Sem querer ser chato, mas já sendo. Vamos lembrar o que a FAB tinha até algum tempo atrás em termos de organização da caça:
GDA - 1 esquadrão (ativo)
1o GAvCa Jambock - 1o e 2o Esquadrão (ativo)
10o GAv - 1o e 3o Esquadrão (ativo)
1o\16o Gav Adelphi - 1 Esquadrão (desativado)
1o\4o Gav Pacau - 1 Esquadrão (desativado)
1o\14o GAV Pampa - 1 Esquadrão (ativo)
Nos últimos anos a FAB desativou 33% das unidades de caça. E as que ainda estão operacionais se mantém a altos custos, e com baixa disponibilidade, em função dos problemas que se acumulam na manutenção de seus vetores atuais.
No presente momento, a FAB intenta reativar o 1o\4o GAv Esquadrão Pacau, sem operar desde 2021. Não se sabe ainda se ele permanece em Anápolis como um segundo esquadrão junto ao GDA ou se volta para a região norte em algum momento.
O 3o Gav irá perder seus A-1M ano que vem sem solução para substituir os mesmos, enquanto os demais esquadrões seguem até 2033 operando os últimos F-5M ainda operacionais.
Não se tem afirmado até o momento o aditivo do contrato atual para +14\15 caças Gripen E\F, enquanto o governo do momento rateia suas próprias mazelas em termos orçamentários. O cronograma de entregas corre o sério risco de ser atingido, e será, pelos indefectíveis cortes no orçamento da defesa. Não se fala em novo lote de Gripen no momento, e dificilmente será feita qualquer gestão neste sentido enquanto a questão orçamentária da Defesa não passar pelo escrutínio do debate público em torno dos 2% do PIB no congresso. Até que isso se torne realidade, nenhum planejamento de médio e longo prazo é possível.
A priori, cada esquadrão de caça da FAB está cotado a 18 a 20 unidades para se manter um mínimo de operacionalidade efetiva, segundo informação do comando da instituição. Com os esquadrões atuais ativos, isto gera uma demanda entre 108 e 120 caças Gripen E\F. Se somados os dois esquadrões desativados, são 144 a 160 unidades.
Números são sempre muito fáceis de lidar quando se tem um pouco de boa vontade. Mas o que se tem acima é apenas uma ilustração da organização atual da FAB caso ela tivesse de fato interesse em prover cobertura aérea integral do país em termos de defesa aérea, sem soluções de continuidade, e sem se manter no pensamento atual de "enviar a cavalaria para onde for necessário, quando houver algum problema".
Este tipo de doutrina ainda é fruto de uma realidade cunhada ao longo do século XX e de 80 anos de história, em que a FAB existe somente enquanto
força aérea apenas e tão somente
quando e se necessário, e nada mais. Neste aspecto, a caça não é, nunca foi, e seguirá não sendo uma prioridade em uma instituição que preza antes de mais nada pela sua capacidade de gerar missões subsidiárias e o apoio às ações de governo, leia-se, quebra galho de políticas públicas sociais falidas e de oportunidade dos governos de plantão.
Uma possível reorganização das OM de caça existentes, caso o Pacau venha mesmo a ser reativado, pensando no Gripen E\F como único vetor, é o envio do mesmo para Manaus ou Belém, como parece ser a intenção de longo prazo da FAB. Uma vez que os dois esquadrões do 10o Gav recebam seus caças, pode-se pensar no envio desta unidade para Campo Grande, Manaus ou Belém, uma vez que conta com dois esquadrões, e a FAB não tem maiores problemas em espalhar suas unidades de caça pelo país, independente de quaisquer questões logísticas.
Como exemplo rústico de uma hipotética redistribuição de OM podemos verificar o seguinte nos próximos 10 anos:
GDA - Base Aérea de Anápolis - BAAN (GO)
1o GAvCa Jambock - Base Aérea Santa Cruz - BASC (RJ)
10o GAv - Base Aérea de Manaus - BAMN (AM)
1o\4o Gav Pacau - Base Aérea de Belém - BABL (PA)
1o\14o GAV Pampa - Base Aérea Santa Maria - BASM (RS)
A reativação do 1o\16o Gav Adelphi, como já aventada tantas vezes nos últimos anos, poderia lograr à FAB a sua disposição na Base Aérea de Campo Grande, onde já se possui toda uma infraestrutura que pode ser aproveitada\adaptada para receber esta unidade, oferecendo assim ao país uma cobertura quase integral do seus território.
No que tange ao 10o Gav e seus dois esquadrões, a sua lotação na BAMN tem a qualidade de ajustar a defesa aérea da região norte, na sua parte ocidental, a partir da alocação temporária de seus esquadrões, também, a partir das bases aérea de Boa Vista e Porto Velho, em uma espécie de rodízio operacional, com 4 a 6 caças. O Pacau faria a cobertura aérea da Amazônia oriental e da ZEE ao longo do litoral norte.
Se o Adelphi for redivido em algum momento no futuro a longo prazo, podemos intuir a demanda por mais 18 a 20 unidades do Gripen E\F, totalizando assim uma demanda geral por 162 a 180 caças.
Cabe por fim, falar no 5o Gav em Natal, com seus dois esquadrões, que fazem a formação e treinamento dos futuros pilotos de caça e transporte, ISR e Patrulha. Se houver uma decisão um dia que sobreponha os interesses da defesa aérea do país, tal qual ela merece ser tratada e priorizada dentro da FAB enquanto instituição militar e voltada para suas funções primárias, faz-se mister dizer que a transformação deste grupo de aviação é apenas questão de tempo, demandando a aquisição, pelo menos, de outras 36 unidades do Gripen E\F no longuíssimo prazo. Estamos falando de algo para os anos de 2040, talvez, vislumbrando-se uma decisão que fosse tomada agora. Notar que o Gripen na Suécia tem sua vida operacional datada em 2060.
Como se pode ver, se a caça fosse priorizada como função primordial de força aérea, teríamos de fato motivos de sobra para alardear a instalação de uma linha produtiva de caças no país, com vislumbres a desenvolvimentos futuros para a caça da FAB no que tange a capacitação nacional da indústria aeroespacial. Mas fato é que sem ter para si todos os holofotes e a atenção merecida, e necessária, a caça da FAB irá continuar rateando no escuro em busca de seu espaço, recursos e apoio em uma instituição que deveria, por fim próprio, e mérito jurídico-institucional, privilegiá-la.
Quem sabe um dia.