Saab confirma negociações com Portugal para venda de caças Gripen como alternativa aos F-35
Declarações de Nuno Melo sobre a imprevisibilidade dos EUA de Trump abriram porta à compra de aviões de combate europeus
O CEO da empresa de defesa sueca Saab, Micael Johansson, confirmou que estão em curso discussões com Portugal para a venda do caça JAS 39 Gripen, numa altura em que o nosso país está a estudar alternativas à compra de aeronaves norte-americanas para substituir a frota de F-16 que se encontra "em fim de vida". A revelação surge poucas semanas depois de o ministro da Defesa, Nuno Melo, ter manifestado o seu ceticismo em relação à aquisição dos caças de quinta geração norte-americanos F-35, produzidos pela Lockheed Martin, citando as mudanças geopolíticas impulsionadas pela Casa Branca.
"Estamos em discussões com Portugal e vamos apresentar o que a Saab pode oferecer. Depois, veremos se eles consideram o Gripen uma alternativa viável", afirmou Johansson em entrevista ao jornal sueco Dagens Industri.
O CEO da Saab admitiu ainda que a empresa também já se encontra em negociações com o Canadá, país que também tem manifestado publicamente reservas em relação à aquisição de caças F-35, depois de Donald Trump ter aplicado ao Canadá taxas alfandegárias de 25% e sugerido anexar o país, apelidando-o de 51.º estado.
A CNN Portugal tentou confirmar com o Ministério da Defesa a existência destas negociações entre o Governo e a empresa sueca, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.
Em Portugal, tudo parecia encaminhado para a aquisição dos caças furtivos norte-americanos F-35. A Força Aérea tinha estudado as possibilidades, analisou as várias alternativas e concluiu pela compra de 27 aeronaves, num negócio avaliado em 5,5 mil milhões, que seria pago ao longo de 20 anos. A fabricante das aeronaves, a Lockheed Martin, veio a Portugal várias vezes, realizando vários workshops para alinhar as capacidades operacionais das aeronaves de quinta geração com as necessidades de Portugal.
Só que a eleição de Donald Trump e as políticas que se seguiram alteraram tudo. Nuno Melo admite que o "mundo já mudou" e Portugal não pode ficar alheado da envolvente geopolítica, uma vez que o seu aliado mais importante já não oferece a "previsibilidade" de outros tempos. O ministro admitiu mesmo que "o nosso aliado" pode vir a trazer limitações "na utilização, na manutenção, nos componentes" e em tudo aquilo que tem que ver com a garantia de que os F-35 se mantenham operacionais em qualquer tipo de cenário.
"A recente posição dos Estados Unidos, no contexto da NATO e no plano geostratégico internacional, tem de nos fazer pensar as melhores opções, porque a previsibilidade dos nossos aliados é um bem maior a ter em conta", afirmou o ministro ao jornal Público, acrescentando que há "várias opções que têm de ser consideradas", particularmente "no contexto de produção europeia".
As declarações de Nuno Melo, em março, abriram as portas a três opções: os franceses Dassault Rafale, o Eurofighter, produzido por um consórcio de empresas europeias, e o sueco Gripen. O ministro insistiu que o potencial retorno económico para a indústria portuguesa, particularmente o cluster aeronáutico português, será um forte critério a ter em conta.
Este fator pode jogar a favor da empresa sueca, que, nos últimos contratos assinados tem promovido parcerias industriais com os países compradores, oferecendo transferência de tecnologia e envolvimento das empresas locais na cadeia de fornecimento e de produção. Foi o que aconteceu ao Brasil, quando adquiriu 36 destas aeronaves, em 2014. A parceria entre a Saab e a Embraer permitiu a construção de uma linha de montagem, onde os caças são fabricados com engenheiros e técnicos brasileiros.
O JAS 39 Gripen da Saab é um caça multifunções da geração 4,5, que se destaca por ter um custo operacional bastante reduzido quando comparado com as alternativas e pela sua versatilidade. Este caça vem equipado com um dos sistemas de guerra eletrónica mais avançados do mundo, pode ser equipado com mísseis que atingem alvos a 200 quilómetros. O custo de aquisição é também significativamente inferior ao dos F-35.
No entanto, existem desvantagens. O F-35 é um avião de quinta geração, o que se traduz na sua capacidade de furtividade, que o torna invisível aos radares. Além disso, das três opções europeias equacionadas, o Gripen é aquele que está mais exposto a possíveis restrições americanas. Atualmente, um terço de todos os componentes encontrados na aeronave são fabricados nos Estados Unidos, entre os quais o próprio motor, que é construído pela gigante norte-americana General Electric.
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