JL escreveu:Por curiosidade: Hoje Leandro se fosse para produzir aqui qual sistema seria o mais adequado nas nossas limitadas condições de absorver tecnologia, bem como financeiras.
Olá JL.
Na verdade eu não acho que nenhum modelo de míssil produzido hoje no mundo seja realmente a solução mais adequada para o Brasil. Primeiro porque todos sem exceção foram desenvolvidos à partir da base industrial/tecnológica de seus países de origem, usando materiais, componentes e sistemas disponíveis naqueles países mas não aqui. Assim, para trazer a produção para cá, ou boa parte dos míssil teria que ser importado de qualquer forma (ou seja, seria apenas uma prateleira mais enfeitadinha) ou o custo e o esforço necessários para a produção local independente seriam muito maiores do que o realmente necessário.
Em segundo lugar, estes mísseis foram desenvolvidos para atender as especificações de seus próprios usuários, que não necessariamente são as mais adequadas para o Brasil. Assim ficaríamos ou com sistemas caros demais, dos quais não poderíamos obter em quantidades suficientes, ou com desempenho limitado demais, pouco acrescentando ao praticamente nada que temos hoje.
E em terceiro lugar, não acredito na eficiência de um sistema AAe composto por apenas uma única solução, pois a evolução das ameaças hoje criou tantas variações possíveis (bombardeiros de grande porte/altitude, caças-bombardeiros de média/baixa altitude e alta velocidade/manobralidade, aeronaves stealth de ataque, mísseis de cruzeiro, helis de ataque, drones armados, munições guiadas de todos os tipos e etc...) que nenhum sistema sozinho pode ser adequado contra todas elas e suas combinações. Se tivermos algo eficiente contra um ou dois tipos de ação ofensiva, o inimigo simplesmente vai procurar atacar com o terceiro. Assim, um sistema AAe precisa incluir múltiplas soluções e não tentar cobrir todas as ameaças possíveis com apenas uma, da mesma forma que uma unidade qualquer do exército não pode contar apenas com fuzis, ou só com granadas, ou só com canhões e etc..., tem que incluir tudo isso e muito mais.
Além disso, as condições brasileiras são bastante específicas, com uma demanda muito baixa e ainda por cima esporádica por sistemas militares de qualquer tipo, tornando muito difícil justificar o custo e o esforço de se instalar uma linha de produção apenas para o míssil A ou B, apenas para depois de produzir um pequeno lote ela ficar parada sem novas encomendas e praticamente sem possibilidades de disputar o mercado internacional com o fabricante original, que além de deter a tecnologia trabalhará com custos mais baixos (devido à maior escala de produção, ao custo Brasil, à nossa moeda sobrevalorizada e aos próprios royalties que teremos que pagar para ele). Por outro lado, como não temos nenhum inimigo a apontar também não temos nenhuma urgência em nos equipar com qualquer sistemas de armas que seja, e podemos fazer isso com calma e implementando um planejamento adequado.
Considerando tudo isso, na minha opinião a melhor solução realmente prática para o Brasil seria a implantação não de uma linha de fabricação de qualquer modelo de míssil AAe já existente que seja, mas sim de um centro de desenvolvimento de mísseis que se capacite com as competências necessárias para desenvolver continuamente e usando nossa própria base tecnológica/industrial modelos diversos, de todos os tamanhos e tipos que fossem julgados interessantes, alguns dos quais depois seriam colocados em produção (não necessariamente pelo próprio centro de desenvolvimento, pode ser em parceria com outras empresas nacionais) nas quantidades que fossem adequadas para nossas FA's e para exportação.
A ideia seria evitar repetir o modelo da Helibrás, que acaba apenas montando aqui um ou outro dos seus próprios projetos que trás lá de fora, e depois empurra para nossas FA's mesmo que não seja o que elas querem ao mesmo tempo em que bloqueia qualquer possibilidade de desenvolvimento de similares locais (no mínimo com o argumento de que o Brasil não tem recursos para bancar duas fábricas de helicópteros
). O modelo a ser reproduzido seria o da Embraer, inclusive com o foco desta nas exportações. Mas com a diferença de que mísseis são muito mais simples do que aviões modernos (e não tem necessariamente que atender às normas hiper-rígidas obrigatórias para homologação e operação segura dos aviões) e uma proporção muito maior de componentes e sub-sistemas poderia ser desenvolvida e fabricada aqui mesmo em nosso país. E se desenvolvidos dentro de especificações adequadas estes mísseis e sistemas AAe poderiam ter livre penetração nos mercados internacionais.
Esta é a minha opinião. Mas claro, sabemos que isso jamais acontecerá, então venha o que vier lá de fora (Pantsyr, Bamse ou o que for) será apenas mais um paliativo, apenas para fingirmos que temos alguma AAe e empurrarmos mais esta questão com a barriga, como é da nossa tradição. Então pouco se me dá qual modelo venha a ser escolhido para aquisição, seja com ou sem a participação da indústria nacional.
Leandro G. Card