Sobre a blindagem nos helicópteros

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Piffer
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Sobre a blindagem nos helicópteros

#1 Mensagem por Piffer » Dom Fev 10, 2008 2:30 pm

Outro dia, um companheiro aqui do fórum me perguntou sobre as blindagens no Cougar.

Vamos analisar alguns pontos: não existe helicóptero blindado. A maioria das aeronaves militares têm kits (ou mesmo itens fixos) para proteger partes essenciais das aeronaves, mas nunca é suficiente.

Um exemplo nítido aconteceu na Gothic Serpent (Black Hawk Down). Ambos os BH que foram abatidos foram atingidos na cauda. O cone de cauda (com a árvore de transmissão, haste de comando, caixa de transmissão traseira, estabilizadores e o rotor de cauda em si) é uma área muito sensível e que não tem condições de receber blindagem sob a pena de deslocar o CG da aeronave.

A cabine de carga normalmente pode receber um piso blindado, mas isso diminui a carga útil da aeronave (blindagem sempre pesa muito).

As blindagens comuns da aeronave são nas cadeiras dos pilotos. Motores e transmissão também têm, dependendo do modelo e das possibilidades da aeronave (peso, superaquecimento do motor, resistência da blindagem a altas temperaturas, etc).

Mas existe aquela máxima que entre a espada e o escudo, a espada sempre vence. Mesmo com uma aeronave blindada até o limite de sua capacidade, sempre vai aparecer algum desocupado com uma arma que ultrapasse a blindagem.

Qual a solução então? Na verdade, existem duas, que podem se ramificar em milhares.

A primeira é a solução técnica, que começa do projeto da aeronave. É desejável que os sistemas da aeronave atendem basicamente a três critérios: redundância, independência e dissimilaridade.

O primeiro é o mais óbvio: tem que haver mais de um sistema para cada função: dois ou mais motores, dois ou mais sistemas hidráulicos, etc.

O segundo significa que cada um desses sistemas deve funcionar de maneira diferente: um sistema elétrico e outro mecânico, por exemplo.

O terceiro significa que cada sistema redundante deve funcionar em partes diferentes da aeronave, o mais longe possível do seu backup. Podemos notar, por exemplo, nos helicópteros modernos, com um motor de cada lado da fuselagem. Nos projetos mais antigos, é comum ver ambos ambos os motores sobre a fuselagem, um ao lado do outro. O Mi-28 deixa, inclusive, os motores afastados da fuselagem, muito separados entre si.

Obviamente, nem todos esses critérios podem ser atendidos os tempo todo.

Outras soluções também ajudam bastante: sistemas da aeronave passando pelo teto da aeronave (como no BH) e não pelo piso. Tanques de combustível auto-selantes (o Pantera e Fennec têm, acredito que quase todas as aeronaves modernas devam ter também), etc.

A segunda solução é a tática. Esta é bem óbvia: estudo do terreno e do inimigo, trabalho de inteligência, técnica correta de vôo (isolado e em formação). Tudo o que for possível para evitar o contato com o inimigo.

Abraços,




Editado pela última vez por Piffer em Seg Fev 11, 2008 7:03 am, em um total de 1 vez.
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Re: Sobre a blindagem nos helicópteros

#2 Mensagem por knigh7 » Dom Fev 10, 2008 4:00 pm

Piffer escreveu:
Motores e transmissão também têm, dependendo do modelo e das possibilidades da aeronave (peso, superaquecimento do motor, resistência da blindagem a altes temperaturas, etc).
Abraços,


Caro Piffer, antes de tudo, obrigado pela resposta.

Com relação ao quote seu que destaquei acima, gostaria de saber se o Cougar apresenta blindagem fixa nos motores e transmissão, ou se o EB apresenta kits de blindagem para eles.
Julgava que também os vidros fossem blindados, para proteger os pilotos em vôo a baixa altura/desembarque de tropas.
(ademais, na vida civil, está sendo comum conviver com vidros desse tipo).

Atenciosamente


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#3 Mensagem por Piffer » Dom Fev 10, 2008 4:24 pm

Fixa, com certeza não tem. Assim como o BH, Mi-17 ou qualquer outra aeronave.

Como eu disse, os helis não são muito afeitos à blindagem.




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#4 Mensagem por Túlio » Dom Fev 10, 2008 6:08 pm

Mas sobre o rotor de cauda? Tem a solução da Kamov...

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#5 Mensagem por A.K. for T-7 » Dom Fev 10, 2008 6:14 pm

Tem uma notícia no Defesanet, do início do ano, sob os Kits de blindagem cerâmica feitos no Brasil para os Cougar. É só pesquisar. São placas cerâmicas/poliméricas que são aplicadas nas portas, nos compartimentos do motor, etc.




Se chiar resolvesse, Sonrisal não morria afogado.
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#6 Mensagem por Piffer » Dom Fev 10, 2008 6:22 pm

Eu lembro também que já há algum tempo uma empresa fez uma blindagem para um Super Puma da FAB. Na época foi bastante noticiado. Não sei se é essa que você está falando, Beraldi.

As blindagens do Pantera também foram produzidas aqui no Brasil e não têm nada a ver com a Helibrás ou Eurocopter.

Li também sobre um piso blindado para os NH-90 CSAR, que estava sendo produzido na Alemanha.

Os russos na Chechênia, usavam placas do colete nos Mi-8.

Mas são casos específicos e soluções locais, via de regra, as aeronaves não são blindadas.

Abraços,




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#7 Mensagem por Piffer » Dom Fev 10, 2008 6:46 pm

Túlio escreveu:Mas sobre o rotor de cauda? Tem a solução da Kamov...

Imagem


Os rotores coaxiais tem realmente suas vantagens.

Entre as vantagens está a mais nítida que o Túlio falou: não tem rotor de cauda, o que facilita bastante a vida. Além de eliminar uma parte vulnerável da aeronave, nenhuma potência é perdida para a caixa de transmissão traseira (nos modelos convencionais, ela fica em mais ou menos 6% em baixas velocidades, diminuindo conforme a velocidade aumenta).

Por não ter rotor de cauda, não tem também as limitações associadas a perda de eficiência dele (limite de giro, de velocidade lateral ou de decolagem com vento de través).

Também diminui os efeitos da dissimetria de sustentação e do estol da pá que recua, que são os limitadores da velocidade do helicóptero.

As principais desvantagens estão na complexidade mecânica da caixa de transmissão, bem mais sujeitas a falhas e ao stress estrutural causado por um mastro muito mais longo do que o normal.

Abraços,




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#8 Mensagem por Túlio » Dom Fev 10, 2008 7:32 pm

Creio que outro defeito seja a maior altura, comparado a um convencional, numa infiltração/exfiltração - a foto apenas exemplifica O SISTEMA, não se refere exatamente ao TIPO de aeronave - o heli com rotores coaxiais seria bem mais visível e, portanto, mais vulnerável, creio... 8-]




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#9 Mensagem por PRick » Dom Fev 10, 2008 7:42 pm

Gente,

Para tudo na vida tem que existir sensatez, os helos de transporte, não são para atuar como os helos de ataque. E um BH está custando pelo menos 25 milhões a unidade, ou seja, numa operação errada se jogou 50 milhões pela janela, e ainda acabaram com um monte de cadáveres. A atuação dos helos no TO tem semelhanças com os blidandos leves do tipo Piranha, Urutu, etc. A velocidade, dissimulação e a proteção do terreno são fatores essenciais em seu uso. Qualquer exposição prolongada numa aérea muito próxima ao inimigo, é um risco enorme.

Mesmo os Apache da vida ou outros da mesma classe, não pode ser usados de forma impune. Basta existir um MANPAD´s da vida é pronto. Até mesmo uma RPG na curta distância.

[ ]´s




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#10 Mensagem por Pedro Gilberto » Seg Fev 11, 2008 11:25 am

Piffer escreveu:Eu lembro também que já há algum tempo uma empresa fez uma blindagem para um Super Puma da FAB. Na época foi bastante noticiado. Não sei se é essa que você está falando, Beraldi.

As blindagens do Pantera também foram produzidas aqui no Brasil e não têm nada a ver com a Helibrás ou Eurocopter.

Li também sobre um piso blindado para os NH-90 CSAR, que estava sendo produzido na Alemanha.

Os russos na Chechênia, usavam placas do colete nos Mi-8.

Mas são casos específicos e soluções locais, via de regra, as aeronaves não são blindadas.

Abraços,


A empresa que criou esta blindagem foi a Helipark. Me lembro de ter relido numa RFA esta notícia quando da polêmica da compra dos 50 Cougar para as FAs

http://www.helipark.com.br/3_5.asp?idsal=12&Idioma=0

[]´s




"O homem erra quando se convence de ver as coisas como não são. O maior erro ainda é quando se persuade de que não as viu, tendo de fato visto." Alexandre Dumas
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#11 Mensagem por Pedro Gilberto » Seg Fev 11, 2008 11:28 am

PS: uma foto que encontrei no site da ALIDE

Imagem
http://www.alide.com.br/noticias/fab22/fab22-002.jpg

Noticia completa
http://www.alide.com.br/noticias/fab22/index.htm

[]´s




Editado pela última vez por Pedro Gilberto em Ter Fev 12, 2008 2:46 pm, em um total de 1 vez.
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#12 Mensagem por rodrigo » Seg Fev 11, 2008 7:51 pm

Muito boa explicação.
Piffer, o que é mais sensível ao fogo de armas portáteis:
1- piloto dentro da cabine;
2- tanque de combustível;
3- rotor de cauda.




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa
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#13 Mensagem por Piffer » Seg Fev 11, 2008 9:05 pm

O que é mais sensível, eu não sei...

O piloto - a aeronave não voa sem esse cidadão. Se tiver comandos duplos, dá pra voar ainda, mas o piloto está morto do mesmo jeito.

O rotor de cauda - tem várias panes associadas a ele, que podem ser reunidas em duas: a pane de comando (o rotor continua girando, mas sem controle) e a pane de acionamento (o rotor pára de girar, perde as pás ou algo parecido). No primeiro caso, dá para voar sem muito stress e fazer um pouso corrido de emergência em alta velocidade (aeronaves com rodas levam vantagem nessa situação). No segundo caso, teoricamente também dá para voar sem muito stress, mas o pouso é mais complicado, porque precisa cortar o motor. Não sei se você lembra do Black Hawk Down, os pilotos cortam o motor um pouco antes do crash, mas ja era tarde.

Essas são panes exclusivas do rotor de cauda. Se foram danos ao cone de cauda, são bem mais graves e afetam muito mais a capacidade da aeronave voar.

O BH tem aquele estabilizador horizontal móvel (parece um profundor). Além disso, ele tem um CG deslocado para trás (ou o rotor muito pra frente, como preferirem). Dá pra ver que ele voa com a cauda baixa e o rotor de cauda é inclinado, tendo uma função secundária de sustentação também. Problemas no cone de cauda dele não mais complicados que na maioria das aeronaves.

O tanque de combustível não é tão grave. Se não for uma munição incendiária (revestida de fósforo branco, que não é muito comum) , o combustível não se incendeia (teoricamente :roll: :roll: :roll: ). Dá para voar até o limite do combustível que está vazando e pousar em segurança. Lembrando também que os tanques são auto-selantes; um ou dois tiros não vão fazer um estrago grande.

Abraços,




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#14 Mensagem por ZeRo4 » Seg Fev 11, 2008 9:36 pm

Piffer, gostaria que você comentasse a possível utilização do helicótero blindado pela polícia carioca. Do meu ponto de vista, o problema é eles acharem que o helicóptero realmente é um 'caveirão do ar'...




As GATs e RPs estão em toda cidade!

Como diria Bezerra da Silva: "Malandro é Malandro... Mané é Mané..." ;)
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#15 Mensagem por Piffer » Seg Fev 11, 2008 9:48 pm

As operações policiais não são a minha praia. Talvez o Beraldi possa responder isso melhor.

Se o helicóptero vai continuar a ser usado para C2 e tiro (que eu acho ineficiente, pelo menos o de precisão), eu acho que o Esquilo dá conta.

Se vão usar para outras missões (PC aéreo, infiltração), aí a história é outra.

Abraços,




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