Só para dar uma ideia de como funciona este raciocínio "ortodoxo" que norteia a economia nacional:
- As perdas do setor energético em 2014, causadas pela manutenção das tarifas de energia artificialmente baixas ao longo do ano, foram de 32 bilhões de reais:
Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias ... no,179171e
Este valor já mostra uma enorme incompetência administrativa, pois foi causado pelos atrasos nas obras das novas hidrelétricas e pela mania de construir centrais de energia no fim do mundo e depois entregara à iniciativa privada a transmissão da energia gerada até os centros consumidores. As empresas de transmissão não geram 1 W sequer, mas hoje recebem cerca de 4/5 do que pagam os consumidores nas suas contas de luz.
- Outra grande fonte de prejuízos com o represamento dos preços foi a conta de combustíveis da Petrobras, que desde 2010 acumula perdas da ordem de 55 bilhões:
Fonte: http://brasileconomico.ig.com.br/negoci ... 55-bi.html
mais uma vez, estas perdas advieram dos atrasos na entrega das refinarias, pois em princípio o país é auto-suficiente em petróleo. Mas como não há capacidade de refino instalada em território nacional, a Petrobras é obrigada a vender petróleo lá fora e importar combustíveis para vender aqui dentro, por preços maiores que os do mercado interno (que estavam represados). As perdas anuais ficaram em média em 11 bilhões por ano.
Somando ambos os casos, o prejuízo causado por esta incompetência administrativa em entregar a infra-estrutura necessária para manter os custos dentro do previsto e evitar estas situações de defasagem das tarifas a serem bancadas pelos cofres do governo somente em 2014 estariam na faixa dos 43 bilhões de reais. Um valor de fato muito alto, que daria para construir pelo menos duas represas hidrelétricas (ou reatores nucleares) E MAIS duas refinarias, acabando com as fontes dos prejuízos. Somadas, estas duas contas foram a maior causa de prejuízos para os cofres do governo no ano passado (descontando é claro, como sempre, os pagamentos de juros da dívida interna).
Mas o ponto é que todo mundo condenou estas perdas por considerá-las absurdas, e por isso agora foi implementada uma política de "correção" dos preços, o que juntamente com outros fatores desencadeou um processo inflacionário que ainda não dá mostras de que poderá ser contido. Então o governo, cedendo às pressões das agências de financiamento e de avaliação de risco, iniciou um programa "ortodoxo" de combate à inflação pela via tradicional do aumento dos juros. Resultado: Somente em 2014, o aumento da dívida pública causado pela elevação dos juros chegou a 173 bilhões de reais, um valor QUATRO VEZES MAIOR que as perdas somadas dos setores elétrico e de combustíveis no mesmo ano

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Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias ... 14,1626038
Ou seja, saímos de uma política heterodoxa de controle da inflação que causava perdas de 43 bilhões por ano, e partimos para uma "ortodoxa" que levou as perdas a 173 bilhões, por outras vias. Sendo que a causa de tudo foi a incompetência em entregar as obras planejadas tanto nos setor elétrico quanto no de combustíveis. E agora, com este nível de perdas, os investimentos em ambos os setores ESTÃO SENDO CORTADOS, a melhor forma possível de garantir que os mesmos problemas continuem no futuro

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Bem, acho que isso dá uma boa mostra de como funciona a administração pública da economia no Brasil, e explica porque estamos na situação em que nos encontramos já desde algumas décadas, quando esta política econômica "ortodoxa" foi adotada como cânone.
Leandro G. Card