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Mensagem
por gingerfish » Qua Mai 23, 2012 9:15 pm
Falta unanimidade nas traduções da Bíblia... Mas é claro! Cada corrente religiosa coloca a sua 'questão pessoal' em sua 'tradução'. Alias, 'tradução' é uma coisa que deve ser analisada.
Por que existem tantas edições da Bíblia em Português, quando a Bíblia hebraica que as originou é uma só?! Que coisa Frankstein! São umas 10 edições da Bíblia...
"RE-LI-GI-ÃO" - veio do latim "re-ligare". Tradução: "Voltar a ligar aquilo que foi desconectado". Só que você não precisa de uma seita para isso. Mas se se sentir mais à vontade, que fique a seu critério. Eu sou espírita, nato!!!
Os tradutores das Bíblias de hoje teriam que ser presos, porque é um crime de estelionato, uma vez que as traduções são realmente muito complicadas... Não deveriam chamar 'tradução'. Esse é o problema, porque os fins não justificam os meios. Às vezes, nós temos objetivos que são bons, importantes, e achamos que podemos fazer tudo para atingi-lo. Aí, você pensa que, no meio do caminho, você pode cometer deslizes, porque 'o objetivo é bon-zi-nho'.
As traduções da Bíblia, na linguagem de hoje, têm a função de esclarecer para as pessoas simples, muito simples, sem estudos, algumas coisas, 'complicadas' da Bíblia. Ao fazer isso, deveriam chamar de 'comentário da Bíblia', e não 'tradução'. Porque aí não tem problema, porque um pastor ou alguém de qualquer segmento religioso faria um cometário e explicasse para os que não estão entendendo. Mas chamar aquilo de 'tradução' dá a impressão de que o texto original diz aquilo... E esse é o problema. Com isso, a gente ouve a censura de Jesus aos fariseus: "Vocês não entram no Reino dos Céus e não deixam que os outros entrem.". As lideranças religiosas, além de irem a um brau, levam todo mundo junto, porque fecha a porta de acesso para as pessoas.
Os capítulos, na Bíblia, foram colocados em 1680! 17 séculos depois de Jesus.
Veja a importância disso - foi depois da invenção da impressão gráfica, quando os livros passaram a serem impressos. Dividiram-se em capítulos e em versículos. Interessante é que os manuscritos não têm capítulos, versículos e nem separação entre as palavras... Inclusive, sem vírgula e sem ponto final. Uma edição da Bíblia, que eu não sei qual, diz, no Sermão das Montanhas, "que nenhuma vírgula será retirada dessas palavras"... No hebraico, é uma letra após a outra.
No Velho Testamento, é mais complicado, porque não há vogais. Só há consoantes! É uma consoante após a outra, sem espaço, sem ponto, sem vírgula, sem vogal. Isso, no hebraico.
Até na divisão por capítulos alguém teve que tomar uma decisão. Alguns capítulos foram mal divididos...
Dentro dos capítulos, foram divididas as passagens. Isso também foi feito no ano de 1680 a até mais ou menos 1700, para finalidades didáticos.
Prepare-se, porque o tema é palpitante!
Como, onde, em que cultura, em que língua, e quais as características culturais da língua em que se formaram os livros da Bíblia?
O que as traduções quiseram? Quais os impactos que elas tiveram na nossa compreensão da Bíblia?
A Bíblia é composta de dezenas de livros - CATÓLICA (73); PROTESTANTE (66); e HEBRAICA (24).
Quando se diz "Bíblia", diz-se de uma coletânea. Preste atenção nisso, porque isso é importante, porque você não lê um livro de romance da mesma forma que você lê, por exemplo, um livro de Biologia. A BÍblia também é composta de livros, assim, 'variados'.
Há livros, na Bíblia, que são poesias! Com estrofes, demarcados, e vamos ver como eles faziam para demarcar as estrofes - com rima, com sonoridade, com ritmo, e há livros que são registros de atas reais, e dizem que, em tal época, o rei tal fez isso, fez aquilo, e, depois, seu filho foi rei... É uma ata de sucessão de reis! É o livro de Crônicas. Dá para ler isso como o livro de Salmos, que são poesias? Mas, quando a gente pega tudo num volume, dá a impressão de que é uma coisa só. Mas é claro que não é uma coisa só.
Eu não posso pegar "Apocalipse", que é um gênero literário, e ler da mesma forma que eu leio uma Carta de Paulo. Porque um, o gênero é "carta", pois Paulo seguiu todo o padrão literário da produção de carta no Mar Mediterrâneo, no primeiro século. Todo mundo que escrevia carta, escrevia no padrão que ele escreveu.
Mas as pessoas pegam a Bíblia e saem citando versículos de tudo quanto é parte da Bíblia como se aquilo fosse uma descrição científica da vida e do mundo. Isso é um perigo.
Vou contar um perigo 'enorme'. Os primeiros capítulos do livro Gênesis são poesia! É possível... "No princípio, Deus criou a Terra"... Com rimas e estrofes definidas, além de ritmo. Isso era CANTADO! Na tradição judaica, eles conservaram os acentos, que eram chamados de acentos de cantilação. Isso significa que "Gênesis" era cantado na Sinagoga! E se parece muito com canto gregoriano!
Aí, chega um puto que se formou em Física ou em Biologia e diz que 'esse texto de Gênesis está contrário à Ciência'. Mas é claro! "Gênesis" não é um livro científico... Isso é uma poesia que foi escrita há 3500 anos.
Os intérpretes disseram que Gênesis era um texto científico... Ou a Igreja Católica, durante a Idade Média. Foi quem colocou na nossa cabeça que aquilo era uma descrição de como era o mundo, e a gente acreditou... Nisso, Galileu quase perdeu a cabeça. Mas o fato é que o texto de Gênesis é uma poesia.
Há um GRANDESSÍSSIMO movimento espiritual para manter as pessoas na ignorância, porque, cara, isso dá um dinheiro que faz inveja no orçamento de um batalhão de municípios...
Você já parou para pensar se as pessoas saíssem da ignorância e lerem os textos bíblicos de forma adequada, elas vão transformar o seu comportamento, mas o Edir Macedo está determinado a não permitir que isso aconteça, porque isso pode doer muito o bolso dele. Fazer um movimento de esclarecimento é complicado, porque há resistência, e ela é poderosa!
O primeiro ponto é entender que a Bíblia é uma coletânea. Ela não é um só livro. São dezenas de autores; diversos estilos de gêneros literários. E mais - "Gênesis" foi escrito mais de 1500 anos antes de "Apocalipse".
Compare um texto de hoje com a carta de Pero Vaz de Caminha... E olha que são 'só' 500 anos... Umas 5 velhinhas dentro de um fusquinha são mais velhas do que isso. Imagine comparar um texto de hoje com um texto de 1500 anos atrás. É diferente...
É importante entender que a distância entre "Apocalipse" e "Gênesis" é de mais de 1500 anos.
Reis e Crônicas são registros históricos de sucessão de reis cujo objetivo é registrar a história do povo hebreu. São uma crítica política. É uma crítica, mas conta a história, porque "esse rei fez isso, isso e aquilo, e Deus o castigou". Por isso, não podem ser lidos da mesma forma.
Um poeta disse que "os meus inimigos passarão, e eu passarinho". Isso é genial, porque nós estudamos em Português o aumentativo e o diminutivo - casarão e casinha, por exemplo. E o poeta faz uma brincadeira em cima disso. Mas, voltando ao assunto sério... Traduza essa brincadeira para o Inglês... Como se traduz isso para o Inglês?! Porque o Inglês não tem o mesmo mecanismo de aumentativo e de diminutivo que o Português tem.
Então, eu tenho que pensar no hebraico de 3000 anos atrás... Será que ele é igual ao Português de hoje? Na verdade, nem o hebraico de hoje... Leia a carta de Pero Vaz de Caminha! Embora ela esteja em Português, eu vou, no mínimo, ter dificuldades para ler aquilo... Um grego, hoje, para ler Sócrates e Platão, precisa de tradução, porque o grego deles é diferente do grego moderno. Só o alfabeto é igual, e mais nada. O vocabulário é diferente; a forma de construir é diferente. É claro que há uma semelhança, mas vai ser preciso uma tradução.
Quando nos aproximamos de um texto bíblico, temos que estar atentos a essas sutilezas, porque a primeira questão é a questão da língua.
Olha a confusão que é isso.
O povo hebreu, por volta da época de Abraão, dos patriarcas, falava um hebraico muito antigo. Há algumas descobertas arqueológicas, inscrições arqueológicas, para ser mais exato, em que aparece esse hebraico antigo. Dentro do Espiritismo, estão fazendo uma pesquisa desse tema. E eles estão constatando que, naquela época, a forma de escrever o hebraico era muito parecida com os hieroglifos egípcios. Então, a língua era através de símbolos. Era uma mistura de alfabeto com símbolos.
Por exemplo: a palavra "PAI", que é composta de duas letrinhas no hebraico.
No hebraico antigo, essa palavra era representada como a cabeça de um boi e uma representação de uma tenda. Mas, fala sério, por quê? A cabeça do boi, mas um boi treinado, que foi utilizado no arado, e esse boi treinado simboliza na cultura hebraica antiga FORÇA/PODER; e a tenda é a casa - lugar onde as pessoas moram!
Então, numa sociedade de três mil anos atrás, o poder da tenda e a força da casa, numa sociedade patriarcal, eram o pai.
O símbolo do filho era uma tenda e um símbolo de semente. Ou seja: a semente da tenda. Isso é linguagem de agricultor, de povo agrícola.
O moral dessa pequena história é que, quem escreveu os livros da Bíblia não eram professores universitários de Harvard ou de outras faculdades bonitonas, não. Eram lavradores! Guardadores de ovelhas e de animais que viviam em tendas, e a visão de mundo deles é absolutamente diferente da nossa.
Outro moral de história é que não se pode fazer uma leitura do que está escrito lá com a mente de um ocidental do século XXI.
Eu ainda não fiz isto, mas faça uma peregrinação no deserto de Israel... O deserto de Israel não é o deserto do Saara. Nele, não há areia. O deserto de Israel é de pedregulho. O sol é escaldante, e o silêncio é profundo. Dizem, inclusive, não haver um silêncio tão profundo quanto ao silêncio do deserto. Não se ouve nada, mas pode acabar ouvindo a batida do coração. Mas a história do bom samaritano não se repetiu comigo, até porque eu não fui... Mas eu não fui 'ainda'. Mas o fato é que, segundo o relato dos que foram, eles dizem: "Pelo amor de Deus, eu preciso de sombra". Sabe qual é um dos símbolos de Deus no Velho Testamento? Nuvem! Deus é nuvem!
Aí, você que mora aqui em Juiz de Fora vai dizer que o povo era muito ignorante, porque eles chamavam Deus de nuvem... Mas ande no deserto pra você ver!
Quando aparece uma nuvem, você só consegue pensar que aquilo é Deus.
E outro símbolo de Deus é água! Depois de duas horas de pernadas do deserto, até seus neurônios secam! Se você vir água, você só não chora porque não há água no seu corpo para escorrer do canal lacrimal.
Se um rapazinho quiser dar uma cantada numa garota, eu dou a dica, mas a dica é de uma 'forma hebraica' de como se chegar a um elemento amado. Diga a ela exatamente assim: "você é uma cabrita!". Vai apanhar da moça, não é? Pois é... Só que, no livro Cântico dos Cânticos, o noivo faz esse elogio à noiva... E ele começa a descrever o corpo dela. O texto é, por assim dizer, "depois de 10 da noite!", mas está na Bíblia!
Na descrição do corpo dela, ele fala em árvore, flores, perfumes, animais - tudo isso para descrever o corpo da moça.
Você chegar a uma mulher, naquela época, naquela sociedade, e falar que ela é uma cabrita, é um elogio. Hoje, é coisa pejorativa que acaba dando briga... Mas a cabrita é saltitante, alegre, ágil como uma gazela. No fundo, você quer dizer à moça que ela é alegre e transmite 'vida', porque a moça é vibrante. Mas muitas dessas palavrinhas da Língua Portuguesa que são uma gracinha não existem no hebraico... Lá, é cabrita, mesmo...
E a tradução tira tudo, porque nos salmos está isso. A tradução tira tudo e adapta tudo à nossa cultura, e aí fica Frankstein.
Em Daniel está escrito que "a minha alma se alegra no Senhor", e no hebraico diz que "os meus dentes estão cheios de gordura". Sério! Não acredita? Mas é claro que Daniel foi a uma churrascaria!!! Mas, pensando bem, naquela época não havia churrascaria... Não tinha aquilo que temos hoje com picanha com gordurinha que é uma de-lí-cia! E também não havia geladeira... Se você matasse o boi, você tinha que comê-lo 'de um dia para o outro', ou...
Então, quando se matava um boi, era um evento coletivo da aldeia. Por isso, Jesus, quando conta o enigma do 'Filho Pródigo', para mostrar a alegria do pai, ao receber o filho, e o pai falou: "Traz o bicho, que a gente vai matar!". Mas eram ele e os dois filhos... Seria um desperdício, e ninguém fazia isso. O fato é que, quando Jesus diz isso, está implícito que a aldeia toda seria chamada a uma grande festa para comer boi. Tratava-se de um evento.
Então, quando a sua boca dava uma mordidinha numa carne gordurosa, era festa! E das grandes! Ter gordura entre os dentes era uma alegria, porque estavam comendo carne. Essa é a cultura do povo hebreu.
Os autores que escreveram a Bíblia pensavam de forma concreta, e não abstrata. Eles sempre davam exemplos concretos.
No hebraico antigo, o tempo foi passando, e os fenícios se envolveram no alfabeto. Há autores espíritas que afirmam que os fenícios são portugueses, 'os mesmos que descobriram o Brasil'. Mas isso dá um estudo mais profundo do que onde está a camada do pré-sal. Mas o fato é que os fenícios se envolveram com o alfabeto, e o povo hebreu, tal como o nascimento do povo árabe, pegaram o alfabeto fenício, porque a ideia era sensacional! Aí, ao invés de fazerem em imagens, fariam em alfabeto. Adotaram o alfabeto fenício.
Com o tempo, os arameus desenvolveram tanto o aramaico, por causa do império assírio-babilônico, e o aramaico se tornou uma linguagem imperial, um grande império, que eles desenvolveram um alfabeto e deram uma aperfeiçoada gráfica no alfabeto. Deram um tratamento gráfico, e o povo hebreu adotou o alfabeto aramaico.
Depois, eles foram cativos para a Babilônia. Quando eles voltaram de lá, Esdras e Neemias, por volta de 300 anos antes do Cristo, eles voltaram, mas voltaram falando aramaico. A língua falada no dia-a-dia era o aramaico, e não o hebraico, embora nos textos sagrados a língua fosse o hebraico. E eles foram a Jerusalém que foi tomada por romanos e 'qual era o "INGLÊS" da época de Jesus'? O grego! (...) Por causa do grande 'Alexandre, o grande'. A língua 'internacional', da erazinha deles de 'globalização' era o grego... Mas a língua comercial da Assíria era o Aramaico.
A língua oficial do templo era o hebraico; a língua administrativa-romana era o Latim. Ou seja: que salada de frutas...
Essa é a história da línguas e, por essa razão, o Novo Testamento foi escrito por hebreus. Paulo era hebreu, Jesus era hebreu... E mais um monte de gente. Mas as línguas que eles falavam eram hebraico e aramaico, embora a língua do dia-a-dia fosse o aramaico. Mas a língua religiosa era o hebraico. E os Evangelhos estão todos redigididos em grego...
Para eles, dizer que 'a minha noiva é vivaz' era complicado, porque a língua era carente de adjetivos. Tudo que eles queriam expressar de abstrato, nós comparamos com coisa concreta.
A gente precisa abrir mão do nosso patrimônio cultural ocidental para entender isso, porque o povo não vai sair do passado para vir aqui te contar na sua língua. Você vai ter que ir lá no passado para entender como era a cultura deles.
A tradução diz que 'Deus é a minha força'. E o texto original em hebraico diz que 'Deus é o chifre da minha salvação'. Isso, porque o bode, com seu chifrão enrolado, todo marrento, e você chega perto do rebanho, e ele começa a dar chifrada pra tudo quanto é lado, vai te empurrando, porque ele pensa que você vai estar dando em cima das ovelhas dele... Ele fica bolado de a ovelha dar bola pra você. E é justo que ele tenha esse medo, porque, afinal, ele já tem dois chifres... A disputa entre dois machos é que nem batida de carro!
O moral dessa história é que, o que eles mais tinham de resistente, em suas vidas de agricultores era o chifre. O chifre era símbolo de força. Hoje, o chifre tem outro significado para a gente...
O nome de Jesus é IESHU ou YESHU, ou JEHOSUA, ou JOSHUA, que é um nome que vem do verbo 'salvar'. É aquele que salva. E salvar é o que os irmãozinhos evangélicos dizem hoje baseados na 'reforma protestante', feita em 1500 por Martinho Lutero que não sabia habraico?
Lutero não sabia hebraico... E fez uma reforma!!!
Hoje, os grandes teólogos protestantes dizem que 'já começou errado', porque ele construiu um sistema em cima de algo que ele não conhecia. Os caras ficam complicando isso, aí, mas salvar é livrar do perigo. Isso é muito simples e muito chique! Mas salvar, para o povo pastoril, é assim - o boi caiu no buraco? Vai lá e o tira do buraco. Salvar é simplesmente livrar alguém do perigo! Recuperar alguém ferido! Isso é salvar! Ou 'libertar alguém que foi escravizado'. O verbo é também salvar. Por isso que um dos nomes de Deus, que o povo hebreu dá, é 'Salvação'. Sabe por quê? Porque Deus libertou o povo hebreu da escravidão no Egito. E 'libertar da escravidão' é salvar. Ou seja: o verbo é o mesmo.
Então, o nome de Jesus é 'Salvação'.
Quando ele chama Zaqueu para descer da árvore, ele desceu. Quando Jesus entrou na casa dele, ele falou assim: "Senhor, eu acho que eu não causei prejuízo para ninguém, não... Mas, se eu tiver causado, eu devolvo em dobro". Já começou logo a pensar em restituir, e Jesus fez um trocadilho, ali, porque toda hora Jesus fez trocadilhos. "IESHU entrou hoje na sua casa.", foi o que Jesus disse. "IESHU" - Ele que se chama Ieshu, e a Salvação. Ele fez um trocadilho com Zaqueu. Isso é poético. Em uma pancada de versículo há uma pegadinha dessas. Mas as pessoas querem ler isso com a 'mente racional', de um ocidental do século XXI... Só que isso foi poesia oriental. O oriental pensa diferente, e eu posso fazer o quê?
Por mais estranho que seja, na língua hebraica, futuro é o que está atrás da gente, e o passado é o que está na nossa frente. E, por mais 'estranho' que seja, é mais lógico do que a cultura ocidental, porque, para nós, o futuro é o que está na frente, e você, consequentemente estaria vendo-o. Mas, fala sério... Você está vendo o futuro?! Então, você só vê o passado! Você só é capaz de ver o passado, embora esteja de costas para ele... O futuro está atrás!
Então, eles dizem 'do oriente ao ocidente' (da frente para trás)! In-crí-vel!!! Por que eles dizem isso?
Porque 'oriente' é onde o Sol nasce e, para onde o Sol nasce, eu estou de frente. Para onde eu estou de frente? Para o passado!
'Ocidente' é onde o Sol se põe. É o futuro! Eu estou vendo? Você está vendo? O quê??? Está??? Poooxa, me empresta um pouquinho desse poder que emana de você!!! Porque eu não vejo...
De repente, dois anjos vêm a Abraão... Chegam dois 'homens' a Abraão, de barba, sandálias cheias de poeira, fedendo, suados. Quando chegam à tenda de Abraão, ele pensa: "Tenho que acolher...". Porque, para o árabe, para o oriental, isso é coisa sagrada. A primeira coisa a fazer para refrescar alguém que anda no deserto é pôr o pé dele na água gelada, porque refresca o corpo todo. Mas Abraão percebeu que havia alguma coisa estranha nos dois barbudos... Anjo é o mensageiro. É o carteiro! Não tem nada de asinha, não... O anjo é o cara que veio trazer uma mensagem do Cara. Aí, eles falaram: "Olha, sua mulher vai ficar grávida!". E o Abraão suspeitou muito daquilo, porque, 15 dias antes, ele havia feito uma operação de fimose, porque a circuncisão é uma operação de fimose. Estava dolorido e inchado. E a mulher dele tinha nada mais nada menos do que 90 aninhos... Ele ficou quieto, até mesmo para manter a pose de patriarca, mas a esposa que estava ouvindo escondida deu uma gargalhada. Aí, os mensageiros: "Você está rindo? Beleza! Então, está bom... Você vai ter um filho, e o nome dele vai ser 'RISADA'". Isso, mesmo... O filho dela teria o nome de RISADA... "Isaac". Sério... "Isaac" é "RISADA". E acrescentou: "Para você aprender a não rir das coisas de Deus, seu filho vai se chamar Isaac!".
Agora, eu te pergunto: é ou não é poético? Isso aconteceu? Não sabemos. Mas o fato é que essa história foi contada. E é uma história lúdica. Isso é folclore ou fato real?! Pra ser sincero, não importa, e acho que eles não estavam preocupados com isso.
A preocupação deles era contar história para as crianças para que elas aprendessem valores sobre a cultura e valores morais. Como é também na religião muçulmana, que é rica em histórias, e ninguém está preocupado com 'se aconteceu ou se não aconteceu'. Você está preocupado com que se existe ou não o sítio do Picapau Amarelo?! O importante é tirar a lição que está ali.
A alfabetização não era critério para medir cultura, e escrever era a coisa mais complicada que eles podiam enfrentar na Antiguidade. Um pesadelo.
A preparação de um pergaminho do Velho Testamento se dava assim:
- Mata o cordeiro;
- Tire o couro;
- Limpe;
- Deixe secar;
- Depois, vem com um cal, passa naquilo e vinha com uma pedra, passando naquilo e passando, para amassar;
- Deixe pegar um Sol;
- Deixe no cal, passa na pedra, de novo... Até aquilo fica lisinho e pronto para escrever...;
- Corte, para ficar quadradinho;
- Prenda nas pontas, para virar um rolo;
E aí? Acabou? Nã nã ni nã não... Vai preparar a tinta! Eles tinham que pegar a planta, fazer os preparos de tinta direitinho, arrumando os bicos de bambu ou de madeira, para poder escrever. Está vendo como tem que ser animado?!
Aí, abra o rolo, e vai copiar, por exemplo, o livro de Isaías... Beleza! Aí, pega aquele rolinho de três metros de comprimento...
Maravilha, já que o negócio está preparado, mas... E se você errar?! Eles não tinham borracha, não...
Se errar, sabe o que você faz? Joga fora, mata outro cordeiro, COMA A CARNE, prepare o material, faça outra tinta, e as pessoas mandavam para um profissional, que era o escriba!
O escriba era o profissional. Mais ou menos como no filme 'Central do Brasil'.
O Velho Testamento era na base do pergaminho.
Mais ou menos na época de Jesus, veio a 'tecnologia egípcia', de pegar a planta, tirar o planta, tirar o miolo, fazer uma gororoba, tipo uma massa, prensar e colocar as folhas trançadas.
Depois de trançar tudo, deixe no Sol para secar e perder a água. Depois, coloque debaixo de uma pedra, para as fibras se entrelaçarem. Depois, vinha com um rolo de pedra e passava, como se faz para escovar os dentes, e deixar o treco liso. Aí, pegava a caneta e escrevia.
O que eu quero dizer é que, por exemplo, quando Paulo escrevia uma carta, e a carta chegava à Igreja, eles se empolgavam: "Pô, chegou a carta de Paulo!!!". Aí, vira um e fala: "Pô, que bacana, eu quero uma cópia!". "Ah! Você quer? Beleza, ela vai ficar aqui, mas você copia!".
Era assim que funcionava.
Conclusão: há algum original de algum livro do Velho Testamento?! Nenhum... "Uai, mas e como é que se faz?". Quando o pergaminho ficava gasto, eles faziam outro.
O povo hebreu era organizado. Eles tinham uma organização religiosa. A Sinagoga fazia isso. Por isso, eles preservaram de uma forma mais sistematizada os pergaminhos.
Mas, mesmo assim, antes de 1948, o texto mais antigo do Velho Testamento, que nós tínhamos, era uma cópia do ano 1.000 depois de Jesus. Aí, descobriram os pergaminhos do Mar Morto e encontraram o famoso 'rolo de Isaías'. Construíram, inclusive, um museu, que é um museu com forma de rolo, que é uma gracinha!
Esse texto que eles acharam de Isaías é de 700 anos antes do Cristo, em sua datação. Quando eles compararam, era um novo texto. Isso, para você ver a força da tradição e da transmissão da tradição. Essa era a força, porque era uma religião organizada. Isso é do Velho Testamento.
E a maioria dos textos que nós temos são do século 1. E os mais antigos livros do Velho Testamento não estão com os judeus, mas com os samaritanos, que é a igreja Samaritana que os judeus não aceitam, embora fossem do mesmo povo. Só que os samaritanos têm os textos mais antigos, e escritos naquele alfabeto antigo dos fenícios.
Os textos deles são mais antigos, e há diferenças entre os deles e os dos judeus.
Na época de Moisés, eles não estavam preocupados com escrever. Eles estavam preocupados com contar histórias. Em ensinar através da tradição oral.
Essa historinha de que 'a Bíblia diz', 'o Livro Sagrado'... Isso é coisa da Reforma Protestante.
O texto sempre foi uma base. Nunca foi o ponto de chegada. Foi, sempre, o ponto de partida.
Para fazerem a tradução das cartas de Paulo, foi descoberto que muitas coisas que Paulo cita em suas cartas não está no Velho Testamento. Ele simplesmente fala algumas coisas que não estão no Velho Testamento. E de onde Paulo tirou isso? Os pesquisadores descobriram que havia histórias ligadas aos patriarcas, a personagens do Velho Testamento que estão na tradição cultural do povo judeu, e está registrado na cultura deles, mas não estão no Velho Testamento.
Muitos historiadores tiveram que ler materiais que não estão na Bíblia, mas que Paulo cita, e ele conhecia, porque, por mais doloroso que seja, a gente tem que entender que o que está na Bíblia é apenas a ponta do iceberg.
A Bíblia é apenas um resumo da palestra. Por isso, temos que ler a literatura em volta, o que é um estudo cansativo, devido à sua complexidade. Por essa razão, nós temos especialistas em livros da Bíblia. Há pessoas que estudaram por 40 anos só o livro de Isaías.
Existem 32 comentários acadêmicos sobre o Evangelho de Mateus. Alguns comentários têm mais de 3.000 páginas! E coisa de universidade de Oxford, de Cambridge.
Leia o que já foi produzido! Isso é uma 'fé raciocinada'. E é um cuidado que nós não temos. Nem dentro do Espiritismo... E os espíritas se acham fodões...
(...)
Ginf!
A vida do homem na Terra é uma guerra.
Jó 7:1