Homem-bomba que matou agentes da CIA no Afeganistão seria um agente duplo
Richard A. Oppel Jr., Mark Mazzetti e Souad Mekhennet
Em Islamabad (Afeganistão)
O homem-bomba que matou sete agentes da CIA e um espião jordaniano, na semana passada, era um agente duplo que foi levado para a base no Afeganistão, porque os americanos esperavam que ele poderia entregar importantes membros da rede Al Qaeda, segundo uma autoridade ocidental informada sobre o assunto.
O acusado foi recrutado pelo serviço de inteligência jordaniano e levado ao Afeganistão semanas atrás, para se infiltrar na Al Qaeda ao se passar por jihadista estrangeiro, disse a autoridade.
Mas em uma reviravolta mortal, o suposto informante amarrou explosivos ao seu corpo e detonou a si mesmo em uma reunião na última quarta-feira, na Base Chapman de operações da CIA, na província afegã de Khost, no sudeste. O ataque na base da CIA desferiu um golpe devastador às operações da agência de espionagem contra os militantes nas regiões montanhosas do Afeganistão, eliminando uma equipe de elite que usava um informante com credenciais impecáveis de jihadista. O ataque adiou ainda mais a esperança de destruir a Al Qaeda, além de também parecer uma evidência potente da capacidade da rede de contra-atacar seus adversários americanos.
Ele também colocou em risco as relações entre a CIA e o serviço de espionagem jordaniano, cujas autoridades garantiram o suposto informante. O serviço jordaniano, chamado de Departamento Geral de Inteligência, há anos é um dos aliados mais estreitos e úteis da CIA no Oriente Médio.
Em uma entrevista por telefone, uma pessoa associada ao Taleban paquistanês identificou o homem-bomba como sendo Humam Khalil Mohammed, um médico jordaniano.
O homem-bomba conseguiu enganar a segurança da base e não foi revistado por causa de seu suposto valor como alguém que poderia levar as forças americanas aos altos líderes da Al Qaeda, e porque uma autoridade de inteligência jordaniana o identificou como sendo um informante potencialmente valioso, disse a autoridade ocidental.
Atuais e ex-funcionários americanos disseram na segunda-feira que devido à formação de médico de Mohammed, ele poderia ter sido recrutado para descobrir o paradeiro de Ayman al Zawahiri, o médico egípcio que é o segundo em comando da Al Qaeda.
Altos funcionários da agência viajaram de Cabul para Khost para a reunião com o informante, um sinal de que a CIA confiava no informante e que estava ávida em saber o que extraiu das operações em campo, segundo um ex-funcionário da CIA com experiência no Afeganistão.
O ex-funcionário disse que o fato dos militantes terem sido capazes de realizar um ataque bem-sucedido, usando um agente duplo, mostrava sua força mesmo após a barragem constante de mísseis disparados pelas aeronaves não-tripuladas da CIA. "Operações com agentes duplos são realmente complexas", ele disse. "O fato de terem sido capazes de fazer isso mostra que realmente não estão em fuga. Eles dispõem de capacidade de contra-atacar e pensar nessas coisas."
O encarregado jordaniano, o capitão Sharif Ali bin Zeid, foi a oitava pessoa morta na explosão. A morte de Zeid foi informada nos últimos dias pelas autoridades jordanianas, mas elas não confirmaram onde especificamente ele foi morto ou o que estava fazendo no Afeganistão.
As autoridades de inteligência jordanianas ficaram profundamente embaraçadas com o ataque porque apresentaram o informante aos americanos, disse um funcionário do governo jordaniano informado sobre os eventos.
O funcionário disse que os jordanianos contavam com tamanha boa reputação junto às autoridades de inteligência americanas que o informante não foi revistado antes de entrar na instalação.
Jarret Brachman, autor de "Global Jihadism: Theory and Practice" e um consultor de terrorismo para o governo americano, disse em uma entrevista por telefone que Humam Khalil Muhammad usava o nome online de Abu Dujana al Khorasani e era uma voz jihadista influente na Internet.
"Ele é um dos autores mais reverenciados nos fóruns jihadistas", disse Brachman. "Ele é um dos cinco maiores jihadistas. Ele é um dos maiorais lá fora."
Brachman disse que a Al-Fajr Media, que é a rede oficial de distribuição de mídia da Al Qaeda, realizou uma entrevista com Abu Dujana al Khorasani, publicada na revista online da Al Qaeda, "Vanguards of Khorasan".
O nome do homem-bomba foi noticiado inicialmente pela "Al Jazeera", que o identificou como sendo Humam Khalil Abu Mulal al Balawi. A rede de televisão noticiou que Al Balawi foi levado ao Afeganistão para ajudar a rastrear Zawahiri.
O incidente também foi embaraçoso para as autoridades jordanianas, que não queriam que a profundidade de sua cooperação com a CIA fosse revelada para os seus próprios cidadãos ou para outros árabes na região.
Uma declaração da agência de notícias oficial jordaniana disse que Zeid morreu no Afeganistão na quarta-feira, "enquanto cumpria seu dever humanitário com o contingente jordaniano das forças de paz da ONU".
Os Estados Unidos, e a CIA em particular, são profundamente impopulares na Jordânia, onde pelo menos metade da população é de origem palestina e onde o apoio de Washington a Israel é amplamente condenado. O rei Abdullah 2º e seu governo, apesar de trabalhar estreitamente com Washington em operações de contraterrorismo, além de fornecer apoio estratégico para as operações no Iraque, tenta rotineiramente manter esse trabalho em segredo.
O Taleban paquistanês disse anteriormente que o homem-bomba era alguém que a CIA recrutou para trabalhar com eles, mas que então ofereceu aos militantes seus serviços como agente duplo.
O Departamento Geral de Inteligência despontou no últimos anos como um dos aliados mais estreitos da CIA. A CIA dá milhões de dólares ao serviço jordaniano desde a invasão americana no Iraque, onde a agência de espionagem jordaniana exerceu um papel central na campanha contra os insurgentes iraquianos.
No passado, as autoridades jordanianas criticavam privativamente os serviços de inteligência americanos, dizendo que dependiam demais de tecnologia e não o suficiente de agentes capazes de operações de infiltração. Em 2006, os jordanianos receberam o crédito por terem ajudado a localizar e matar Abu Musab al Zarqawi, o líder da Al Qaeda na Mesopotâmia.
A CIA se recusou a comentar sobre as circunstâncias do atentado no Afeganistão.
Atuais e ex-funcionários da inteligência americana disseram que a base da CIA em Khost era usada para coletar inteligência sobre as redes militantes na região da fronteira. Os agentes da CIA na base usavam a informação para planejar ataques contra os líderes da Al Qaeda e do Taleban, além dos principais agentes da rede Haqqani.
Um segundo ex-funcionário da CIA disse que a presença de Zaid na base de Khost era um sinal de que a agência de inteligência jordaniana estava usando um espião para se infiltrar nas redes militantes na região, mais provavelmente na penetrar nas células de militantes árabes da Al Qaeda.
"Se o oficial da inteligência jordaniana garantia o sujeito, a CIA certamente iria querê-lo na base", disse o ex-funcionário.
Os restos mortais dos sete agentes da CIA mortos no ataque chegaram em um avião militar à base da Força Aérea em Dover, na segunda-feira, onde foi realizada uma cerimônia privada. O evento contou com a presença do diretor da CIA, Leon Panetta, e parentes dos agentes mortos.
As autoridades americanas têm pressionado o governo paquistanês a expulsar a rede Haqqani, cujos combatentes dominam partes do Afeganistão, incluindo as províncias de Paktika, Paktia e Khost, e são uma séria ameaça às forças americanas.
Autoridades e diplomatas paquistaneses disseram que essas exigências são rejeitadas pelos militares paquistaneses, que já estão combatendo outros militantes do Taleban paquistanês, que atacaram centros populacionais e do governo paquistanês no interior do país.
Reportagem de Richard A. Oppel Jr. e Souad Mekhennet em Islamabad, e Mark Mazzetti, em Washington. Eric Schmitt, em Washington, e Michael Slackman, em Dubai, Emirados Árabes Unidos, contribuíram com reportagem adicional.
Tradução: George El Khouri Andolfato