Inimiga Púbere Nº 1
E eis que, em dezembro de 2019, Marcelo Rebelo de Sousa, o 20.º Presidente da República (e o favorito), decidiu que não ia sucumbir à doce tentação do populismo. Justificar-se-á a bandeira a meia haste.
Marcelo não se quer meter neste folclore à volta de uma adolescente. Marcelo só se mete num folclore à volta de uma MILF. Quando ligou para Cristina Ferreira, tratou-se de um ato político impreterível. O país debatia-se com a dúvida de qual o programa da manhã que o presidente apoiava. Felizmente, Marcelo soube tomar uma posição temerária, sem medo de desapontar o seu eleitorado que acha o Goucha mais querido.
Marcelo também não conseguiu deixar de festejar, com “alegria incontida”, o facto de Portugal ter sido agraciado pelo Vaticano com o privilégio de organizar as Jornadas Mundiais da Juventude. Ou seja, não é que Marcelo não apoie reuniões de jovens em que se debate o apocalipse. Simplesmente, prefere aquelas em que os tendencialmente acatam àquelas em que tendencialmente contestam.
Marcelo esquiva-se do tema, Miguel Sousa Tavares afirmou que estava farto da Greta. Realmente, não tenho paciência para esta gente que em criança viveu no seio da elite e que agora acha que a sua opinião disruptiva vai mudar o Mundo. Quanto à Greta, gosto dela.
Já o candidato à liderança do CDS, João Almeida, rotulou a vinda de Greta a Lisboa como um “triste espetáculo”. Compreendo e aceito. A verdade é que também não devemos embarcar em alarmismos. Não estamos assim tão próximos da extinção da Humanidade. Pelo menos, não tão próximos como da extinção do CDS.
Agora a sério, porque é que a Greta irrita tanta gente? A par de fazer videochamadas e de barulhos parasitas no tablier, o fenómeno Greta Thunberg é das coisas que mais deixa cinquentões desconfortáveis. Há decerto uma condescendência, uma desconsideração pelo seu púbere intelecto. Um despeito que vem do mesmo sítio de onde vem o “vais-me agora ouvir porque eu o sou mais velho”.
Parece que a veem como uma criança malcomportada que ousou meter-se na conversa dos adultos. “Faz pouco barulho, Greta!”; “Não fales com os adultos dessa maneira, Greta!”; “Estou farto de ti, Greta!”, “A conversa não é contigo, Greta!”. O recorrente sarcasmo do “então, ela está a faltar às aulas há não sei quanto tempo!” é mais um exemplo de quem acha que os putos estão bem é caladinhos a fazer os TPC.
A reação hostil de alguns à existência de alguém como Greta é a consubstanciação política do “vais fazer assim porque eu te estou a dizer” que ouvíamos das nossas mães. Só que a Greta não está a fazer birra com a mãe, mas com governos. Felizmente, não há registo de regimes com mesmo o poder autoritário e discricionário de uma progenitora. Nesse sentido, há que ter esperança.
Tudo isto não quer dizer que, para mim, a Greta seja a melhor dos melhores do Mundo. Isso, segundo Marcelo, são os Portugueses. O que não é, de todo, populismo.
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