerveja que não fossem água, cevada e lúpulo (é de salientar que nesta época ainda não se conhecia e utilizava o fermento). O crescimento das exportações fez com que muitas cidades alemãs ficassem famosas, nomeadamente Bremen, que era um importante entreposto na exportação de cerveja para a Holanda, Inglaterra e Escandinávia, e Hamburgo, que era o principal produtor da Liga Hanseática, sendo que por volta de 1500 existiam aí cerca de 600 produtoras independentes. A Liga Hanseática chegava a exportar cerveja para locais tão longínquos como a Índia. Braunschweig e Einbeck também eram importantes centros de produção de cerveja. Uma das marcas mais conhecidas da altura e que, por sinal, ainda hoje produz cerveja é a Beck's, criada em 1553.
Ao longo dos séculos XVI e seguintes, a exportação de cerveja continuou a ganhar crescente importância, ao passo que novas empresas iam sendo criadas. No entanto, foram necessárias duas invenções para trazerem a produção de cerveja para a Era Moderna: a primeira foi a máquina a vapor, inventada por James Watt e a segunda foi a refrigeração artificial, ideia de Carl von Linde. Nessa altura, estava já cientificamente provado que a produção de boa cerveja dependia da existência de determinadas temperaturas. Dado que essas temperaturas ocorriam essencialmente no Inverno, a invenção de von Linde permitiu que se produzisse e consumisse cerveja ao longo de todo o ano.
Na Idade Média, a produção e consumo de cerveja tiveram um grande impulso, muito por causa da influência dos mosteiros, locais onde esta era não só tecnicamente melhorada, como também produzida e vendida. Naquela altura, os mosteiros seriam algo semelhantes a um hotel para viajantes, oferecendo abrigo, comida e bebida a peregrinos e não só. E para além dos monges, a História relata-nos também o envolvimento de santos em milagres e outros acontecimentos em que a cerveja vem mencionada! Tomemos como exemplo o caso de S. Mungo, o padroeiro da mais velha cidade da Escócia, Glasgow. Foi nessa cidade que, por volta de 540 d.C., S. Mungo estabeleceu uma ordem religiosa, cuja principal actividade seria a produção de cerveja, sendo que esta arte é ainda hoje considerada como a mais antiga indústria da cidade. Outro exemplo será o de Santa Brígida que miraculosamente transformou a água do seu banho em cerveja, para que os seus visitantes clericais tivessem algo para beber. Para se ver a importância que a igreja tinha para a indústria da cerveja nessa época, basta referir que existiam três santos padroeiros, protectores da cerveja e dos cervejeiros: Santo Agostinho de Hippo, São Nicolau e São Lucas, o Evangelista.
Também neste período se manteve o hábito de produzir cerveja em casa, sendo que essa tarefa continuava maioritariamente entregue às mulheres. Sendo elas as cozinheiras, tinham igualmente a responsabilidade da produção de cerveja, que era vista como uma “comida-líquida”. Em certas zonas, a cerveja chegou mesmo a ser mais popular que a água já que, como é sabido, a Idade Média era uma época onde as práticas sanitárias eram muito más, pelo que se tornava mais seguro beber cerveja do que água. De facto, o processo de fabrico fazia com que muitas das impurezas fossem filtradas pelo que quem pudesse fazer a troca de água por cerveja raramente hesitava.
Nos mosteiros, as técnicas de fabricação iam sendo desenvolvidas, em busca de uma cerveja mais agradável ao palato e mais nutritiva. A importância da qualidade alimentar da cerveja era algo de relevante para os monges, dado que era um produto que os ajudava a passar os difíceis dias de jejum. Esses períodos caracterizavam-se pela abstinência dos monges em termos de comida sólida, mas nada os impedia de ingerir líquidos. Há relatos de monges que foram autorizados a beber até 5 litros de cerveja por dia. Isso só os incentivou a produzir mais e melhor cerveja, chegando ao ponto de se criarem pequenas tabernas nos mosteiros onde era cobrada uma pequena taxa para que as pessoas pudessem experimentar a cerveja de alta qualidade que ali se produzia. Em termos técnicos, os monges deram uma maior importância ao uso do lúpulo, substância que tornava as cervejas mais frescas devido à sua acidez natural e que, por outro lado, as ajudava a conservar. Ao dosearem a quantidade de malte e lúpulo, passaram a produzir uma cerveja com pouco álcool para consumo diário e uma cerveja mais pesada e alcoólica para ocasiões festivas. Esta indústria cervejeira teve tal sucesso que chamou a atenção dos nobres e soberanos, que passaram a cobrar pesadas taxas sobre a venda deste produto. Em certas zonas, chegou-se ao ponto de só ser permitida a produção de cerveja mediante autorização régia, envolvendo isso, claro está, o pagamento de uma determinada quantia. Infelizmente, esta ganância levou ao encerramento de muitas tabernas de abadias e mosteiros, que não conseguiram acompanhar as elevadas taxas que lhes eram impostas. Os conventos mais antigos que iniciaram a produção de cerveja foram os de St. Gallen, na Suíça, e os alemães Weihenstephan e St. Emmeran. Os beneditinos de Weihenstephan foram os primeiros a receber, oficialmente, a autorização profissional para fabricação e venda da cerveja, em 1040 d.C. Com isso, esta é a cervejaria mais antiga do mundo ainda em funcionamento e é hoje conhecida, principalmente, como o Centro de Ensino da Tecnologia de Cervejaria da Universidade Técnica de Munique.
Apesar das limitações atrás referidas, a cerveja continuou a ganhar importância na sociedade medieval, servindo como alimento, forma de pagamento de taxas, moeda de troca, entre outras funções social e economicamente relevantes. Essa importância é facilmente constatável em actos e leis de nobres e reis, que visavam proteger a produção e os rendimentos que daí advinham. Em 1295, o rei Venceslau garantiu à Pilsen Bohemia direitos de produção de um tipo de cerveja, numa área que é hoje ocupada pela República Checa. Em 1489, foi autorizada a criação da primeira associação (guild) de produtores de cerveja - a Brauerei Beck. E, como curiosidade, refira-se que quando Cristóvão Colombo chegou às Américas, descobriu que os nativos já produziam uma bebida muito semelhante à cerveja, feita a partir de milho. Todavia, seriam os ingleses que, em 1548, introduziriam a verdadeira cerveja neste continente.
1516 é uma data de grande proeminência para a produção de cerveja na Alemanha. As guildas bávaras, tentando precaver os seus interesses, pressionaram as autoridades para a criação de uma lei que defendesse a produção de cerveja de qualidade. De facto, utilizavam-se ingredientes muito estranhos para aromatizar as cervejas como, por exemplo, folhas de pinheiro, cerejas silvestres e ervas variadas. Foi assim que o Duque Wilhelm IV da Baviera criou a Reinheitsgebot - lei da pureza - que tornou ilegal o uso de outros ingredientes no fabrico de cerveja que não fossem água, cevada e lúpulo (é de salientar que nesta época ainda não se conhecia e utilizava o fermento). O crescimento das exportações fez com que muitas cidades alemãs ficassem famosas, nomeadamente Bremen, que era um importante entreposto na exportação de cerveja para a Holanda, Inglaterra e Escandinávia, e Hamburgo, que era o principal produtor da Liga Hanseática, sendo que por volta de 1500 existiam aí cerca de 600 produtoras independentes. A Liga Hanseática chegava a exportar cerveja para locais tão longínquos como a Índia. Braunschweig e Einbeck também eram importantes centros de produção de cerveja. Uma das marcas mais conhecidas da altura e que, por sinal, ainda hoje produz cerveja é a Beck's, criada em 1553.
Ao longo dos séculos XVI e seguintes, a exportação de cerveja continuou a ganhar crescente importância, ao passo que novas empresas iam sendo criadas. No entanto, foram necessárias duas invenções para trazerem a produção de cerveja para a Era Moderna: a primeira foi a máquina a vapor, inventada por James Watt e a segunda foi a refrigeração artificial, ideia de Carl von Linde. Nessa altura, estava já cientificamente provado que a produção de boa cerveja dependia da existência de determinadas temperaturas. Dado que essas temperaturas ocorriam essencialmente no Inverno, a invenção de von Linde permitiu que se produzisse e consumisse cerveja ao longo de todo o ano.
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Re: Cerveja
história da cerveja - a era moderna
Durante o século XVII, apareceram muitos tipos diferentes de cervejas, sendo que cada variedade era definida pelos diversos ingredientes que se utilizavam, bem como pela qualidade da água presente na sua elaboração. Cada aldeia, vila e cidade tinha a sua própria produção já que, como referimos na Era Medieval, não existiam formas de preservar as propriedades naturais da cerveja. Esta situação de grande pujança da indústria cervejeira viria a sofrer um forte revés no final do século XVIII, com a Revolução Francesa. Para além do facto da revolução ter levado ao encerramento das guildas de produtores, acarretou também a destruição e desaparecimento de muitos mosteiros e abadias e, com isso, a quase extinção dos centros produtores de cerveja de qualidade. Todavia, com a ascensão de Napoleão ao poder , assistiu-se a uma ligeira retoma na fabricação de cerveja, apesar de muitos dos monges e abades que outrora eram os principais investigadores e produtores, nunca mais terem voltado à sua antiga actividade.
Outro facto de grande destaque foi a invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1765, o que permitiu a industrialização e racionalização da produção cervejeira. As primeiras cervejeiras que utilizaram máquinas a vapor chamavam-se a si mesmas Steam Beer Breweries, sendo que ainda hoje subsistem fábricas com esta designação. Mas muitas outras inovações permitiram o aperfeiçoamento da técnica de fabricação. Em 1830, Gabriel Sedlmayr e Anton Dreher desenvolveram o método de produção que daria origem às lagers, sendo que 12 anos depois seria elaborada a primeira Pilsner na Boémia. Este género de cerveja teve tanto sucesso que rapidamente se espalhou por todo o lado, com especial destaque para o Novo Mundo, onde os colonos provenientes da Alemanha deram origem a muitas cervejeiras famosas: Miller, Coors, Stroh, Schlitz, Anheuser-Busch, entre outras. Como curiosidade, refira-se que grande parte das cervejas que actualmente se consomem no mundo são do estilo lager, sendo que Portugal não é excepção à regra, antes pelo contrário.
Tal como já referimos, outra invenção cujas repercussões tiveram grande impacto no fabrico da cerveja foi a descoberta da refrigeração artificial (Teoria de Geração de Frio Artificial), avanço possível devido aos estudos de Carl Linde. As primeiras tentativas foram efectuadas em Munique, local também de grande produção cervejeira, o que fez com que a cerveja fosse dos primeiros produtos a beneficiar desta evolução. Para além disso, o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro possibilitou uma cada vez maior expansão do comércio deste produto. Por curiosidade, diga-se que aquando da abertura da primeira linha de comboios na Alemanha, entre Nuremberga e Furth, os primeiros bens a serem transportados foram dois barris de cerveja. Enquanto isso, nos EUA, o uso do caminho-de-ferro possibilitou a expansão de uma marca bem conhecida: a Budweiser. Durante a década de 1870, esta marca tornou-se verdadeiramente nacional, devido aos esforços do seu dono, Adolphus Busch.
1876 seria outro ano de grande importância, não só para a indústria cervejeira, como também para o próprio Homem. Os estudos de Louis Pasteur sobre o fermento e os microorganismos possibilitaram o início da preservação dos alimentos devido ao método da pasteurização. Tal descoberta deu um forte ímpeto às cervejeiras, para além de ter possibilitado a preservação de cerveja de um modo mais eficiente. Até à descoberta de Pasteur, a fermentação do mosto era natural o que, normalmente, trazia prejuízos aos fabricantes. O notável cientista francês convenceu os produtores a utilizarem culturas selecionadas de leveduras para fermentação do mosto, para manter uma padronização na qualidade da cerveja e impedir a formação de fermentação acética. Pasteur descobriu que eram os microorganismos os responsáveis pela deterioração do mosto e que poderiam estar no ar, na água e nos aparelhos, sendo estranhos ao processo. Graças a esse princípio fundamental, limpeza e higiene tornaram-se nos mais altos mandamentos da cervejaria. Para além do mais, o estudo dos diferentes fermentos fez com que aparecessem novos tipos de cerveja, com novos aspectos e sabores. Tais desenvolvimentos levaram à expansão do consumo, sendo que em 1880 existiam cerca de 2300 marcas independentes de cerveja nos EUA, enquanto que na Bélgica, por volta do ano 1900, estavam registadas 3223 cervejeiras, incluindo a Wielemen's Brewery in Forest (área de Bruxelas), que era considerada a maior e mais moderna da Europa. Do lado de lá do Atlântico, a Pabst estava a vender mais de um milhão de barris por ano.
Igualmente importante foi o trabalho de Emil Christian Hansen. Este, aproveitando o desenvolvimento do microscópio, descobriu a existência de células de levedura de baixa fermentação, pois antes eram somente conhecidas leveduras de alta fermentação. Ele isolou a célula, que foi multiplicada sob cultura pura. Como a levedura influencia fundamentalmente o sabor, esta descoberta permitiu a constância do sabor e qualidade.
No início do século XX e durante a 1ª Guerra Mundial, houve uma diminuição significativa no número de indústrias produtoras de cerveja. Como exemplo, refira-se que em 1920 havia apenas 2013 fábricas nos EUA. Tal situação deveu-se ao aumento da competição, o que proporcionou fusões e aquisições e, para além disso, o início da 1ª Guerra levou à escassez de matérias-primas e mão-de-obra, o que fez com que muitos industriais apostassem na mecanização das suas empresas. Para agravar esta situação, a Proibição e a Grande Depressão limitaram o consumo desta bebida, provocando a falência de inúmeras fábricas. A luz ao fundo do túnel para as cervejeiras só viria a acontecer com o fim da Proibição em 1933. No entanto, apenas 160 indústrias tinham sobrevivido nos EUA a este difícil período. Pior que tudo: essa época de crescimento viria a ser abruptamente interrompida com o início da 2ª Guerra Mundial.
Passado mais este período muito difícil, assistiu-se a um aumento gradual na produção e consumo de cerveja, sendo que a Budweiser foi a primeira marca a ultrapassar os 10 milhões de barris por ano, isto já em 1966. As fusões e concentrações continuaram a aumentar e, por exemplo, a situação actual nos EUA é exemplar: 90% do mercado é controlado por 5 empresas: a) Anheuser-Busch, 44.5%; b) Miller Brewing, 21.8%; c) Coors, 10.4%; d) Stroh, 7.4%; e) G. Heileman, 5.3% . Hoje em dia, a indústria cervejeira pode ser caracterizada por duas grandes tendências: a primeira, é representada pelas grandes fusões entre gigantes cervejeiros, que criam empresas cada vez maiores, com vendas impressionantes mas, em geral, com produtos de baixa qualidade; a segunda, é representada por pequenas e médias empresas que desenvolvem produtos de grande qualidade, para apreciadores e baseadas nas tradições dos locais onde se encontram implantadas. O melhor exemplo desta situação encontra-se na Bélgica, onde existe mais de uma centena de pequenas empresas cervejeiras, que desenvolvem largas dezenas de produtos com características bem diferentes entre si. Independentemente desta aparente divisão, o que se pode esperar nos próximos anos é o contínuo crescimento das vendas e o aparecimento de produtos cada vez mais sofisticados e surpreendentes. De facto, a cerveja veio para ficar por muitos e bons anos e ainda bem que assim é!
Durante o século XVII, apareceram muitos tipos diferentes de cervejas, sendo que cada variedade era definida pelos diversos ingredientes que se utilizavam, bem como pela qualidade da água presente na sua elaboração. Cada aldeia, vila e cidade tinha a sua própria produção já que, como referimos na Era Medieval, não existiam formas de preservar as propriedades naturais da cerveja. Esta situação de grande pujança da indústria cervejeira viria a sofrer um forte revés no final do século XVIII, com a Revolução Francesa. Para além do facto da revolução ter levado ao encerramento das guildas de produtores, acarretou também a destruição e desaparecimento de muitos mosteiros e abadias e, com isso, a quase extinção dos centros produtores de cerveja de qualidade. Todavia, com a ascensão de Napoleão ao poder , assistiu-se a uma ligeira retoma na fabricação de cerveja, apesar de muitos dos monges e abades que outrora eram os principais investigadores e produtores, nunca mais terem voltado à sua antiga actividade.
Outro facto de grande destaque foi a invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1765, o que permitiu a industrialização e racionalização da produção cervejeira. As primeiras cervejeiras que utilizaram máquinas a vapor chamavam-se a si mesmas Steam Beer Breweries, sendo que ainda hoje subsistem fábricas com esta designação. Mas muitas outras inovações permitiram o aperfeiçoamento da técnica de fabricação. Em 1830, Gabriel Sedlmayr e Anton Dreher desenvolveram o método de produção que daria origem às lagers, sendo que 12 anos depois seria elaborada a primeira Pilsner na Boémia. Este género de cerveja teve tanto sucesso que rapidamente se espalhou por todo o lado, com especial destaque para o Novo Mundo, onde os colonos provenientes da Alemanha deram origem a muitas cervejeiras famosas: Miller, Coors, Stroh, Schlitz, Anheuser-Busch, entre outras. Como curiosidade, refira-se que grande parte das cervejas que actualmente se consomem no mundo são do estilo lager, sendo que Portugal não é excepção à regra, antes pelo contrário.
Tal como já referimos, outra invenção cujas repercussões tiveram grande impacto no fabrico da cerveja foi a descoberta da refrigeração artificial (Teoria de Geração de Frio Artificial), avanço possível devido aos estudos de Carl Linde. As primeiras tentativas foram efectuadas em Munique, local também de grande produção cervejeira, o que fez com que a cerveja fosse dos primeiros produtos a beneficiar desta evolução. Para além disso, o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro possibilitou uma cada vez maior expansão do comércio deste produto. Por curiosidade, diga-se que aquando da abertura da primeira linha de comboios na Alemanha, entre Nuremberga e Furth, os primeiros bens a serem transportados foram dois barris de cerveja. Enquanto isso, nos EUA, o uso do caminho-de-ferro possibilitou a expansão de uma marca bem conhecida: a Budweiser. Durante a década de 1870, esta marca tornou-se verdadeiramente nacional, devido aos esforços do seu dono, Adolphus Busch.
1876 seria outro ano de grande importância, não só para a indústria cervejeira, como também para o próprio Homem. Os estudos de Louis Pasteur sobre o fermento e os microorganismos possibilitaram o início da preservação dos alimentos devido ao método da pasteurização. Tal descoberta deu um forte ímpeto às cervejeiras, para além de ter possibilitado a preservação de cerveja de um modo mais eficiente. Até à descoberta de Pasteur, a fermentação do mosto era natural o que, normalmente, trazia prejuízos aos fabricantes. O notável cientista francês convenceu os produtores a utilizarem culturas selecionadas de leveduras para fermentação do mosto, para manter uma padronização na qualidade da cerveja e impedir a formação de fermentação acética. Pasteur descobriu que eram os microorganismos os responsáveis pela deterioração do mosto e que poderiam estar no ar, na água e nos aparelhos, sendo estranhos ao processo. Graças a esse princípio fundamental, limpeza e higiene tornaram-se nos mais altos mandamentos da cervejaria. Para além do mais, o estudo dos diferentes fermentos fez com que aparecessem novos tipos de cerveja, com novos aspectos e sabores. Tais desenvolvimentos levaram à expansão do consumo, sendo que em 1880 existiam cerca de 2300 marcas independentes de cerveja nos EUA, enquanto que na Bélgica, por volta do ano 1900, estavam registadas 3223 cervejeiras, incluindo a Wielemen's Brewery in Forest (área de Bruxelas), que era considerada a maior e mais moderna da Europa. Do lado de lá do Atlântico, a Pabst estava a vender mais de um milhão de barris por ano.
Igualmente importante foi o trabalho de Emil Christian Hansen. Este, aproveitando o desenvolvimento do microscópio, descobriu a existência de células de levedura de baixa fermentação, pois antes eram somente conhecidas leveduras de alta fermentação. Ele isolou a célula, que foi multiplicada sob cultura pura. Como a levedura influencia fundamentalmente o sabor, esta descoberta permitiu a constância do sabor e qualidade.
No início do século XX e durante a 1ª Guerra Mundial, houve uma diminuição significativa no número de indústrias produtoras de cerveja. Como exemplo, refira-se que em 1920 havia apenas 2013 fábricas nos EUA. Tal situação deveu-se ao aumento da competição, o que proporcionou fusões e aquisições e, para além disso, o início da 1ª Guerra levou à escassez de matérias-primas e mão-de-obra, o que fez com que muitos industriais apostassem na mecanização das suas empresas. Para agravar esta situação, a Proibição e a Grande Depressão limitaram o consumo desta bebida, provocando a falência de inúmeras fábricas. A luz ao fundo do túnel para as cervejeiras só viria a acontecer com o fim da Proibição em 1933. No entanto, apenas 160 indústrias tinham sobrevivido nos EUA a este difícil período. Pior que tudo: essa época de crescimento viria a ser abruptamente interrompida com o início da 2ª Guerra Mundial.
Passado mais este período muito difícil, assistiu-se a um aumento gradual na produção e consumo de cerveja, sendo que a Budweiser foi a primeira marca a ultrapassar os 10 milhões de barris por ano, isto já em 1966. As fusões e concentrações continuaram a aumentar e, por exemplo, a situação actual nos EUA é exemplar: 90% do mercado é controlado por 5 empresas: a) Anheuser-Busch, 44.5%; b) Miller Brewing, 21.8%; c) Coors, 10.4%; d) Stroh, 7.4%; e) G. Heileman, 5.3% . Hoje em dia, a indústria cervejeira pode ser caracterizada por duas grandes tendências: a primeira, é representada pelas grandes fusões entre gigantes cervejeiros, que criam empresas cada vez maiores, com vendas impressionantes mas, em geral, com produtos de baixa qualidade; a segunda, é representada por pequenas e médias empresas que desenvolvem produtos de grande qualidade, para apreciadores e baseadas nas tradições dos locais onde se encontram implantadas. O melhor exemplo desta situação encontra-se na Bélgica, onde existe mais de uma centena de pequenas empresas cervejeiras, que desenvolvem largas dezenas de produtos com características bem diferentes entre si. Independentemente desta aparente divisão, o que se pode esperar nos próximos anos é o contínuo crescimento das vendas e o aparecimento de produtos cada vez mais sofisticados e surpreendentes. De facto, a cerveja veio para ficar por muitos e bons anos e ainda bem que assim é!
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Re: Cerveja
As ale
São várias as classificações que se podem escolher para diferenciar os diferentes tipos de cervejas. Há quem prefira classificá-las pelo tipo de fermentação, sendo que, deste modo, se formam dois grandes grupos: as Ale (cervejas de alta fermentação ou fermentação no alto) e as Lager (cervejas de baixa fermentação). É claro que dentro de cada um destes grupos há muitos subgrupos, havendo mesmo algumas cervejas que não se encaixam bem quer num, quer noutro grupo.
Outros itens que permitem classificar as cervejas podem ser: a sua cor (clara ou escura); o teor alcoólico (sem álcool, de baixo, médio ou alto teor alcoólico); ou ainda o teor do extrato primitivo, sendo que neste caso as podemos dividir em fracas, normais, extras e fortes.
Por ser a mais difundida e por nos parecer a mais correcta, adoptaremos a divisão que habitualmente é feita tendo por base o processo de fermentação. Assim sendo, falaremos das Ale, das Lager e criaremos um terceiro e quarto grupos a que chamaremos de Cervejas Especiais e Cervejas Excêntricas. Estas últimas podem-se enquadrar em qualquer uma das anteriores categorias, mas preferimos separá-las por possuírem características específicas como, por exemplo, um fermento exclusivo ou serem produzidas numa altura específica do ano, entre outras pequenas grandes diferenças. Não abrangendo todos os estilos possíveis, este diagrama dá uma boa ideia da divisão que aqui referimos.
Comecemos pois pelas cervejas do tipo Ale. Como referimos, o que difere basicamente uma cerveja Ale de uma Lager é o processo de fermentação – alta na Ale e baixa, na Lager. No caso das Ale, a fermentação dá-se num ambiente de temperatura relativamente alta, entre 15º a 24º ou mesmo mais, e isto num período de tempo curto, que rondará os três a cinco dias. Na fase de alta fermentação a levedura sobe à superfície, sendo que o tipo de levedura utilizada é a Saccharomyces cerevisiae. Este processo é o mais antigo, daí que as cervejas do tipo Ale fossem as únicas disponíveis até meados do século XIX, altura em que foi inventada a baixa fermentação.
Este processo de alta fermentação ou fermentação a quente, realça os sabores mais complexos, frutados e lupulados da cerveja. São pois, em geral, cervejas mais encorpadas e vigorosas sendo que, apesar disso, podem variar muito de uma marca para outra, com características que vão desde o doce ao amargo e das claras às escuras.
Pelo que atrás ficou dito, não é de estranhar que dentro das Ale surjam muitas variações das quais podemos destacar: as Barley Wine; as Bitter; as Blonde Ale; as Brown Ale; as Indian Pale Ale; as Mild Ale; as Pale Ale; as Porter; as Scottish Ale e as Strong Ale. Outros tipos existirão mas estes são os mais comuns e os mais consumidos.
De um modo mais específico, podemos pois considerar os seguintes tipos
Altbier - Uma especialidade de Dusseldorf, a Altbier é uma cerveja de cor castanha, habitualmente oriunda da Alemanha. Sabendo que "alt" significa literalmente velho em alemão, esta designação aplica-se-lhe devido à capacidade que esta cerveja tem para envelhecer durante mais tempo do que seria normal para outros estilos. É uma cerveja bem balanceada e delicada, com boa presença de frutas e grande equilíbrio entre malte e lúpulo e uma presença mediana de gás. A Sticke é uma versão mais forte das Altbier, com maior presença de malte e lúpulo. A experimentar: Schlosser Alt; Uerige Doppel Sticke; Widmer Brothers Winternacht.
Amber Ale - Sendo esta uma designação muito genérica, as Amber Ale podem variar desde produtos sem grande interesse e caramelizados, a cervejas como uma boa quantidade e balanço entre malte e lúpulo. Habitualmente, a diferença entre uma Amber Ale de qualidade e uma Ameriacan Pale reside no facto da primeira poder ter um carácter mais escuro devido ao malte utilizado, tendo em contrapartida menos lúpulo. A experimentar: Mac and Jacks African Amber Ale; New Belgium Fat Tire; Troegs HopBack Amber Ale.
American Pale Ale - As American Pale Ale são cervejas claras, que vão desde o amarelo dourado até à cor de cobre. O estilo desta cerveja é definido pelo lúpulo de origem americana que nela é usado, transmitindo este, em geral, um forte aroma à cerveja bem como uma relativa acidez. Esta é uma excelente cerveja para acompanhar refeições ligeiras como pizzas e hambúrgueres, bem como sushi e saladas. A experimentar: Three Floyds Alpha King; Flying Dog Doggie Style Classic Pale Ale; DuClaw Venom Pale Ale.
American Strong Ale - Este é um estilo muito abrangente, que engloba uma grande quantidade de cervejas fortes com volume alcoólico superior a 7% e oriundas dos EUA. Muitas delas são parecidas com as English Strong Ale, apesar de, habitualmente, possuirem um maior teor de lúpulo. Independentemente das suas origens e das suas características, são no seu todo cervejas fortes, com grande presença de malte, lúpulo e, obviamente, álcool. A experimentar: Oggis Hop Whompus; Stone Arrogant Bastard Ale; Bear Republic Hop Rod Rye Ale.
Baltic Porter - Durante o século XVIII, as Porters eram bem mais fortes do que o são hoje em dia, sendo que facilmente ultrapassavam os 7% de volume de álcool. Muitas cervejeiras inglesas faziam mesmo produtos mais fortes destinados à exportação, tendo como principal mercado os países em redor do Mar Báltico. Estas cervejas eram derivadas das Porter inglesas mas tinham também algumas influências das Russian Imperial Stouts, pelo que por vezes podem ser identificadas como Imperial Porters. É um estilo muito complexo,especialmente o sabor, com presença de chocolate e malte torrado, elaborado com lúpulo continental e malte de Viena ou de Munique. Apesar de tudo, é uma cerveja não muito pesada devido a uma boa presença de gás. A experimentar: Koff Porter; Baltika 6 Porter; Carnegie Porter.
Belgian Ale - Com raízes que remontam a meados do século XVIII, as Belgian Ale atingiram o seu estado de perfeição a seguir ao fim da 2ª Guerra Mundial. Actualmente são consideradas uma cerveja para todas as ocasiões, por oposição às Belgian Strong Ales, suas "parentes". Neste estilo nada deve ser muito pronunciado: o equilíbrio entre os diversos elementos é a chave do sucesso. Podem ir de um amarelo dourado até à cor de cobre, boa presença de frutas, malte e especiarias tanto no aroma como no sabor. Têm espuma branca, cremosa e não muito duradoura. A experimentar: Palm Speciale; Vieux-Temps; Ommegang Rare Vos.
Brown Ale - São cervejas com bastante sabor, forte presença de lúpulo e muito habituais em pequenas explorações ou mesmo em produções caseiras. São similares às American Pale e American Amber Ales, diferindo destas por terem uma componente mais forte de caramelo e chocolate, que servem para equilibrar o lúpulo e o final algo amargo. A cor varia entre um castanho-avermelhado a castanho escuro e a espuma deverá ser creme e não muito duradoura. Possui menos álcool que uma Porter e tem, em geral, um sabor complexo e bem balanceado. Acompanha bem sobremesas, carnes e queijos. A experimentar: Samuel Smith's Nut Brown Ale; AleSmith Nautical Nut Brown Ale; Scotch Irish Corporal Punishment.
Cream Ale - As Cream Ale são uma versão ale das lagers americanas e surgem para combater no mesmo mercado que estas. São de aspecto claro e límpido, de corpo leve, forte presença de gás e com pouca ou nenhuma sensação de lúpulo quer no aroma, quer no sabor, o que faz com que tenham uma acidez média a reduzida. Por vezes pode-se saborear milho, que é misturado pelas cervejeiras em detrimento do uso de malte ou lúpulo. A experimentar: Northern Cream Ale; Portsmouth Cream Ale; Wisconsin Whitetail Cream Ale.
English Pale Ale - O termo pale foi inicialmente usado para distinguir as cervejas deste tipo das Porter de Londres que eram mais fortes e escuras. De facto, as English Pale Ale clássicas não são muito claras, antes apresentando uma cor que varia entre o dourado e que pode ir até ao âmbar ou acobreado. A grande diferença deste estilo para as American Pale Ale será uma maior presença de malte no seu carácter, apesar das características amargas e secas do lúpulo também estarem presentes. São por isso excelentes para acompanhar qualquer tipo de prato de carne, desde bifes a pato, frango ou cabrito. Curiosamente, este estilo é, em termos de designação, practicamente inexistente para os ingleses pois para eles, uma English Pale Ale não passa de uma Bitter engarrafada. A sua origem deve ser procurada nos EUA, local onde este estilo tem muita procura e que, de certa forma, presta homenagem às Bitter inglesas, nomeadamente à mais conhecida: a Bass. A experimentar: Jamtlands Pilgrim; Smuttynose Shoals Pale Ale; Herslev Bryghus Pale Ale.
Golden/Blonde Ale - É um estilo muito genérico e com bastantes variantes. Uma das formas habituais será a tradicional Canadian Ale, muito parecida com a American Pale Ale, quer nas qualidades, quer principalmente nos defeitos: pouco malte e lúpulo, utilização de outros cereais menos nobres como arroz ou milho e um sabor e aroma muito neutrais. A interpretação britânica possui mais lúpulo e menos álcool que as congéneres norte-ameriacanas, pelo que são mais referscantes e amargas. São cervejas suaves, com bastante gás, espuma branca e corpo claro e límpido. A experimentar: Crouch Vale Brewers Gold Extra; Redhook Blonde Ale; Oakham Bishops Farewell.
Imperial/Double IPA - As Imperial India Pale Ale (IPA) ou Double IPA, são uma adição recente à paleta de estilos de cerveja. Essencialmente é uma versão "musculada" duma IPA normal e acredita-se que teve a sua origem no Festival de Cerveja de Oregon, nos EUA, em 1996, altura em que foi apresentada a Rogue IPA. O estilo demorou algum tempo a impôr-se mas com a entrada do novo milénio assistiu-se a uma explosão na sua popularidade, com a apresentação de dezenas de novos exemplares, muitos deles bastante apreciados pelos conhecedores de cerveja. É ligeiramente mais escura que uma IPA, devido ao uso de malte em maiores quantidades, isso se explicando pela necessidade de equilibrar a cerveja que possui, em geral, quantidades quase absurdas de lúpulo. Tal dá-lhe um carácter amargo e refrescante, factores que ajudam a encobrir o volume de álcool que pode variar entre os 7,5% e os 10%. Há exemplares que se designam por Extra IPA ou Extreme IPA. A experimentar: Three Floyds Dreadnaught Imperial IPA; Norrebro Bryghus North Bridge Extreme; Stone Ruination IPA.
India Pale Ale - Feita para sobreviver às longas viagens entre a Inglaterra e a Índia, as India Pale Ale têm uma forte componenete de lúpulo, essencial para conservar a cerveja durante o máximo de tempo que se conseguisse. Curiosamente, os exemplares americanos conseguem ter um sabor e aroma ainda mais pronunciados a lúpulo, fruto do gosto dos consumidores desse país. A cor das cervejas deste estilo varia entre o amarelo dourado e o acobreado, sendo que o sabor é bastante intenso e refrescante, indicadas portanto para refeições condimentadas como chili e vindaloo. Infelizmente, o termo IPA é cada vez mais utilizado indiscriminadamente, sendo possível encontrar versões com menos de 4% ABV, algo que não se coaduna com a história deste estilo. Diferenciam-se das English Pale Ale e das Bitters por terem um sabor final com mais lúpulo e menos caramelo e frutos. A experimentar: AleSmith IPA; Stone India Pale Ale; Two Hearted Ale.
Irish Red Ale - As ales vermelhas da Irlanda são cervejas suaves, equilibradas e leves. A um início adocicado, segue-se o sabor típico do malte e um fim com cereais torrados, o que lhe dá uma carácter seco. Estas características podem ser acentuadas e, em consequência, adulteradas se a cerveja for servida muito fria. A sua cor avermelhada é obtida através da junção de malte de cevada, sendo que por vezes se utiliza milho, arroz ou mesmo açucar para suavizar o produto final. A presença de gás não é elevada, bem como a do álcool: entre 4% e 6% ABV. Eventualmente poderá surgir um exmplar mais forte, mas esse será mesmo a excepção à regra. A experimentar: Boulevard Irish Ale; Kilkenny; Beamish Red Irish Ale.
Kolsch - A designação Kolsch está protegida por lei e é exclusiva de pouco mais de 20 cervejeiras localizadas à volta da cidade alemã de Colónia (Koln). Servidas num esguio copo chamado de Stange, estas cervejas têm como curiosidade o facto de não serem boas para passarem por um processo de armazenamento muito longo. O sabor delicado e frutado tende a oxidar com facilidade, pelo que se recomenda um consumo rápido após a compra. As regras que definem este estilo são muito precisas e muitas das marcas que se auto-designam como klschbiers não o são na realidade. Bastante efervescentes e frescas, são feitas a partir do melhor lúpulo alemão (dos géneros Hallertau, Tettnang, Spalt ou Hersbrucker) e de água bastante leve. A experimentar: Paffgen Kolsch; Pyramid Curve Ball Kolsch; Muhlen Kolsch.
Mild Ale - Ligeiramente maltada e com pouco sabor e aroma a lúpulo, daí vindo a expressão Mild, estas cervejas são castanho-escuras e possuem pouco gás bem como pouca espuma. É um estilo que começa a rarear e, mesmo em Inglaterra, só a encontrará com facilidade na região das Midlands, perto da cidade de Birmingham. A experimentar: Three Floyds Pride & Joy Mild Ale; Pitfield 1824 Mild Ale; Bank Top Dark Mild.
Milk/Sweet Stout - Este estilo de stout de origem inglesa, historicamente conhecido como Milk ou Cream, devido à utilização de lactose como adoçante, é de cor bastante escura, tendencialmente doce e possui um sabor com um toque a cereais torrados, o que faz com que se assemelhe a um expresso açucarado. Curiosamente, a designação Milk não é permitida em Inglaterra, apesar de ser corrente noutros países. É um estilo que produz uma espuma muito cremosa e duradoura, sendo que a presença de gás é baixa tal como o volume de álcool, que ronda os 4 a 6%. A experimentar: Lion Stout; Pelican Tsunami Stout; Guinness Foreign Extra Stout.
Northern English Brown Ale - As ales castanhas inglesas estão divididas em dois sub-estilos que se agrupam de acordo com considerações geográficas. Mais secas e com mais lúpulo do que as suas congéneres do sul, diferenciam-se também por terem um sabor mais a frutos secos e menos a caramelo. Têm cor âmbar escura a castanho-avermelhada, espuma pequena e pouco duradoura e sabor doce a malte e biscoitos. A experimentar: Newcastle Brown Ale; Goose Island Hex Nut Brown Ale; Samuel Smiths Nut Brown Ale.
Oatmeal Stout - Como muitas outras stouts, as Oatmeal também são originárias de Inglaterra. Variantes das Sweet Stout, diferem destas por serem menos doces e por darem mais importância à utilização de aveia em detrimento da lactose. De cor muito escura, sabor a malte torrado e aveia, corpo espesso devido ao uso deste último cereal e boa presença de gás, estas cervejas são bastante suaves e podem dar-nos a impressão que estamos a beber um chocolate quente ou mesmo um café com com natas açucaradas. A sua taxa de álcool varia entre os 4,2% e os 5.9% ABV. A experimentar: Broughton Scottish Oatmeal Stout; Anderson Valley Barney Flats Oatmeal Stout; St. Ambroise Oatmeal Stout.
Old Ale - Mais um tipo de ale tradicional inglesa que é assim designado por passar por um processo de envelhecimento após a primeira fermentação - um processo similar às porters clássicas. Têm também a característica de poderem ser guardadas algum tempo antes de se consumir. A presença de álcool e o carácter encorpado e complexo, faz com que sejam uma excelente companhia nas frias noites de Inverno. A experimentar: Theakston Old Peculier; Portland Benchmark Old Ale; Fish Tale Old Woody English Old Ale.
Scotch Ale - Apesar do nome, não irá encontrar muitos exemplares deste tipo de cerveja na Escócia. Caso procure nos Estados Unidos ou no Canadá terá, com certeza, mais sorte, apesar de aí as poder encontrar com a designação de Strong Scotch Ale ou Wee Heavy. Este estilo designa cervejas fortes, escuras, maltadas e que, usualmente, variam entre 6.5 a 8.5% ABV. Têm a particularidade de serem fermentadas a temperaturas mais baixas do que a maior parte das ales e, para além disso, possuem um carácter maltado e com pouca presença de lúpulo. Este facto faz com que sejam cervejas que não são aconselháveis para todo o tipo de refeições, apesar de as podermos beber como se de uma sobremesa se tratassem. O álcool têm, em geral, uma presença acentuada no sabor, o que ajuda a equilibrar um possível excesso de malte e de açucar. A experimentar: McEwan's Scotch Ale; Bitter End Whiskey Wee Heavy; Stoudts Scotch Style Ale.
Southern English Brown Ale - As Southern English ou "London-Style" são mais escuras e doces que as variantes do norte. Trata-se de um estilo quase em vias de extinção e que muitas vezes é confundido ou englobado noutros tipos de cerveja. O sabor é bastante complexo, característica dada pela forte presença de malte e de frutos, isto apesar do volume alcoólico ser relativamente baixo: entre 2,8 e 4,2% ABV. A experimentar: Mann's Original Brown Ale; Dark Star Over the Moon; Wychwood Hobgoblin.
Traditional Ale - É um estilo muito genérico, habitualmente utilizado para designar todos aqueles estilos antigos que cairam em desuso mas que devido a uma onda revivalista começam agora a aparecer nos bares e nas prateleiras dos supermercados. Dito isto, torna-se bastante difícil definir uma característica comum a todas as cervejas aqui englobadas. Representam, isso sim, um olhar saudoso ao passado e um renascer pelas antigas técnicas de produção de cerveja. A experimentar: Hair of The Dog Adam; Bière Darbyste; Jopen Koyt.
Wood-Aged Beer - Trata-se de um estilo tradicional, raramente utilizado pelas grandes empresas cervejeiras mas comum em pequenas explorações, onde é possível guardar a cerveja por longo tempo em barris de carvalho ou em cascos de outro tipo de madeira. Independentemente da cerveja base que seja utilizada, as características da madeira e, em caso de terem sido utilizados barris usados, da bebida que aí tenha estagiado, devem fazer-se sentir quer no aroma, quer no sabor. Este estilo é muito diversificado tendo em conta que se pode utilizar uma infinidade de cervejas base, sendo que a única faceta que as une é o envelhecimento em barris de madeira. A experimentar: Petrus Aged Pale; Dominion Oak Barrel Stout; MacTarnahan's Oak Aged IPA.
São várias as classificações que se podem escolher para diferenciar os diferentes tipos de cervejas. Há quem prefira classificá-las pelo tipo de fermentação, sendo que, deste modo, se formam dois grandes grupos: as Ale (cervejas de alta fermentação ou fermentação no alto) e as Lager (cervejas de baixa fermentação). É claro que dentro de cada um destes grupos há muitos subgrupos, havendo mesmo algumas cervejas que não se encaixam bem quer num, quer noutro grupo.
Outros itens que permitem classificar as cervejas podem ser: a sua cor (clara ou escura); o teor alcoólico (sem álcool, de baixo, médio ou alto teor alcoólico); ou ainda o teor do extrato primitivo, sendo que neste caso as podemos dividir em fracas, normais, extras e fortes.
Por ser a mais difundida e por nos parecer a mais correcta, adoptaremos a divisão que habitualmente é feita tendo por base o processo de fermentação. Assim sendo, falaremos das Ale, das Lager e criaremos um terceiro e quarto grupos a que chamaremos de Cervejas Especiais e Cervejas Excêntricas. Estas últimas podem-se enquadrar em qualquer uma das anteriores categorias, mas preferimos separá-las por possuírem características específicas como, por exemplo, um fermento exclusivo ou serem produzidas numa altura específica do ano, entre outras pequenas grandes diferenças. Não abrangendo todos os estilos possíveis, este diagrama dá uma boa ideia da divisão que aqui referimos.
Comecemos pois pelas cervejas do tipo Ale. Como referimos, o que difere basicamente uma cerveja Ale de uma Lager é o processo de fermentação – alta na Ale e baixa, na Lager. No caso das Ale, a fermentação dá-se num ambiente de temperatura relativamente alta, entre 15º a 24º ou mesmo mais, e isto num período de tempo curto, que rondará os três a cinco dias. Na fase de alta fermentação a levedura sobe à superfície, sendo que o tipo de levedura utilizada é a Saccharomyces cerevisiae. Este processo é o mais antigo, daí que as cervejas do tipo Ale fossem as únicas disponíveis até meados do século XIX, altura em que foi inventada a baixa fermentação.
Este processo de alta fermentação ou fermentação a quente, realça os sabores mais complexos, frutados e lupulados da cerveja. São pois, em geral, cervejas mais encorpadas e vigorosas sendo que, apesar disso, podem variar muito de uma marca para outra, com características que vão desde o doce ao amargo e das claras às escuras.
Pelo que atrás ficou dito, não é de estranhar que dentro das Ale surjam muitas variações das quais podemos destacar: as Barley Wine; as Bitter; as Blonde Ale; as Brown Ale; as Indian Pale Ale; as Mild Ale; as Pale Ale; as Porter; as Scottish Ale e as Strong Ale. Outros tipos existirão mas estes são os mais comuns e os mais consumidos.
De um modo mais específico, podemos pois considerar os seguintes tipos
Altbier - Uma especialidade de Dusseldorf, a Altbier é uma cerveja de cor castanha, habitualmente oriunda da Alemanha. Sabendo que "alt" significa literalmente velho em alemão, esta designação aplica-se-lhe devido à capacidade que esta cerveja tem para envelhecer durante mais tempo do que seria normal para outros estilos. É uma cerveja bem balanceada e delicada, com boa presença de frutas e grande equilíbrio entre malte e lúpulo e uma presença mediana de gás. A Sticke é uma versão mais forte das Altbier, com maior presença de malte e lúpulo. A experimentar: Schlosser Alt; Uerige Doppel Sticke; Widmer Brothers Winternacht.
Amber Ale - Sendo esta uma designação muito genérica, as Amber Ale podem variar desde produtos sem grande interesse e caramelizados, a cervejas como uma boa quantidade e balanço entre malte e lúpulo. Habitualmente, a diferença entre uma Amber Ale de qualidade e uma Ameriacan Pale reside no facto da primeira poder ter um carácter mais escuro devido ao malte utilizado, tendo em contrapartida menos lúpulo. A experimentar: Mac and Jacks African Amber Ale; New Belgium Fat Tire; Troegs HopBack Amber Ale.
American Pale Ale - As American Pale Ale são cervejas claras, que vão desde o amarelo dourado até à cor de cobre. O estilo desta cerveja é definido pelo lúpulo de origem americana que nela é usado, transmitindo este, em geral, um forte aroma à cerveja bem como uma relativa acidez. Esta é uma excelente cerveja para acompanhar refeições ligeiras como pizzas e hambúrgueres, bem como sushi e saladas. A experimentar: Three Floyds Alpha King; Flying Dog Doggie Style Classic Pale Ale; DuClaw Venom Pale Ale.
American Strong Ale - Este é um estilo muito abrangente, que engloba uma grande quantidade de cervejas fortes com volume alcoólico superior a 7% e oriundas dos EUA. Muitas delas são parecidas com as English Strong Ale, apesar de, habitualmente, possuirem um maior teor de lúpulo. Independentemente das suas origens e das suas características, são no seu todo cervejas fortes, com grande presença de malte, lúpulo e, obviamente, álcool. A experimentar: Oggis Hop Whompus; Stone Arrogant Bastard Ale; Bear Republic Hop Rod Rye Ale.
Baltic Porter - Durante o século XVIII, as Porters eram bem mais fortes do que o são hoje em dia, sendo que facilmente ultrapassavam os 7% de volume de álcool. Muitas cervejeiras inglesas faziam mesmo produtos mais fortes destinados à exportação, tendo como principal mercado os países em redor do Mar Báltico. Estas cervejas eram derivadas das Porter inglesas mas tinham também algumas influências das Russian Imperial Stouts, pelo que por vezes podem ser identificadas como Imperial Porters. É um estilo muito complexo,especialmente o sabor, com presença de chocolate e malte torrado, elaborado com lúpulo continental e malte de Viena ou de Munique. Apesar de tudo, é uma cerveja não muito pesada devido a uma boa presença de gás. A experimentar: Koff Porter; Baltika 6 Porter; Carnegie Porter.
Belgian Ale - Com raízes que remontam a meados do século XVIII, as Belgian Ale atingiram o seu estado de perfeição a seguir ao fim da 2ª Guerra Mundial. Actualmente são consideradas uma cerveja para todas as ocasiões, por oposição às Belgian Strong Ales, suas "parentes". Neste estilo nada deve ser muito pronunciado: o equilíbrio entre os diversos elementos é a chave do sucesso. Podem ir de um amarelo dourado até à cor de cobre, boa presença de frutas, malte e especiarias tanto no aroma como no sabor. Têm espuma branca, cremosa e não muito duradoura. A experimentar: Palm Speciale; Vieux-Temps; Ommegang Rare Vos.
Brown Ale - São cervejas com bastante sabor, forte presença de lúpulo e muito habituais em pequenas explorações ou mesmo em produções caseiras. São similares às American Pale e American Amber Ales, diferindo destas por terem uma componente mais forte de caramelo e chocolate, que servem para equilibrar o lúpulo e o final algo amargo. A cor varia entre um castanho-avermelhado a castanho escuro e a espuma deverá ser creme e não muito duradoura. Possui menos álcool que uma Porter e tem, em geral, um sabor complexo e bem balanceado. Acompanha bem sobremesas, carnes e queijos. A experimentar: Samuel Smith's Nut Brown Ale; AleSmith Nautical Nut Brown Ale; Scotch Irish Corporal Punishment.
Cream Ale - As Cream Ale são uma versão ale das lagers americanas e surgem para combater no mesmo mercado que estas. São de aspecto claro e límpido, de corpo leve, forte presença de gás e com pouca ou nenhuma sensação de lúpulo quer no aroma, quer no sabor, o que faz com que tenham uma acidez média a reduzida. Por vezes pode-se saborear milho, que é misturado pelas cervejeiras em detrimento do uso de malte ou lúpulo. A experimentar: Northern Cream Ale; Portsmouth Cream Ale; Wisconsin Whitetail Cream Ale.
English Pale Ale - O termo pale foi inicialmente usado para distinguir as cervejas deste tipo das Porter de Londres que eram mais fortes e escuras. De facto, as English Pale Ale clássicas não são muito claras, antes apresentando uma cor que varia entre o dourado e que pode ir até ao âmbar ou acobreado. A grande diferença deste estilo para as American Pale Ale será uma maior presença de malte no seu carácter, apesar das características amargas e secas do lúpulo também estarem presentes. São por isso excelentes para acompanhar qualquer tipo de prato de carne, desde bifes a pato, frango ou cabrito. Curiosamente, este estilo é, em termos de designação, practicamente inexistente para os ingleses pois para eles, uma English Pale Ale não passa de uma Bitter engarrafada. A sua origem deve ser procurada nos EUA, local onde este estilo tem muita procura e que, de certa forma, presta homenagem às Bitter inglesas, nomeadamente à mais conhecida: a Bass. A experimentar: Jamtlands Pilgrim; Smuttynose Shoals Pale Ale; Herslev Bryghus Pale Ale.
Golden/Blonde Ale - É um estilo muito genérico e com bastantes variantes. Uma das formas habituais será a tradicional Canadian Ale, muito parecida com a American Pale Ale, quer nas qualidades, quer principalmente nos defeitos: pouco malte e lúpulo, utilização de outros cereais menos nobres como arroz ou milho e um sabor e aroma muito neutrais. A interpretação britânica possui mais lúpulo e menos álcool que as congéneres norte-ameriacanas, pelo que são mais referscantes e amargas. São cervejas suaves, com bastante gás, espuma branca e corpo claro e límpido. A experimentar: Crouch Vale Brewers Gold Extra; Redhook Blonde Ale; Oakham Bishops Farewell.
Imperial/Double IPA - As Imperial India Pale Ale (IPA) ou Double IPA, são uma adição recente à paleta de estilos de cerveja. Essencialmente é uma versão "musculada" duma IPA normal e acredita-se que teve a sua origem no Festival de Cerveja de Oregon, nos EUA, em 1996, altura em que foi apresentada a Rogue IPA. O estilo demorou algum tempo a impôr-se mas com a entrada do novo milénio assistiu-se a uma explosão na sua popularidade, com a apresentação de dezenas de novos exemplares, muitos deles bastante apreciados pelos conhecedores de cerveja. É ligeiramente mais escura que uma IPA, devido ao uso de malte em maiores quantidades, isso se explicando pela necessidade de equilibrar a cerveja que possui, em geral, quantidades quase absurdas de lúpulo. Tal dá-lhe um carácter amargo e refrescante, factores que ajudam a encobrir o volume de álcool que pode variar entre os 7,5% e os 10%. Há exemplares que se designam por Extra IPA ou Extreme IPA. A experimentar: Three Floyds Dreadnaught Imperial IPA; Norrebro Bryghus North Bridge Extreme; Stone Ruination IPA.
India Pale Ale - Feita para sobreviver às longas viagens entre a Inglaterra e a Índia, as India Pale Ale têm uma forte componenete de lúpulo, essencial para conservar a cerveja durante o máximo de tempo que se conseguisse. Curiosamente, os exemplares americanos conseguem ter um sabor e aroma ainda mais pronunciados a lúpulo, fruto do gosto dos consumidores desse país. A cor das cervejas deste estilo varia entre o amarelo dourado e o acobreado, sendo que o sabor é bastante intenso e refrescante, indicadas portanto para refeições condimentadas como chili e vindaloo. Infelizmente, o termo IPA é cada vez mais utilizado indiscriminadamente, sendo possível encontrar versões com menos de 4% ABV, algo que não se coaduna com a história deste estilo. Diferenciam-se das English Pale Ale e das Bitters por terem um sabor final com mais lúpulo e menos caramelo e frutos. A experimentar: AleSmith IPA; Stone India Pale Ale; Two Hearted Ale.
Irish Red Ale - As ales vermelhas da Irlanda são cervejas suaves, equilibradas e leves. A um início adocicado, segue-se o sabor típico do malte e um fim com cereais torrados, o que lhe dá uma carácter seco. Estas características podem ser acentuadas e, em consequência, adulteradas se a cerveja for servida muito fria. A sua cor avermelhada é obtida através da junção de malte de cevada, sendo que por vezes se utiliza milho, arroz ou mesmo açucar para suavizar o produto final. A presença de gás não é elevada, bem como a do álcool: entre 4% e 6% ABV. Eventualmente poderá surgir um exmplar mais forte, mas esse será mesmo a excepção à regra. A experimentar: Boulevard Irish Ale; Kilkenny; Beamish Red Irish Ale.
Kolsch - A designação Kolsch está protegida por lei e é exclusiva de pouco mais de 20 cervejeiras localizadas à volta da cidade alemã de Colónia (Koln). Servidas num esguio copo chamado de Stange, estas cervejas têm como curiosidade o facto de não serem boas para passarem por um processo de armazenamento muito longo. O sabor delicado e frutado tende a oxidar com facilidade, pelo que se recomenda um consumo rápido após a compra. As regras que definem este estilo são muito precisas e muitas das marcas que se auto-designam como klschbiers não o são na realidade. Bastante efervescentes e frescas, são feitas a partir do melhor lúpulo alemão (dos géneros Hallertau, Tettnang, Spalt ou Hersbrucker) e de água bastante leve. A experimentar: Paffgen Kolsch; Pyramid Curve Ball Kolsch; Muhlen Kolsch.
Mild Ale - Ligeiramente maltada e com pouco sabor e aroma a lúpulo, daí vindo a expressão Mild, estas cervejas são castanho-escuras e possuem pouco gás bem como pouca espuma. É um estilo que começa a rarear e, mesmo em Inglaterra, só a encontrará com facilidade na região das Midlands, perto da cidade de Birmingham. A experimentar: Three Floyds Pride & Joy Mild Ale; Pitfield 1824 Mild Ale; Bank Top Dark Mild.
Milk/Sweet Stout - Este estilo de stout de origem inglesa, historicamente conhecido como Milk ou Cream, devido à utilização de lactose como adoçante, é de cor bastante escura, tendencialmente doce e possui um sabor com um toque a cereais torrados, o que faz com que se assemelhe a um expresso açucarado. Curiosamente, a designação Milk não é permitida em Inglaterra, apesar de ser corrente noutros países. É um estilo que produz uma espuma muito cremosa e duradoura, sendo que a presença de gás é baixa tal como o volume de álcool, que ronda os 4 a 6%. A experimentar: Lion Stout; Pelican Tsunami Stout; Guinness Foreign Extra Stout.
Northern English Brown Ale - As ales castanhas inglesas estão divididas em dois sub-estilos que se agrupam de acordo com considerações geográficas. Mais secas e com mais lúpulo do que as suas congéneres do sul, diferenciam-se também por terem um sabor mais a frutos secos e menos a caramelo. Têm cor âmbar escura a castanho-avermelhada, espuma pequena e pouco duradoura e sabor doce a malte e biscoitos. A experimentar: Newcastle Brown Ale; Goose Island Hex Nut Brown Ale; Samuel Smiths Nut Brown Ale.
Oatmeal Stout - Como muitas outras stouts, as Oatmeal também são originárias de Inglaterra. Variantes das Sweet Stout, diferem destas por serem menos doces e por darem mais importância à utilização de aveia em detrimento da lactose. De cor muito escura, sabor a malte torrado e aveia, corpo espesso devido ao uso deste último cereal e boa presença de gás, estas cervejas são bastante suaves e podem dar-nos a impressão que estamos a beber um chocolate quente ou mesmo um café com com natas açucaradas. A sua taxa de álcool varia entre os 4,2% e os 5.9% ABV. A experimentar: Broughton Scottish Oatmeal Stout; Anderson Valley Barney Flats Oatmeal Stout; St. Ambroise Oatmeal Stout.
Old Ale - Mais um tipo de ale tradicional inglesa que é assim designado por passar por um processo de envelhecimento após a primeira fermentação - um processo similar às porters clássicas. Têm também a característica de poderem ser guardadas algum tempo antes de se consumir. A presença de álcool e o carácter encorpado e complexo, faz com que sejam uma excelente companhia nas frias noites de Inverno. A experimentar: Theakston Old Peculier; Portland Benchmark Old Ale; Fish Tale Old Woody English Old Ale.
Scotch Ale - Apesar do nome, não irá encontrar muitos exemplares deste tipo de cerveja na Escócia. Caso procure nos Estados Unidos ou no Canadá terá, com certeza, mais sorte, apesar de aí as poder encontrar com a designação de Strong Scotch Ale ou Wee Heavy. Este estilo designa cervejas fortes, escuras, maltadas e que, usualmente, variam entre 6.5 a 8.5% ABV. Têm a particularidade de serem fermentadas a temperaturas mais baixas do que a maior parte das ales e, para além disso, possuem um carácter maltado e com pouca presença de lúpulo. Este facto faz com que sejam cervejas que não são aconselháveis para todo o tipo de refeições, apesar de as podermos beber como se de uma sobremesa se tratassem. O álcool têm, em geral, uma presença acentuada no sabor, o que ajuda a equilibrar um possível excesso de malte e de açucar. A experimentar: McEwan's Scotch Ale; Bitter End Whiskey Wee Heavy; Stoudts Scotch Style Ale.
Southern English Brown Ale - As Southern English ou "London-Style" são mais escuras e doces que as variantes do norte. Trata-se de um estilo quase em vias de extinção e que muitas vezes é confundido ou englobado noutros tipos de cerveja. O sabor é bastante complexo, característica dada pela forte presença de malte e de frutos, isto apesar do volume alcoólico ser relativamente baixo: entre 2,8 e 4,2% ABV. A experimentar: Mann's Original Brown Ale; Dark Star Over the Moon; Wychwood Hobgoblin.
Traditional Ale - É um estilo muito genérico, habitualmente utilizado para designar todos aqueles estilos antigos que cairam em desuso mas que devido a uma onda revivalista começam agora a aparecer nos bares e nas prateleiras dos supermercados. Dito isto, torna-se bastante difícil definir uma característica comum a todas as cervejas aqui englobadas. Representam, isso sim, um olhar saudoso ao passado e um renascer pelas antigas técnicas de produção de cerveja. A experimentar: Hair of The Dog Adam; Bière Darbyste; Jopen Koyt.
Wood-Aged Beer - Trata-se de um estilo tradicional, raramente utilizado pelas grandes empresas cervejeiras mas comum em pequenas explorações, onde é possível guardar a cerveja por longo tempo em barris de carvalho ou em cascos de outro tipo de madeira. Independentemente da cerveja base que seja utilizada, as características da madeira e, em caso de terem sido utilizados barris usados, da bebida que aí tenha estagiado, devem fazer-se sentir quer no aroma, quer no sabor. Este estilo é muito diversificado tendo em conta que se pode utilizar uma infinidade de cervejas base, sendo que a única faceta que as une é o envelhecimento em barris de madeira. A experimentar: Petrus Aged Pale; Dominion Oak Barrel Stout; MacTarnahan's Oak Aged IPA.
Editado pela última vez por PQD em Ter Ago 19, 2008 11:16 am, em um total de 1 vez.
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Re: Cerveja
As lager
As Lager são o tipo de cerveja mais comum, quer em Portugal, quer no resto do mundo. Tal não que dizer que sejam o melhor estilo: isso depende muito do gosto de cada pessoa e da facilidade com que se tem acesso a outros tipos de cerveja. Analisando o que se passa no nosso país, verificamos que cerca de 75% das cervejas à venda são do estilo Lager e que estas representam, aproximadamente, 90% do total de vendas. De facto, Lager era o termo usado para descrever cervejas de fermentação em baixo, quer alemãs, quer checas, apesar destas últimas serem mais conhecidas por Pilsener. A palavra deriva do alemão lagern que significa algo como armazenar. Este termo referia-se ao hábito que se tinha de armazenar este tipo de cervejas em locais onde a temperatura era muito baixa e isto por longos períodos de tempo, antes de se passar à fase de consumo propriamente dita.
As suas origens remontam à Baviera do século XIX, local onde os mestres cervejeiros tinham por hábito guardar os seus produtos em caves muito frias de modo a lhe darem uma certa maturação. Esses produtos, as Lagerbier, eram o resultado de anos de desenvolvimento de técnicas de refrigeração e de utilização de um fermento especial. A principal diferença desse fermento para o que se utilizava no resto da Europa residia no facto de o seu depósito ficar no fundo após a fermentação, ao contrário das Ale, cujo resíduo subia ao topo.
O desenvolvimento das Lager teve um grande impulso entre os anos de 1820 a 1830, altura em que Gabriel Sedlmayr II the Younger, familiar dos donos da Cervejeira Spaten, viajou pela Europa à procura de técnicas que lhe permitissem desenvolver os seus dotes de cervejeiro. Ao regressar dessa viagem, ele usou os seus novos conhecimentos para criar uma Lager mais consistente e estável. Apesar disso, as Lager desse período ainda eram bem diferentes do produto que conhecemos hoje em dia, muito por causa da água de Munique, que fazia com que as cervejas ficassem escuras e "pesadas". Não restem no entanto dúvidas que os progressos de Sedlmayr foram importantíssimos e tal facto é facilmente perceptível ao verificarmos que a receita que ele desenvolveu se espalhou rapidamente por toda a Europa. Como exemplo, refira-se que o seu amigo Anton Dreher utilizou a nova técnica para melhorar a cerveja Vienense, já que a água da capital austríaca permitia o uso de um malte mais suave, o que dava à cerveja uma característica cor âmbar-vermelha.
A nova receita também chegou à Boémia, onde a técnica foi aperfeiçoada. No ano de 1842, na cidade de Plzen, Josef Groll, jovem originário da Baviera, utilizou um malte diferente do habitual que, em combinação com a água muito leve da localidade, deu origem a uma cerveja cor de ouro e muito clara. Esta experiência daria origem à Pilsener ou Pilsner, estilo que rapidamente se espalhou com grande sucesso pela Europa. Actualmente, a Pilsener é uma cerveja clara, com um volume pronunciado de gás, sabor a lúpulo e uma percentagem de álcool que varia entre 3 a 6%. A Pilsner Urquell (Pilsener Original) é o exemplo típico de uma cerveja Pilsener. A maior parte das Lager actuais baseiam-se neste estilo, apesar de terem perdido muito da sua característica acidez.
De um modo mais específico, podemos pois considerar os seguintes tipos
American Dark Lager/All-Malt Lager - Dois estilos muito próximos, caracterizados por uma cor escura proveniente da junção de malte e por vezes de caramelo, sendo que, em princípio, as All-Malt apenas utilizam malte na sua concepção, enquanto que as Dark Lager podem ter a junção de outros cereais. São cervejas leves e com bastante gás, algo doces, com pouco carácter, sabor a malte e a caramelo e, curiosamente, aproximam-se mais das lagers mais claras do que dos estilos de lagers escuras. A experimentar: Saranac Seasons Best Nut Brown Lager; Lowenbrau Dark; Brooklyn Lager.
American Macro Lager - Leves, claras, gaseificadas e aguadas, as lagers americanas de grande consumo surgiram aquando da criação das grandes empresas cervejeiras, logo após o fim da Proibição. Não muito amargas, médio-baixo teor de álcool, pouco sabor e aroma! Aqui, o mais importante é a produção em grande massa, cortando-se em cereais nobres como a cevada, malte e lúpulo e abusando-se do milho e do arroz. Pelo menos, o produto final é barato, apesar da qualidade do mesmo deixar muito a desejar. A experimentar: Miller High Life; Pabst Blue Ribbon; Molson Canadian Lager.
Bock - As origens da Bock encontram-se envoltas em grandes dúvidas. Uma das justificações que se encontrou para o surgimento deste estilo, prende-se com as prácticas ancestrais dos mosteiros medievais germânicos, locais onde se produzia uma cerveja forte e nutritiva que ajudava os monges a suportar os períodos de jejum, já que durante essas épocas apenas seria proibido ingerir comida sólida. Relativamente ao nome, alguns teóricos acreditam que a palvra Bock é apenas a abreviatura de Einbeck, donde teria surgido Beck e, mais tarde, Bock. Outros preferem optar por uma explicação mais mitológica e antiga, referindo que certos povos, procurando o auxílio e a protecção dos deuses, produziam a sua cerveja apenas durante o signo do Capricórnio, um género de cabra. Ora como cabra em alemão se diz Bock.... Deixamos ao seu critério qual a explicação que melhor assenta a este tipo de cerveja. Quanto à cerveja na actualidade, é substancialmente mais forte do que uma lager, mais robusta, com uma maior presença de malte e mais escura, podendo chegar a tonalidades castanhas. O volume de álcool varia entre 5,5% e 7,5%, sendo que o grande destaque vai para a sua suavidade, transmitida não só pelo malte como também pelo facto de estagiar alguns meses antes de ser consumida. A experimentar: Utrechts Bok; Chouffe Bok 666; Brasal Bock.
Bohemian Pilsner - A origem deste tipo de cerveja é de simples percepção se atendermos ao seu nome. De facto, a velha cidade de Plzen (ou Pilsen) na actual República Checa, é o berço desta cerveja suave e fresca. As Pilsener (ou Pilsner, ambas as designações estão correctas) foram inicialmente elaboradas por guildas de produtores de cerveja daquela cidade da Boémia, isto por volta do ano de 1840. Actualmente, caracterizam-se por ter uma cor amarela clara a dourada, bastante límpida, algo amarga devido ao intenso uso de lúpulo e com aroma e sabor algo frutados ou mesmo florais. Secas no palato e extremamente refrescantes, têm um volume de álcool que varia entre os 4,5 e os 5,5%. É, sem dúvida, um dos estilos mais conhecidos e consumidos do mundo. A experimentar: Pilsner Urquell; Budweiser Budvar; Starobrno.
California Common/Steam Beer - Este tipo de lager 100% americana é, em geral, produzida com um tipo especial de fermento que consegue melhores resultados a temperaturas mais mornas do que o habitual para uma lager. Esse método teve origem no século XIX, na Califórnia, onde a refrigeração ainda era um luxo. Deste modo, os agricultores utilizavam fermento típico de lagers mas a uma temperatura mais própria para ales, o que lhe dá um carácter singular, com a sua leveza característica das lagers e um paladar a frutas a tender para as ale. A Anchor Brewing Co. registou o termo Steam Beer, pelo que, em geral, todas as outras marcas são referidas como California Common. A experimentar: Anchor Steam Beer; Park City Steamer; New England Atlantic Amber.
Classic German Pilsner/Pils - As pilsner de origem alemã dividem-se em dois grandes grupos: as do norte e as do sul. Os exemplares sulistas estão próximas das pilsner da Boémia, com alto teor de lúpulo alemão e pouco presença de malte. Já os exemplares do norte são mais leves e secos, sendo algo semelhantes a uma pale lager. No geral, são cervejas amarelo-claro, transparentes, espuma branca e pouco persistente, com sabor a lúpulo e, por vezes, a frutos e ervas. A experimentar: Stoudt's Pils; Rothaus Pils Tannen Zapfle; Wurzburger Hofbrau Premium Pilsner.
Doppelbock - Também conhecidas por Double Bock, são uma subcategoria das Bock, mais fortes e ricas, caracterizadas por um intenso sabor a malte, que lhes dá um aroma e sabor algo adocicados, sendo esse factor contrabalançado com o uso de lúpulo para lhes dar um toque final azedo. A cor pode variar do âmbar até ao castanho-escuro e o nível de álcool é, em geral, elevado, variando entre os 7-8%. As Doppelbock tiveram origem no mosteiro Paulaner, em Munique, como forma de complemento para as refeições dos monges. A maior parte dos exemplos Bávaros deste tipo de cerveja acabam no sufixo -ator, em referência à primeira cerveja do género posta a circular comercialmente, a Salvator, produzida pelos monges Paulaner. A experimentar: Ayinger Celebrator Doppelbock; Fish Tale Detonator Doppelbock; Augustiner Maximator.
Dortmunder/Helles - Estes dois estilos estão bastante relacionados e próximos, sendo que o primeiro é originário da região de Dortmund, enquanto o último é da Baviera. Ambos são ligeiramente mais fortes do que uma tradicional lager (5,0%-5,6% ABV), têm boa presença de malte e, os melhores exemplos, destacam-se por evidenciarem um sabor a biscoitos, devido ao malte utilizado. São cervejas leves e de fácil ingestão, apesar de algumas Dortmunder da Dinamarca e Holanda serem mais encorpadas e alcoólicas. O carácter amargo é muito similar ao das Pilsner alemãs, aromático e seco. A experimentar: Great Lakes Dortmunder Gold; Burgerbrau Wolnzacher Hell Naturtrub; Aqula Helles.
Dunkel - Estilo típico da Baviera, mais propriamente da região de Munique, são cervejas suaves, ricas e complexas. Têm cor que vai do cobre até ao castanho-escuro, sabor e aroma algo doces, próximo do chocolate, característica que lhes é conferida pelo malte. O teor amargo é médio-baixo, mas o suficiente para contrabalançar com o doce do malte. O lúpulo utilizado costuma ser de origem alemã e de boa qualidade, como o comprovam as espécies habitualmente usadas: o Hallertau e o Tetnang. O volume alcoólico varia entre 4% e 6%. A experimentar: Ayinger Altbairisch Dunkel; Aldersbacher Kloster Dunkel; Altenmunster Jubelbier Dunkel Spezial (Jubel).
Eisbock - Este é o tipo mais forte de Bock. É obtido através da redução da temperatura de uma cerveja do tipo doppelbock até esta começar a formar gelo. Por essa altura, remove-se o gelo e o resultado é uma cerveja com uma concentração mais alta de álcool. Esta técnica reflecte-se também no sabor, mais concentrado e rico em malte, o que lhe dá uma certa doçura, necessária para equilibrar com o acentuado teor de álcool, que chega a ascender aos 8%. A cor pode variar entre o castanho-avermelhado e o preto. A experimentar: Kuhnhenn Raspberry Eisbock; Aventinus Eisbock; Castle Eggenberg Urbock Dunkel Eisbock.
European Strong Lager - A maior parte das cervejeiras do mundo produz uma cerveja mais forte e alcoólica, baseada na sua lager normal. O efeito pretendido é obtido através do aumento da quantidade de malte utilizado e do álcool, o que, por outro lado, reduz a presença do lúpulo no aroma e no sabor. São facilmente distinguidas das Malt Liquors pois estas são apenas elaboradas com malte, o que lhes dá um toque mais acentuado a este cereal. As European Strong Lager são bastante comuns e é um estilo que se encontra em franco crescimento. A experimentar: Carlsberg Elephant; Clipper City Heavy Seas Small Craft Warning; Tuborg Royal Danish Strong Beer (engarrafada pela Unicer sob licença da Tuborg).
Japanese Rice Lagers - Similar a muitas Macro Lagers, devido à redução na utilização de cereais nobres em favor do arroz e, apesar disso, não o suficiente para serem consideradas Happoshu, estas cervejas são amarelo-claro, algo amargas devido ao lúpulo, aguadas e com um fim seco. Em geral são baratas e de baixa qualidade. Independentemente desse facto, acompanham bem refeições picantes e muito condimentadas. A experimentar: Asahi Super Dry; Sapporo Premium Beer; Suntory.
Landbier/Zwickel/Keller - Três estilos bastante relacionados, raros, antigos, únicos e típicos da Alemanha. As Kellerbiers são cervejas não filtradas e não pasteurizadas, utilizando técnicas de produção que se mantêm desde a Idade Média. O produto final é suave, naturalmente opaco e com alto teor de vitaminas, fruto dos fermentos presentes na sua elaboração. O sabor amargo transmitido pelo lúpulo pode ser elevado, sendo talvez essa a grande diferença para as Zwickel Bier, que são mais suaves e têm um sabor menos pronunciado. Quanto às Landbier, a sua maior qualidade é um sabor a malte mais profundo, apesar de também sofrer da falta de gás característica dos dois estilos atrás referidos. É de realçar que o gás destas cervejas é natural, surgindo durante o processo de fermentação. Finamente, acrescente-se que as Landbier podem ser filtradas. Em qualquer um dos estilos, o teor alcoólico não é muito elevado variando entre os 4% e os 7% ABV. A experimentar: Griess Kellerbier; Fursten Zwickel; Echt Veldensteiner Landbier.
Malt Liquor - Um estilo não muito bem visto pelos apreciadores, as Malt Liquor, tipicamente americanas, são lagers mais fortes e com mais álcool. Têm cor palha, por vezes âmbar, sabor aguado e sem carácter, muito por causa da utilização de açucar, arroz e milho em detrimento do malte. O lúpulo raramente é utilizado e, quando o é, serve apenas para equilibrar o aroma e sabor da cerveja. Tal facto resulta em cervejas extremamente fortes - em termos de álcool, entenda-se - com percentagens que variam entre os 6% e os 9% ABV. A experimentar: Molson XXX; Colt 45; Olde English 800.
Pale Lager - Estamos perante o estilo mais mal-amado dos conhecedores de cerveja e não sem uma certa razão! As Pale Lager são o estilo de cerveja mais popular e consumido no mundo, sendo que a maior parte das cervejas deste tipo se baseiam nos três exemplos clássicos deste género: a Carlsberg, a Heineken e a Budweiser. A sua cor é, habitualmente, amarela clara e muito transparente, com alto teor de gás e uma percentagem de álcool que varia entre os 4% e os 6%. A presença de malte ou cevada é quase nula quer no aroma, quer no sabor, havendo algumas notas de lúpulo que lhe dão o característico sabor amargo e por vezes, também de milho. Estas cervejas são feitas para agradar a um número máximo de consumidores e por isso tentam não ter sabores muito intensos. A sua produção é industrial e por isso é usual encontrarmos alguma artificialidade em certos produtos, muito aguados e sem características que os diferenciem de centenas de outras Pale Lagers que se produzem por esse mundo fora. Se quiser experimentar este estilo não é preciso ir muito longe: a Sagres e a Super Bock fazem parte deste lote de cervejas. Felizmente e, na minha opinião, que confesso poder ser parcial devido a ser português, são das melhores cervejas que bebi dentro do género: frescas, leves e suficientemente saborosas para acompanhar uma refeição, uns salgados ou simplesmente para serem bebidas quando estamos na praia, na esplanada ou quando saimos à noite. A experimentar: Summerfest; O.K. Beer; Sagres; Super Bock.
Pilsner - A definição do estilo pilsener encontra grande campo de debate entre os conhecedores de cerveja. Aqui caem todas aquelas marcas que não podem ser consideradas pilseners da Boémia ou pilseners germânicas clássicas. Geralmente, referem-se a lagers pálidas, amarelas e com presença de lúpulo quer no aroma, quer no sabor. O teor alcoólico varia entre 4,0% e 5,5%. Muitas vezes são designadas pela abreviatura Pils. A experimentar: Wiibroe Pilsner Helsingor; Tuppers Hop Pocket Pils; Christoffel Blond.
Premium Lager - As Premium Lager situam-se entre as Pale Lager comerciais e as Pilsener. Sendo esta diferença muito ténue, é habitual certas cervejas auto-intitularem-se Premium Lagers mas, de facto, não o serem. As que o são, têm cor dourada ou mesmo acobreada e possuem um forte carácter dado pelo malte e pelo lúpulo. O álcool costuma variar entre 4,5% e 5,5% e têm menos gás do que uma pale lager ou do que uma pilsener germânica clássica. É, em geral, um produto típico de pequenas industrias cervejeiras ou mesmo de pubs e bares que produzem as sua próprias bebidas. A experimentar: Spaten Premium Lager; Boulevard Bobs 47 Munich-Style Lager; Creemore Springs Premium Lager.
Rauchbier - Estilo com bastantes tradições na Alemanha, as suas origens remontam ao início do século XVI, altura em que começaram a ser produzidos os primeiros exemplares na região de Bamberg. É uma cerveja escura, com grandes semelhanças com as Oktoberfest/Marzen. Essa tonalidade é-lhe transmitida pelo malte, que sofre um processo de transformação ao ser colocado junto a lareiras para ficar com um sabor fumado (rauch é a palavra alemã para fumado). O uso deste ingrediente dá um sabor muito característico à cerveja, semelhante a carne fumada e com notas de especiarias. O volume de álcool varia entre os 4% e os 7%. A experimentar: Aecht Schelenkerla Rauchbier Marzen; Triumph Rauchbier; Spezial Rauchbier Lager.
Schwarzbier - Esta palavra significa em alemão cerveja preta. Simplesmente. Não tem nenhuma conotação com a cerveja ser encorpada, leve ou complexa, apesar da tendência ser para exemplares que não dependem tanto do malte como as Stout e as Porter, havendo portanto lugar ao aparecimento do sabor do lúpulo, o que lhes dá um certo carácter amargo, não presente nos outros dois estilos referidos. São uma excelente escolha para os dias frios, já que são cervejas suficientemente complexas, saborosas e encorpadas para aquecer qualquer alma e isto sem o carácter pujante e por vezes sobredimensionado presente nas Porter e nas Stouts. A experimentar: Sprecher Black Bavarian; Herold Cerny Lezak; Kulmbacher Monchshof Shwarzbier.
Smoked - As Smoked clássicas são provenientes de Bamberg, na Alemanha. São feitas usando malte previamente fumado, o que dá as cervejas um carácter muito robusto e distinto. Esta técnica é também usada para a produção de outros tipos de cerveja, como algumas Scotch Ales e Porters. No entanto, o estilo que com este mais se assemelha talvez seja o das Rauchbier, que também utiliza malte fumado e que é igualmente proveniente da cidade de Bamberg. A experimentar: Alaskan Smoked Porter; Aecht Schlenkerla Fastenbier; Bièropholie Calumet.
Vienna - Deve o seu nome à capital da Áustria, Viena, cidade de origem deste tipo de cerveja. É uma bebida leve, com sabor e aroma a malte, bastante próxima das Marzen e das Oktoberfest. Apesar da sua origem alemã/austríaca, é, hoje em dia, quase uma raridade encontrar este estilo de cerveja à venda em grandes quantidades. Curiosamente, alguns dos exemplos mais característicos são oriundos do México: a Dos Equis e a Negra Modelo. A experimentar: Schell FireBrick; Svaneke Bryghus Byens; Capital Winter Skal.
As Lager são o tipo de cerveja mais comum, quer em Portugal, quer no resto do mundo. Tal não que dizer que sejam o melhor estilo: isso depende muito do gosto de cada pessoa e da facilidade com que se tem acesso a outros tipos de cerveja. Analisando o que se passa no nosso país, verificamos que cerca de 75% das cervejas à venda são do estilo Lager e que estas representam, aproximadamente, 90% do total de vendas. De facto, Lager era o termo usado para descrever cervejas de fermentação em baixo, quer alemãs, quer checas, apesar destas últimas serem mais conhecidas por Pilsener. A palavra deriva do alemão lagern que significa algo como armazenar. Este termo referia-se ao hábito que se tinha de armazenar este tipo de cervejas em locais onde a temperatura era muito baixa e isto por longos períodos de tempo, antes de se passar à fase de consumo propriamente dita.
As suas origens remontam à Baviera do século XIX, local onde os mestres cervejeiros tinham por hábito guardar os seus produtos em caves muito frias de modo a lhe darem uma certa maturação. Esses produtos, as Lagerbier, eram o resultado de anos de desenvolvimento de técnicas de refrigeração e de utilização de um fermento especial. A principal diferença desse fermento para o que se utilizava no resto da Europa residia no facto de o seu depósito ficar no fundo após a fermentação, ao contrário das Ale, cujo resíduo subia ao topo.
O desenvolvimento das Lager teve um grande impulso entre os anos de 1820 a 1830, altura em que Gabriel Sedlmayr II the Younger, familiar dos donos da Cervejeira Spaten, viajou pela Europa à procura de técnicas que lhe permitissem desenvolver os seus dotes de cervejeiro. Ao regressar dessa viagem, ele usou os seus novos conhecimentos para criar uma Lager mais consistente e estável. Apesar disso, as Lager desse período ainda eram bem diferentes do produto que conhecemos hoje em dia, muito por causa da água de Munique, que fazia com que as cervejas ficassem escuras e "pesadas". Não restem no entanto dúvidas que os progressos de Sedlmayr foram importantíssimos e tal facto é facilmente perceptível ao verificarmos que a receita que ele desenvolveu se espalhou rapidamente por toda a Europa. Como exemplo, refira-se que o seu amigo Anton Dreher utilizou a nova técnica para melhorar a cerveja Vienense, já que a água da capital austríaca permitia o uso de um malte mais suave, o que dava à cerveja uma característica cor âmbar-vermelha.
A nova receita também chegou à Boémia, onde a técnica foi aperfeiçoada. No ano de 1842, na cidade de Plzen, Josef Groll, jovem originário da Baviera, utilizou um malte diferente do habitual que, em combinação com a água muito leve da localidade, deu origem a uma cerveja cor de ouro e muito clara. Esta experiência daria origem à Pilsener ou Pilsner, estilo que rapidamente se espalhou com grande sucesso pela Europa. Actualmente, a Pilsener é uma cerveja clara, com um volume pronunciado de gás, sabor a lúpulo e uma percentagem de álcool que varia entre 3 a 6%. A Pilsner Urquell (Pilsener Original) é o exemplo típico de uma cerveja Pilsener. A maior parte das Lager actuais baseiam-se neste estilo, apesar de terem perdido muito da sua característica acidez.
De um modo mais específico, podemos pois considerar os seguintes tipos
American Dark Lager/All-Malt Lager - Dois estilos muito próximos, caracterizados por uma cor escura proveniente da junção de malte e por vezes de caramelo, sendo que, em princípio, as All-Malt apenas utilizam malte na sua concepção, enquanto que as Dark Lager podem ter a junção de outros cereais. São cervejas leves e com bastante gás, algo doces, com pouco carácter, sabor a malte e a caramelo e, curiosamente, aproximam-se mais das lagers mais claras do que dos estilos de lagers escuras. A experimentar: Saranac Seasons Best Nut Brown Lager; Lowenbrau Dark; Brooklyn Lager.
American Macro Lager - Leves, claras, gaseificadas e aguadas, as lagers americanas de grande consumo surgiram aquando da criação das grandes empresas cervejeiras, logo após o fim da Proibição. Não muito amargas, médio-baixo teor de álcool, pouco sabor e aroma! Aqui, o mais importante é a produção em grande massa, cortando-se em cereais nobres como a cevada, malte e lúpulo e abusando-se do milho e do arroz. Pelo menos, o produto final é barato, apesar da qualidade do mesmo deixar muito a desejar. A experimentar: Miller High Life; Pabst Blue Ribbon; Molson Canadian Lager.
Bock - As origens da Bock encontram-se envoltas em grandes dúvidas. Uma das justificações que se encontrou para o surgimento deste estilo, prende-se com as prácticas ancestrais dos mosteiros medievais germânicos, locais onde se produzia uma cerveja forte e nutritiva que ajudava os monges a suportar os períodos de jejum, já que durante essas épocas apenas seria proibido ingerir comida sólida. Relativamente ao nome, alguns teóricos acreditam que a palvra Bock é apenas a abreviatura de Einbeck, donde teria surgido Beck e, mais tarde, Bock. Outros preferem optar por uma explicação mais mitológica e antiga, referindo que certos povos, procurando o auxílio e a protecção dos deuses, produziam a sua cerveja apenas durante o signo do Capricórnio, um género de cabra. Ora como cabra em alemão se diz Bock.... Deixamos ao seu critério qual a explicação que melhor assenta a este tipo de cerveja. Quanto à cerveja na actualidade, é substancialmente mais forte do que uma lager, mais robusta, com uma maior presença de malte e mais escura, podendo chegar a tonalidades castanhas. O volume de álcool varia entre 5,5% e 7,5%, sendo que o grande destaque vai para a sua suavidade, transmitida não só pelo malte como também pelo facto de estagiar alguns meses antes de ser consumida. A experimentar: Utrechts Bok; Chouffe Bok 666; Brasal Bock.
Bohemian Pilsner - A origem deste tipo de cerveja é de simples percepção se atendermos ao seu nome. De facto, a velha cidade de Plzen (ou Pilsen) na actual República Checa, é o berço desta cerveja suave e fresca. As Pilsener (ou Pilsner, ambas as designações estão correctas) foram inicialmente elaboradas por guildas de produtores de cerveja daquela cidade da Boémia, isto por volta do ano de 1840. Actualmente, caracterizam-se por ter uma cor amarela clara a dourada, bastante límpida, algo amarga devido ao intenso uso de lúpulo e com aroma e sabor algo frutados ou mesmo florais. Secas no palato e extremamente refrescantes, têm um volume de álcool que varia entre os 4,5 e os 5,5%. É, sem dúvida, um dos estilos mais conhecidos e consumidos do mundo. A experimentar: Pilsner Urquell; Budweiser Budvar; Starobrno.
California Common/Steam Beer - Este tipo de lager 100% americana é, em geral, produzida com um tipo especial de fermento que consegue melhores resultados a temperaturas mais mornas do que o habitual para uma lager. Esse método teve origem no século XIX, na Califórnia, onde a refrigeração ainda era um luxo. Deste modo, os agricultores utilizavam fermento típico de lagers mas a uma temperatura mais própria para ales, o que lhe dá um carácter singular, com a sua leveza característica das lagers e um paladar a frutas a tender para as ale. A Anchor Brewing Co. registou o termo Steam Beer, pelo que, em geral, todas as outras marcas são referidas como California Common. A experimentar: Anchor Steam Beer; Park City Steamer; New England Atlantic Amber.
Classic German Pilsner/Pils - As pilsner de origem alemã dividem-se em dois grandes grupos: as do norte e as do sul. Os exemplares sulistas estão próximas das pilsner da Boémia, com alto teor de lúpulo alemão e pouco presença de malte. Já os exemplares do norte são mais leves e secos, sendo algo semelhantes a uma pale lager. No geral, são cervejas amarelo-claro, transparentes, espuma branca e pouco persistente, com sabor a lúpulo e, por vezes, a frutos e ervas. A experimentar: Stoudt's Pils; Rothaus Pils Tannen Zapfle; Wurzburger Hofbrau Premium Pilsner.
Doppelbock - Também conhecidas por Double Bock, são uma subcategoria das Bock, mais fortes e ricas, caracterizadas por um intenso sabor a malte, que lhes dá um aroma e sabor algo adocicados, sendo esse factor contrabalançado com o uso de lúpulo para lhes dar um toque final azedo. A cor pode variar do âmbar até ao castanho-escuro e o nível de álcool é, em geral, elevado, variando entre os 7-8%. As Doppelbock tiveram origem no mosteiro Paulaner, em Munique, como forma de complemento para as refeições dos monges. A maior parte dos exemplos Bávaros deste tipo de cerveja acabam no sufixo -ator, em referência à primeira cerveja do género posta a circular comercialmente, a Salvator, produzida pelos monges Paulaner. A experimentar: Ayinger Celebrator Doppelbock; Fish Tale Detonator Doppelbock; Augustiner Maximator.
Dortmunder/Helles - Estes dois estilos estão bastante relacionados e próximos, sendo que o primeiro é originário da região de Dortmund, enquanto o último é da Baviera. Ambos são ligeiramente mais fortes do que uma tradicional lager (5,0%-5,6% ABV), têm boa presença de malte e, os melhores exemplos, destacam-se por evidenciarem um sabor a biscoitos, devido ao malte utilizado. São cervejas leves e de fácil ingestão, apesar de algumas Dortmunder da Dinamarca e Holanda serem mais encorpadas e alcoólicas. O carácter amargo é muito similar ao das Pilsner alemãs, aromático e seco. A experimentar: Great Lakes Dortmunder Gold; Burgerbrau Wolnzacher Hell Naturtrub; Aqula Helles.
Dunkel - Estilo típico da Baviera, mais propriamente da região de Munique, são cervejas suaves, ricas e complexas. Têm cor que vai do cobre até ao castanho-escuro, sabor e aroma algo doces, próximo do chocolate, característica que lhes é conferida pelo malte. O teor amargo é médio-baixo, mas o suficiente para contrabalançar com o doce do malte. O lúpulo utilizado costuma ser de origem alemã e de boa qualidade, como o comprovam as espécies habitualmente usadas: o Hallertau e o Tetnang. O volume alcoólico varia entre 4% e 6%. A experimentar: Ayinger Altbairisch Dunkel; Aldersbacher Kloster Dunkel; Altenmunster Jubelbier Dunkel Spezial (Jubel).
Eisbock - Este é o tipo mais forte de Bock. É obtido através da redução da temperatura de uma cerveja do tipo doppelbock até esta começar a formar gelo. Por essa altura, remove-se o gelo e o resultado é uma cerveja com uma concentração mais alta de álcool. Esta técnica reflecte-se também no sabor, mais concentrado e rico em malte, o que lhe dá uma certa doçura, necessária para equilibrar com o acentuado teor de álcool, que chega a ascender aos 8%. A cor pode variar entre o castanho-avermelhado e o preto. A experimentar: Kuhnhenn Raspberry Eisbock; Aventinus Eisbock; Castle Eggenberg Urbock Dunkel Eisbock.
European Strong Lager - A maior parte das cervejeiras do mundo produz uma cerveja mais forte e alcoólica, baseada na sua lager normal. O efeito pretendido é obtido através do aumento da quantidade de malte utilizado e do álcool, o que, por outro lado, reduz a presença do lúpulo no aroma e no sabor. São facilmente distinguidas das Malt Liquors pois estas são apenas elaboradas com malte, o que lhes dá um toque mais acentuado a este cereal. As European Strong Lager são bastante comuns e é um estilo que se encontra em franco crescimento. A experimentar: Carlsberg Elephant; Clipper City Heavy Seas Small Craft Warning; Tuborg Royal Danish Strong Beer (engarrafada pela Unicer sob licença da Tuborg).
Japanese Rice Lagers - Similar a muitas Macro Lagers, devido à redução na utilização de cereais nobres em favor do arroz e, apesar disso, não o suficiente para serem consideradas Happoshu, estas cervejas são amarelo-claro, algo amargas devido ao lúpulo, aguadas e com um fim seco. Em geral são baratas e de baixa qualidade. Independentemente desse facto, acompanham bem refeições picantes e muito condimentadas. A experimentar: Asahi Super Dry; Sapporo Premium Beer; Suntory.
Landbier/Zwickel/Keller - Três estilos bastante relacionados, raros, antigos, únicos e típicos da Alemanha. As Kellerbiers são cervejas não filtradas e não pasteurizadas, utilizando técnicas de produção que se mantêm desde a Idade Média. O produto final é suave, naturalmente opaco e com alto teor de vitaminas, fruto dos fermentos presentes na sua elaboração. O sabor amargo transmitido pelo lúpulo pode ser elevado, sendo talvez essa a grande diferença para as Zwickel Bier, que são mais suaves e têm um sabor menos pronunciado. Quanto às Landbier, a sua maior qualidade é um sabor a malte mais profundo, apesar de também sofrer da falta de gás característica dos dois estilos atrás referidos. É de realçar que o gás destas cervejas é natural, surgindo durante o processo de fermentação. Finamente, acrescente-se que as Landbier podem ser filtradas. Em qualquer um dos estilos, o teor alcoólico não é muito elevado variando entre os 4% e os 7% ABV. A experimentar: Griess Kellerbier; Fursten Zwickel; Echt Veldensteiner Landbier.
Malt Liquor - Um estilo não muito bem visto pelos apreciadores, as Malt Liquor, tipicamente americanas, são lagers mais fortes e com mais álcool. Têm cor palha, por vezes âmbar, sabor aguado e sem carácter, muito por causa da utilização de açucar, arroz e milho em detrimento do malte. O lúpulo raramente é utilizado e, quando o é, serve apenas para equilibrar o aroma e sabor da cerveja. Tal facto resulta em cervejas extremamente fortes - em termos de álcool, entenda-se - com percentagens que variam entre os 6% e os 9% ABV. A experimentar: Molson XXX; Colt 45; Olde English 800.
Pale Lager - Estamos perante o estilo mais mal-amado dos conhecedores de cerveja e não sem uma certa razão! As Pale Lager são o estilo de cerveja mais popular e consumido no mundo, sendo que a maior parte das cervejas deste tipo se baseiam nos três exemplos clássicos deste género: a Carlsberg, a Heineken e a Budweiser. A sua cor é, habitualmente, amarela clara e muito transparente, com alto teor de gás e uma percentagem de álcool que varia entre os 4% e os 6%. A presença de malte ou cevada é quase nula quer no aroma, quer no sabor, havendo algumas notas de lúpulo que lhe dão o característico sabor amargo e por vezes, também de milho. Estas cervejas são feitas para agradar a um número máximo de consumidores e por isso tentam não ter sabores muito intensos. A sua produção é industrial e por isso é usual encontrarmos alguma artificialidade em certos produtos, muito aguados e sem características que os diferenciem de centenas de outras Pale Lagers que se produzem por esse mundo fora. Se quiser experimentar este estilo não é preciso ir muito longe: a Sagres e a Super Bock fazem parte deste lote de cervejas. Felizmente e, na minha opinião, que confesso poder ser parcial devido a ser português, são das melhores cervejas que bebi dentro do género: frescas, leves e suficientemente saborosas para acompanhar uma refeição, uns salgados ou simplesmente para serem bebidas quando estamos na praia, na esplanada ou quando saimos à noite. A experimentar: Summerfest; O.K. Beer; Sagres; Super Bock.
Pilsner - A definição do estilo pilsener encontra grande campo de debate entre os conhecedores de cerveja. Aqui caem todas aquelas marcas que não podem ser consideradas pilseners da Boémia ou pilseners germânicas clássicas. Geralmente, referem-se a lagers pálidas, amarelas e com presença de lúpulo quer no aroma, quer no sabor. O teor alcoólico varia entre 4,0% e 5,5%. Muitas vezes são designadas pela abreviatura Pils. A experimentar: Wiibroe Pilsner Helsingor; Tuppers Hop Pocket Pils; Christoffel Blond.
Premium Lager - As Premium Lager situam-se entre as Pale Lager comerciais e as Pilsener. Sendo esta diferença muito ténue, é habitual certas cervejas auto-intitularem-se Premium Lagers mas, de facto, não o serem. As que o são, têm cor dourada ou mesmo acobreada e possuem um forte carácter dado pelo malte e pelo lúpulo. O álcool costuma variar entre 4,5% e 5,5% e têm menos gás do que uma pale lager ou do que uma pilsener germânica clássica. É, em geral, um produto típico de pequenas industrias cervejeiras ou mesmo de pubs e bares que produzem as sua próprias bebidas. A experimentar: Spaten Premium Lager; Boulevard Bobs 47 Munich-Style Lager; Creemore Springs Premium Lager.
Rauchbier - Estilo com bastantes tradições na Alemanha, as suas origens remontam ao início do século XVI, altura em que começaram a ser produzidos os primeiros exemplares na região de Bamberg. É uma cerveja escura, com grandes semelhanças com as Oktoberfest/Marzen. Essa tonalidade é-lhe transmitida pelo malte, que sofre um processo de transformação ao ser colocado junto a lareiras para ficar com um sabor fumado (rauch é a palavra alemã para fumado). O uso deste ingrediente dá um sabor muito característico à cerveja, semelhante a carne fumada e com notas de especiarias. O volume de álcool varia entre os 4% e os 7%. A experimentar: Aecht Schelenkerla Rauchbier Marzen; Triumph Rauchbier; Spezial Rauchbier Lager.
Schwarzbier - Esta palavra significa em alemão cerveja preta. Simplesmente. Não tem nenhuma conotação com a cerveja ser encorpada, leve ou complexa, apesar da tendência ser para exemplares que não dependem tanto do malte como as Stout e as Porter, havendo portanto lugar ao aparecimento do sabor do lúpulo, o que lhes dá um certo carácter amargo, não presente nos outros dois estilos referidos. São uma excelente escolha para os dias frios, já que são cervejas suficientemente complexas, saborosas e encorpadas para aquecer qualquer alma e isto sem o carácter pujante e por vezes sobredimensionado presente nas Porter e nas Stouts. A experimentar: Sprecher Black Bavarian; Herold Cerny Lezak; Kulmbacher Monchshof Shwarzbier.
Smoked - As Smoked clássicas são provenientes de Bamberg, na Alemanha. São feitas usando malte previamente fumado, o que dá as cervejas um carácter muito robusto e distinto. Esta técnica é também usada para a produção de outros tipos de cerveja, como algumas Scotch Ales e Porters. No entanto, o estilo que com este mais se assemelha talvez seja o das Rauchbier, que também utiliza malte fumado e que é igualmente proveniente da cidade de Bamberg. A experimentar: Alaskan Smoked Porter; Aecht Schlenkerla Fastenbier; Bièropholie Calumet.
Vienna - Deve o seu nome à capital da Áustria, Viena, cidade de origem deste tipo de cerveja. É uma bebida leve, com sabor e aroma a malte, bastante próxima das Marzen e das Oktoberfest. Apesar da sua origem alemã/austríaca, é, hoje em dia, quase uma raridade encontrar este estilo de cerveja à venda em grandes quantidades. Curiosamente, alguns dos exemplos mais característicos são oriundos do México: a Dos Equis e a Negra Modelo. A experimentar: Schell FireBrick; Svaneke Bryghus Byens; Capital Winter Skal.
Editado pela última vez por PQD em Ter Ago 19, 2008 11:17 am, em um total de 1 vez.
Cabeça dos outros é terra que ninguem anda... terras ermas...