Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Enviado: Seg Mai 20, 2013 3:00 pm
FT um dia seu amigo no outro seu inimigo, e o mundo segue.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercad ... orde.shtml
Deficit da indústria química bate recorde
Com aumento da demanda por importados, setor registra saldo comercial negativo de US$ 30,2 bi em 12 meses
Desoneração de PIS e Cofins da petroquímica ajuda, mas segmento diz que investimentos precisam quadruplicar
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO
O crescimento da demanda por produtos importados pela indústria nacional fez o setor químico atingir nos últimos 12 meses o maior deficit comercial da sua história.
Nesse período, a diferença entre importações e exportações totalizou US$ 30,2 bilhões, cerca de US$ 4 bilhões a mais que nos 12 meses imediatamente anteriores. Somente as importações somaram US$ 44,9 bilhões.
Os importados têm aproveitado a demanda ainda em alta e abocanhado fatia da indústria local. Um terço do consumo no país é atendido hoje por produtos vindos do mercado externo.
Com isso, o deficit alcançou a barreira dos US$ 30 bilhões antes do esperado pelo setor químico e petroquímico --que produz de remédios ao plástico usado em veículos, de fertilizantes a tinta. A estimativa anterior esperava que essa marca fosse atingida apenas no fim do ano.
Para a Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), que divulga hoje o levantamento, o resultado é "assustador".
Segundo Fátima Ferreira, diretora da associação, a MP 613 (medida provisória elimina o PIS e a Cofins das matérias-primas usadas na petroquímica) ameniza os problemas do setor, mas "não representa uma mudança".
MAIS MEDIDAS
O setor negocia com o governo outras medidas: desoneração do investimentos; incentivo a produção de fertilizantes e produtos a partir de matéria-prima renovável (como o etanol); e acesso ao gás natural do pré-sal.
"O setor não está pedindo proteção, mas condição isonômica de competição", afirmou Denise Naranjo, diretora de Assuntos de Comércio Exterior da Abiquim.
O investimento anual do setor não ultrapassa a cifra de US$ 4 bilhões ao ano. O recurso para P&D (pesquisa e desenvolvimento) é de 0,7% da receita do setor.
"Para revertermos o deficit comercial, acompanhar a expansão da demanda e colocar a indústria em novo patamar tecnológico, teríamos de investir US$ 15 bilhões por ano e, pelo menos, 1,5% das receitas em P&D", afirmou Ferreira.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO
De acordo com levantamento da Abiquim, 448 produtos deixaram de ser fabricados no Brasil desde 1990. Isso resultou na paralisação de 1.710 linhas de produção.
A última foi fechada no fim do ano passado. A Dow Chemical Company deixou de fabricar o TDI (tolueno diisocianato), em Camaçari. A matéria-prima é a base da produção dos colchões de espuma.
Hoje, a indústria brasileira produz cerca de 2.000 itens da cadeia química, metade dos produtos que compõem o registro fiscal do setor.
Na pior das hipóteses significa: ADEUS INDUSTRIA. O Brasil virou um país de consumo e serviços. Sem ter a base elevada de capital humano (educação e qualificação), tecnologia e industrial para produtos de alto valor agregado e competitivos. Bem diferente de países que tem essas bases e qualquer pequeno estimulo o setor industrial decola como na Alemanha, EUA e Japão.Luiz Esteves Sim, é isso mesmo. Inclusive esse coeficiente de penetração das importações (importações/consumo aparente) de 30% no setor não é novo, ou seja, o déficit em valores cresce porque a demanda doméstica está crescendo.
Luiz Esteves Olá Renato Perissinotto, desculpe, mas terei que ser um pouco longo e gastar um pouco de economês. O problema é que a noção clássica de desindustrialização envolve perda de adensamento industrial e este processo o Brasil já sofre desde o final da década de 1980 (a tese do Fabiano Dalto trata disso). Na minha opinião, a pergunta central não é se estamos nos desindustrializando, mas se entramos em uma "middle income trap". Aqui, a pergunta central é: por qual motivo a participação dos serviços na economia está crescendo? Hipótese 1: a elasticidade renda do consumo de serviços é maior que a dos bens industriais, então é de se esperar que a participação dos serviços no PIB vá crescendo à medida que aumenta a renda per capita de um país (aqui tá beleza); Hipótese 2: a baixa produtividade no setor de serviços associada a um rápido crescimento dos salários aumenta os preços, os lucros e a participação dos serviços no PIB (aqui fodeu! este processo é chamado de "Baumol disease" e é um sintoma para a "middle income trap"). Como começamos este processo de ampliação do segmento de serviços sem ter alcançado um nível elevado derenda per capita e nossa produtividade não cresce como o desejado, parece que a hipótese 2 é mais plausível para explicar o nosso caso. Contudo, estas hipóteses precisam ser testadas e não vi ninguém trabalhando nisso.
Não tenho dados para demonstrar isso, mas na minha convivência com a indústria de manufatura durante mais de 20 anos a impressão que tenho agora é que neste setor pelo menos este quadro é irreversível no Brasil, com exceção de umas poucas empresas em nichos específicos.Bourne escreveu:Na pior das hipóteses significa: ADEUS INDUSTRIA. O Brasil virou um país de consumo e serviços. Sem ter a base elevada de capital humano (educação e qualificação), tecnologia e industrial para produtos de alto valor agregado e competitivos. Bem diferente de países que tem essas bases e qualquer pequeno estimulo o setor industrial decola como na Alemanha, EUA e Japão.
Quando comecei a lidar com consultoria e implantação de tecnologias eu atendi muitas empresas, como Metal-Leve, COFAP, Brinquedos Estrela, Tramontina, Plasútil e muitas outras, que estavam frequentemente indo participar com seus produtos em feiras internacionais ou adaptando-os para mercados estrangeiros. Trabalhei muito para aperfeiçoar produtos e processos que seriam oferecidos nos mercados mundiais. Hoje muitas destas empresas foram adquiridas por multinacionais ou nem existem mais, e faz um bom tempo que não ouço falar de nenhuma empresa nacional tentando desenvolver ou oferecer nada para fora. A maioria agora apenas produz o que já produzia a vinte anos atrás, e os novos lançamentos são simplesmente importados e embalados aqui.Bourne escreveu:O primeiro que existem industriais nacionais e que não conseguem competir com produtos externos. Principalmente, as grandes e média que poderiam se tornar grandes players no mercado nacional e mundial. De fato, algumas traçaram o processo de internacionalização e fazem produtos de baixa de média tecnologia que são competitivos no exterior.
Dinheiro de fato nem é o problema, o problema é que nem adianta usá-lo para desenvolver nada que seja para fabricar aqui. Alguns desenvolvimentos ainda são feitos, mas geralmente após ficarem prontos e começarem a fazer algum sucesso vem uma multinacional e adquire a empresa, levando o novo desenvolvimento para produzir no exterior para poder atender o mercado internacional. Eu mesmo já estive pessoalmente envolvido em alguns casos assim.O segundo que existem programas de inovação e apoio a micro, pequenas e médias empresas. Praticamente, os órgãos de fomento ajudam a trabalhar a ideia e transformar em projeto. Dinheiro não é o problema.
Esta é uma parte do problema, a falta de exposição ao mercado internacional. Mas infelizmente ele não se esgota aí. Ainda temos a defasagem cambial, os custos dos insumos e da infra-estrutura básica, os impostos, a falta de tradição em inovação, e etc... . Se isso tudo não for resolvido antes é abrir o mercado e fechar a indústria nacional inteira no mesmo dia.O terceiro é que o país é fechado é muito burocrático. Sendo fechado permite as empresas se acomodarem em cima das margens de lucro. Sejam nacionais, sejam estrangeiras. A burocracia para se fazer qualquer coisa é uma desgraça. O resultado é que no Brasil tudo é caro. O que impacta ao consumidor, a demanda, o lucro e competitividade das empresas no longo prazo.
Seremos mundialmente lembrados como exportadores dos proverbiais café, cana-de-açúcar, soja, carne, tabaco e algodão (ou seja, de volta à década de 20-30 do século passado).LeandroGCard escreveu:Não tenho dados para demonstrar isso, mas na minha convivência com a indústria de manufatura durante mais de 20 anos a impressão que tenho agora é que neste setor pelo menos este quadro é irreversível no Brasil, com exceção de umas poucas empresas em nichos específicos.Bourne escreveu:Na pior das hipóteses significa: ADEUS INDUSTRIA. O Brasil virou um país de consumo e serviços. Sem ter a base elevada de capital humano (educação e qualificação), tecnologia e industrial para produtos de alto valor agregado e competitivos. Bem diferente de países que tem essas bases e qualquer pequeno estimulo o setor industrial decola como na Alemanha, EUA e Japão.
O problema agora está além da formação de pessoal ou do investimento, o fato é que o grosso da produção de bens manufaturados no país é hoje feita por multinacionais, cujas decisões de investimento são tomadas muito longe daqui. Desta forma nem adianta falar em inovação ou cobrar investimentos em P&D, mesmo que eles sejam feitos os resultados irão para as matrizes e serão distribuídos para as unidades instaladas em países com custos menores, que depois concorrerão conosco no mercado mundial ou venderão diretamente para nós. E sem a aplicação da inovação localmente não há como escapar da "middle income trap", não interessa quanto de investimentos se faça em P&D.
Ou voltamos a uma condição em que nossos custos internos competem com os de uma China, Índia ou Malásia (que tem moedas desvalorizadas, salários baixos, condições sociais ruins, etc...) ou não há nenhuma razão objetiva para que quaisquer inovações seja em produtos seja em técnicas de produção sejam aplicadas aqui, por mais que sejam desenvolvidas localmente. A única forma de evitar que "nossos" produtos e fábricas se tornem irremediavelmente obsoletos e terminem sendo expulsos do mercado pela concorrência internacional é fechar o mercado cada vez mais, com todos os sérios problemas que já sabemos que isso causa. A outra opção, que seria montar fábricas "nossas" lá fora, não vai acontecer simplesmente porque elas não são "nossas".
É uma situação muito complicada, e impossível de reverter com medidas apenas pontuais.
Leandro G. Card
Não tenho contato direto com a Tramontina faz uns 10 anos, mas pelo que ouço de alguns conhecidos que ainda a atendem de vez em quando ela tem hoje duas linhas, uma de produtos de alto padrão (e custo ainda mais alto), que ainda são produzidos aqui mas em escala pequena, e outra de produtos que vem da China e ela praticamente só embala. Estes tem qualidade duvidosa.Túlio escreveu:Leandro véio, faz décadas que consumo produtos da Tramontina. É só impressão minha ou os preços são os mesmos mas os produtos estão decaindo em qualidade? Tenho faca Tramontina mostrando ferrugem e até dente no fio após um churrasco, panela descascando o teflon na segunda lavada (estou voltando às panelas e frigideiras inox), coisas assim. Vou acabar trocando de marca e temo que acabe usando importadas, mesmo que sejam tão ruins quanto ao menos custam menos.
Aliás, para certas coisas já estou usando de novo panela e frigideira de ferro mesmo...
Eu nem desconfiava disso. Parece que estamos caminhando para a quase exclusividade das commodities agrícolas. E era para protegermos fanaticamente o produtor rural. E ao contrário disso, deixamos expostos aos MST e créditos rurais escorchantes...Túlio escreveu:Temia isso. Valews!!!