Os quatro militares da equipa de operações especiais da GNR avançam com cautela para o interior da cadeia onde o director está refém de criminosos. À sua frente, polícias franceses e italianos, armados com escudos e bastões, controlam uma multidão de reclusos amotinados.
Os espanhóis e os holandeses estão espalhados pela estrada, em zonas de controlo. E, esta manhã, a Academia da Guardia Civil, em Valdemoros, a sul de Madrid, é a imagem de um futuro bastante provável para a nova força de Polícia europeia – a Eurogendfor.
Se os desejos dos responsáveis das cinco Polícias militarizadas europeias se tornarem realidade, e tudo aponta para que assim venha a ser, até ao final do próximo mês, a Eurogendfor será uma força com plena capacidade operacional para intervir em cenários de crise, semelhantes ao Afeganistão ou ao Iraque, assumindo funções das polícias locais e treinando-as.
Antes, contudo, o exercício desenvolvido nas últimas duas semanas – e que o CM acompanhou na sexta--feira – por 250 polícias portugueses, italianos, franceses, holandeses e espanhóis será avaliado por uma comissão independente de oficiais. O relatório estará pronto a 11 de Maio e a decisão política sobre o mesmo será conhecida até ao final do mês.
“Foi um exercício muito importante e ficou demonstrado que, a nível operacional, está tudo pronto”, diz ao CM o comandante da GNR, Mourato Nunes. Quando a Eurogendfor for uma realidade, a GNR terá 120 homens disponíveis para integrar o contingente de 800 elementos a ser projectado em 30 dias para zonas de crise. Os portugueses estarão ao lado dos espanhóis da Guardia Civil, da Gendarmerie francesa, dos Carabinieri italianos e dos holandeses da Marechausse.
“Neste momento, e com as missões que estão previstas, não creio que seja necessário solicitar mais meios para a GNR”, afirma ao CM Mourato Nunes. Na Eurogendfor, cada polícia usa os seus equipamentos. Em comum apenas uma braçadeira e, no futuro, uma bóina.
As duas semanas de exercício em Espanha, do cenário proposto às acções treinadas, revelam o que pode vir a ser a Eurogendfor. Desde logo, a inclusão da força de Polícia europeia num contingente militar em missão sob a égide da NATO, da ONU ou da União Europeia. No terreno, a Eurogendfor substituirá as polícias locais e assumirá a formação de novos efectivos. “Fazer por eles, controlar o que fazem”, resume o segundo comandante, o holandês Gert Besslink.
No exercício, os militares dos cinco países actuaram lado a lado num “cenário de total falência do Estado”, como diz o major Carlos Alves, da GNR – uma ilha dilacerada por conflitos étnicos e fronteiriços e subjugada à acção de criminosos, no qual a União Europeia decide intervir.
HELENA A ÚNICA MULHER
A soldado Helena Resende, de 25 anos, era a única mulher entre os 37 militares portugueses que a GNR enviou para o teste decisivo da Eurogendfor. “Estou a fazer o que mais gosto”, diz ao CM. Além de Helena, apenas duas mulheres polícia holandesas estiveram no último dia do exercício. “Há certas acções em que é necessário ser um elemento feminino a desempenhá-las. A revista a mulheres é uma dessas situações. De resto, faço exactamente o mesmo que os meus camaradas”, explicou Helena, pouco depois de estar de arma em punho a vigiar um grupo de detidos.
HISTÓRIAS DO EXERCÍCIO
- Os gendarmes franceses e os carabinieri italianos unem esforços para segurar o motim na prisão da ilha – improvisada nas cavalariças da Guardia Civil. Ao som de pancadas secas nos escudos, obrigam a multidão a recuar e separam os amotinados em grupos, enfraquecendo-os.
- Os quatro militares da GNR, a quem cabe resgatar o director da cadeia sequestrado, avançam atrás dos escudos italianos e franceses. Dois minutos e duas explosões depois, regressam com o sequestrado são e salvo e desaparecem num jipe preto.
- Alguns reclusos que escaparam controlam um avião de passageiros e tentam deixar a pequena ilha, fugindo aos militares da Eurogendfor. Passaram os controlos da Guardia Civil e dos polícias holandeses e estão a bordo, de arma na mão.
- Após a intervenção de unidades especiais da Guardia Civil, os passageiros descem do avião e são revistados. Polícias de cinco países participam nesta fase, uns segurando as mangas, outros garantindo a segurança da zona e os portugueses vigiam reféns e suspeitos.
http://www.eurogendfor.org/