Luís Henrique escreveu:
Tulio, você demonstrou um bom conhecimento da vizinhança.
Concordo que tudo isso deve ser levado em conta pela nossa inteligência.
Mas não podemos nos balizar APENAS nessas análises dos vizinhos, por alguns motivos:
1) o mundo vive em CONSTANTE MUDANÇA.
Até pouco tempo a Venezuela estava comprando caças F-16. Hoje os EUA são o demônio para eles.
Até pouco tempo o Brasil era o melhor amigo da Venezuela (Lula, Dilma), hoje já estamos mais distantes. Entra o Bolsonaro daqui a 2 anos e viramos quase inimigos.
O mesmo ocorre nas relações entre nossos vizinhos. Você pega 2 vizinhos que possuem algumas rusgas, como alguns citados por você, elege 2 presidentes de esquerda nos dois países e eles viram melhores amigos.
Vou dar um exemplo. Imagine em 2019 o Brasil governado por Bolsonaro de direita.
Imagine o Maduro de esquerda na Venezuela. E imagine que Peru, Equador, Bolívia e Argentina elejam presidentes de esquerda. E a Colômbia eleja um ex-farc.
Pronto. Ta feita a merda.
Sei que viajei bastante, mas o que quero dizer é que a DEFESA de um país tem que ser levada à sério. Temos que partir do pressuposto que QUALQUER COISA pode acontecer.
Portanto nosso poder militar tem que estar a altura da grandeza do nosso país. E não estar comparado à pequenez dos nossos vizinhos.
Me desculpem los hermanos, mas é verdade que o Brasil é muito maior do que qualquer vizinho.
2) o segundo motivo é que os conflitos são GLOBAIS. Não podemos analisar APENAS nossa vizinhança. O último conflito que tivemos na América do Sul foi a guerra das malvinas e o inimigo da Argentina foi um país que está localizado na Europa, a 14.000 km de distância.
Sobre estarmos equilibrados com os demais países da América do Sul, discordo. Veja alguns números:
Militares na Ativa
Brasil = 334 mil
Restante da AS = 845 mil
Orçamento Militar
Brasil = U$ 24,5 bi
R AS = U$ 31,8 bi
Aeronaves
Brasil = 697
R AS = 1.783
Helicópteros
Brasil = 230
R AS = 708
Carros de Combate
Brasil = 469
R AS = 1.845
AFV
Brasil = 1.707
R AS = 7.128
Navios Escolta (Destroyers, Fragatas e Corvetas)
Brasil = 13 (na verdade são 11)
R AS = 60
Submarinos
Brasil = 5
R AS = 28
Fonte: global fire power 2017
Apesar de qualquer erro para mais ou para menos, da para ter uma idéia da GRANDE diferença. Isto ocorre devido à esse ERRO estratégico de nos balizarmos por baixo.
De nos compararmos com países vizinhos que são bem menores do que nós em TUDO.
Portanto, na baixíssima possibilidade de uma União Bolivariana entre nossos vizinhos, eu acredito que, permanecendo os equipamentos atuais, nós levaríamos UM PAU.
Cupincha, começo concordando enfaticamente com uma expressão tua que merquei em negrito: de fato, viajaste e BASTANTE!
A seguir, vou por partes, acompanhando as tuas:
1 - Vamos nos debruçar rapidamente sobre alguns dos Países em que "basta ter governos 'esquerdistas' para superarem as diferenças":
CHILE E BOLÍVIA - Na década passada, assumiam os "esquerdistas" Evil Morales e Michelle Bachelet; a inimizade não arrefeceu, pois a citada senhora sequer cogitou em devolver algum território que restabeleça o acesso ao mar exigido pela Bolívia. "Esquerda" ou não, interesse nacional vem primeiro. "Esquerda" ou não, presidente algum quer ser conhecido como aquele que entregou parte do País a algum estrangeiro, não importa a razão. Só não houve nenhum conflito (bélico) sério entre ambos porque a Bolívia está LONGE de ter capacidade militar e econômica sequer próxima da do Chile. E atualmente segue o Evil Morales na Bolívia, enquanto o sra Bachelet está de volta ao Chile. Mas, "esquerda" ou não, amizade não existe ali.
CHILE E PERU - No Peru se sucederam Alan García e Ollanta Humala, ambos "esquerdistas" (o primeiro chegou a alcançar a presidência da Internacional Socialista e governou durante o primeiro mandato da sra Bachelet). Qual o acordo amigável que conseguiram obter sobre territórios e limites marítimos? O pouco que se conseguiu (Peru) foi na Justiça. Ambos se armavam e armam um de olho no outro. Lembrar que o Peru também tomou territórios à Bolívia -
essa apanha de todo mundo, parece o nerd do colégio
- o que mantém um certo grau de tensão entre suas diplomacias.
De resto (e notes que foquei no período "de ouro" da América do Sul, em que as
commodities estavam bombando e todos ou quase todos os governos eram "de esquerda" e, portanto, supostamente "amigos do peito"), todas as querelas e concordâncias entre os Países Sul-Americanos permaneceram inabaláveis. Tentativas de "bloco multinacional 'de esquerda'" como a UNASUR fracassaram miseravelmente. Parte eu creio que foi sabotagem NOSSA (mesmo com governo "de esquerda") porque, como disse antes, e agora repito em maiúsculas e negrito para ficar claro de vez (não estou "gritando" contigo, apenas
frisando e te convidando a rebater),
NOSSA MAIOR FORÇA SEMPRE FOI A DESUNIÃO DOS CASTELHANOS! Eles se detestam entre si, na verdade.
E isso é fácil de demonstrar, nem precisas sair da frente do teu computador: vás a um Fórum de Defesa Argentino, escolhas um Moderador argie e te refiras a ele como "mi amigo uruguayo" ou "mi caro chileno" ou ainda "estimado paraguayo" e esperes pra ver no que dá. Ou em um Fórum Chileno, escolhas um Moderador e te refiras a ele como Peruano, Argentino ou Boliviano pra ver. Repito, nem eu nem tu vamos estar por aqui se e quando essa gente COMEÇAR a se entender (e até isso vai ser brabo, pois é e sempre foi do máximo interesse de nossa diplomacia mantê-los sempre tão desunidos quanto possível).
De resto, não te fies muito nisso de "esquerda" ou "direita" quando o índio assume o governo: o Lulla-lau era "de esquerda" e sempre foi legal com o Bush e os caras da Europa Ocidental, fazendo ótimos negócios e sendo deixado em paz; um possível Bolsonaro (ou outro) "de direita" vai ter que sossegar o facho do mesmo jeito, aqui não é a NK, onde o que interessa é a sobrevivência do regime ditatorial, o resto que se foda. Aqui vai ter que conversar com os demais poderes, e vai ter um monte de gente "de esquerda" lá. E com os demais Países também, incluindo as grandes potências. E ninguém irá aconselhá-lo a sair provocando todo mundo, a ponto de unir os castelhanos contra nós, aqui dentro mesmo já será dissuadido de fazer uma asneira dessas.
2 - A "guerra" das Falklands pode ser usada como exemplo de muita coisa, mas não de Conflito Global: os Ingleses não vieram conquistar nada aqui, apenas retomar o que lhes tinha sido afanado
manu militare pelo blefe da junta militar argie. Faltou mencionares uma questão que nos envolveu, que foi a chamada "guerra" da Lagosta, em que belonaves nossas e Francesas ficaram fazendo cara feia umas para as outras mas tudo acabou nas mesas diplomáticas.
Ademais, aquele apanhado por alto de meios militares que elencaste tem valor nulo, ao não levar em conta o que se tem e o quanto disso está operacional, fica tipo "tantos blindados para eles, tantos para nós", como se estivéssemos em um grande tabuleiro plano, não existindo cursos d'água de complexa transposição, os Andes, matas densas, pântanos e terreno rugoso a serem transpostos e a qualidade dos blindados: sério que Sherman do Paraguay vale por M-60A3TTS ou Leo1A5? Que TAM consegue rodar mais do que alguns km depois de cruzar a fronteira sem ser atacado pelos AMX de Santa Maria, RS (só pra começar)? Que T-72B1 da Vuvuzela consegue ir muito além de um pedaço de Roraima, ficando lá até ser exterminado por aviões e mísseis AC?
Ademais, só somar navio e submarino não adianta, quantos conseguem sair do Pacífico (os mais "poderosos" estão lá) e chegar aqui? Olhes o mapa, tem duas maneiras, que já expliquei em outro post: ou tentam cruzar o Canal do Panamá - nem que vaca tussa e a galinha masque chiclete - ou contornar as perigosíssimas águas do extremo sul, onde quem passar - e nem todos conseguirão - vai ter o gelado sul da Argentina (se avançarem mais, estarão ao alcance da FAB (e os argies nem aviões de combate têm para ajudar) como último ponto para abastecer/fazer manutenção, depois é encarar os nossos subs e a FAB, empregando meios defensivos do século passado. O que eles vão fazer quando um Orion lhes mandar um Harpoon no lombo ou um IKL lhes mandar um Mk-48 ADCAP além de berrar
MADRE DE DIÓS, NOS JODEMOS?
Principalmente, sério que EUA, China e até Rússia vão ficar de braços cruzados enquanto a América do Sul inteira pega fogo? E os negócios que eles têm/fazem aqui, como ficam? Não tem como, o Brasil, com crise e tudo, é um
player global em Economia, todo mundo compra de nós, nos vende, tem filiais de empresas aqui. Vão mudar tudo e tomar montes de prejuízos, amargar desemprego, alta das commodities e empresas quebrando só pelo gostinho de ver o circo pegar fogo? Idem quanto aos vizinhos, há muito dinheiro circulando entre eles e nós e entre eles e as citadas grandes potências. Nas buenas, cupincha, não rola...