Quem será que enfureceu o povo?
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terra.com.br
Dois militares da Otan são mortos em protestos no Afeganistão
23 de fevereiro de 2012 • 09h49 • atualizado às 13h48
Um soldado afegão matou a tiros dois soldados da Otan nesta quinta-feira, enquanto violentos protestos contra os Estados Unidos após a queima de exemplares do Alcorão varriam o país pelo terceiro dia consecutivo. Bases da França, Noruega e dos Estados Unidos também foram atacadas por manifestantes, com um saldo de quatro mortos, elevando o número de vítimas fatais nos dois últimos dias a 13 pessoas, afirmaram autoridades.
Os ataques aconteceram depois que os talibãs convocaram os afegãos a matar as tropas estrangeiras para vingar a queima de exemplares do Alcorão em uma base administrada pelos Estados Unidos. O Afeganistão é um país profundamente religioso, onde ofensas contra o Islã provocam frequentemente violentos protestos, e muitos afegãos se irritaram com a descoberta de exemplares do Alcorão queimados na base aérea de Bagram, ao norte de Cabul.
A Força Internacional de Assistência à Segurança da Otan (Isaf), comandada pelos Estados Unidos, afirmou que dois de seus membros foram mortos no leste do Afeganistão por um "indivíduo que vestia o uniforme do Exército Nacional Afegão" que apontou sua arma contra as tropas. A Isaf não identificou as nacionalidades das vítimas ou forneceu mais detalhes. Quando perguntada se o ataque estava relacionado aos protestos antiamericanos, um porta-voz da Isaf afirmou apenas: "Havia um protesto na província".
Protestos tomam o país
Tropas afegãs defendendo uma base estrangeira na província de Nangarhar, no nordeste do país, "se uniram às manifestações e abriram fogo contra tropas estrangeiras", disse a agência de notícias Afghan Islamic Press citando um manifestante. Em Mihtarlam, a capital da província de Laghman, no leste de Cabul, milhares sitiaram o imóvel da PRT (equipes de reconstrução da Otan, integradas por civis e militares), lançando pedras e escalando as paredes externas, disse a polícia.
"Pessoas vieram de toda Laghman. Elas atacaram o PRT, subiram nas paredes, incendiaram algo lá, eu penso que era um contêiner", disse o oficial de polícia Khalilul Rahman Niazi à AFP. Niazi disse que acreditava que duas pessoas foram feridas por homens armados da base enquanto tentavam subir as paredes e lançar pedras sob uma densa fumaça negra.
Cerca de 2 mil manifestantes também tentaram marchar à base francesa em Kapisa, no leste de Cabul, mas foram impedidas por forças de segurança afegãs, informou o chefe da polícia regional, o general Abdul Hameed Erken. "Dois manifestantes foram levemente feridos depois que as forças abriram fogo contra elas", disse. E na província norte de Faryab, ocorreu uma tentativa de marchar em direção a uma base militar norueguesa, disse o chefe de polícia Abdul Kahleq Aqsayee.
"Um grupo de cerca de 100 adolescentes marchou em direção à base das forças norueguesas nos arredores da cidade, arremessando pedras e incendiando veículos. Eles foram dispersados quando a polícia interveio", disse.
Fúria talibã
O presidente afegão, Hamid Karzai, convocou na quarta-feira a calma num momento em que o incidente é investigado, e ordenou que suas forças de segurança evitem a violência e protejam a vida e as propriedades das pessoas. Mas os talibãs, que lideram uma insurgência de 10 anos contra o governo de Karzai, buscaram nesta quinta-feira explorar o sentimento antiamericano.
"Para defender o livro sagrado devem atacar corajosamente as bases militares dos invasores, seus comboios militares, matá-los, capturá-los, atingi-los e ensinar a eles uma lição, para que não ousem nunca mais insultar o sagrado Alcorão", disse em um comunicado. O movimento islamita foi derrubado na invasão liderada pelos Estados Unidos em 2011. A Otan tem cerca de 130 mil soldados, a maior parte composta por americanos, apoiando o governo de Karzai.
O presidente americano, Barack Obama, se desculpou nesta quinta-feira pelo incidente, em uma carta enviada ao presidente afegão. "Desejo transmitir minhas sinceras desculpas pelos incidentes ocorridos. Transmito a você, assim como ao povo afegão, minhas sinceras desculpas", disse Obama. Oficiais americanos também se desculparam repetidamente pela queima dos exemplares do Alcorão.
O porta-voz da Otan, o brigadeiro general Carsten Jacobson, afirmou que era "provavelmente um ato de ignorância", mas "um erro com graves consequências". Oficiais americanos falando em condição de anonimato afirmaram que os militares removeram os exemplares do livro sagrado de uma prisão de Bagram porque os detidos estavam supostamente utilizando o Alcorão para passar mensagens uns aos outros.