Re: URUTU III: FIAT/IVECO
Enviado: Dom Ago 14, 2011 10:18 am
PRICK, torço para estar ERRADO! Eu e o resto do mundo, que mantém 8 x 8 na linha de frente!
Exclusivo - Programa VBTP-MR: O Exército Brasileiro toma uma decisão importante
Dom, 05 de Abril de 2009 18:51
Leia matéria exclusiva com fotos do protótipo que será apresentado na LAAD 2009
Por Reginaldo Bacchi
Durante muitos anos, os veículos Urutu e Cascavel, produzidos pela ENGESA, vêm prestando excelentes serviços nas unidades de reconhecimento do Exército Brasileiro (EB). Todavia, a necessidade de sua substituição já se faz sentir há algum tempo, pois se tratam de veículos projetados nos anos de 1970, e hoje, obsoletos.
Além da antiguidade, esses dois carros sofriam, do ponto de vista de produção, o fato de que foram idealizados em momentos diferentes, para usuários distintos: o Cascavel para o EB, e o Urutu para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Isso levou a veículos com um índice de comunalidade baixo, já que os únicos componentes iguais dos dois são a suspensão traseira (bumerangue), o motor e a transmissão.
Dessa forma, seria de suma importância que os seus substitutos fossem projetados, desde o inicio, como uma família, com a maior quantidade possível de itens comuns, como é a linhagem Stryker do Exército dos Estados Unidos (US Army).
O EB, evidentemente, levou isso em consideração e, ao emitir seu Requisitos Operacionais Básicos (ROB) nº 09/99, em que definiu a sua viatura blindada de transporte de pessoal média sobre rodas (VBTP-MR 6X6), especificou também uma série de versões derivadas: comunicações, Comando e Controle, socorro mecânico, porta morteiro de 120mm, ambulância, posto de comando, direção de tiro, oficina e, em versão 8X8, as viaturas de combate de fuzileiros (VBCI) e de reconhecimento.
Deve-se notar que a Lei 8666/93 no artigo 24, inciso 26, permite ao Exército, para os casos que envolvam cumulativamente, alta complexidade tecnológica e Defesa Nacional, fazer a escolha do fornecedor sem necessidade de uma concorrência.
Atenta à excepcional importância deste programa e à complexidade do mesmo, a instituição, mesmo podendo dispensar a licitação, seguir os trâmites de uma concorrência, com os seguintes requisitos:
• Orçamento – valor, consistência, cronograma de desembolso;
• Risco na escolha do parceiro – histórico econômico e técnico do parceiro ao longo do tempo;
• Logística; e
• Desenvolvimento científico-tecnológico – capacidade de transferência de tecnologia.
Logo depois, começou o processo de seleção de uma empresa capaz de trabalhar com a Força no projeto dessa nova família e que culminou, em 9 de agosto 2007, com a seleção da FIAT Automóveis S.A.- Divisão IVECO, com a qual foi assinado um contrato em 22 de dezembro daquele ano. Posteriormente, a razão social da empresa foi modificada para IVECO Latin America Ltda.
Tudo indica que a IVECO foi uma excelente escolha, pois na Itália é a projetista e produtora de veículos blindados sobre rodas e co-participante, com a OTO-Melara, nos veículos sobre lagartas Aríete (carro de combate) e Dardo (VBTP) do Exército Italiano.
Os produtos militares da IVECO
O primeiro projeto italiano de um veículo blindado depois da Segunda Guerra Mundial foi de responsabilidade da FIAT. Era o blindado Tipo 6616, um 4X4 de oito toneladas, dotado de um canhão de 20mm. O protótipo ficou pronto em 1972, sendo sua produção (cerca de 300 carros) fornecida à Itália, Peru, Somália e outros.
Em seguida veio um VBTP, o Tipo 6614, também um 4X4 de 8,5 toneladas, com capacidade de transporte de 11 soldados. Foram produzidos 1.160 unidades vendias para a Itália, Argentina, Coréia do Sul (produção local), Peru, Somália, Tunísia e Venezuela.
Em 1985, surgiu a IVECO (Industrial Vehicles Corporation), integrando a FIAT Veicoli Industriali S.p.A., a Unic (França) e a Magirus Deutz AG (Alemanha).
No começo dos anos de 1980, em função de requisitos do Exército Italiano, a IVECO estabeleceu um programa de longo prazo que consistia dos VBTP 6634G AVL (em versões 4X4 e 6X6), 6633 AVM (4X4), 6636 AVH (6X6, com canhão de 90mm), e 6638G (8X8, com canhão de 105mm). O 6634 foi adotado na Itália tanto no modelo 4X4 (5,5 toneladas e sete ocupantes, num total de 300), como na 6X6 (7,5 toneladas e nove ocupantes, num total de 240), recebendo o nome de Puma.
O 6638G, que se tornou conhecido como Centauro, teve seu protótipo completado em janeiro de 1987, entrando em produção em 1989. Ele é equipado com um possante canhão de 105mm, da série L7/M68, sendo que foi o primeiro veículo blindado sobre rodas a receber um armamento deste tipo. Possui um peso de 25 toneladas e sua tripulação é de quatro militares. Até agora, foram fabricados 400 carros para o Exército Italiano e 84 para o Exército da Espanha. O último lote de produção do Centauro (150 exemplares) apresentou uma modificação no sentido de se alongar 22 centímentos, os quais, somados ao espaço anteriormente existente, permite o transporte de quatro soldados. Aliás, todos os carros vendidos à Espanha são deste tipo. Atualmente, o Centauro está sendo oferecido no mercado com um canhão de 120mm.
Em 1996, foi apresentado o VBTP derivado do Centauro, com peso de 24 toneladas, canhão de 25mm, podendo transportar nove soldados.
O mais recente desenvolvimento da IVECO é o LMV (M 65E19 WM 4X4). Trata-se de um VBTP leve, com sete toneladas de peso e tripulação de quatro militares, destinado a emprego em funções de comando, reconhecimento e ligação, sendo que o Exército Italiano já fez um pedido de 1.210 carros à IVECO, sob o nome de Lince. Em termos de exportação, foram contratados 440 para a Bélgica, 60 para a Noruega e 40 para a Espanha. E, em T&D nº 103, a revista falou da participação do LMV italiano em uma concorrência para o Exército Britânico, a FCLV ( Future Command and Liaison Vehicle), que também acabou sendo vencida pelo Lince. Batizado de Panther em terras de Sua Majestade, terá 401 unidades construídas pela BAE Systems.
No momento, o LMV é um dos postulantes ao programa GFF (Geschützt Führungs-und-Funktionsfahrzeuge), da Alemanha, na classe 2 (veículos com capacidade de carga de 1 a 2 toneladas, capazes de serem helitransportados por CH-53 G), junto com a Rheinmetall Landsysteme, com o nome de Caracal.
Programa VBTP-MR
Mas, voltando ao Brasil, uma das primeiras ações ao se concretizar a parceria entre o EB e a IVECO, foi a de se definir as responsabilidades. Ao EB coube o gerenciamento total do programa, a formulação conceitual do veículo e da família de blindados médios de rodas (com o estabelecimento de suas condicionantes e requisitos, além do projeto básico do VBTP-MR), planejamento e controle e a realização dos testes do protótipo, incluindo as avaliações técnica e operacional.
Outra área importante a cargo do EB é a do desenvolvimento das blindagens estrutural e adicionais (add-on e spall liner) a ser empregada, que em função de posteriores estudos levaram à escolha, para a execução do projeto, do mesmo instituto que atua em parceria com a IVECO.
A IVECO estará encarregada do projeto específico (desde os desenhos iniciais até o detalhamento final), fabricação do protótipo (da construção da maquete em tamanho natural aos testes de Engenharia), acompanhamento dos testes e eventuais correções de problemas que venham a aparecer, fabricação do lote piloto de 16 carros e, neste mesmo período, preparação da documentação técnica, seleção das peças sobressalentes, projeto e fabricação de equipamentos de testes e manutenção.
Ao mesmo tempo, estabeleceu-se o cronograma:
- Projeto do veículo: de janeiro de 2008 a agosto de 2009;
- Fabricação do protótipo: de fevereiro a dezembro de 2009, com o protótipo pronto para testes no começo de janeiro de 2010;
- Avaliação: de março a fins de dezembro de 2010;
- Fabricação do lote piloto: de janeiro a fins de dezembro de 2011;
- Documentação técnica: entre janeiro de 2008 e fins de dezembro de 2011; e
- O programa de desenvolvimento deverá estar concluído no final de dezembro de 2011.
Em vista disso, a IVECO nomeou o engenheiro Giovani D’Ambrosio para ser o responsável, no Brasil, pelo projeto. Ele se reporta na Itália ao engenheiro Renato Properzi. Esta nomeação ressalta a importância conferiada pela IVECO ao empreendimento, pois Propezi foi o encarregado do desenvovimento do Centauro 8X8 e de outro produtos militares da empresa. Também montou um escritório de projeto, específico, junto à COMAU do Brasil, pertencente à FIAT, na fábrica de Betim (MG), onde os trabalhos são executados em conjunto com engenheiros do Exército (quatro oficiais, em revezamento de dois a cada ano, para treinar o maior número possível de técnicos da Força no desenvolvimento de veículos blindados). Em Sete Lagoas (MG), está sendo construído um galpão exclusivo para a produção dos carros e, ao mesmo tempo, deverá alojar todo o pessoal envolvido no processo.
O veículo
O VBTP-MR básico será destinado ao transporte de um grupo de combate do Exército Brasileiro (um sargento e oito praças) e uma tripulação de motorista e atirador. Seu peso em ordem de combate é de 16,7 toneladas, o que (combinado com suas dimensões), permite seu transporte por avião do porte do C-130 Hércules. A propulsão será feita pelo motor IVECO modelo Cursor 9, com potência máxima de 383 CV a 2.100rpm, e conjugado máximo de 1.500 Nm a 1.400 rpm. Este motor será produzido no Brasil pela FIAT Power Train como substituto dos atuais motores Cursor 8 e 10. Com regulagem eletrônica, o Cursor 9 poderá chegar a até 440 CV e, com tal potência, será empregado nos VBTP-MR 8X8.
A velocidade máxima em estrada vai chegar a 100 km/h, e a mínima será de 3,5 km/h. A autonomia em estrada e velocidade 70 km/h será de 600 quilômetros. A caixa de cambio será a ZF série 600, tipo 6 modelo HP602S, com seis marchas a frente e uma à ré. Está sendo montada pela ZF em Sorocaba (SP).
Para se obter uma boa distribuição de peso sobre as várias rodas, as do meio foram deslocadas para a frente (em relação ao que era no Urutu), o que também aumenta a largura dos obstáculos que podem ser superados. Isso torna necessário que estas rodas sejam esterçadas em conjunto com as da frente. A suspensão nas seis rodas é do tipo McPherson, hidropneumática. O carro poderá superar aclives de 60% e se deslocar com uma inclinação lateral de 30%.
Uma característica importante no projeto foi a capacidade anfíbia, com uma velocidade de deslocamento na água da ordem de 9 km/h. Nos exemplares dotados com canhão de 30mm, e que pesarão 1,5 toneladas a mais, a flutuação será conseguida com a adição de flutuadores modulares laterais, de alumínio, preenchidos com espuma de um polímero capaz de tapar furos que venha a receber, automaticamente.
A proteção balistica e contra minas será conforme a norma STANAG 4569. A parte inferior do carro terá geometria apropriada para desviar a onda de choque da explosão de uma mina para fora, e os assentos dos tripulantes serão suspensos, sendo que os mesmos não apoiarão os pés no veículo durante o deslocamento. Além da blindagem estrutural, o veículo receberá uma forração interna (spall liner) contra fragmentos provenientes de impactos de projeteis e estilhaços de granadas de artilharia e será preparado para receber blindagem adicional externa, de painéis com material cerâmico, contra ameaças de energia cinética.
Outro fator que está sendo trabalho é o da diminuição das assinaturas visual, térmica e de radar. A detecção visual é diminuida pela adoção de camuflagem. A térmica é reduzida pela passagem do fluxo do ar de refrigeração do motor, transversalmente à tubulação de escapamento do motor. Já contra a detecção por radar, o projeto foi analisado de forma que pudesse eliminar, o máximo possível, os centros espalhadores dos eco-radares, com a adoção de pintura com materiais absorventes de radiação.
Armamento e Versões
O exército está trabalhando com várias opções de armamento. A mais simples será uma torre com atirador externo, que poderá receber metralhadora 7,62mm ou 12.7mm, ou lança-granadas automático de 40mm. Nesse caso, o comandante terá uma escotilha para observação.
Uma hipótese que pode ser chamada de intermediária terá a mesma possibilidade de armamento, mas será um sistema de armas remotamente controlado, do interior da viatura. Aqui, o comandante terá meios de observação próprios, para assessar a situação tática externa.
Por fim, para levar o VBTP-MR à condição de VBCI, haverá a torre de controle remoto da ELBIT, equipada com o canhão de 30mm ATK, modelo Mk.44 e metralhadora de 7,62mm, podendo ainda disparar misseis anti carro guiados. Esta torre, com giro de 360 graus e elevação/depressão de -15 a + 60 graus, foi escolhida pelo EB numa seleção feita entre quatro empresas fabricantes desse tipo de equipamento e está sendo prevista a sua fabricação no Brasil. O sistema de tiro conta com telêmetro laser, visão e controle de tiro diurno e noturno por visão termal, duplo de comando de tiro (atirador e comandante do carro, com precedência para este), sistema automático do acompanhamento de alvo, sistema hunter killer e lançadores de fumígenos. Um detalhe significativo da torre é que tem as armas e as miras estabilizadas nos dois eixos, o que permite o disparo em movimento, com altíssima probabilidade de acerto no primeiro tiro. A adoção dos tipos de equipamentos para torre será decidada caso a caso, quando da entrada do veículo em serviço.
No momento, estão previstas versões como a VBTP padrão; VBCI (com torre de 30mm); VBE/PC (posto de comando); VBE/Mort (porta-morteiro de 81mm ou 120mm); VBE/CDT (direção de tiro); VBE/Comunicações/Comando e Controle; VBE/Oficina; VBE/Socorro e VBTE/Ambulância. É importante notar que, os modelos de socorro, provavelmente o VBCI, e o de reconhecimento, deverão ser verões 8X8.
Há a previsão que a VBE/PC deva utilizar o BMS (Battle Management System), possibilitando o gerenciamento do espaço de batalha. O primeiro nível pelo qual deve fluir a informação, de forma bidirecional, daquilo que é conhecido como “consciência situacional” , refere-se ao comandante tático.
O BMS, para tanto, tem capacidades para a integração de sistemas de detecção de ameaças, integração com a estação de controle remoto de armas, sistema de planejamento de missões, orientação, navegação, localização de forças, camada tática, alertas automáticos e localização do inimigo.
Conclusão
A reportagem de Tecnologia & Defesa ficou muito bem impressionada com o trabalho que está sendo realizado. Trata-se de algo completamente novo, sem se prender a nenhum projeto já existente. Pode-se, ainda, constatar que, ao contrário do que vem sendo veiculado em alguns sítios na Internet – principalmente em seus espaços de debates - , não é, absolutamente, nenhuma dita “velharia” a ser descarregada no Brasil pela IVECO. Depois dos vários contatos feitos com o Exército sobre o programa, pode-se atestar, e com toda a convicção, que o VBTP-MR vai ser um veículo de última geração, incorporando as tecnologias mais recentes.
Agradecimentos:
A direção da revista Tecnologia & Defesa expressa seus agradecimentos às seguintes pessoas, as quais em muito auxiliaram na realização deste trabalho:
General-de-Divisão Adhemar da Costa M. Filho – Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército
General-de-Brigada Waldemir Cristino Rômulo – Gerente do Programa Família de Blindados Médios s/ Rodas
Coronel José Carlos dos Santos
Coronel (R1) Umbelino Antônio Loriato
Coronel (R1) Jorge Henrique Azevedo Dias
Coronel (R1) José Mauro Matias Lopes
O reconhecimento também é extensivo à IVECO Latin America e à sua equipe de assessoria de imprensa, MM Editorial.
A previsão ninguém esta colocando em duvida.knigh7 escreveu:Pessoal,
Quanto ao morteiro de 120mm para a Guarani, é previsto a sua instalacão. O colega Bacchi, numa matéria para a T&D, colocou que consta no ROB do EB sobre a viatura (ROB 09/99), dentre outros requisitos:
Guerra escreveu:A previsão ninguém esta colocando em duvida.knigh7 escreveu:Pessoal,
Quanto ao morteiro de 120mm para a Guarani, é previsto a sua instalacão. O colega Bacchi, numa matéria para a T&D, colocou que consta no ROB do EB sobre a viatura (ROB 09/99), dentre outros requisitos:
Eu nunca vi. Já vi falar de improvisarem com o Morteiro 81.Túlio escreveu:Se não me engano o Urutu original tinha uma versão com mrt também, o EB deve ter montes deles...
Sim a Engesa tinha uma opção do Urutu como veículo Porta morteiro, que foi exportada para o Equador, porem nunca foi utilizada pelo EB.Túlio escreveu:Guerra escreveu: A previsão ninguém esta colocando em duvida.
Se não me engano o Urutu original tinha uma versão com mrt também, o EB deve ter montes deles...
Quantos homens tem o Grupo de Combate da Infantaria Paraquedista?Clermont escreveu:Mas, eu não deixo de pensar se não se pode falar em retrocesso, pois o "Urutu" comporta mais fuzileiros (acho que uns onze) enquanto o "Guarani" apenas nove.
E se o Exército resolvesse adotar um GC padrão de dez homens? Já não seria possível, pelo menos, nas frações da futura Infantaria Mecanizada brasileira. Aliás, com apenas nove assentos para fuzileiros, parece impossível acomodar um pelotão de fuzileiros da Infantaria Paraquedista (37 hm) dentro de quatro viaturas "Guarani". Portanto, o pelotão de fuzileiros mecanizados terá de ser semelhante ao pelotão da Infantaria Leve (32 hm).