CONCEITO LIGHT AND FAST TREINO DE VERIFICAÇÃO E VALIDAÇÃO
No período compreendido entre 22 e 24 de fevereiro de 2023, realizou-se o primeiro treino de verificação e validação do conceito Light and Fast.
NOVO CONCEITO
Trata-se de um modelo de emprego de forças ligeiras e flexíveis, defendido pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) na Diretiva Estratégica de Marinha (DEM), que privilegia o efeito de surpresa, a superioridade da informação, o conhecimento sobre a área de operações, a coordenação e simultaneidade das ações, a mobilidade, a manobra, a velocidade e a letalidade, potenciado em novas tecnologias. Este é um conceito que assenta numa lógica de operações distribuídas, privilegiando a simbiose de navio-fuzileiro para potencializar a dispersão geográfica,
levando a cabo ações cirúrgicas de Ilusão, Desorientação, Ação e Retirada (IDAR), explorando as deficiências do ciclo Observação, Orientação, Ação e Decisão (OODA) de um eventual opositor.
A experimentação em curso tem levado a uma reorganização das forças de fuzileiros em forças ligeiras e flexíveis, sustentadas no conceito do Destacamento e Grupos de Combate, revisitando a história em relação à estrutura que esteve na génese da recriação dos Fuzileiros em 1961, naturalmente, agora mais orientada para integrar sistemas tecnológicos disruptivos e diferenciadores nas operações. Este é um modelo que exige um maior investimento na área da liderança a baixos escalões, mas também, uma grande capacidade inovadora.
Assim sendo, converteu-se a Força de Fuzileiros Nº 1 (FFZ1), comandada pelo 1TEN FZ Silva Caseira, no Destacamento de Fuzileiros Nº 1 (DFZ1) com um total de 97 militares orgânicos, organizados em três Grupos de Combate (GC) - o Alfa, o Bravo e o Charlie - cada um deles com 32 militares. Cada GC é constituído por dois Elementos de Combate (EC) de 14 militares, 10 militares de manobra e quatro operadores de sistemas de armas combinadas, integrando, ainda, uma equipa de apoio de combate.
Numa lógica inerente de levar a guerrilha do mar para terra, usando como metáfora a atuação em enxame, primeiro, isoladamente, depois concentrando o ataque num objetivo, voltando de seguida a dispersar.
CENÁRIO
Foi nessa lógica que este treino decorreu, projetando os três GC numa dispersão geográfica ao longo da costa portuguesa, numa extensão de linha de costa de 225 quilómetros, entre Troia e Portimão. Cada GC atuou de forma sequencial no tempo, sendo que um deles foi empregue isoladamente e os outros dois foram projetados, um a sul e outro a norte, convergindo num ponto, voltando de seguida a dispersarem. A parte do país a sul de Setúbal, enquanto cenário do treino, simulou ser um país da costa ocidental africana, designado por ALPORTUGA, composto por duas regiões:
– TROIOPOLIS, que abrange toda a faixa da linha de costa, constituindo-se como uma região turística, com portos de mar, integrando as diversas embaixadas em TROIA, sendo a sua população, essencialmente da religião cristã;
– ALCACEROPOLIS, que abrange todo o interior e com uma população praticante da religião VUDU. De ALCACEROPOLIS surge um grupo extremista, designado por Tears of Vudu, que veio a espalhar o pânico na região de TROIOPOLIS, nomeadamente em TROIA, junto das embaixadas, com especial destaque para a embaixada portuguesa. Este grupo dispunha de uma base logística a cerca de 23 quilómetros a sul de Troia, para sustentar toda a sua ação e garantir a regeneração dos seus operacionais.
Havendo um pacto de defesa entre Portugal e ALPORTUGA, foi considerado adequado antecipar a evacuação do embaixador português. Contudo, dada a forma como os Tears of Vudu tinham TROIA controlada, e sem ser possível qualquer negociação com esse grupo, não havia forma de retirar, pacificamente, o embaixador.
TREINO
Face a um cenário tão desafiante para um conceito de emprego disruptivo e inovador, foram utilizados dois navios - os NRP Corte Real e NRP Setúbal - para a projeção de dois GC, constituindo o NRP Corte Real o navio chefe. O terceiro GC não foi projetado de navio, fazendo apenas a ação terra por questões logísticas No dia 23 de fevereiro de 2023, por volta das 07:00 horas, o GC “A” realizou um raid anfíbio (sem projeção) de modo a neutralizar o depósito logístico em Pinheiro da Cruz, atraindo o grupo Tears of Vudu, disperso pela região, para reforço deste local.
Nesse mesmo dia é projetado, a partir do NRP Setúbal, o GC “B” no Sul de TROIPOLIS (Portimão). As ações disruptivas que leva a cabo no sul, iludem e desorientam o ciclo de OODA do grupo Tears of Vudu; para além disso, fazem, durante a noite de 23 para 24 de fevereiro, um movimento tático motorizado com Lightweight Tactical All Terrain Vehicle (LTATV) ou “tratocares” até TROIA, reforçando a segurança à embaixada portuguesa (materializada pelo edifício da Desmagnetização) a partir das 04:30 horas de dia 24.
Em seguida, o GC “C” é projetado para o porto de mar de TROIA (materializado pelo PAN Troia), inicialmente com uma equipa de reconhecimento e segurança através de uma semirrígida do NRP Corte Real, seguida da projeção dos “tratocares” por carga suspensa do Lynx. Já em terra, o GC “C” realiza um movimento tático até à embaixada, retirando o embaixador português em ALPORTUGA com toda a discrição, destacando-se:
– O efeito surpresa;
– A mobilidade;
– O apoio dos Sistemas Aéreos Não Tripulados (SANT).
CONCLUSÕES
Os SANT constituem um dos elementos diferenciadores, a par do sistema de Comando, Controle e Comunicações (C3), que permitiu ter:
– Ter um panorama situacional sempre atualizado e em partilha entre todos os intervenientes; e – Dispor da visualização de todas as ações por streaming vídeo no Centro de Operações a bordo da fragata e no Centro de Experimentação Operacional da Marinha (CEOM);
– Descurar a comunicação tática, usando palavras de código para encurtar o período da comunicação.
Esta fase final do treino foi observada pelo Almirante CEMA, acompanhado pelo VALM Comandante Naval, tendo sido dado o primeiro passo para potencializar o conceito light and fast, preservando a simbiose Navio-Fuzileiros. Este é um conceito inovador, assente em sistemas tecnológicos diferenciadores no campo de batalha, contribuindo significativamente para um Marinha útil, aproximando os Fuzileiros a uma semântica que esteve na génese da recriação dos fuzileiros. Esta reorganização é uma oportunidade para uma maior aproximação às operações modernas.
https://www.marinha.pt/conteudos_extern ... RA_584.pdf