“Baixinhos” e mais velhos. As mudanças no concurso da PSP e as críticas de associações
Homens com menos de 1,65, antes impedidos de concorrer ao concurso da Polícia de Segurança Pública (PSP), não terão mais este obstáculo.
Amanda Lima
Homens com menos de 1,65, antes impedidos de concorrer ao concurso da Polícia de Segurança Pública (PSP) não terão este obstáculo a partir da próxima edição. Igualmente, candidatos acima dos 30 anos - até os 35 anos - também estarão permitidos a concorrer. Estas são as duas principais alterações no concurso procedimental, de acordo com as novas regras publicadas esta semana.
De acordo com o Ministério da Administração Interna, o objetivo das mudanças é “permitir a seleção com base num universo mais amplo de candidatos”. Além disso, é uma forma de tentar atrair mais jovens para a profissão, que tem vindo a diminuir em número de candidatos ano após ano.
Paulo Paulo Jorge Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) diz ao DN que a portaria mostra “desespero” por parte do Governo diante da falta de candidatos. Na visão do polícia, o desinteresse na profissão não está relacionado com a idade, mas sim, com problemas estruturais, “como baixos ordenados, a necessidade de melhores condições de trabalho e falta de capacidade de recrutar jovens para a polícia”, analisa.
Com o aumento da idade de entrada, que sobe de 30 para 34 anos completos, Santos pontua que a medida “não ajuda” para que a PSP tenha mais jovens. O dirigente tem ainda outras preocupações no que tange à idade de entrada. “Não conseguimos compreender como é que uma pessoa com 34 anos de idade vai ter a sua aposentação salvaguardada”, critica.
De acordo com o polícia, o Governo deveria combater problemas estruturais da corporação para que mais pessoas tenham o interesse em ingressar na PSP. “Melhores salários, suplementos, serviços de apoio à doença, pré-aposentação com vantagens para que os jovens queiram procurar a polícia”, cita.
Qualidade de vida
Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia, vê a questão de forma semelhante, concordando que os baixos ordenados desincentivam o ingresso na carreira. No entanto, vai além. “Questões de reconhecimento por parte das lideranças, qualidade e dignidade, acesso à condições de higiene e segurança, acompanhamento e supervisão mais próxima. Existe uma série de fatores, que não apenas o dinheiro, fazem toda a diferença”, analisa o oficial de polícia.
Para Bruno Pereira, a centralização da atividade em Lisboa após a escola prática, é outro entrave para muitas pessoas. “A área metropolitana representa mais risco e mais densidade populacional, mas também é mais difícil viver pelos custos de habitação, é tudo mais caro e mais difícil”, pontua. “É extremamente limitador”, resume.
Em relação ao aumento da idade de entrada, o polícia não vê como problema, citando que em outros países esta limitação não existe. Por outro lado, sobre o fim da obrigatoriedade de ter 1,65 para homens e 1,60 para mulheres, diz que é preciso analisar a função. “Vejo com algum ceticismo esta medida. A depender da altura, não vejo mal se for para os serviços de apoio, análise, recursos humanos, etc. Mas do ponto de vista operacional, intervenção externa, tenho algumas reservas quanto à ausência de um mínimo de altura”, argumenta.
Desde a última década o número de interessados em trabalhar na PSP tem vindo a diminuir. De acordo com dados enviados à agência Lusa, em 2024 concorreram reserva ao curso de agente 2.865 candidatos, menos 178 do que em 2023. Já em 2022 foram 3.505, menos 640 do que no ano anterior. Na década de 1990 chegou a haver mais de 16.000 candidatos.
amanda.lima@dn.pt