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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 8:01 am
por Bourne
Túlio escreveu:
Bourne escreveu:No mundo fantástico sem restrições para se endividar, sim :|

Meu mundo é exatamente OPOSTO a este, cupincha... :wink: 8-]
O mundo real costuma ter restrições e tem que aprender a lidar com elas.

Mas a mulé considera que restrição é besteira e por isso está virando piada. Aliás, contá-se que o líder do grupo de pesquisa dela na FEA-USP, chora todos os dias de arrependimento de apoiado a contratação da mulher devido as últimas vergonhas públicas, as piadas dos colegas da USP e das associações que participa. :lol:

O que ela propõe uma saída de maior endividamento para gastar e investir mais. Ao mesmo tempo partindo do pressuposto que temos a eficiência arrecadação e gastos germânica ou canadense, conjuntamente com as condições de financiamento de juros zero, prazo de uns 30 anos dos títulos e inflação negativa. é tão irrealista que ninguém em sã consciência leva à sério.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 8:48 am
por Túlio
A rigor, ela parece estar propondo uma repetição do que o Lula fez na década passada; a josta é que a conjuntura mudou muito, como consequência o resultado seria péssimo, a meu ver...

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 2:48 pm
por Marechal-do-ar
Mathias escreveu:Amigo, como eu disse, me importa a prática, o dia a dia, e as promessas eram de melhoras ao final deste ano, já mandaram pra final de 2016 e olhe lá.
Acaba acontecendo aqui como aconteceu na Espanha e outros europeus, a coisa só afunda e os teóricos dizendo que esse é o melhor caminho.
Imagina você ir ao médico com umas dores nas costas, ele te dá um diagnóstico e uma medicação prometendo que em um mês você já vai esta melhor.
Um mês depois você volta numa cadeira de rodas e o cara te diz que é assim mesmo, primeiro piora e depois vem a cura.
Mais um mês e você está numa UTI respirando com ajuda de aparelhos e em coma induzido.
Você vai seguir acreditando que esse tratamento é realmente eficaz?

Então, por exemplo, se disse que o ajuste traria de volta a confiança.
Funcionou ao contrário, estamos perdendo rating seguidamente, e quanto mais ajusta, pior fica a nossa nota.

Entende o que quero dizer?
Mathias, eu entendo o que você quer dizer, você tem um câncer nas costas e quando acaba em uma cadeira de rodas acha que a culpa é do médico.

Pergunto, como você acha que estaríamos se o Guido Mantega continuasse?


Sobre a confiança, acho que a Dilma cometeu um grande erro e está pagando por ele agora, mas o erro não foi o Joaquim Levy, o erro foi antes, nas eleições, dizer que não faria o que está fazendo, dizer que não seria necessário e que seus concorrentes fariam, se ela tivesse logo dito a verdade que a política econômica estava equivocada e explicasse o porque ai ninguém teria esse sentimento de "ter sido traído", talvez ela nem ganhasse as eleições, mas quem ganhasse as eleições teria mais que 10% de aprovação e, como consequência, talvez tivesse mais apoio no congresso.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 3:11 pm
por mmatuso
Não estamos perdendo rating pelo o que foi feito nos últimos 6 meses e sim pelos últimos 3 anos de barbeiragens.

Se a politica atrapalhada de intervenção no mercado continuasse com esses subsídios ridículos que só ajudaram a afundar tudo e alguns ganhar muito, já teríamos perdido o rating de todas agências e estaríamos a essa hora rumo a virar a nova Argentina, porque a divida pública naquele ritmo teria subido mais uns 5% no minimo.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 4:13 pm
por Bourne
Só lembrar que a política de intervenção continuada e aprofundada para mais consumo, investimento e endividamento foi da Dilma I. Agora estamos pagando o preço dessas loucuragem. Os subsídios de crédito, subsídios e outros haveres do setor privado com o governo cresceram tanto que a dívida liquida caiu, mas a bruta que é mais sensível e realmente diz a situação do país vai estourar 60%.

No governo Lula, tinha diretriz básica de continuar alargando os prazos, elevar a composição da dívida indexada a inflação que permitira uma redução consistente e permanente da taxa de juros em geral. Ao mesmo tempo em que reduziria o custo dos subsídios que estão continuados na diferença entre selic e taxa de juros de longo prazo, beneficiando o governo, as empresas que recedem crédito de bancos públicos e canais privados, aliviando a pressão dos fundões e do sistema de poupança compulsória condensado no FGTS.

Não olhavam só para a relação dívida e produto, mas principalmente trabalhavam para transformar o endividamento em longo prazo e reduzir o custo do orçamento de 10% para 5%, alargar os prazos médios de 4 anos para uns 10 anos. Seriam condições similares da Espanha que seriam viáveis dentro do contexto de um país com grandes reservas em moeda estrangeira, contando com grau de investimento e setor financeiro sofisticado. Algo que daria uma capacidade de mobilização e segurança enormes ao governo em relação ao que ocorreu nos últimos 60 anos. O que também levaria a sobrar algumas dezenas de bilhões diretamente, somados a outras economias adjacentes por que mexeria com toda estrutura financeira.

O problema é que chegou a crise de 2007-08, fizeram toda a política correta de estabilização, mas esqueceram que era curtíssimo prazo. A partir de 2011 era hora de retornar ao plano original e continuar aproveitando as mudanças internacionais e bom momento interno para tocar as reformas, entre elas reestruturação da dívida pública. O que não ocorreu por decisão do governo Dilma I. Eles tentaram reeditar a experiência dos anos 1970 com o estado liderando tudo e sem reformas, resultado na necessidade do ajuste pesado e doloroso. Ao qual todos sabem que tem que ser feito. Salvo os maluquinhos que acham que vivem na Alemanha ou Canadá.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Sáb Set 05, 2015 9:48 pm
por Mathias
Mathias, eu entendo o que você quer dizer, você tem um câncer nas costas e quando acaba em uma cadeira de rodas acha que a culpa é do médico.
Você entendeu sim, mas escreveu outra coisa completamente diferente do que escrevi.

Veja, eu não sou economista nem me meto a sê-lo dando opinião fajuta disfarçada de técnica, sou leigo no assunto, portanto o que escrevo é o que tenho de fato nas mãos, sem teorias econômicas.

Eu não sei qual seria a solução, para isso existem os economistas, e foram economistas que colocaram em prática as políticas anteriores, assim como os que testaram trocentos planos econômicos fracassados no passado, mas que todos previam ia ser um sucesso.

Se pregou arduamente o "ajuste" como a única saída possível e é sobre isso que eu falo.
Se ela prometeu na eleição e não cumpriu, agora eu quero ver se também prometeram a solução de todos os males e também não vão cumprir.

O que eu vi até agora foi subirem bastante o imposto do pobre, a inflação; e o dólar, que na época da desgraça manteguista pro alguma razão que desconheço estava quieto e agora não para de subir e gerar mais inflação, ou seja, mais imposto nas costas dos mais pobres.

Eu não estou aqui advogando a solução A, B ou C, eu quero é ver os resultados das promessas para depois da tempestade.
Por enquanto só vi resultados negativos, pelo menos para os mais necessitados.

Alguém pode mostrar algum avanço depois do ajuste?

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Set 06, 2015 10:50 am
por Bourne
Uma das reformas na estrutura fiscal e federativa é do ICMS. O problema é como desenhar por que existirem conflitos diversos sobre como será a reforma por afetar a arrecadação de cada estado. Não é qualquer coisa, mas a principal fonte de receita própria dos estados.
Com prós e contras, ICMS único tem batalha difícil pela frente

A ideia de unificar as alíquotas interestaduais do ICMS é antiga e tem entre seus defensores boa parte dos economistas. É uma das prioridades do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e semanas atrás ganhou o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, que a incluiu na chamada Agenda Brasil. Mas isso não quer dizer que a proposta ficou mais próxima de sair do papel.

Por mais que a convergência das alíquotas seja um estímulo à eficiência da economia, ela está longe de agradar a todos os governadores, a começar porque muitos perderiam arrecadação do principal tributo estadual. Além disso, o desgaste na relação com o Planalto tem afastado até quem antes pregava a conciliação, como o governo de Goiás.

O Paraná está entre os que se opõem. O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, declarou semanas atrás que o “desprezo” da União por estados e municípios inviabiliza qualquer cooperação.

O objetivo do governo federal é baixar gradualmente as alíquotas interestaduais do ICMS – hoje de 7% ou 12%, conforme os estados de origem e destino da mercadoria – para 4%. Essa convergência concentraria o tributo no estado consumidor, e não mais no produtor, e reduziria a margem de manobra de governadores para conceder benefícios fiscais à revelia da lei.

Opinião: Reforma do ICMS e repatriamento: crimes que compensam
José Roberto Vieira, Professor de Direito Tributário da UFPR

O fim da guerra fiscal recolocaria termos como produtividade e infraestrutura no topo da lista de prioridades dos empresários quando escolhem onde investir. E permitiria aos estados atrair negócios sem abrir mão de receita. “Um estudo de 2011 mostra que o ICMS representa mais de 7% do PIB brasileiro. Com um peso desses e da forma como está organizado, ele incentiva a alocação ineficiente de recursos e gera uma insegurança jurídica e um desequilíbrio concorrencial enormes”, diz o tributarista José Julberto Meira Junior, da Consult.

Para Bernardo Oliveira, diretor da consultoria Andersen Tax, o maior benefício da convergência seria simplificar a apuração do tributo. “Imagine a insanidade que é uma rede varejista com lojas em vários estados lidar com as legislações locais. O departamento fiscal fica maior que a área de vendas”, diz.

Perdas
Por outro lado, concentrar o ICMS no destino baixaria a receita de estados que, grosso modo, são mais “produtores” que “consumidores”. Em 2013, o Ministério da Fazenda estimou que 20 das 27 unidades da federação ganhariam com a mudança – o Paraná receberia R$ 851 milhões a mais por ano. O cálculo é controverso. Pelas contas do secretário Mauro Ricardo Costa, o Paraná na verdade perderia R$ 2,23 bilhões em sete anos.

O governo federal propôs, em medida provisória, repor as perdas com o dinheiro da repatriação de recursos (veja artigo nesta página). Os estados, desconfiados, exigem que o ressarcimento seja fixado em emenda à Constituição. “Precisamos de garantias, de segurança, para essa compensação”, disse o governador Beto Richa à Gazeta do Povo, um mês atrás. “O?repasse da Lei Kandir [que zerou o ICMS na exportação de matérias-primas a partir de 1996], por exemplo, nunca vem a contento, ou em tempo, vem sempre com atraso.”

Marcus Souza, diretor da área de tributos da KPMG, aponta que algumas empresas podem perder com a unificação, ao comprar insumos com alíquota de 18%, por exemplo, e vender produtos a outros estados recolhendo 4%. “Quem não tem margem de lucro alta vai acumular créditos tributários. E os mecanismos para transferir esses créditos para terceiros são ineficientes ou dependem do momento econômico do estado”, aponta.

Paraná reeditou incentivo que foi extinto pelo STF

Em março, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional uma lei estadual de 2006 que dava benefícios fiscais a empresas que importassem pelos portos do Paraná. O mecanismo – típico de guerra fiscal – não havia sido aprovado pelo Confaz, conselho que reúne os secretários de Fazenda.

Perdida a batalha, o governo do Paraná editou, em julho, dois decretos com efeito retroativo a março que, na prática, restabelecem os mesmos incentivos. “É uma prática comum”, diz o especialista em tributos Paulo Andrade, gerente da PwC Brasil.

Segundo ele, ao julgar a lei paranaense, o STF “modulou” pela primeira vez os efeitos de uma decisão sobre a guerra fiscal, determinando que eles só valiam dali em diante. “O Supremo corroborou o convênio 70/2014, do Confaz, que convalida os benefícios do passado. Mas esse convênio ainda não está plenamente em vigor, pois depende de ações do Executivo e Legislativo”, explica Andrade.

http://www.gazetadopovo.com.br/economia ... 21wh6qkdy4

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Set 06, 2015 11:44 am
por Bourne
Chamo a atenção pelo custo da política do Guido Mantega e outros maluquinhos durante o governo Dilma I.

Dando essa montanha de dinheiro acharam que seria suficiente para o país ter crescimento chinês e compensar os custos. O resultado foi inverso. Agora temos um rombo no orçamento, desaceleração da economia, aceleração da inflação e piora das condições de financiamento e rolagem do endividamento. A conta vai até 2020 devido a desconstrução demandar um longo processo de negociação e choradeiras diversas.

Depois precisa perguntar por que foram todos demitidos?

Obs: esses dados são fundamentados e estão contemplados no planejamento do ministério da fazenda e do planejamento.
Dilma deu R$ 458 bilhões em desonerações

LEONARDO SOUZA
BRUNO VILLAS BÔAS
DO RIO

06/09/2015 02h00
As desonerações de tributos concedidas pelo governo da presidente Dilma desde 2011 somarão cerca de R$ 458 bilhões em 2018, quando termina o atual mandato. O cálculo foi feito por auditores da Receita Federal para a Folha, a partir de dados públicos divulgados pelo fisco.

Se fosse para o caixa do Tesouro, o valor custearia inteiramente o Bolsa Família por 17 anos seguidos -o carro-chefe dos programas sociais dos governos petistas está orçado em R$ 27,1 bilhões neste ano, beneficiando 14 milhões de famílias.

A redução de impostos começou no governo Lula, no final de 2008, como forma de estimular o crescimento do país e compensar os efeitos da crise global. Até 2009, os benefícios foram tímidos.

A renúncia fiscal passou a ser mais intensa no ano seguinte, quando Dilma foi eleita, e explodiu em 2011, seu primeiro ano de mandato.

Impacto das renúncias implantadas no governo Dilma

A Receita passou a monitorar de perto o impacto das medidas apenas em 2010, preocupada com as contas públicas. Assim, não há série histórica disponibilizada pelo fisco de 2010 para trás.

Segundo a Folha apurou, o Ministério da Fazenda estimou em R$ 26 bilhões os estímulos fiscais concedidos de outubro de 2008 a dezembro de 2009. Com mais R$ 17,5 bilhões de 2010, foram cerca de R$ 43,5 bilhões no governo Lula. As desonerações na gestão de Dilma equivalem, assim, a dez vezes as de Lula.

Foram reduzidas ou zeradas as alíquotas de tributos sobre produtos tão díspares quanto automóveis, queijo do reino, móveis e máquinas de escrever em braille. Na conta entram também isenções para aplicações financeiras.

A Receita também incluiu em seu cálculo, por resultar em perda de arrecadação, a correção da tabela do Imposto de Renda feita em 2011 e seus impactos até 2014. No total, a correção reduziu as receitas em R$ 8,524 bilhões.

IMPACTO PERSISTENTE

A maior parte das desonerações gera impacto por diversos anos seguidos. As medidas de 2011, por exemplo, representaram renúncia de R$ 66,38 bilhões. Em 2012, o governo Dilma atingiu o auge das desonerações, com renúncia de R$ 142,5 bilhões.

Em outubro de 2013, o FMI alertou o governo brasileiro: "A desaceleração do ritmo de crescimento do Brasil desde meados de 2011 gerou maior incerteza sobre as políticas macroeconômicas, incluindo o excesso de medidas pontuais e de estímulo".

O governo ironizou o aviso. O então ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o documento tinha sido elaborado por "um escalão técnico" que não estava afinado com a diretoria do Fundo.

Em outubro de 2013, o FMI estimava que as desonerações anunciadas pelo governo chegavam a R$ 151 bilhões até junho daquele ano.

No lugar de seguir a orientação do FMI, a equipe de Mantega aprofundou a política de desonerações. Em 2014, ano da reeleição de Dilma, o governo concedeu isenções de R$ 132 bilhões até 2017. Com a revisão sobre a folha de pagamentos, esse valor cai para R$ 106 bilhões.

MUDANÇA TARDIA

Se todos os benefícios concedidos por Dilma continuassem valendo, a redução de receitas até o final de seu segundo mandato, em 2018, seria de R$ 483 bilhões. Neste ano de ajuste fiscal, contudo, parte das medidas foi revertida, como a reoneração da folha de pagamentos.

A mudança de rumo foi forçada pelo risco crescente de o país perder o selo de bom pagador de suas dívidas dado pelas agências de risco de crédito (rating).

Após a reeleição da presidente Dilma, sob o comando do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o pacote fiscal elevou impostos e cortou despesas. Mas, com a desaceleração da economia, a arrecadação continuou em queda, impedindo o ajuste.

O Orçamento de 2016 foi enviado ao Congresso, pela primeira vez, com previsão de deficit, de R$ 30,5 bilhões.

Quase dois anos após o relatório do FMI, a presidente Dilma disse, no mês passado, que errou na avaliação da situação econômica e que demorou a perceber que a situação "podia ser mais grave do que imaginávamos".

http://tools.folha.com.br/print?site=em ... coes.shtml

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Set 06, 2015 12:25 pm
por Bourne
Ainda sobre a trip de LSD da mulé.
opinião: Gastar mais e baixar juros agora não faz o menor sentido

CARLOS EDUARDO S. GONÇALVES
06/09/2015

As economias de mercado passam por altos e baixos, ciclos de expansão e ciclos de contração do PIB por habitante. Com efeito, a tal tese da Grande Moderação morreu ali na virada de 2008 para 2009. O que explica esses ciclos?

Teorias das mais diversas matizes têm sido propostas. Em algumas a ênfase recai sobre as oscilações na eficiência com que os fatores produtivos são combinados, em outras são os deslizes das políticas monetárias e/ou fiscal, ou choques de termos de troca vindos do exterior, ou exuberâncias de irracionalidade –otimismos desenfreados seguidos de estouros de bolhas e pessimismo persistente.

A maioria tem uma lógica interna consistente e, justamente por isso, é preciso olhar os dados e o entorno institucional para escolher a que faz mais sentido em cada caso.

Apegar-se ferrenhamente a uma teoria, ainda que tudo a seu redor sinalize que ela não condiz com os dados, é absolutamente infantil –ainda que incrivelmente comum.

Nós, economistas, podemos e devemos fazer melhor.

Nos últimos quatro anos, os da dita Nova Matriz, a economia brasileira desacelerou, a produtividade estagnou, os núcleos de inflação subiram e ficaram resilientes, o investimento despencou (e assim segue), o deficit em transações correntes se avolumou (agora começa a cair), a confiança dos empresários atingiu nível só antes visto em 2009, a indústria encolheu, a desigualdade de renda parou de cair.
macroeconomia 101

Os artífices e seguidores da Nova Matriz parecem pensar que todos os problemas no mundo advém da falta de demanda. E em alguns casos, é mesmo a demanda a trava –e então a inflação cai a níveis baixos, às vezes negativos, e os deficit externos encolhem.

A Europa de hoje é um bom exemplo: o setor privado atolado em dívidas não consome e não investe e a inflação rasteja. Nesse caso, expansão fiscal e juro zero fazem sentido.

Já aqui no Brasil, a inflação se acelerou e o deficit externo também, continuadamente, desde 2012. No curso de macroeconomia para iniciantes, os alunos já sabem que isso significa que o problema não pode ser falta de demanda.

Mais ainda, o governo praticou políticas monetária, fiscal e creditícia fortemente expansionistas nesse período –afinal essa era a essência da Nova Matriz. Mas não funcionou, simplesmente porque nem sempre o problema é falta de "demanda efetiva".

Culpa do cenário externo pode ser? Nos últimos meses, sim. Nos últimos anos, não. Se a crise foi internacional, por que só nosso desempenho foi medíocre? Ademais, nossos termos de troca no governo Dilma 1 se mantiveram mais altos que a média do período Lula. E os juros externos lá no chão! E o Brasil, estranhamente, também...

Olhando para o longo prazo, me preocupa menos a miséria dos últimos anos e mais o fato de que muita gente parece não ter percebido que existe uma coisa importante em economia chamada "lado da oferta". Sim, nós podemos fazer melhor.

CARLOS EDUARDO SOARES GONÇALVES, 42, é professor titular (licenciado) da USP, colaborador do projeto "Porque?" (www.porque.com.br) e economista sênior do FMI (Fundo Monetário Internacional)

http://app.folha.uol.com.br/#noticia/592938

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Set 06, 2015 3:31 pm
por Bourne
O levy têm diferenciais muito importante: saber falar; é bonachão com todo bom carioca; é não é incoerente.
Joaquim Levy: “Estamos em travessia, momento de manter a serenidade”

O ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, chegou duas horas atrasado à entrevista marcada para acontecer na última quarta-feira, em um dia em que acumulou inúmeros compromissos. Fazia só dois dias que Levy anunciara em coletiva de imprensa o magro orçamento para 2016, tingido de vermelho por um débito de 30 bilhões de reais. Ou seja, o cobertor está curto, e isso indica um inverno econômico muito mais extenso do que se esperava.

Ao contrário do ministro de cara amarrada que economizou palavras ao lado do colega Nelson Barbosa nesta segunda-feira, foi um Levy sorridente quem compareceu à sala de reuniões do Ministério da Fazenda na avenida Paulista. Não aparentava estar prestes a pedir demissão no dia seguinte, como se especulou, levando o dólar às alturas na quinta, e obrigando o ministro a adiar sua partida para a Turquia, onde participaria da reunião do G-20. “Eu não tenho essa intenção”, avisou durante a conversa com o EL PAÍS.

Pelo modo como emprega as palavras para descrever a crise atual, não parece mesmo. O economista formado em Chicago fala em consenso, negociação, convergência e na necessidade de preservar a nova classe média que ascendeu nos anos do PT no poder. “O importante agora é tomar decisões”, diz ele, que chama Temer de “presidente”, sem se importar com as interpretações que podem sair daí. “Mas ele não é presidente do PMDB?”, diz ele rindo, depois que o gravador está desligado.

Pergunta. O mundo está preocupado com o Brasil. Por que o país não termina o ajuste para chegar à retomada econômica?

Resposta. Nossos dois principais parceiros, Estados Unidos e China, estão deixando suas políticas anticíclicas e isso nos impacta. Nos EUA, por um bom tempo, houve muita liquidez. E o ano todo houve a discussão se eles vão aumentar ou não a taxa de juros. Algo que mexe com o mundo inteiro, valoriza o dólar, e temos de nos adaptar. Na China, a política era de investimento, investimento, investimento. Viu que não tinha como continuar, e fez uma profunda mudança. Muito complexa, pois o governo não tem todas as ferramentas necessárias para fazer mudanças que incluem a abertura da conta capital, liberalização dos bancos, tudo para garantir mais espaço para o setor privado. Isso já começou a afetar os mercados há dois anos. Daí caiu o petróleo quando se percebeu que essa mudança estava tendo efeitos muito importantes. Menos investimento, menos matéria-prima, que afeta preço no mundo inteiro...

P. E o Brasil?

R. O Brasil está no meio dessa mudança de preços com o fim do boom das commodities. Em 2007, 2008, 2010 não tivemos esse problema porque a liquidez e o investimento nos ajudaram. E tínhamos mais colchão fiscal, foi mais tranquilo. [O Estado] gastou mas poupou. Hoje nosso colchão fiscal está magrinho. Mas temos um bom colchão nas reservas internacionais. Não nos recuperamos porque temos de fazer uma transição estrutural. Assim como algumas regiões na Espanha, como a Catalunha depois da crise, ou Valência, que teve de se reinventar. Nós também estamos nesse processo. E há uma questão política. O ajuste econômico, do ponto de vista clássico, explica talvez um terço da desaceleração do PIB. PIB é a soma de uma porção de decisões. Quando tem uma turbulência política as pessoas se retraem. E decisões que você precisa tomar são adiadas. A economia se contraiu obviamente.

O ajuste econômico, do ponto de vista clássico, explica talvez um terço da desaceleração do PIB. PIB é a soma de uma porçái de decisões. Quando tem uma turbulência política as pessoas se retraem. E decisões que você precisa tomar são adiadas. A economia se contraiu obviamente
P. No início do ano os economistas diziam que o ajuste seria rápido e a retomada viria seguir neste segundo semestre. Depois 2016, e agora 2017. Quando afinal?

R. Eu diria nem tanto ao mar nem tanto à terra. Alguns aspectos do ajuste já estão ocorrendo. O importante é não descarrilhar. Hoje o balanço externo começa a se equilibrar. Nosso déficit em conta corrente está encolhendo. Isso é muito importante para o equilíbrio e a confiança. A contribuição do setor externo para o PIB foi de um ponto porcentual. É verdade que a contribuição da demanda interna foi negativa. Mas há outro aspecto que vemos evoluindo, como a inflação. Os preços livres estão se comportando um pouco melhor. Na medida que o Banco Central foi vigilante, este aumento não virou um processo. Agora, a demanda está muito retraída mais pelas razões não econômicas. Mas essas razões estão evoluindo.

P. O nó político?

R. Sim, o nó político, mais as investigações...

P. Você está mais otimista em relação a isso?

Hoje já há uma agenda comum, a Agenda Brasil, para lidar com um choque que vai ser grande e persistente, quase como no início da década de 80, e que inclui mudanças estruturais
R. Acho que sim. Havia uma série de coisas no ar que as pessoas estão abandonando. Conseguimos convergência do Governo com o Congresso que não existia há dois ou três meses. Hoje já há uma agenda comum, a Agenda Brasil, para lidar com um choque que vai ser grande e persistente, quase como no início da década de 80, e que inclui mudanças estruturais. Temos de simplificar impostos, facilitar a vida das empresas, diminuir distorções. Simplificar os investimentos em infraestrutura, a concessão, as licenças, que geram sobrepreço. O Congresso hoje também entende isso. Infraestrutura é importante para melhorar produtividade neste mundo sem commodities. Tem também a reforma da Previdência e do mercado de trabalho.

P. E o Orçamento?

Num Estado assistencialista, qualquer coisa está bom. Mas se você tem que ter qualidade, sabe que não vai pode sair gastando
R. Pode ser que haja necessidade de receitas, a presidenta falou disso hoje (quarta-feira), que se precisar vamos apresentar ao Congresso e buscar caminhos de receita. Mas outro pilar também é o Governo diminuir despesas. Não é só fazer cortes apenas, mas escolher, rever programas, uma porção de coisas que nos anos de vacas gordas foram crescendo, crescendo, crescendo. Despesas obrigatórias, temos de ver, sem afetar o bem-estar. Para melhorar a qualidade dos serviços.

P. É difícil fazer isso...

R. Mas alguém precisa fazer.

P. Mas na crise da dívida europeia, Portugal, Grécia, Espanha promoveram cortes e o nível da vida de cidadãos baixou.

R. Não é cortar, muito menos benefícios. Não precisamos fazer isso.

P. Mas cortar gasto do Governo...

R. Cortar gastos, vamos cortar. Mas no Brasil ainda tem muitas coisas feitas de maneira muito ineficiente.

P. Por exemplo?

R. Na própria Saúde. Toda hora a Justiça determina que você faça um tratamento super caro para fulano ou beltrano. Então, se você tiver mais protocolos, deixar mais claras as regulações, do que pode e não pode em termos de processos de alta complexidade, você atende mais gente com mesmo dinheiro. Eu tive essa experiência no Rio de Janeiro [quando foi secretário da Fazenda do Estado, entre 2006 e 2010]. Organizar processos é muito importante. Tem programas especiais para funcionários. Você não precisa de todos eles. Na Saúde, você tem a farmácia popular. Como podemos melhorá-la e outros inúmeros programas? Tem de botar gestão, gestão, gestão...

P. E na educação?

R. Você tem a questão da FIES. O número de matrículas não aumentava, mas o número de matrículas pagas pelo Governo estava disparando. Tudo bem, eu pago bolsa, mas tem de ter um nível mínimo de qualidade. Eu pago a bolsa, mas você não pode repetir de ano. Coloca esse tipo de regra e todo mundo entende e, no fundo, todo mundo apoia. Você vai olhar também o preço. Casos de faculdades, classes essencialmente de alunos do FIES. Daí você aumenta em 30% a matrícula? Além da economia de dinheiro, que não é trivial, você mostra e dá exemplo. Se fizermos mudança estrutural, com segurança fiscal – com a qual não se pode brincar – , a gente chega lá. A gente tem de entender que tem uma nova classe média. Se de um lado as expectativas aumentam, a classe média sabe que ela é quem paga pelas coisas. Por isso a ênfase em melhorar processos, ter gestão. Num Estado assistencialista, qualquer coisa está bom. Mas se você tem que ter qualidade, sabe que não vai pode sair gastando, pois você não pode viver de dívida. Este é o desafio do Governo agora.

Estamos fazendo uma travessia. É um momento em que você está rearranjando paradigmas. É um momento em que você tem de responder com serenidade
P. Este plano é compatível com a investigação que aponta um nível de corrupção que se vê no Brasil maior do que nos anos anteriores?

R. Eu não colocaria as coisas dessa forma. O que o Brasil tem de diferente em relação à corrupção é que as pessoas falam o que bem entendem. Aqui não temos um juiz midiático como o [Baltasar] Garzón na Espanha...

P. Mas o Moro está concorrendo para ser essa figura...

R. Pois é, mas aqui a gente tem muita transparência e estamos fazendo tudo de maneira extremamente estruturada. Acho que esse processo vai melhorar a eficiência da economia. Inclusive nessa área, estamos tendo um enorme cuidado nas novas licitações, que os editais, por exemplo, tenham menos barreiras de entrada. Para permitir muito mais acesso de empresas menores e estrangeiras.

P. Começamos a conversa dizendo que consumidor e empresas estão retraídos, e o PIB mostra isso bem. É possível rever isso até o momento das concessões?

Continuo no mesmo lugar em que estava nos três primeiros anos do Governo Lula. Continuo igualzinho. Às vezes eu continuo inclusive com a mesma gravata e penso: nossa, que vergonha! O PT eu não sei se está no mesmo lugar, mas eu estou. Frase perigosa esta, hein? (Risos)
R. Tenho tranquilidade. Esta semana houve leilão de energia solar. E houve demanda enorme. Então, quando é bem estruturado o negócio e você tem financiamento, tem confiança. As pessoas hoje estão preocupadas com o que vai acontecer daqui a três meses. Mas um contrato vale por mais tempo, não interessa o que aconteça. Em portos, por exemplo, você está autorizando um terminal por semana. A vida continua, apesar de tudo.

P. Estamos num momento em que temos um ruído todo dia, se o ministro Levy vai deixar o governo ou não. Você vai deixar?

R. Não tenho a intenção.

P. Então como convencer o mercado sobre essa retomada quando todo dia é um susto? Se vamos ou não perder o grau de investimento, etc.?

R. Estamos fazendo uma travessia. Houve uma combinação de fatores complicados, uma mudança econômica, que é uma grande virada de maré. Junto com uma questão política. Que se ligavam um pouco. A presidenta fez mudanças mesmo arriscando a popularidade dela. Mas ela sabia que tinha que fazer essas mudanças. É um momento em que você está rearranjando paradigmas. Tem a própria investigação que cria incertezas. É um momento em que você tem de responder com serenidade.

P. Comparar hoje com os anos 80 - quando tínhamos dívida, hiperinflação - não é um pouco exagerado?

Não me importo nenhum pouco com essa coisa de isolado ou não isolado. O que importa no final das contas são as ações.
R. Eu não comparo esses dois períodos. Eu comparo o tamanho do choque que é equivalente ao dos anos 80. Mas temos de evitar as soluções dadas quando éramos uma sociedade muito menos madura. Nos anos 70 havia um período de muita expansão, petrodólares, endividamento, grandes investimentos, e de repente deu uma virada, com o Volcker [Paul Volcker, que assumiu o FED em 1979, e promoveu um choque de alta de juros que quebrou a América Latina]. Foi choque de commodities ao contrário, quando não éramos exportadores de petróleo, éramos importadores, e houve uma alta de preços muito grande. Foi uma mudança similar, com consequência de apreciação do dólar. Estávamos menos preparados naquela época. Hoje somos muito mais organizados.

P. Temos risco de perda de grau de investimento?

R. Temos de tomar as decisões certas, não se pode descuidar da questão fiscal. Um dos problemas dos anos 80 é que naquela época não havia nem a cultura fiscal. Toda vez que havia um problema o ministro da Fazenda assinava um papel e se imprimia dinheiro. Hoje a situação é muuuito diferente. A comparação com os anos 80 é para entender que é preciso estar atento. É um choque persistente e que se respondermos bem, vai ser muito bom para o Brasil. Qual resposta hoje? Gastar mais? Não. Baixar o juro e deixar fazer crédito, crédito? Não. É focar para ter mais eficiência na infraestrutura. É melhorar o gasto público, a tributação, pensar como vai limitar as despesas do Governo, para saber quanto vai ser carga tributária daqui a cinco ou dez anos...

P. Mas tributo passa por decisão em que todos os Estados têm de concordar...

R. Os Estados estão hiper-alinhados! Eu participei lá atrás, depois de muitas discussões, se chegou a uma convergência. Nós queremos implementar uma convergência. Entre Estados, mesmo com a resistência que havia, há uma chance de ser votado. Seria uma sinalização super importante.

P. O Governo fala em déficit de 30 bilhões de reais, e o relator do Orçamento fala em 75 bilhões... Por que há diferença?

R. Não. Isso é o hiato entre o que a gente está e o que tem de chegar, que é a meta de 0,7% de superávit. É o que a gente tinha planejado. Ao longo desse ano, a gente falou em ajustar alguns impostos. Um trabalho difícil, pois as pessoas estavam acostumadas a ter benefícios, renúncias, etc. Quando chegou agora com o Orçamento, a gente foi avisando que havia um desequilíbrio estrutural, que tínhamos de nos preparar. Mas quando chegou e começamos a conversar, dissemos que tem a CPMF. As pessoas começaram a ficar assustadas. Daí, houve um movimento super interessante, inovador. Em vez de mandar um Orçamento fechado e dizer ‘aparece um novo imposto’, melhor dizer: Vamos construir juntos? É lógico que o Governo vai, no final do dia, ter a iniciativa e propor. Mas, tudo em política é uma questão de tempo. É como se estivéssemos pedindo mais um tempo para a gente descobrir o que a gente vai fazer. Não pode ser decisão tecnocrática, é construção. Temos de ter algum tipo de ponte, até a economia reequilibrar. E obviamente, o Governo também terá de fazer um trabalho do lado dele. Essa estratégia o Congresso entende. E seremos parceiros. Vamos discutir alternativas? Em público? Vamos rediscutir Previdência juntos? É idade mínima? É mais anos de contribuição? A maior parte não envolve cortes draconianos. É reorganizar o jogo pois o Brasil vinha acumulando pequenas ineficiências. Enquanto está muito bem, você não olha. Quando a coisa muda, você presta atenção nisso. Você conserta o telhado para quando vier a chuva. Mas agora está pingando um pouco, digamos assim. Vamos acelerar o conserto do telhado?

Temos mercado de 200 milhões de pessoas, dinâmico, jovem, demografia positiva. Lógico que a demanda interna é importante. Não tem como dar errado.
P. Você vende um quadro de otimismo numa conversa a sós com a gente. Mas, quando saímos para a realidade, temos a oposição gritando que o Governo não está fazendo cortes, parlamentares dizendo ‘eles querem que a gente faça o trabalho deles’...

R. Então tem uns que gritam que a gente não está fazendo cortes, outros gritam que não estamos pagando nada. E às vezes é o mesmo cara que diz as duas coisas. Não é algo extraordinário? (risos). Daí pergunta: e o restos a pagar? E mais crédito? É óbvio que temos de arrumar a casa. O mais importante é sair do “denial”, reconhecer que há um problema...

P. Sair da negação da realidade?

R. Sim, o cara achava que bastava trocar isso por aquilo e tem uma solução fácil e que tudo vai dar certo. Não é assim. Temos de encontrar um caminho. É um caminho que o Senado está comprando. O presidente Temer tem dito isso: que temos de estar unidos para encontrar um caminho. O caminho está mais ou menos definido, e o Senado está comprando esse caminho. Precisamos estar unidos: uma agenda estrutural, com uma porção de coisas, e o Governo pensando em como reduzir a despesa. Assim, onde a gente puder mudar a lei para reduzir as despesas, o Congresso vai ajudar.

P. Mas a falta de apoio do Congresso é real. A demora para votar a reoneração, por exemplo, você disse que custou 6 bilhões de reais.

R. Mas não foi votado?

P. Sim.

R. Isso é passado. Em julho parecia impossível, mas votou. E tudo bem.

P. Quando você foi eleito você foi identificado com a direita do PT...

R. Mas eu continuo no mesmo lugar de onde eu estava nos três primeiros anos do Governo Lula (quando foi secretário do Tesouro entre 2003 e 2005). Continuo igualzinho. Às vezes eu continuo inclusive com a mesma gravata e penso: nossa, que vergonha! (risos) O PT eu não sei se está no mesmo lugar, mas eu estou. Frase perigosa esta, hein? (risos)

Em 2016 teremos trimestres já com crescimento. Até porque no Brasil as retomadas são relativamente rápidas.
P. Dá a impressão de que você está isolado. Nesta quarta a presidenta precisou te respaldar no cargo. Como você se sente?

R. Não me importo nenhum pouco com essa coisa de isolado ou não isolado. O que importa no final das contas são as ações. Estamos tomando as medidas que vão permitir à gente sair da crise, mantendo a responsabilidade fiscal. Mantendo o que é essencial para os mercados investirem. Todos os dias temos de tomar decisões. No final, o que contam as ações.

P. Mas são as pessoas que decidem.

R. Mas o Governo tem avançado. Todo Governo vai um pouco pra lá, pra cá. É evidente. A presidente tem dito: "Temos que abrir a economia, integrar o país na cadeia de valores". Fala de mudanças estruturais. As pessoas dizem que não aconteceu nada e mostram as coisas erradas. E o que a gente faz? Nós fizemos uma reforma do seguro desemprego extremamente importante. Votou! Fizemos mudanças nas pensões para diminuir algumas distorções e votou. Todo dia fazemos ações, e votamos. O importante é continuar as ações. Pegamos o Orçamento difícil que apesar de todos os avisos, pegou gente de surpresa. Temos hiato de mais de 1% do PIB. O que fazer? Vamos conversar. Nós também sabemos fazer uma concertación. A gente não fala disso, mas o Brasil sempre fez isso, a concertación. Às vezes demora dar um passo à frente. Mas quando vai raramente volta atrás.

P. E a retomada quando chega?

Vamos discutir alternativas? Em público? Vamos rediscutir Previdência juntos? É idade mínima? É mais anos de contribuição? (...) Você conserta o telhado para quando vier a chuva. Vamos acelerar o conserto do telhado?
R. Em alguns aspectos a retomada já chegou. Se não houvesse o componente político, isso ficaria mais visível. Alguns adiando suas decisões, postergando. Mas tendo sistema de preços na boa direção, as pessoas tomam coragem, começam a fazer planos. Em 2016 teremos trimestres já com crescimento. Não tenho a mais ligeira dúvida sobre isso. Até porque no Brasil as retomadas são relativamente rápidas. E é uma economia grande, não depende só do mercado externo.

P. Antes você disse que a queda era fruto de condições internacionais, e a retomada vem do mercado interno?

R. Sim, mas temos uma diferença. Não vamos ter mais as commodities. É o fim do mundo? Não. Mas temos mercado de 200 milhões de pessoas, dinâmico, jovem, demografia positiva. Lógico que a demanda interna é importante. Ela não vai crescer muito rápido porque a gente tem de equilibrar demanda e oferta. Mas não tem como dar errado.

P. Estamos fadados ao sucesso?

R. Sim, desde que trabalhemos muito.

P. A redução de ministérios pode ser simbólica. Mas ela pode trazer ganho de eficiência?

R. Claro, já está decidido. Se vai ser tudo de uma vez, ou aos pouquinhos, vamos ver.

P. Dá para fazer tudo isso num governo impopular?

R. Claro. Cortar ministério só aumenta a popularidade... (risos)

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09 ... 75629.html

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Dom Set 06, 2015 9:06 pm
por Mathias
Lendo essa entrevista eu até me animo, porque as falas dos "especialistas" só mostram desgraça, imobilismo e ladeira abaixo sem retorno.
Se temos uma travessia difícil mas com boas expectativas do outro lado, tudo bem.
Mas que vê Sardenberg & Cia acha que estamos indo direto para um buraco negro.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Set 09, 2015 3:59 pm
por Penguin
QUARTA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2015
"No, we can't!", por Alexandre Schwartsman


Na semana passada, procurei mostrar que a recessão iniciada em meados do ano passado resulta da política econômica que vigorou com maior intensidade de 2011 a 2014.

As consequências de expansão desmesurada do gasto, descaso com a inflação, controles de preços e intervenções no domínio econômico foram aceleração inflacionária, deficit externos crescentes, desarranjo de setores importantes e aumento considerável da dívida pública, sem, é bom deixar claro, conseguir acelerar o crescimento. Além disso, há razões para crer que, entre as heranças da experiência desastrada do período, se encontra também a impossibilidade de políticas anticíclicas.

O nome, algo pomposo, representa medidas que poderiam atenuar, ou abreviar, a recessão. Em particular, uma queda de atividade, como a observada neste ano, poderia ser combatida com aumento do gasto e redução da taxa de juros, conforme defendido por alguns.

Não se trata de nada incomum. Outros países o fizeram, por exemplo, em resposta à crise de 2008, e mesmo o Brasil optou por esse caminho naquele momento.

Resta, porém, saber por que foi possível fazê-lo à época, mas não agora.

A resposta é óbvia, mas, como parece haver quem ainda não tenha entendido a natureza do problema, o melhor é explicitá-la.

Tome-se o caso do Brasil em 2008-2009. O país vinha de alguns anos de superavit primários superiores a 3% do PIB, que trouxeram a dívida pública de patamares próximos a 70% do PIB entre 2003-2005 para 55% do PIB às vésperas da crise.

A inflação, que havia superado em média por 1,4 ponto percentual a meta no período 2003-2005, ficou ao redor daquela entre 2006 e 2008. Em resposta a esse desempenho, as expectativas de inflação quando o BC começou o processo de redução de juros em 2009 estavam apenas levemente acima de 4,5%, revelando uma credibilidade até então inédita quanto ao compromisso da instituição com o regime.

Por fim, o balanço de pagamentos registrara superavit de US$ 45 bilhões entre 2003 e 2007 (média equivalente a 1,1% do PIB por ano), enquanto o BC acumulara perto de US$ 190 bilhões em reservas adicionais.

Posto de outra forma, a sabedoria não foi reagir à recessão com o afrouxamento das políticas fiscal e monetária (assim como o uso de parte das reservas), mas sim ter preparado o terreno para isso, reduzindo a dívida, controlando a inflação, acumulando superavit externos e reservas.

Agora, com inflação na casa de 9,5% (7,7% caso desconsideremos as tarifas públicas), não há espaço para reduzir a taxa de juros sem criar um problema mais sério à frente.

Já o crescimento da dívida pública atingiu mais de 9% do PIB nos últimos 12 meses, sugerindo que sua dinâmica consegue ser pior do que a observada mesmo em economias com dívidas maiores.

Isso fica transparente na evolução do prêmio de risco associado ao Brasil, que foi a 3,7% ao ano, contribuindo para aprofundar a recessão.

Nesse contexto, só alguém sem a menor noção de funcionamento da economia e da história recente do país poderia sugerir aumento do endividamento como a solução para nossos males. Se isso bastasse, não estaríamos na situação complicada em que nos encontramos. Há risco que até o governo tenha sentido o tamanho da encrenca, mas certamente não os keynesianos de quermesse.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Set 09, 2015 7:33 pm
por mmatuso
S&P acabou de rebaixar a nota do Brasil.

Obrigado Dilma, jenia, a obra está quase completa.

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Set 09, 2015 8:46 pm
por Bourne
Agradeçam ao Nelson Barbosa. Ele conseguiu antecipar algo que tenderia a ocorrer em janeiro/2016 e que tinha chance de ser evitado. A baa de prata foi mandar o orçamento com déficit primário e propor aumento de impostos. Por isso que o mundo não leva à série quem tem PhD na new school economics. Eles ficam lá fazendo miçanga em Manhattan.

O que esperamos para amanhã? Dólar batendo os cinco reais logo, logo.

E mais fechar os canais de financiamento internacional para as grandes empresas; deprimir o mercado acionário devido aos fundões pegar a mala e ir embora; o projeto de concessões em infraestrutura dano-se por que quem tem dinheiro não vai arriscar em país que não tem grau de investimento e, se for, vai querer um retorno maior; cerca de 20% da dívida pública brasileira está na mão de estrangeiros que estão indo embora, sendo jogado no mercado e implicando em maior custo de rolagem.

Enfim, acho que a situação vai durar um pouco mais que o esperado. :roll:

Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Enviado: Qua Set 09, 2015 8:49 pm
por Matheus
Obrigado putê...voltando à década de 90....só espero não voltar aos 80...