Míssil made in Portugal
No dia:21-01-2008
Uma equipa de professores dos departamentos de Informática e Matemática da Escola de Tecnologia e Gestão (ESTG) da Guarda está a desenvolver um projecto de construção de um míssil de curto alcance para aplicações militares. O projecto, inédito em Portugal, ainda está numa fase embrionária, mas segundo os promotores estará pronto para o teste definitivo dentro de oito meses.
O objectivo dos investigadores é provar que Portugal tem potencialidades para “dar cartas” na indústria aeronáutica, bastando, para isso, que “haja vontade” dos investidores e “abertura” do Estado.
Se tudo decorrer como o previsto e se o projecto for bem sucedido, Luís Tenedório, mentor da iniciativa, não tem dúvidas em afirmar que “a cidade da Guarda pode avançar para a construção da primeira fábrica de mísseis do País”. Em paralelo, a equipa desenvolve conhecimentos científicos nunca antes colocados em prática.
Por agora, a construção do míssil terra-terra desenvolve-se no laboratório de fluído e dinâmica e na sala do departamento de Informática, onde a parte que será o ‘cérebro’ da munição está ligada a um computador portátil. Por agora, o artefacto não passa de um protótipo. É a fase mais importante do projecto onde se fazem todos os testes do comportamento do míssil, que vai ter um alcance de quatro quilómetros.
Luís Tenedório, professor de Informática, já tinha este projecto em mente “há mais de seis anos”, mas, por diversas circunstâncias, entre elas a falta de tempo, foi obrigado a adiá-lo até ao ano passado, altura em que convenceu mais três professores a acompanhá-lo “na aventura”. O projecto foi também abraçado pela direcção da ESTG, que lhe disponibilizou apoio logístico e financeiro.
Antes da execução do míssil, que terá 30 quilos e 90 centímetros de comprimento, os docentes vão construir dois de dimensões mais pequenas que serão experimentados em túneis de vento – um dos quais com 800 metros – e que servirão de testes prévios de como o engenho se comporta perante os factores endógenos, como o vento e a gravidade, e outros não previstos.
Tal como nos negócios, também nestes projectos de grande envergadura, onde é necessário um casamento perfeito entre a Matemática e a Tecnologia, o segredo “é a alma da ciência”. Por isso, Luís Tenedório não entra em grandes pormenores para explicar o projecto, mas sempre adianta que o comportamento e a trajectória do míssil estão a ser testados tendo por base fórmulas matemáticas e programas informáticos de alguma complexidade. “Estamos a construir um sistema operativo que possuirá propulsão sólida e que determinará o comportamento do engenho em quaisquer circunstâncias”, afirma o docente, salientando que a complexidade dos programas informáticos não permite o envolvimento dos alunos na iniciativa.
“Ao longo destes meses fomos confrontados com grandes problemas operativos e temos de lidar com questões que ultrapassam o nível de conhecimentos dos nossos alunos”, adianta Luís Tenedório. O professor de Matemática Paulo Vieira, de 36 anos, defende a sua ‘dama’ e afirma que sem os modelos matemáticos “este projecto não teria viabilidade. A Matemática e a Física são essenciais para o desenvolvimento da ciência”, adiantou.
O míssil, que terá capacidade de transportar uma ogiva de dois quilos de explosivo tritonal, terá um sensor giroscópio que o vai guiar até ao alvo e protegê-lo de interferências alheias, naturais ou não. “Pretendemos a exactidão plena”, afirma o docente, que desde muito pequeno se “apaixonou” pela aeronáutica, o comportamento dos aviões e pelos conceitos de navegação aérea.
SUCESSO DEPENDE DA VONTADE DO ESTADO
Luís Tenedório e os quatro docentes envolvidos no projecto – Paulo Vieira (Matemática), António Martins (informático especialista em engenharia do controlo) – estão convencidos de que a ideia terá “consequências reais”, sendo aproveitada por entidades privadas, públicas ou por empresas.
No entanto, essa fase já está “fora do alcance” dos promotores. “Tudo depende da vontade do Estado ou das Forças Armadas em agarrar aquele que será um passo de gigante na construção de material de guerra”, diz o professor de Informática. “Se tudo correr bem o nosso trabalho vai ser compensado”.
Para Luís Tenedório, o projecto “é mais um exemplo claro” de que o ensino “tem de aproximar-se do mundo industrial”. “Basta olhar para o que se passa perto de nós, em Espanha e França, para se ver como se trabalha e se investe na alta tecnologia que se desenvolve nos estabelecimentos de ensino”, adianta o docente.
Se tudo decorrer como previsto, o primeiro míssil de curto alcance, construído em Portugal, estará pronto para ser testado dentro de oito meses. Nessa altura, os mentores do projecto terão de contactar as entidades militares para arranjar um espaço para lançamento e rebentamento do engenho e fornecimento do explosivo tritonal. Quando o míssil estiver no ar, é o ponto alto de um projecto que custou cerca de dez mil euros.
PERFIL
Luís Tenedório, professor de Informática, 48 anos, é natural de Aveiro mas reside na Guarda há sete anos. Antes de se dedicar ao ensino exerceu funções de engenheiro electrónico em várias empresas de material militar e na Força Aérea Portuguesa. Considera-se um “apaixonado” pela matéria e um “viciado” em novas tecnologias e aeronáutica, epítetos que já lhe valeram “muitos problemas familiares”, afiança.
fonte: http://www.ipg.pt/estg/destaque.asp?destaque=12[/quote]