Clermont escreveu:A MAIS LONGA GUERRA DA AMÉRICA.
Por Eric Margolis – 14 de julho de 2010.
O general Stanley McChrystal e sua “máfia” das Forças Especiais de quem se esperava que esmagasse a resistência afegã à ocupação ocidental, foi demitido após as rudes observações, que ele e sua equipe fizeram sobre a Casa Branca, terem sido publicadas na revista americana Rolling Stone. O presidente Barack Obama devia ter demitido McChrystal quando o boquirroto general foi à público com pedidos para mais 40 mil soldados serem enviados ao Afeganistão.
McChrystal foi o segundo comandante americano demitido no Afeganistão, um sinal agourento de que a guerra vai indo muito mal. Provavelmente, ele agora entrará para as fileiras republicanas como um mártir e se tornará um crítico da Fox TV de Barack Obama.
Um general mais cerebral e político, David Petraeus, rapidamente substituiu McChrystal.
No Iraque, o general Petraeus conseguiu, temporariamente, suprimir a resistência devido a uma mistura de hábil suborno, boa sorte e a ordem do Irã para a milícia xiita do Iraque, o Exército do Mahdi, pôr fim à resistência, por enquanto. Washington espera que Petraeus vá fazer o mesmo no Afeganistão, embora os dois países sejam muito diferentes.
Semana passada, o normalmente cauteloso Petraeus, em Cabul, prometeu “vencer” a Guerra do Afeganistão, que já custou aos Estados Unidos, quase 300 bilhões de dólares, até hoje, e 1 mil mortos americanos (os números para os mortos afegãos são, cuidadosamente, guardados). O problemas: ninguém pode definir o que, realmente, significa vencer.
O Afeganistão já se tornou o mais duradouro conflito da América.
A escalada da guerra, agora, custa aos contribuintes americanos, $ 17 bilhões mensais. O “reforço” afegão do presidente Obama, de mais 30 mil soldados, acrescentará outros $ 30 bilhões. Cada vez que os EUA reforçam seu contingente, a resistência afegã fica mais forte. Os soviéticos tropeçaram no mesmo problema nos anos 1980.
As guerras afegã e iraquiana – custo total de $ 1 trilhão até hoje – estão sendo travadas com dinheiro emprestado, quando os EUA estão se afogando numa dívida de $ 13,1 trilhão. A história demonstra que mais impérios foram abatidos por travarem guerras ruinosamente dispendiosas, com dinheiro emprestado do que por invasões estrangeiras. Olhe, por exemplo, para o rápido colapso do Império britânico, após 1945.
Hoje, a América está viciada em dívida e em guerra.
O Congresso dos Estados Unidos, apenas, pode declarar e bancar uma guerra, mas se esquivou de sua responsabilidade e, vergonhosamente, permitiu aos presidentes Bush e Obama, usurparem o poder para fazer a guerra.
Pesquisas mostram uma maioria de americanos, agora, opondo-se à infeliz aventura imperial, no Afeganistão. Porém, a maioria dos políticos, salvo os corajosos poucos, temem oporem-se a guerra e serem acusados de “traírem os soldados dos Estados Unidos”. Os americanos estão tão entranhados de propaganda militarista e jingoísmo que, o questionamento do gigantesco orçamento de defesa e das guerras estrangeiras pode ser um suicídio político.
Mesmo assim, a dissensão está aparecendo às claras.
Semanas passada, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Michael Steel, deixou o gato sair do saco, admitindo que a Guerra do Afeganistão não pode ser vencida. Steele, também, foi ao absurdo de proclamar que Obama iniciou a guerra no Afeganistão, ignorando o papel de George W. Bush em mergulhar os EUA neste lodaçal.
Eu relembro do erro de Bush, vividamente, porque, logo depois do 11 de Setembro, escrevi um artigo no jornal Los Angeles Times, no qual preveni que a ação militar contra a al-Qaida devia ser rápida e limitada, e que as forças americanas deveriam sair do Afeganistão, tão rápido quanto possível, antes de serem sugadas para um conflito horrivelmente confuso e, provavelmente, interminável.
De forma não surpreendente, fui inundado por correspondências de ódio, das legiões de samurais de sofá e patriotas de poltrona, que desejavam lutar até o último soldado profissional americano no Afeganistão
De volta à Steele. Republicanos, que parecem adorar a guerra e a tortura, irromperam em raiva, todos, sem exceção, acusando Steele de alta-traição. Muitos dos críticos republicanos mais falcões de Steele, tinham, da mesma forma que George Bush e Dick Cheney, se esquivado do autêntico serviço militar durante a Guerra do Vietnam.
Republicanos (eu costumava ser um), bombardearam a sensível política de McChrystal de tentar reduzir as baixas civis afegãs, causadas pelas bombas e granadas americanas. Há crescente fúria anti-ocidental no Afeganistão e Paquistão pelas baixas civis, e isto se tornou uma ferramenta primordial de recrutamento para o Taliban e seus aliados.
Por clamarem por mais ataques agressivos que põem em risco os civis afegãos e reforçam o Taliban, e por advogarem a tortura de detidos, os republicanos, de novo, tristemente demonstram que se tornaram o partido dos obtusos e ignorantes da América.
O presidente Obama proclamou que está expandindo a Guerra do Afeganistão para enfrentar a al-Qaida. Porém, o Pentágono estima que não há mais do que um punhado de al-Qaidas raias-miúdas no Afeganistão.
Então, por quê os Estados Unidos estão no Afeganistão?
Obama deve aos americanos, a verdade.
Após nove anos de guerra, o imenso poder militar dos Estados Unidos, seus aliados coagidos da OTAN, exércitos de mercenários e centenas de milhões de dólares em suborno, tem sido incapazes de derrotar a resistência contra a ocupação ocidental ou criar um governo popular legítimo em Cabul.
A produção de drogas, que foi interrompida quando o Taliban estava no poder, alcançou novos recordes. Os Estados Unidos, agora, governam o líder mundial de exportação de heroína. Os principais aliados americanos no Afeganistão, também são chefões do comércio da heroína.
Enquanto os Estados Unidos comemoram sua independência de um opressor estrangeiro, no 4 de Julho, seus soldados profissionais estão utilizando toda espécie de armas no Afeganistão. De bombardeiros pesados a tanques; viaturas blindadas, caças, helicópteros, canhoneiros AC-130, frotas de drones assassinos, artilharia pesada, bombas-cluster e um arsenal de equipamento de alta-tecnologia.
A despeito de todo este poder, bandos de nativos e agricultores pasthun, dotados, apenas, de armas levefs, determinação e coragem sem limites, tem confrontado a máquina de guerra do Ocidente, até um impasse e, agora, a colocaram numa defensiva estratégica.
Esta brutal luta de Davi contra Golias, não traz honra alguma às potências ocidentais que a travam. Elas são, amplamente, vistas no exterior como travando outra impiedosa guerra colonial pela dominação geopolítica de recursos contra um povo, pequeno e atrasado.
De forma curiosa, os americanos e seus aliados acusam o Taliban de “terrorismo” e “covardia”. No meu modo de ver, como antigo soldado e correspondente de guerra, utilizar bombardeiros pesados para atacar levas tribais ou empregar aeronaves canhoneiras e drones contra instalações tribais é que é covardia. Para os afegãos, guerreiros honrados lutam, homem a homem, no campo de batalha.
Isto me lembra de um ditado do escritor vitoriano, Hillaire Belloc, fazendo a justificação moral de abater nativos durante as guerras coloniais do Império Britânico, pois “nós temos a metralhadora Maxim, e eles não.”
A maioria dos afegãos anseia por paz, após trinta anos de guerra. Ms os esforços do governo Karzai, do Taliban e do Paquistão para forjar uma paz estão sendo frustrados por Washington, alguns dos membros da OTAN, os comunistas do Afeganistão e, agora, pela Aliança do Norte tajique, dominada pelos indianos.
A Índia está travando uma luta não-declarada para arrancar o Afeganistão da influência paquistanesa, para isto, utilizando a Aliança do Norte, um pequeno exército de agentes de inteligência e $ 1 bilhão em subornos até esta data. Enquanto isto, a rebelião fermenta na Cachemira indiana.
Isto é uma enorme e cada vez maior bagunça. O pensamento simplista, em Washington, mal é capaz de apreender a complexidade da trama principal ou das tramas secundárias neste caos letal.
O herético senhor Steele, estava falando a verdade, quando disse que esta guerra feia, sem sentido não pode ser vencida. Mas o impulso imperial de Washington continuará. Carreiras políticas demais, nos Estados Unidos, Canadá e Europa, estão dependendo desta guerra.
E, da mesma forma, o destino da obsoleta aliança da OTAN, que pode, muito bem, encontrar seu Waterloo nas montanhas do Afeganistão.
Não é de admirar que o Afeganistão seja conhecido como o túmulo dos impérios.
"Pequenos grandes detalhes"...
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