Ouça Razia: "Quero ser piloto oficial da F-1 em 2011"
Fonte:
http://tazio.uol.com.br/gp2/textos/15862/
Após um ano na GP2, baiano de 20 anos é anunciado como test driver da Virgin
Publicado em 11/01/2010 - 07h31 Natali Chiconi
Da Redação
Tamanho do texto: A A A
Luiz Tadeu Razia Filho, ou somente Luiz Razia, dará neste ano de 2010 um importante passo em sua carreira automobilística. De fala mansa e sotaque pouco carregado, o baiano de 20 anos, campeão da F-3 sul-americana aos 17, foi aos poucos galgando degraus até conseguir seu principal objetivo: o de chegar à F-1.
Confirmado no final do último ano como test driver da novata Virgin, que terá como pilotos oficiais o também brasileiro Lucas di Grassi e o alemão Timo Glock, Razia não se intimida diante da pouca experiência na GP2_ 2009 foi seu primeiro ano como piloto na categoria de acesso à F-1 _e diz que sua meta é a de conquistar uma vaga de piloto titular em algum time já em 2011.
Ciente das dificuldades que envolvem a categoria, como a necessidade de fortes patrocínios e bons contatos, Razia pretende aproveitar ao máximo as oportunidades que tiver nessa temporada para obter bons resultados na GP2_categoria em que terminou na 19ª colocação em 2009, com uma vitória_ para chamar a atenção de dirigentes de equipes na F-1.
"O que eu queria era em 2011 já chegar, mas isso vai depender de muita coisa. A vantagem de estar na Virgin é que você tem todas as informações da F-1, coisa que na GP2 é muito precária. Ajuda muito para mim, pelo simulador também. A gente tem 110 dias para testar no simulador, os quatro pilotos, então vai ser muito teste também e isso ajuda muito, o fato de conhecer a pista antes de chegar."
Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Luiz Razia:
Você declarou que foi uma surpresa até mesmo para você ser contratado pela Virgin. Como aconteceram as negociações?
Na verdade a surpresa foi porque eles [Virgin] tinham alguns pilotos com quem estavam tratando. Como a gente não tinha o resultado esperado na GP2 em 2009, o fato de eles aceitarem a conversa com a gente foi uma surpresa.
Outra coisa que marcou é quando a gente fechou o contrato eles falaram: 'Vamos cuidar disso entre a gente e, quando tiver a apresentação dos pilotos, mostrar todos'. A gente assinou uma semana antes do momento da apresentação. Conversamos também com Lotus, Campos, Williams e Mercedes.
Visitei lá [fábrica da Virgin] antes de fechar o contrato, acompanhei o desenvolvimento do carro. Eles estão bem adiantados.
Como estão as negociações para correr na GP2 neste ano também?
Com certeza faremos o campeonato de GP2 nesse ano. Testei na Addax, mas já estão fechados. Sobrou da terceira em diante pra gente negociar. Está tendo muita movimentação de engenheiros das equipes grandes para as pequenas, então estamos sondando antes de fechar.
O que você acha que faltou nesse ano para ter melhores resultados na GP2?
Na verdade não é fácil, para todo mundo que começou em equipe pequena. A GP2 é uma categoria muito disputada, onde estão os melhores pilotos para chegar à F-1. Eu não conhecia algumas pistas, nem os pneus. Pilotos com mais apoio, como Hulkenberg, Petrov e Di Grassi tinham mais vantagem sobre isso.
Eu nunca tive apoio, sempre fiz com as minhas próprias pernas, então sempre foi muito difícil. No último ano, a gente não correu em duas corridas, porque a equipe teve problemas judiciais, para você ter uma ideia.
Você acha que sem os testes na F-1, pela Williams, e todo o apoio que o Hulkenberg tem de patrocinadores, ele teria sido campeão da GP2?
Hoje em dia os pilotos são muito mais cobrados do que antigamente. Você tendo talento, somente, chegava longe. Hoje em dia você precisa ter talento, falar várias línguas, ser inteligente, saber do carro, ter preparação física boa, bons relacionamentos, ter muitos patrocinadores... Tudo isso ajudou o Nico, mas certamente a preparação que ele teve foi muito diferente dos outros pilotos.
Todo mundo pensa que esses pilotos que chegam assim são fenômenos, mas ninguém pensa que por trás disso tem muito teste de F-1, muita preparação, muitas pessoas envolvidas nisso. No começo do ano, a gente não sabia nem como conseguir um simulador, enquanto muita gente gastava horas nisso, tipo o Nico. Ninguém vê a preparação que existe por trás disso tudo.
Existe alguma cláusula no seu contrato com a Virgin que estipula quem você e o [Alvaro] Parente devem substituir? Por exemplo, se você é o substituto direto do Di Grassi ou do Glock?
Não. Meu contrato é de reserve driver, mas não diz se vou substituir o Timo ou o Di Grassi. Vamos estar eu e o Parente e, dependendo de como estivermos na GP2, vamos ver quem substitui. Quem estiver na frente do campeonato vai ter a opção: 'Você quer entrar ou não?', porque a sua carreira vai estar em jogo também. Isso vai ser uma coisa decisiva.
Se eu estiver na frente do campeonato, entre os três, não vou ter interesse em substituir, talvez fosse o Parente. Isso já aconteceu anteriormente. O cara não consegue resultado na F-1, perde o campeonato da GP2 e depois não sabe para onde vai. Eles [Virgin] comentaram que querem fazer degrau por degrau. Se você sentir que sua carreira está em jogo, não vai querer substituir. Depende de você.
Você não acha que o Parente possa ter algum favorecimento na equipe por ter conquistado uma melhor colocação [ele foi oitavo] no campeonato?
A gente está igual, começamos esse ano com igualdade. Ele fez um ano a mais que eu na GP2 e, nos dois anos em que ele competiu, teve o mesmo resultado. Esse ano de 2010 vai ser igual para os dois.
Você tem amigos na F-1? Tipo o próprio Di Grassi ou o Bruno Senna, que também vai começar agora?
A gente se fala [ele e Di Grassi]. Não temos intimidade de grandes amigos, mas ele é super gente boa. Com os outros não tenho muita relação porque é complicado. São pilotos que um dia vão competir com você, então se você for muito amigo da pessoa, dificulta um pouco. Acho que ter uma relação amigável é bom, dá para sair junto, jantar, essas coisas, mas ser totalmente ligado é difícil.
Como campeão da F-3 sul-americana e piloto de GP2, quais as principais diferenças que você pode apontar entre os carros das duas categorias?
Primeiro é a potência. A F-3 atinge 280cv aqui no Brasil e a GP2 tem 650, o que já é uma diferença muito grande. A F-3 trabalha com aerodinâmica de asa somente, e a GP2 também trabalha com efeito solo. Depois,tem o freio de carbono, câmbio no volante, etc. A GP2 é muito mais parecida com a F-1 do que com a F-3. A GP2 hoje está tomando, em Mônaco, dois segundos da F-1, o que é muito pouco.
Na GP2 tem o nível também. Lá os pilotos não estão brincando e a preparação deles é totalmente diferente do que eu pensava. Quando a gente chegou lá, do lugar que a gente veio até hoje, descobrimos na metade do campeonato tudo o que os outros estavam fazendo e eu só me preparando fisicamente.
Você já sabe se vai poder testar algum dia em Jerez de La Frontera ou em Barcelona, nos testes de fevereiro?
Eles confirmam algum tempo de teste que eu vou ter no carro, mas é difícil dizer quando eles vai ser isso, porque estão construindo tudo muito rápido e eles não sabem quando vão testar.
Muda alguma coisa na sua preparação física ou você vai manter o mesmo ritmo do ano passado, quando estava só na GP2?
Muda pouca coisa, porque na GP2 eu já estava com preparação de F-1, treinando com o preparador do [Jarno] Trulli. Acho que agora vai se profissionalizar mais, porque a Virgin vai ter recursos novos, que eu não conhecia.
Você já tem algum patrocínio confirmado?
Ainda não, mas tenho certeza de que a gente vai conseguir por causa dessa vaga na F-1 e talvez pelo fato de eu ser o primeiro nordestino lá, o que me ajudou muito. Até porque, se em 2011 eu quero entrar como piloto, tenho que levar patrocínio. Minha intenção é essa, queria muito. Nesse ano de 2010 eu quero ter muito resultado na GP2 para conseguir isso.
O Kobayashi era um piloto regular na GP2 e virou sensação na F-1, quando substituiu o Glock na Toyota e conseguiu bons resultados. Acha que com você pode acontecer o mesmo?
Com o Kobayashi foi uma situação em que ele aproveitou o momento que teve e teve todo apoio. Na GP2 ele era como eu, largava junto comigo, e na F-1 dava pau no [Romain] Grosjean. Uma chance que você tem para mostrar quem você é muda sua carreira. Foi o meu caso. Eu tinha uma corrida pra mostrar meu potencial [em Monza] e consegui ganhar. Ali eu estava muito determinado.
Ouça os principais trechos da entrevista com Luiz Razia