Rússia: economia “africana”, sonhando com a URSS e deitada sobre 7 mil bombas atômicas
Luís Dufaur
19 de setembro de 2017 - 19:11:28
A Rússia é uma superpotência militar com uma economia terceiro-mundista, segundo a avaliação de Pablo Pardo, do jornal espanhol El Mundo. Muito aquém da Espanha, tem o mesmo PIB (Produto Interior Bruto) e o triplo de população. Em outros termos, a renda per capita russa é um terço da espanhola. Mais ainda, o PIB nominal per capita do Brasil – US$ 11.387 – está acima do russo: US$ 9.054.
Como as perspectivas econômicas russas são as piores, o jornal aplica ao país pejorativamente o carimbo de “país do Terceiro Mundo”.
Exporta petróleo, gás natural e mais algumas matérias-primas, mas tem de importar todo o resto, porque não produz quase nada. É o esquema de uma economia de país pobre, destaca a publicação.
A exceção são as exportações de material militar, em grande parte destinadas a antigos clientes da União Soviética, cujos exércitos só conhecem o armamento russo. Mas mesmo esses compradores são cada vez menos confiáveis e se interessam sempre menos pelas antigualhas russas malgrado as melhorias cosméticas.
Alimentação insuficiente e abuso de álcool diminuíram a expectativa de vida.
A expectativa média de vida na Rússia (62-77 anos para os homens) é mais baixa que a da Bolívia (67-91 anos), com a diferença de que a população boliviana cresce dinamicamente, enquanto a russa diminui.
Entrementes, não se entende por que a comunidade internacional ainda aceita a Rússia como uma grande potência econômica.
Só uma esclerosada visão da realidade russa poderia explicar essa crença, talvez influenciada por uma simpatia ideológica atávica ou alguma saudade do socialismo da URSS que continua sob Putin.
Se Moscou influencia hoje o mundo é por causa do fascínio psicológico do sonho da URSS.
Ele se perpetua no Ocidente, ainda governado por partidos socialistas e manipulado por uma mídia cujos grandes títulos vão se fechando um a um porque descolados das respectivas opiniões públicas.
Outro dos poucos índices de grandeza que a Rússia ainda exibe é o mastodôntico aparato de defesa, espionagem, repressão e segurança nos quais Vladimir Putin fez carreira, e sem o qual o dono do Kremlin não duraria muito.
Fora disso, praticamente nada, martela o jornal El Mundo. A economia está militarizada, as receitas do país são etéreas como o gás que exporta e se evaporaram com a queda da cotação internacional do petróleo.
Talvez fosse mais apropriado comparar os dados macroeconômicos russos com certas economias africanas em vias de desenvolvimento – embora a Rússia não forneça muitos sinais de crescimento –, armadas até os dentes, com um ditador ferozmente agarrado ao poder e em pé de beligerância contra os vizinhos de etnia (de ideologia, no caso russo) diferente.
O míssil Iskander (SS-26, para a OTAN) de curto alcance pode levar cabeças nucleares.
A Rússia gasta desproporcionalmente em armas.
Eriçada de nacionalismo anticapitalista e antiocidental, amargurada pelo fracasso da utopia de domínio universal soviético e com uma economia humilhantemente depauperada, a Rússia – que detém 7.000 bombas atômicas – é claramente um perigo, observa El Mundo.
Esse é um coquetel de fatores, por certo nada atraente, que explicaria a crença na Rússia-potência: um efeito do medo. O jeito certo seria reformar a economia para sair da decadência. Mas para o Kremlin isso equivale a reconhecer que não é grande potência.
Se Moscou adequar suas forças armadas às dimensões reais do país, a ideologia oficial e o modelo econômico ainda sovietizado não seriam mais sustentáveis.
Com a cornucópia petrolífera, Vladimir Putin tentou que a Rússia crescesse anualmente 4% a 6%.
A alta cotação internacional do petróleo engrossou as caixas do Estado e alimentou uma fabulosa corrupção em todos os níveis. O país vivia de importados até que a bolha furou.
O Estado distribui indústrias em concessões e/ou monopólios para uma Nomenklatura de privilegiados oriundos unicamente do entorno de Vladimir Putin, que durarão em função de sua fidelidade ao líder e temerão sempre cair em desgraça.
Com os ingressos rareando, o presidente e sua Nomenklatura seguiram esbanjado para manter cidades e instalações pesadas, anti-econômicas, da era soviética para alimentar altas percentagens de popularidade.
Mas agora a torneira fechou, e o petroestado ficou com a roupa do corpo.
Os capitais de estrangeiros e de magnatas putinistas levantaram voo, a moeda nacional espatifou-se, a invasão da Ucrânia cerceou ainda mais as entradas e multiplicou as despesas.
Eis a Rússia, empobrecida, humilhada, acuada e agressiva.
No fim, só resta o nacionalismo saudosista da URSS e as 7 mil bombas atômicas.
Para o Ocidente, que acreditou na “queda do comunismo”, sobrou um pesadelo ameaçador.
E ele é chefiado por um coronel formado na KGB, admirador de Stalin e disposto a tudo para restaurar a grandeza material do império dos sovietes.
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