Koslova escreveu:Senhores, este tópico esta meio surreal não acham?
Sem dúvida que é. Tão surreal, como, por exemplo, aqueles tópicos, em outros fórums, que se perguntam o que aconteceria se Grouchy tivesse rumado na "direção do som dos canhões", na tarde de Waterloo. Ou o que teria acontecido se Nagumo tivesse ordenado uma terceira leva de ataque sobre Pearl Harbor.
Sem dúvida, essas questões podem se caracterizar como aquilo que um político brasileiro chamou de "masturbação mental", referindo-se à patroa de um presidente. Afinal, os resultados, nem de Waterloo ou da Guerra do Pacífico, vão ser alterados por tais debates.
Mas além disso ser divertido, em si mesmo, sempre pode favorecer novas interpretações para fatos que realmente ocorreram.
No caso específico, veja como esse "tópico surreal" contribuiu para algumas mensagens notáveis e informativas, como a de Marino, Pedro Gilberto e César. E mesmo o trecho final da sua própria mensagem, sobre o "modelo Edir Macedo" de Força Aérea.
Pedro Gilberto escreveu:Clermont,
como sempre suas partições aportam idéias e visões para uma boa discussão, minhas congratulações, já que creio que o DB não deve viver só de Super Grow e especulações.
Grato pelas palavras. Apenas tento colaborar na medida dos meus conhecimentos, ou na falta de. Quando a gente faz perguntas, muitas vezes, recebemos respostas preciosas.
Como o Cesár já postou (e muito bem por sinal) ter uma arma aérea visando desenvolver doutrinas para atuar e obter a "superioridade aérea" se tornou uma questão vital. Caberia o contra-argumento - mas esta arma aérea não poderia estar vinculada a uma força armada como o Exército? - sim, até poderia, entretanto a questão para mim é uma só: FOCO.
Na minha visão, ter uma arma aérea independente das demais forças é o modo de focar a corporação no desenvolvimento de doutrinas, táticas e meios na obtenção da superioridade aérea. Uma FAE (Força Aerea do Exército) por mais independente que fosse estaria "contaminada" pelo pensamento terrestre e, portanto, haveria um certo "confinamento" de idéias no desenvolvimento de doutrinas.
Outro ponto seria na distribuição de recursos nesta força combinada. Me vejo numa hipotética situação de um comadante de exército diante de qual arma priorizar devida a escassez de verbas: infantaria, cavalaria, artilharia, engenharia, intendencia ou aviação? Diante do que vemos hoje com a AAAe do EB , não é dificil supor que a aviação fosse preterida em alguns momentos.
Como ja citado, num ambiente assim seria improvável a criação de uma instituição como ITA/CTA, e a necessidade de formação de pessoal especializado poderia ser feito por um curso no IME, poupando os parcos recursos de pesquisa dessa força. Daí a imaginar que EMBRAER ainda seria um sonho na cabeça do oficialato.
De todas as noções, as que realmente podem me fazer mudar de idéia sobre o assunto, são essas duas:
1) primeiramente, essa necessidade de manutenção do foco em ações de superioridade aérea. É indiscutível a importância disso, e também o risco de que tal missão sofresse a competição por outras prioridades internas, na hipótese da existência de uma aviação orgânica do Exército.
2) o desenvolvimento de um "espírito aeronáutico" no Brasil, que também é fruto da dedicação exclusiva do esforço dos membros de uma corporação independente de ar.
Eu, pessoalmente, sou mais sensível a esse segunda noção, pois, apesar de tudo que foi dito, o fato é que a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, foi um dos elementos fundamentais para colocar o Japão de joelhos, e teve uma participação vital, na derrota alemã, na Segunda Guerra. Tanto quanto eu sabia, ela tinha foco (aliás, até demais, se lembrarmos as brigas entre Eisenhower e seus "barões do ar" americanos que rejeitavam a subordinação ao comando combinado e acreditavam que podiam ganhar a guerra sozinhos.
"Sozinhos", acho que esse é o elemento principal contido em várias das mensagens. Nenhuma força pode atuar sozinha. Nenhuma força pode esperar impor suas doutrinas operacionais como o elemento principal da estratégia de uma nação, desconsiderando a opinião das demais. Embora, é claro, decisões duras precisem ser tomadas pelo
comando político civil, às vezes, que podem desagradar uma força, em detrimento de outra . Por mais importante que tenha sido o bombardeio estratégico na Segunda Guerra Mundial, não foi ele que ganhou a luta. Agora mesmo, na última guerra no Líbano, li um artigo, recentemente, que insinuava que Israel foi vítima da doutrina de operações de sua força aérea (de onde saiu o chefe de estado-maior das FDI, aliás, o primeiro homem da Força Aérea israelense a ocupar esse cargo) que se baseava na confiança primordial em armas de alta-tecnologia lançadas pelo ar, para obter a vitória contra um inimigo tecnologicamente inferior. Israel foi derrotado e o oficial demitido.
Realmente, essa questão da integração das ações das forças armadas é - acho que é unânime - um dos mais fundamentais ítens a serem discutidos. Esperemos que ela se desenvolva cada vez mais no presente e no futuro.