Do hidrogénio aos dados: Os novos projetos de Sines
Tiago Miranda
Investimentos de milhares de milhões de euros foram anunciados nos últimos meses para aquela região do País. Hoje é a vez de um megacentro de dados
Os últimos meses têm sido férteis em anúncios sucessivos de novos investimentos para a região de Sines. Esta sexta-feira chega mais um, de uma multinacional, que quer investir 3,5 mil milhões de euros na área tecnológica.
Com o maior porto artificial e de águas profundas do País, virado ao Atlântico, a cidade alentejana viu fechar em janeiro passado o maior emissor de CO2 do país, a central termoelétrica a carvão da EDP, onde trabalhavam 400 pessoas, 150 das quais diretamente ligadas à elétrica. O encerramento antecipado da central com 35 anos, avaliado em 100 milhões de euros, abriu espaço para o surgimento de várias iniciativas na área energética, nomeadamente no hidrogénio.
Mas os investimentos previstos para a zona vão além disso, dos transportes (marítimos e ferroviários) à tecnologia, aproveitando a conexão entre a Europa e a América Latina. Estes são alguns dos projetos emblemáticos anunciados ou em desenvolvimento na região de Sines na última década, potenciados pela posição geográfica e recursos naturais:
Linha de mercadorias Sines-Badajoz
A construção do troço ferroviário Évora-Elvas/Caia, que faz parte do futuro corredor internacional sul, está em curso. Quando estiver terminada, aquela que já foi anunciada como a linha férrea mais extensa dos últimos 100 anos, permitirá ligar Sines a Badajoz de forma direta, escoando mercadorias de e para Espanha. Está prevista também uma ligação entre Sines e Grândola, que encurtaria ainda mais o tempo de deslocação.
Cluster do hidrogénio verde
É um dos projetos mais falados para a região, depois do anúncio feito pelo Governo, em novembro de 2019, de uma central de produção de hidrogénio verde para exportação. Um investimento mínimo de 2,85 mil milhões de euros e com capacidade de até 1 gigawatt, alimentada por energias renováveis, solar e eólica. Um consórcio que reúne EDP, Galp, Martifer, Vestas e REN está a avaliar a criação de um cluster de projetos em torno deste gás renovável.
Terminal Vasco da Gama
Apesar de quase 60 entidades terem acedido ao caderno de encargos do concurso para a construção e exploração do Terminal Vasco da Gama, um investimento de 642 milhões de euros, o procedimento ficou sem candidatos para a concessão. O Ministério das Infraestruturas, avançou o Público, diz que apesar das alterações em curso na logística mundial por causa da pandemia, quer lançar novo concurso para o novo cais, com 1.375 metros de comprimento. Recentemente foi assinado um contrato para a expansão do Terminal XXI, concessionado à PSA Sines.
Energias renováveis
Há dois mil hectares de terrenos que podem vir a receber investimentos na área da energia solar. Recentemente, o presidente da Câmara de Sines deu conta, em entrevista à Lusa, de que existem “em carteira” quase uma dezena de projetos renováveis, alguns praticamente aprovados, outros em vias de licenciamento. Nos concelhos limítrofes também decorrem projetos para investimentos.
Auto-estrada
Só existem dois pequenos troços da A26, prevista construir entre Sines e Beja (o último dos quais, Grândola Sul-Sta. Margarida do Sado, inaugurado há quase um ano), destinada a aproximar também a cidade da A2 e de Lisboa. As obras na via foram interrompidas em 2011, na altura da crise económica e financeira, por dificuldades da concessionária da subconcessão Baixo Alentejo em obter financiamento.
Cabo submarino de fibra ótica
Foi a 6 de janeiro que o novo sistema de cabos submarinos de baixa latência da empresa EllaLink ancorou em Sines. Investimento de 150 milhões de euros, que deverá ficar operacional no segundo trimestre deste ano, vai permitir ligar com maior velocidade de dados a Europa e a América Latina, nomeadamente Portugal e o Brasil (Fortaleza). Junto à zona onde ancora o cabo está a ser desenvolvido o Sines Tech – Innovation & Data Center Hub, para a implementação de infra-estruturas de dados.
Hyperscaler Data Centre – Sines 4.0
É o mais recente investimento anunciado para Sines e um dos maiores em volume de investimento. O megacentro de dados que é apresentado esta sexta-feira, 23 de abril, deverá começar a ser construído em 2022 e custar até 3.500 milhões de euros. De acordo com declarações de Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, o investimento da anglo-americana start campus deverá criar mais de 9.000 postos de trabalho até 2025, até 1.200 dos quais serão diretos.
https://visao.sapo.pt/exame/2021-04-23- ... -de-sines/