Calma lá, vamos por partes, que nem Jack, o estripador!!!
Primeira coisa, o endividamento da população está diretamente relacionado com as taxas de desemprego altíssimas que temos. Existem caloteiros??? Existem sim, mas não são nem de longe 10% dos endividados. 90% dos endividados são pessoas que tiveram o consumo estimulado pelo estado em dívidas a longo prazo e perderam o emprego no ano seguinte. Ok, foi um erro, mas foram estimuladas como política estatal para aquecer a economia. Isso sempre deve ser considerado. Não são 64 milhões de caloteiros folgados que resolveram da noite para o prejudicar deliberadamente o sistema financeiro nacional e os bons pagadores. Tanto é verdade que quando o desemprego estava na casa dos 2 milhões (perto do que era considerado pleno emprego) a taxa de endividamento da população também era baixíssima.
O que me leva ao segundo ponto.
Mesmo quando o desemprego estava em baixa, mesmo quando o endividamento estava em níveis mínimos históricos, os juros cobrados no Brasil estavam entre os maiores do mundo. O que desmonta a tese do "bom pagador jesus cristo", que paga pelo pecado (leia-se dívida) do mundo.
O que ocorre no Brasil é sim a baixa concorrência. O Brasil tem basicamente 5 bancos grandes e uns outros 5 pequenos. Ja vi palestras afirmarem que nos EUA tem 3 mil bancos. Não sei se é verdade, não tenho acesso à fonte original. Mas assumindo essa premissa dá para se ter uma ideia da discrepância em termos de concorrência.
Dai entramos nos bancos públicos. A intervenção do estado no mercado como
agente competidor é uma coisa excepcional até mesmo na nossa Constituição, por muitos considerada bastante permissiva. A regra geral é que as estatais servem para
prestar serviços quando não há interesse do setor privado (por exemplo, energia nuclear). A ação do Estado como agente concorrente de uma empresa privada é absolutamente excepcional e conta, salvo melhor juízo, com apenas duas possibilidades previstas na Constituição: exploração de petróleo e sistema bancário.
Não vou nem falar do petróleo para evitar polêmica. Quanto ao segundo, a necessidade do estado ter bancos existe por dois motivos básicos:
instrumento de política monetária e
segurança do sistema financeiro. Como política monetária os bancos públicos soltam ou recolhem dinheiro a medida que o estado precisa controlar a inflação para mais ou para menos. Para segurança do sistema financeiro é para os bancos
privados tenham acesso ao crédito estatal com disponibilidade diária. A maioria da população não sabe, mas os bancos
privados pegam empréstimos diários com bancos
públicos, para quitação no dia imediatamente posteiror, com intuito de adquirir liquidez para fazer frente a compromissos. E isso não ocorre raramente, ocorre necessariamente
todo santo dia. Com base nos juros desses mini empréstimos é calculada a SELIC diária, que por sua vez é usada para calcular a Taxa Básica de Juros do País (a SELIC que conhecemos). Resumindo, sem bancos públicos o sistema financeiro colapsa no dia seguinte.
O que vem ao nosso penúltimo ponto, gestão e corrupção. Toda essa responsabilidade acima não seria cumprida com segurança se todo emprego público nos bancos estatais fosse um cabide para político. Existe sim aparelhamento, em todos os governos, mas no primeiro escalão. Só que imediatamente abaixo deles existe todo um corpo extremamente técnico que sustenta funcionamento do sistema financeiro nacional. Gente tão qualificada que o setor privado se estapeia para contratar eles quando saem do setor público e cumprem uma certa quarentena.
Por fim, no último ponto, como consequência indireta da existência dos bancos públicos aí sim temos a concorrência entre eles e o setor privado. E não vou nem citar pessoa física. Boa parte dos empréstimos para construção civil vem dessa concorrência. Tanto que quando o Bolsonaro falou que ia secar o FGTS a construção civil caiu matando no loby. A Caixa usa o dinheiro do FGTS para emprestar ao setor privado de construção civil. Essas empresas sabiam que os juros subiriam na estratosfera e demoveram o governo dessa ideia louca.
Então vejam, privatizar ou não um banco é uma escolha que vai muito mais além do simplesmente "acabar com cargos para corruptos".
Antes de sair metendo a foice (ou a guilhotina) nos bancos públicos é necessário que primeiramente todo o sistema financeiro nacional seja repensado. Fazer uma coisa sem pensar na outra vai provocar o maior colapso econômico da história da humanidade, sem exagero algum!!!!
Tanto que até mesmo para o Bolsonaro e o Guedes a extinção completa do BB e da CEF está, por hora, descartada. O que estão fazendo é privatizar subsidiárias (BB seguros, Caixa seguros, etc, etc)