Desigualdade de renda atinge mínima histórica no Brasil, mostra FGV
Plantão | Publicada em 03/05/2011 às 14h59m
Valor Online
RIO - A desigualdade de renda atingiu no ano passado o menor nível histórico desde que começaram a ser realizados levantamentos de renda no Brasil, na década de 1960. De acordo com a compilação de dados realizada pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), somente agora o país volta ao mesmo patamar registrado há 50 anos.
A medição é realizada pelo índice de Gini, que varia de zero a um, em que a desigualdade é maior quando se chega mais perto de um. Em 2010, o índice ficou em 0,5304. Esse dado foi considerado conservador pelo próprio autor da pesquisa, já que utiliza dados apenas de regiões metropolitanas, em um período em que as áreas rurais têm registrado avanço significativo.
Ao longo da história brasileira, o índice de Gini atingiu seu ápice no início da década de 1990, quando chegou a 0,6091, caindo continuamente principalmente após o início do Plano Real, com a estabilidade econômica. Mas a desigualdade havia crescido da década de 1960, quando o índice foi de 0,5367, até a de 1990.
"A desigualdade de renda cresceu com o aumento da desigualdade de educação e com a elevação da demanda por educação. Então, quem tinha qualificação superior teve seus salários elevados", disse o economista.
Neri acredita que o ideal seria chegar a um índice de Gini abaixo de 0,4. "O Brasil, a essa taxa de avanço, vai demorar ainda 30 anos para chegar ao nível americano, de 0,42", disse.
Para ele, a boa notícia da economia brasileira é que a desigualdade está nos mínimos históricos, mas a má notícia é que ainda é uma das mais altas do mundo.
A taxa acumulada de crescimento da renda na década passada foi de 10,03% para os 10% mais ricos, e de 67,93% para os 50% mais pobres. A taxa de crescimento dos 50% mais pobres foi de 577% mais alta do que a dos 10% mais ricos.
A renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos devido a um efeito educação, exemplificou o pesquisador da FGV. O crescimento da escolaridade na base, junto com os programas sociais, ajudou a reduzir a desigualdade de renda. Ainda assim, ele se mostra bastante otimista com a possibilidade de continuidade da melhora no país.
Entre os 20% mais pobres, os anos de estudos cresceram 55,59%, com um avanço da renda de 49,52%. Já entre os 20% mais ricos, a escolaridade cresceu 8,12%, com aumento de 8,88% da renda.
"As razões do meu otimismo são proporcionais ao tamanho dos problemas que temos hoje. A escolaridade no Brasil é ridícula, por isso acho que ainda temos muito a avançar", disse Neri.
A queda da desigualdade no país tem, entretanto, um perfil diferenciado do que acontece na China e na Índia. Entre 2011 e 2009, no Brasil, houve crescimento de 47% da renda dos analfabetos, enquanto entre as pessoas que já frequentaram a universidade, mesmo que não tenham completado o curso superior, tiveram queda de 17% da renda no período.
Pessoas negras ganharam aumentos de 43%, enquanto os brancos registraram 21% de elevação da renda no período. O ganho das mulheres foi de 38% contra 16% dos homens.
"Quando se fala das melhorias, parece que o Brasil chegou no céu. Mas é que na verdade a gente estava no inferno, nos anos 1980, e agora estamos indo para uma situação normal", disse.
(Juliana Ennes | Valor)
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