Sobre a blindagem nos helicópteros
Moderadores: J.Ricardo, Conselho de Moderação
Sobre a blindagem nos helicópteros
Outro dia, um companheiro aqui do fórum me perguntou sobre as blindagens no Cougar.
Vamos analisar alguns pontos: não existe helicóptero blindado. A maioria das aeronaves militares têm kits (ou mesmo itens fixos) para proteger partes essenciais das aeronaves, mas nunca é suficiente.
Um exemplo nítido aconteceu na Gothic Serpent (Black Hawk Down). Ambos os BH que foram abatidos foram atingidos na cauda. O cone de cauda (com a árvore de transmissão, haste de comando, caixa de transmissão traseira, estabilizadores e o rotor de cauda em si) é uma área muito sensível e que não tem condições de receber blindagem sob a pena de deslocar o CG da aeronave.
A cabine de carga normalmente pode receber um piso blindado, mas isso diminui a carga útil da aeronave (blindagem sempre pesa muito).
As blindagens comuns da aeronave são nas cadeiras dos pilotos. Motores e transmissão também têm, dependendo do modelo e das possibilidades da aeronave (peso, superaquecimento do motor, resistência da blindagem a altas temperaturas, etc).
Mas existe aquela máxima que entre a espada e o escudo, a espada sempre vence. Mesmo com uma aeronave blindada até o limite de sua capacidade, sempre vai aparecer algum desocupado com uma arma que ultrapasse a blindagem.
Qual a solução então? Na verdade, existem duas, que podem se ramificar em milhares.
A primeira é a solução técnica, que começa do projeto da aeronave. É desejável que os sistemas da aeronave atendem basicamente a três critérios: redundância, independência e dissimilaridade.
O primeiro é o mais óbvio: tem que haver mais de um sistema para cada função: dois ou mais motores, dois ou mais sistemas hidráulicos, etc.
O segundo significa que cada um desses sistemas deve funcionar de maneira diferente: um sistema elétrico e outro mecânico, por exemplo.
O terceiro significa que cada sistema redundante deve funcionar em partes diferentes da aeronave, o mais longe possível do seu backup. Podemos notar, por exemplo, nos helicópteros modernos, com um motor de cada lado da fuselagem. Nos projetos mais antigos, é comum ver ambos ambos os motores sobre a fuselagem, um ao lado do outro. O Mi-28 deixa, inclusive, os motores afastados da fuselagem, muito separados entre si.
Obviamente, nem todos esses critérios podem ser atendidos os tempo todo.
Outras soluções também ajudam bastante: sistemas da aeronave passando pelo teto da aeronave (como no BH) e não pelo piso. Tanques de combustível auto-selantes (o Pantera e Fennec têm, acredito que quase todas as aeronaves modernas devam ter também), etc.
A segunda solução é a tática. Esta é bem óbvia: estudo do terreno e do inimigo, trabalho de inteligência, técnica correta de vôo (isolado e em formação). Tudo o que for possível para evitar o contato com o inimigo.
Abraços,
Vamos analisar alguns pontos: não existe helicóptero blindado. A maioria das aeronaves militares têm kits (ou mesmo itens fixos) para proteger partes essenciais das aeronaves, mas nunca é suficiente.
Um exemplo nítido aconteceu na Gothic Serpent (Black Hawk Down). Ambos os BH que foram abatidos foram atingidos na cauda. O cone de cauda (com a árvore de transmissão, haste de comando, caixa de transmissão traseira, estabilizadores e o rotor de cauda em si) é uma área muito sensível e que não tem condições de receber blindagem sob a pena de deslocar o CG da aeronave.
A cabine de carga normalmente pode receber um piso blindado, mas isso diminui a carga útil da aeronave (blindagem sempre pesa muito).
As blindagens comuns da aeronave são nas cadeiras dos pilotos. Motores e transmissão também têm, dependendo do modelo e das possibilidades da aeronave (peso, superaquecimento do motor, resistência da blindagem a altas temperaturas, etc).
Mas existe aquela máxima que entre a espada e o escudo, a espada sempre vence. Mesmo com uma aeronave blindada até o limite de sua capacidade, sempre vai aparecer algum desocupado com uma arma que ultrapasse a blindagem.
Qual a solução então? Na verdade, existem duas, que podem se ramificar em milhares.
A primeira é a solução técnica, que começa do projeto da aeronave. É desejável que os sistemas da aeronave atendem basicamente a três critérios: redundância, independência e dissimilaridade.
O primeiro é o mais óbvio: tem que haver mais de um sistema para cada função: dois ou mais motores, dois ou mais sistemas hidráulicos, etc.
O segundo significa que cada um desses sistemas deve funcionar de maneira diferente: um sistema elétrico e outro mecânico, por exemplo.
O terceiro significa que cada sistema redundante deve funcionar em partes diferentes da aeronave, o mais longe possível do seu backup. Podemos notar, por exemplo, nos helicópteros modernos, com um motor de cada lado da fuselagem. Nos projetos mais antigos, é comum ver ambos ambos os motores sobre a fuselagem, um ao lado do outro. O Mi-28 deixa, inclusive, os motores afastados da fuselagem, muito separados entre si.
Obviamente, nem todos esses critérios podem ser atendidos os tempo todo.
Outras soluções também ajudam bastante: sistemas da aeronave passando pelo teto da aeronave (como no BH) e não pelo piso. Tanques de combustível auto-selantes (o Pantera e Fennec têm, acredito que quase todas as aeronaves modernas devam ter também), etc.
A segunda solução é a tática. Esta é bem óbvia: estudo do terreno e do inimigo, trabalho de inteligência, técnica correta de vôo (isolado e em formação). Tudo o que for possível para evitar o contato com o inimigo.
Abraços,
Editado pela última vez por Piffer em Seg Fev 11, 2008 7:03 am, em um total de 1 vez.
Carpe noctem!
- knigh7
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Re: Sobre a blindagem nos helicópteros
Piffer escreveu:
Motores e transmissão também têm, dependendo do modelo e das possibilidades da aeronave (peso, superaquecimento do motor, resistência da blindagem a altes temperaturas, etc).
Abraços,
Caro Piffer, antes de tudo, obrigado pela resposta.
Com relação ao quote seu que destaquei acima, gostaria de saber se o Cougar apresenta blindagem fixa nos motores e transmissão, ou se o EB apresenta kits de blindagem para eles.
Julgava que também os vidros fossem blindados, para proteger os pilotos em vôo a baixa altura/desembarque de tropas.
(ademais, na vida civil, está sendo comum conviver com vidros desse tipo).
Atenciosamente
Knight7
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Eu lembro também que já há algum tempo uma empresa fez uma blindagem para um Super Puma da FAB. Na época foi bastante noticiado. Não sei se é essa que você está falando, Beraldi.
As blindagens do Pantera também foram produzidas aqui no Brasil e não têm nada a ver com a Helibrás ou Eurocopter.
Li também sobre um piso blindado para os NH-90 CSAR, que estava sendo produzido na Alemanha.
Os russos na Chechênia, usavam placas do colete nos Mi-8.
Mas são casos específicos e soluções locais, via de regra, as aeronaves não são blindadas.
Abraços,
As blindagens do Pantera também foram produzidas aqui no Brasil e não têm nada a ver com a Helibrás ou Eurocopter.
Li também sobre um piso blindado para os NH-90 CSAR, que estava sendo produzido na Alemanha.
Os russos na Chechênia, usavam placas do colete nos Mi-8.
Mas são casos específicos e soluções locais, via de regra, as aeronaves não são blindadas.
Abraços,
Carpe noctem!
Túlio escreveu:Mas sobre o rotor de cauda? Tem a solução da Kamov...
Os rotores coaxiais tem realmente suas vantagens.
Entre as vantagens está a mais nítida que o Túlio falou: não tem rotor de cauda, o que facilita bastante a vida. Além de eliminar uma parte vulnerável da aeronave, nenhuma potência é perdida para a caixa de transmissão traseira (nos modelos convencionais, ela fica em mais ou menos 6% em baixas velocidades, diminuindo conforme a velocidade aumenta).
Por não ter rotor de cauda, não tem também as limitações associadas a perda de eficiência dele (limite de giro, de velocidade lateral ou de decolagem com vento de través).
Também diminui os efeitos da dissimetria de sustentação e do estol da pá que recua, que são os limitadores da velocidade do helicóptero.
As principais desvantagens estão na complexidade mecânica da caixa de transmissão, bem mais sujeitas a falhas e ao stress estrutural causado por um mastro muito mais longo do que o normal.
Abraços,
Carpe noctem!
- Túlio
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Creio que outro defeito seja a maior altura, comparado a um convencional, numa infiltração/exfiltração - a foto apenas exemplifica O SISTEMA, não se refere exatamente ao TIPO de aeronave - o heli com rotores coaxiais seria bem mais visível e, portanto, mais vulnerável, creio... ![Cool 8-]](./images/smilies/icon_cool.gif)
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“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Gente,
Para tudo na vida tem que existir sensatez, os helos de transporte, não são para atuar como os helos de ataque. E um BH está custando pelo menos 25 milhões a unidade, ou seja, numa operação errada se jogou 50 milhões pela janela, e ainda acabaram com um monte de cadáveres. A atuação dos helos no TO tem semelhanças com os blidandos leves do tipo Piranha, Urutu, etc. A velocidade, dissimulação e a proteção do terreno são fatores essenciais em seu uso. Qualquer exposição prolongada numa aérea muito próxima ao inimigo, é um risco enorme.
Mesmo os Apache da vida ou outros da mesma classe, não pode ser usados de forma impune. Basta existir um MANPAD´s da vida é pronto. Até mesmo uma RPG na curta distância.
[ ]´s
Para tudo na vida tem que existir sensatez, os helos de transporte, não são para atuar como os helos de ataque. E um BH está custando pelo menos 25 milhões a unidade, ou seja, numa operação errada se jogou 50 milhões pela janela, e ainda acabaram com um monte de cadáveres. A atuação dos helos no TO tem semelhanças com os blidandos leves do tipo Piranha, Urutu, etc. A velocidade, dissimulação e a proteção do terreno são fatores essenciais em seu uso. Qualquer exposição prolongada numa aérea muito próxima ao inimigo, é um risco enorme.
Mesmo os Apache da vida ou outros da mesma classe, não pode ser usados de forma impune. Basta existir um MANPAD´s da vida é pronto. Até mesmo uma RPG na curta distância.
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- Pedro Gilberto
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Piffer escreveu:Eu lembro também que já há algum tempo uma empresa fez uma blindagem para um Super Puma da FAB. Na época foi bastante noticiado. Não sei se é essa que você está falando, Beraldi.
As blindagens do Pantera também foram produzidas aqui no Brasil e não têm nada a ver com a Helibrás ou Eurocopter.
Li também sobre um piso blindado para os NH-90 CSAR, que estava sendo produzido na Alemanha.
Os russos na Chechênia, usavam placas do colete nos Mi-8.
Mas são casos específicos e soluções locais, via de regra, as aeronaves não são blindadas.
Abraços,
A empresa que criou esta blindagem foi a Helipark. Me lembro de ter relido numa RFA esta notícia quando da polêmica da compra dos 50 Cougar para as FAs
http://www.helipark.com.br/3_5.asp?idsal=12&Idioma=0
[]´s
"O homem erra quando se convence de ver as coisas como não são. O maior erro ainda é quando se persuade de que não as viu, tendo de fato visto." Alexandre Dumas
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PS: uma foto que encontrei no site da ALIDE
http://www.alide.com.br/noticias/fab22/fab22-002.jpg
Noticia completa
http://www.alide.com.br/noticias/fab22/index.htm
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http://www.alide.com.br/noticias/fab22/fab22-002.jpg
Noticia completa
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Editado pela última vez por Pedro Gilberto em Ter Fev 12, 2008 2:46 pm, em um total de 1 vez.
"O homem erra quando se convence de ver as coisas como não são. O maior erro ainda é quando se persuade de que não as viu, tendo de fato visto." Alexandre Dumas
- rodrigo
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Muito boa explicação.
Piffer, o que é mais sensível ao fogo de armas portáteis:
1- piloto dentro da cabine;
2- tanque de combustível;
3- rotor de cauda.
Piffer, o que é mais sensível ao fogo de armas portáteis:
1- piloto dentro da cabine;
2- tanque de combustível;
3- rotor de cauda.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
O que é mais sensível, eu não sei...
O piloto - a aeronave não voa sem esse cidadão. Se tiver comandos duplos, dá pra voar ainda, mas o piloto está morto do mesmo jeito.
O rotor de cauda - tem várias panes associadas a ele, que podem ser reunidas em duas: a pane de comando (o rotor continua girando, mas sem controle) e a pane de acionamento (o rotor pára de girar, perde as pás ou algo parecido). No primeiro caso, dá para voar sem muito stress e fazer um pouso corrido de emergência em alta velocidade (aeronaves com rodas levam vantagem nessa situação). No segundo caso, teoricamente também dá para voar sem muito stress, mas o pouso é mais complicado, porque precisa cortar o motor. Não sei se você lembra do Black Hawk Down, os pilotos cortam o motor um pouco antes do crash, mas ja era tarde.
Essas são panes exclusivas do rotor de cauda. Se foram danos ao cone de cauda, são bem mais graves e afetam muito mais a capacidade da aeronave voar.
O BH tem aquele estabilizador horizontal móvel (parece um profundor). Além disso, ele tem um CG deslocado para trás (ou o rotor muito pra frente, como preferirem). Dá pra ver que ele voa com a cauda baixa e o rotor de cauda é inclinado, tendo uma função secundária de sustentação também. Problemas no cone de cauda dele não mais complicados que na maioria das aeronaves.
O tanque de combustível não é tão grave. Se não for uma munição incendiária (revestida de fósforo branco, que não é muito comum) , o combustível não se incendeia (teoricamente
). Dá para voar até o limite do combustível que está vazando e pousar em segurança. Lembrando também que os tanques são auto-selantes; um ou dois tiros não vão fazer um estrago grande.
Abraços,
O piloto - a aeronave não voa sem esse cidadão. Se tiver comandos duplos, dá pra voar ainda, mas o piloto está morto do mesmo jeito.
O rotor de cauda - tem várias panes associadas a ele, que podem ser reunidas em duas: a pane de comando (o rotor continua girando, mas sem controle) e a pane de acionamento (o rotor pára de girar, perde as pás ou algo parecido). No primeiro caso, dá para voar sem muito stress e fazer um pouso corrido de emergência em alta velocidade (aeronaves com rodas levam vantagem nessa situação). No segundo caso, teoricamente também dá para voar sem muito stress, mas o pouso é mais complicado, porque precisa cortar o motor. Não sei se você lembra do Black Hawk Down, os pilotos cortam o motor um pouco antes do crash, mas ja era tarde.
Essas são panes exclusivas do rotor de cauda. Se foram danos ao cone de cauda, são bem mais graves e afetam muito mais a capacidade da aeronave voar.
O BH tem aquele estabilizador horizontal móvel (parece um profundor). Além disso, ele tem um CG deslocado para trás (ou o rotor muito pra frente, como preferirem). Dá pra ver que ele voa com a cauda baixa e o rotor de cauda é inclinado, tendo uma função secundária de sustentação também. Problemas no cone de cauda dele não mais complicados que na maioria das aeronaves.
O tanque de combustível não é tão grave. Se não for uma munição incendiária (revestida de fósforo branco, que não é muito comum) , o combustível não se incendeia (teoricamente



Abraços,
Carpe noctem!
Piffer, gostaria que você comentasse a possível utilização do helicótero blindado pela polícia carioca. Do meu ponto de vista, o problema é eles acharem que o helicóptero realmente é um 'caveirão do ar'...
As GATs e RPs estão em toda cidade!
Como diria Bezerra da Silva: "Malandro é Malandro... Mané é Mané..."
Como diria Bezerra da Silva: "Malandro é Malandro... Mané é Mané..."

As operações policiais não são a minha praia. Talvez o Beraldi possa responder isso melhor.
Se o helicóptero vai continuar a ser usado para C2 e tiro (que eu acho ineficiente, pelo menos o de precisão), eu acho que o Esquilo dá conta.
Se vão usar para outras missões (PC aéreo, infiltração), aí a história é outra.
Abraços,
Se o helicóptero vai continuar a ser usado para C2 e tiro (que eu acho ineficiente, pelo menos o de precisão), eu acho que o Esquilo dá conta.
Se vão usar para outras missões (PC aéreo, infiltração), aí a história é outra.
Abraços,
Carpe noctem!