Pessoal, estava dando uma lida na Revista O Anfíbio de 2002, n. 40, e me deparei com esse artigo sobre a criação do BtlCtAeDAAe e as implicações de tal e projeções para o futuro. Achei tão interessante que me dei ao trabalho de formatar ele inteirinho (gastei pelo menos uma hora nisso) para vocês derem uma lida. Eu sei que ele é enorme, mas o conteúdo é ótimo.
A Importância do Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea na formação dos GptOpFuzNav
CC (FN) C ARLOS CHAGAS VIANNA BRAGA
Uma das mais inovadoras mudanças que serão introduzidas pela recém-aprovada reestruturação da Força de Fuzileiros da Esquadra e que terá reflexos diretos no conceito de emprego dos grupamentos operativos de fuzileiros navais (GptOpFuzNav) é a criação do Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAeDAAe). A criação desta nova unidade representa um passo de extrema importância para a consolidação dos GptOpFuzNav como organização padrão para o emprego do nosso Corpo de Fuzileiros Navais, principalmente no que se refere ao Componente de Combate Aéreo (CCA), elemento até a presente data pouquíssimo compreendido e explorado em nossos exercícios e adestramentos.
Se, por um lado, pode-se alegar que tal lacuna é conseqüência do fato de que, durante a execução dos nossos adestramentos, os meios aéreos têm permanecido, quase que invariavelmente, sob controle da Força Naval (seja pela limitação da disponibilidade de meios ou quaisquer outros fatores), o que tenderia a tornar pouco eficiente dedicar grandes estruturas de Fuzileiros Navais à formação do CCA; por outro lado, é fato que há uma série de fatores que podem demandar que os meios aéreos sejam colocados sob controle dos GptOpFuzNav. Dentre estes fatores, podem-se destacar: a existência de um número de aeronaves superior ao números de plataformas navais para seu lançamento; prioridades relativas ao emprego e posicionamento do NAe para o emprego de aeronaves de asa fixa e asa rotativa durante às OpAnf; realização de operações de interesse da Marinha sem a presença plataformas navais; realização de operações ribeirinhas com estabelecimento de base de operações aéreas (BOA); operações de assistência humanitária; dentre outros. Assim, pode-se concluir que a possibilidade de que os meios aéreos sejam colocados sob controle dos GptOpFuzNav não deve, em hipótese alguma, ser descartada, conforme ficou claramente demonstrado pelo ocorrido nas duas operações reais recentes para as quais GptOpFuzNav foram ativados em sua plenitude: ECO-92 e Operação Rio (94/95), ressaltando-se que desta última participaram parcelas consideráveis dos meios de dois esquadrões, inclusive seus comandantes, ficando o CCA sob o comando do mais antigo. Ambas as situações resultaram na ativação de estruturas “ad hoc”.
Neste contexto, cabe, ainda, destacar a recente aquisição das aeronaves AF-1. Sua incorporação deverá exigir o aprimoramento de nossas estruturas de controle aerotático, no sentido de aproveitar o enorme potencial destas aeronaves para a execução de missões em apoio aos GptOpFuzNav, para as quais as AF-1 são perfeitamente apropriadas. O grande potencial das AF-1 para missões de ataque ao solo, principalmente apoio aéreo aproximado, ficou historicamente demonstrado nas operações das quais essas aeronaves participaram em apoio às forças do USMC (A-4 Skyhawk).
Por todas estas razões, foi proposta a criação do BtlCtAeDAAe que terá por finalidade apoiar a formação do CCA, agregando novas possibilidades e capacidades aos nossos GptOpFuzNav.
O BtlCtAeDAAe e o CAA
De acordo com sua definição mais atual, o CCA é o componente básico dos GptOpFuzNav organizado por tarefas para executar operações de aviação. Cabendo a ele prover todas ou parte das seis tarefas de aviação necessárias ao cumprimento da missão do GptOpFuzNav: defesa aeroespacial, apoio aéreo ofensivo, apoio ao assalto, guerra eletrônica, reconhecimento aéreo, e controle de aeronaves e armas antiaéreas. O CCA é geralmente composto de um comando de aviação e de outras unidades de aviação ou destacamentos. Seu tamanho poderá variar desde um pequeno destacamento de aeronaves específicas até uma ou
mais unidades aéreas. O CCA, assim como os demais componentes dos
GptOpFuzNav, não é uma organização formal.
No caso brasileiro, onde inexiste aviação específica de fuzileiros navais, devem ser consideradas as duas situações genéricas já mencionadas no início deste artigo, variando desde uma grande quantidade de aeronaves colocadas na organização por tarefas do GptOpFuzNav até, em situação oposta, poucas ou nenhuma aeronave na organização por tarefas do GptOpFuzNav. Nos dois casos, haverá, também, a possibilidade do GptOpFuzNav receber apoio de aeronaves sequer pertencentes à ForTarAnf ou mesmo à Força Aérea do Teatro de Operações Marítimo (FATOM). Assim sendo, cabe ressaltar que, independentemente das aeronaves pertencerem ou não à organização por tarefas do GptOpFuzNav, elas poderão apoiá-lo e, assim sendo, estruturas de coordenação e controle baseadas em terra deverão existir, de modo a possibilitar eficácia na execução deste apoio.
No primeiro caso, tenderemos a ter o CCA nucleado no comando de um dos esquadrões de aviação, com reforço de outros (conforme ocorreu durante a Operação Rio), podendo inclusive ser nucleado no comando da própria Força Aeronaval, no caso de envolvimento substancial de dois ou mais esquadrões. Neste primeiro caso, caberia ao BtlCtAeDAAe, ou destacamento deste, compor a organização do CCA, sendo diretamente responsável pela execução da defesa antiaérea, por prover as facilidades necessárias ao comando e controle das aeronaves em terra, além de apoiar, quando necessário, o desdobramento das aeronaves em terra.
No segundo caso, diante de um número muito reduzido ou da inexistência de aeronaves na organização por tarefas do GptOpFuzNav, o BtlCtAeDAAe, além de exercer as funções mencionadas no parágrafo anterior, poderá, eventualmente, constituir o próprio núcleo do CCA.
De qualquer modo, independentemente de constituir ou não o núcleo do CCA, em todos os casos expostos, o BtlCtAeDAAe será responsável por executar diretamente algumas das seis funções do CCA já apresentadas e viabilizar a execução das demais.
No caso da função Defesa Aeroespacial, o BtlCtAeDAAe, em todas as situações, será o responsável direto pela parcela defesa antiaérea, executada basicamente por meio de sua BiaArtAAe, podendo caber-lhe também a coordenação e o controle da parcela defesa aérea, exercidos por meio dos centros de controle que, uma vez ativados de forma unificada ou distribuída, deverão ser mobiliados pela CiaCtAe (ex.: Centro de Comando Aerotático (CComAT), Centro de Direção Aerotática (CDAT) e Centro de Operações de Defesa Aeroespacial (CODA)).
É justamente na função Controle de Aeronaves e Armas Antiaéreas que o novo BtlCtAeDAAe apresentará as maiores vantagens. Até o momento, a estrutura do CFN permitia apenas exercer, em boas condições, o controle das armas antiaéreas, por meio da própria BiaArtAAe. Com a incorporação da nova unidade, tanto o controle das armas antiaéreas como o controle de aeronaves passarão a ser exercidos por meio da CiaCtAetat, que deverá ser capaz de nuclear as principais agências de coordenação e controle:
- Centro de Comando Aerotático (CComAt) – no caso do comando das atividades ser exercido pelo GptOpFuzNav – ou Centro de Controle Aerotático (CDAT) – no caso do comando das atividades continuar a ser exercido de bordo, cabendo ao GptOpFuzNav apenas um setor.
- Centro de Apoio Aéreo Direto (CAAD)
- Centro de Operações de Defesa Aeroespacial (CODA)
- Centro de Operações Antiaéreas (COAAe)
De acordo com a complexidade da situação, em termos de meios aéreos e ameaça aérea, e com a disponibilidade de recursos de coordenação e controle na dotação da CiaCtAetat, todas as agências acima poderão ser ativadas ou, alternativamente, apenas uma delas (CComAT/CDAT) seria responsável pelo exercício de todas as funções.
A futura unidade deverá, pormeio de sua CiaCtAetat, ser capaz de exercer o controle visual e/ou radar das aeronaves no seu setor de responsabilidade.
Na situação atual, onde inicialmente o único sensor da CiaCtAetat será o próprio radar Giraffe, que até então constituía o núcleo do COAAe, visualiza-se que apenas uma das agências será ativada, ficando responsável pelo exercício de todas as funções de controle de aeronaves (neste caso, de forma bastante limitada) e armas antiaéreas. Futuramente, com a aquisição de novos sensores, poderíamos evoluir para a ativação de um maior número de agências, isto, é claro, apenas quando a complexidade da situação (meios aéreos e ameaça aérea) assim o exigisse.
As funções de Apoio Aéreo Ofensivo e Apoio ao Assalto continuarão a ser executada pelo(s) esquadrão(ões) de aeronaves com capacidade de ataque ao solo, ou destacamentos destes (principalmente aeronaves do HU-1 e do VF-1) – apoio aéreo ofensivo – e pelo(s) esquadrão(ões) de aeronaves com capacidade para o transporte de tropa e material, ou destacamentos destes (sendo as mais apropriadas as aeronaves do HU-2 e do HS-1) – apoio ao assalto. As aeronaves executando tais tarefas poderão estar em uma (ou mais) das situações a seguir: aeronaves constantes da organização por tarefas do CCA; aeronaves pertencentes à Força Naval executando missões de apoio ao GptOpFuzNav; aeronaves pertencentes à FATOM; e, finalmente, aeronaves não enquadradas em nenhuma das situações anteriores participando de operações de apoio, conforme previsto na DBM. Em todos os casos, caberá ao BtlCtAeDAAe nuclear, ou apoiar, as agências de coordenação e controle necessárias a garantir o adequado funcionamento do apoio, conforme já descrito no item anterior.
A curto prazo, o Reconhecimento Aéreo continuará a ser executada pelo(s) esquadrão(ões) de aeronaves, ou destacamentos destes (principalmente aeronaves do HU-1 e do VF-1), constantes da organização por tarefas do CCA ou por aeronaves pertencentes a Força Naval executando missões de apoio ao GptOpFuzNav, assim como a Guerra Eletrônica continuará a ser executada de forma limitada pelas aeronaves com alguma capacidade de guerra eletrônica e, de forma subsidiária, pelos sensores da artilharia antiaérea: – Radar Giraffe e Radar Bophir (Radar de DT do Canhão BOFI-R), – e pela Companhia de Guerra Eletrônica, esta última quando atuando em proveito das operações do CCA. Entretanto, como veremos mais adiante, a futura aquisição dos veículos aéreos não-tripulados (VANT) poderá adicionar novas capacidades ao BtlCtAeDAAe, acarretando em grandes vantagens e maior eficiência no exercício de atividades ligadas às funções de Reconhecimento Aéreo e Guerra Eletrônica.
Além da participação direta ou indireta em cada uma das 6 funções do CCA, conforme descrito, poderá caber ao BtlCtAeDAAe uma tarefa de apoio que, em determinadas situações, contribuirá para o aumento da eficiência ou mesmo viabilizará a execução de cada uma das mencionadas funções. Trata-se da operação de bases de operações aéreas (BOA). Prevê-se que, a médio prazo, o BtlCtAeDAAe, devidamente reforçado por destacamentos de outras unidades, possa ser capaz de estabelecer e operar tais bases. Para tanto, visualiza-se uma organização por tarefas com núcleo na CiaCmdoSv da própria unidade e com o reforço de destacamentos da ForAerNav, BtlLogFuzNav, BtlEngFuzNav, CiaApDbq, dentre outros.
O estabelecimento e operação de uma BOA pelo BtlCtAeDAAe poderá ocorrer em apoio a uma operação anfíbia, operação ribeirinha ou em apoio a qualquer outra operação naval ou terrestre, quando do interesse da MB, ressaltando-se neste último caso as operações de ajuda humanitária.
Cabe aqui um pequeno parêntesis para destacar a importância que tais bases têm adquirido no planejamento e nas estruturas das forças armadas. Para o USMC, o assunto não é novidade, uma vez que, desde antes da II Guerra Mundial, sua doutrina já previa o estabelecimento de bases de operações aéreas expedicionárias. A Força Aérea Americana
(USAF), há três anos, em 1999, implantou o conceito de força aérea expedicionária (Expeditionary Air Force – EAF), consistindo basicamente de esquadrões e bases expedicionárias. Conceito com o qual, declarou seu próprio comandante, pretendia seguir o modelo já utilizado pelas forças navais (US Navy e USMC) americanas para obter maior mobilidade nos teatros de operações. A Força Aérea Brasileira (FAB) também caminha neste sentido, tendo criado no início do ano de 2002, as bases aéreas projetáveis (BAeProj) subordinadas aos COMAR.
Detalhamento da estrutura e o processo de formação da unidade
Inicialmente, prevê-se para o BtlCtAeDAAe uma divisão em três subunidades: BiaArtAAe, CiaCtAe e CiaCmdoSv, conforme consta da proposta de reestruturação aprovada.
Esta estrutura detalhada, ainda que não seja a ideal, retrata o que é exeqüível com os recursos atualmente disponíveis, ou seja, representa o que pode ser feito.
Visualiza-se que estrutura deverá ser composta da seguinte forma:
- O Estado-Maior (EM) da unidade resultará da transformação do EM da BiaArtAAe (ora em processo de extinção como unidade independente), devidamente reforçado, de modo a tornar-se compatível com as necessidades de uma unidade operativa valor batalhão;
- A BiaArtAAe (SU do novo batalhão) resultará da estrutura anterior da antiga unidade, aliviada dos encargos administrativos e de EM, além da retirada de seus sensores de vigilância (basicamente o Radar Giraffe), que passarão a pertencer à CiaCtAetat;
- A CiaCtAetat, que centralizará o exercício de vigilância e controle do espaço aéreo, permitindo, assim o eficaz controle, não só das armas antiaéreas, como também das aeronaves. Situação totalmente compatível com um quadro de recursos limitados que necessitam ter seu emprego otimizado. Para tanto deverá receber, também, os recursos (pessoal e material) destinados às redes de coordenação e apoio aéreo, atualmente existentes na Companhia de Comunicações; e
- A CiaCmdoSV, além de exercer as tarefas comuns, típicas desta SU em qualquer batalhão, deverá paulatinamente concentrar as facilidades e habilidades necessárias ao apoio em terra das aeronaves. Deverá tornar-se capaz de, quando necessário, nuclear uma BOA, recebendo e coordenando os reforços necessários que venham a ser recebidos de outras unidades para tal fim.
A Provável Evolução da Unidade a Curto e Médio Prazo
Futuramente, a aquisição de novos meios pelo CFN deverá resultar em duas modificações em sua estrutura:
Aquisição dos lançadores veiculares do Míssil MISTRAL
– Demandará a divisão da BiaArtAAe em duas SU: BiaMSA (com 16 lançadores de míssil, sendo 8 portáteis e 8 veiculares) e BiaCanAAe (com os 6 CanAAe 40/70 BOFI-R). Deve ser considerado que a BiaArtAAe atual já se encontra no limite de sua capacidade de controle, uma vez que, concebida inicialmente para dotar 6 CanAAe (dotação tradicional de uma Bia), com a incorporação dos MSA Mistral, passou a possuir, além dos CanAAe, 8 lançadores portáteis de MSA. Assim, a aquisição dos 8 lançadores veiculares deverá resultar na divisão da atual BiaArtAAe. Tal divisão não acarretará qualquer dificuldade sob o ponto de vista operativo, uma vez que, conforme já visto, o planejamento das ações será centralizado no EM do batalhão e, no que se refere a comando e controle das armas antiaéreas, as atividades já estarão centralizadas na CiaCtAe, conforme prevê a estrutura da unidade.
Aquisição de veículos aéreos não-tripulados (VANT), que ora começa a ser debatida, ensejará na criação de uma Cia/Pel VANT. Conforme já mencionado, o emprego dos VANT possibilita sensível incremento às atividades do CCA, principalmente àquelas relacionadas às tarefas de Reconhecimento Aéreo e Guerra Eletrônica. Suas vantagens são inúmeras, têm sido amplamente divulgadas nas publicações e relatórios especializados, não constituindo objeto deste artigo. De qualquer modo, com a incorporação destes ao BtlCtAeDAAe, a unidade passará a exercer parcela substancial das tarefas de Reconhecimento Aéreo e Guerra Eletrônica, determinando, portanto a criação de Cia ou Pel VANT. O valor final da SU/fração será função do vulto e da complexidade do material a ser adquirido.
O Pessoal e seu Preparo
Como na maior parte das atividades técnicas, a existência de pessoal preparado e capacitado para o exercício das novas funções deverá ser fundamental para o sucesso da implantação do BtlCtAeDAAe. Os aspectos já discutidos durante este artigo e a própria designação da unidade já induzem, de forma genérica, aos tipos de atividades que seu pessoal deverá estar capacitado a exercer: defesa antiaérea e controle aerotático.
Como se trata de situação, até o momento, inusitada no âmbito do CFN, consideramos de grande valor a observação e análise do perfil utilizado por outra força, extraindo dele algumas lições e adaptações necessárias. Para tanto, sugere-se considerar o modelo de preparo de pessoal e de fluxo de carreira adotado pelo USMC para o pessoal que atua nas duas áreas mencionadas no parágrafo anterior, onde pode ser verificado o seguinte: no caso dos oficiais, as atividades a serem exercidas pelo BtlCtAeDAAe pertencem a duas especialidades principais (Main Occupational Specialties - MOS) – Defesa Antiaérea e Controle Aéreo – sendo ambas pertencentes à especialidade genérica de Sistemas de Comando e Controle Aéreo (MACS). Até o posto de capitão, tais especialidades funcionam isoladamente, fundindo-se em uma única a partir do posto de major. Em cada uma das 3 Forças Expedicionárias de Fuzileiros Navais (MEF) existe uma grande unidade – Marine Air Control Group (MACG) – onde a maior parte dos oficiais com estas habilitações está concentrada. Pode-se verificar, pelo tamanho de cada MACG que a demanda de oficiais é grande.
Assim, no caso do CFN, onde a demanda será muito pequena, não se recomenda tal especialização excessiva, sugerindo-se que, ao preparo dos oficiais que já exercem as atividades de Defesa Antiaérea, fossem acrescidos os conhecimentos necessários à execução das atividades de controle aerotático, uma vez que são atividades correlatas (conforme claramente identificado no modelo do USMC), que estariam sendo desenvolvidas no âmbito da mesma unidade, evitando-se assim a criação de mais uma habilitação específica.
A exemplo do que ocorre no USMC, o BtlCtAeDAAe não necessitaria ter oficiais aviadores navais em sua tabela de lotação, uma vez que tratam-se de oficiais altamente especializados, de elevado custo de formação, cuja demanda é crescente no âmbito da MB e que, fora de sua atividade fim, acabariam subempregados.
Para o planejamento e desenvolvimento das operações, as organizações por tarefas receberiam os reforços, conforme necessário, sem a necessidade de comprometer permanentemente tais importantes recursos humanos.
Assim, as maiores modificações em termos de investimentos no preparo de pessoal estariam concentrados na introdução de cursos (realizados na MB e na FAB) visando à sua capacitação para as atividades de controle aerotático, uma vez que, no caso da defesa antiaérea, não há maiores novidades, pois já existe longa tradição no CFN: desde a incorporação da antiga BiaCanAuAAe 40/60, há quase 30 anos, até a atualização de nossa DAAe para o estado-da-arte, há 15 anos, com a aquisição dos sistemas BOFI-GIRAFFE e, posteriormente, dos MSA MISTRAL. De modo que, hoje, o CFN possui oficiais e praças adequadamente habilitados para o exercícios destas atividades, com cursos no próprio CFN, no EB e no exterior.
Tal situação de concentração dos oficiais em um mesmo ramo de “habilitação” torna-se especialmente desejável se considerarmos que a unidade terá, é claro, apenas um estado-maior, o qual será responsável pelo planejamento de todas as atividades de suas subunidades. Deste modo, a existência de apenas uma “habilitação” básica garantirá maior eficiência no desempenho de suas atividades além de contribuir para maior coesão da unidade e criação do seu espírito, evitando que a mesma se torne uma “colcha de retalhos”.
No caso das praças, a demanda e a especificidade das atividades a serem desenvolvidas tenderia a recomendar a “criação” de uma nova habilitação. Da mesma forma que dentro da especialidade de artilharia (AT) existem hoje aqueles cursados em artilharia antiaérea, visualiza-se que nas especialidades de artilharia (AT) e comunicações navais (CN) deveremos passar a ter praças habilitadas para controle aéreo. Tal habilitação poderá ser obtida por meio de cursos na MB e na FAB.
A longo prazo, teremos servindo na nova unidade oficiais e praças com as duas habilitações já mencionadas.
O Material
De modo semelhante ao preparo do pessoal, visualiza-se a necessidade de aquisição, a médio e longo prazo, de sensores específicos para a execução das tarefas afetas ao controle aéreo. No caso da defesa antiaérea, a situação já se encontra bem encaminhada, considerando-se a aquisição já prevista de novos meios.
Dentre os sensores e material a serem oportunamente adquiridos, deverão ser priorizados, ainda que a médio e longo prazo em função dos custos, aqueles necessários à execução do controle visual/radar do tráfego aéreo, controle de aproximação visual/radar e torre de controle. A determinação mais detalhada das necessidades, assim como a especificação do material, só poderá ser realizada após a entrada em funcionamento da unidade e da conseqüente aquisição da experiência e dos conhecimentos necessários. Como de itens que poderão ser adquiridos futuramente podemos citar:
- Radar de controle aéreo;
- Radar de aproximação portátil;
- Sistema portátil de pouso por instrumentos; e
- Torre portátil “containerizável”.
Em termos de material de comunicações, considera-se que, inicialmente, a unidade passará a contar com os equipamentos apropriados atualmente existentes na dotação da Companhia de Comunicações e que serão transferidos para a dotação do BtlCtAeDAAe, conforme já discutido anteriormente. Tais equipamentos permitirão fazer face às necessidades iniciais, contudo, a médio prazo, deverá ser estudada a aquisição de outros meios dada a complexidade das tarefas a serem exercidas pela unidade.
Deve ficar claro que outras necessidades deverão surgir no decorrer do processo e, principalmente, com o amadurecimento do novo batalhão, uma vez que se trata de unidade com conceito de emprego totalmente inédito no âmbito do CFN e da MB.
Um Futuro Promissor
Conforme pôde ser verificado no decorrer do presente artigo, o Batalhão de Controle Aéreo e Defesa Antiaérea representa um importante marco no desenvolvimento pleno das capacidades operacionais do Corpo de Fuzileiros Navais e da Marinha do Brasil, como um todo. Tal unidade deverá preencher a grande lacuna existente, até o momento, principalmente no que se refere à plena utilização das capacidades e potencialidades do espaço aéreo, durante as operações dos GptOpFuzNav.
A organização adotada para a nova unidade, ainda que não seja a mais completa ou a ideal, é aquela que o CFN tem condições de adotar nas condições atuais, até mesmo porque a falta de experiência anterior indica que a estrutura mais apropriada só poderá ser determinada após a ativação do batalhão e do exercício prático de suas atividades. Pequenos ajustes poderão e deverão ser realizados com o passar do tempo, com os ensinamentos adquiridos e com a incorporação de novos meios.
O mais importante passo foi dado. A criação do Batalhão de Controle Aéreo e Defesa Antiaérea permitirá o desenvolvimento de uma nova mentalidade no CFN e na MB, muito mais consciente da importância do espaço aéreo para o sucesso das operações que envolvam GptOpFuzNav.
Abraços
CFN e a Defesa Antiaérea Tática - Artigo
Moderador: Conselho de Moderação
- Slip Junior
- Sênior
- Mensagens: 3291
- Registrado em: Seg Fev 17, 2003 6:00 pm
- Agradeceram: 1 vez