Caro Rui. Creio que você e Ferrol ainda não me entenderam.
Não estou dizendo que sou contra ter forças com capacidade de realizar ações humanitárias. Pelo contrário, acho isso muito importante. O que quero deixar claro é que as missões humanitárias não podem balizar as compras das Forças Armadas porque, embora as Forças sejam de extrema utilidade nessas missões, essa não é a sua missão primordial.
Partindo desse princípio, não questiono o fato da possível importância de um LHD/LPD na MB. Agora, optar pela sua compra só porque ele vai ter grande utilidade em missões humanitárias, em detrimento assim da capacidade do poder naval, sou radicalmente contra!
É isso que quero deixar claro. Se o Brasil puder ter LHDs/LPDs, ótimo, que se tenha. Agora, que se opte por sua compra porque ela vai ser importante para a Marinha. Não vamos optar por uma coisa que pode ser maravilhoso para uma ajuda humanitária mas que será, quem sabe, ruim para a MB. Isso não é só em relação aos LPDs/LHDs, estou falando de qualquer equipamento, para qualquer Força Armada.
Vocês parecem que estão fazendo algum tipo de confusão sobre as missões de cada um (sei que não, pois vocês entendem sobre isso muito mais do que eu). Mas é o que parece.
Digamos que optemos por dois desses navios. Qual será o caça de defesa de frota? Só há uma opção: Sea Harrier.
Essa aeronave não me parece que terá uma sobrevida muito grande. Restará no futuro o F-35. E quem garante que: 1- teremos dinheiro para os F-35; 2- a venda dessas aeronaves nos será permitida?
Com um NAe temos: F-18, A-4, Mig-29K, Su-33, Rafale e até mesmo o F-35.
Logo de cara vemos que temos muito mais opções em um NAe. Não vem ao caso aqui comparar cada aeronave, apenas demonstrar que há muito mais coisas nessa questão do que a simples escolha de navios.
Gostaria de lembrar a vocês que aqui é o Brasil. Uma realidade diferente. Necessidades diferentes. Possibilidades e capacidades diferentes. Não fazemos parte da OTAN/NATO e para nós não é como para Portugal e Espanha que podem escolher as armas que quiserem que, tendo o dinheiro, elas são vendidas.
Os novos meios militares tornam as fronteiras extremamente violáveis, pede um país ser trespassado por mísseis balisticos e de cruzeiro, pode ser bombardeado por aviões que voem em tectos de serviço fora do alcance das defesas anti-aéreas, etc.
Perfeito, e ainda assim você pensa em ajuda humanitária primeiro?
Ou seja, um país, como o Brasil ou qualquer outro, se quiser ter um papel relevante no contexto internacional terá que ter umas FA's que sustentem essa politica externa que seja coerente e concisa, que se perceba o que se quer e para onde se vai.
Não está falando nenhuma novidade, Rui.
E para que essa politica externa tenha credibilidade, terá esse país que contar nas suas FA's de meios de projecção navais e aéreos que lhe permitam materializar essa necessidade.
Sem dúvida.
Ora esses meios de que falamos, nomeadamente LPD's e LHD's, para além de PA's convencionais servem para missões polivalentes.
Ótimo. LPDs/LHDs não fazem a missão de um NAe e vice-versa.
Claro que o Brasil, tal como os EUA, a França, a Inglaterra, a Alemanha ou a Itála não são a Cruz Vermelha, mas ajudam muitos países em crise humanitária (e não só por causa de catástrofes naturais) com esses meios que noutras circuntâncias servem para projectar poder a milhas de distância e assim defender longe os interesse do Estado e da sua politica no contexto internacional.
Ajudamos e continuaremos a ajudar
dentro das nossas possibilidades.
Uma Marinha, tal como um Exército e uma Força Aérea têm como missão primária a missão militar, mas são mesmo internamente chamadas a socorrer populações em dificuldades, resgate e salvamento, etc.
Não é desvirtuar a sua capacidade.
Não disse que era. Agora, se equipar para missões humanitárias
em detrimento de sua capacidade militar, isso é inaceitável. Se eu tenho uma capacidade militar adequada, é natural e correto que eu procure formas de otimizar essas forças para missões de caráter extraordinário. Agora, se não tenho, devo tratar de me equipar adequadamente.
Um heli que transporte feridos num acidente em região isolada também serve para transportar um pelotão de comatentes para um teatro de operações militares real.
Valeu, Vinícius?
É mesmo? Jura, Rui?
Por isso, gostaria agora que você dessa a sua opinião e preconizasse o que gostaria de ver na MB daqui a 15 ou 20 anos.
O que acha que deve ser a MB nessa altura.
Sem perder de vista que o S. Paulo tem 40 anos, e que os 2 Ceará têm perto de 50 anos.
E que as fragatas também já não são novas, apesar de no seu conjunto ainda hoje representarem uma força relativa boa no contexto do hemisfério sul.
E é a partir daí que se pode começar a discutir.
A MB com sorte vai ter seu PRM aprovado. Sonhar com algo além disso é perda de tempo.