Mundo Árabe em Ebulição
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
É tudo muito fácil de entender. O objetivo dos americanos na Síria não é derrotar o ISIS, mas sim derrubar Assad ou pelo menos picotar a Síria. Manjib pode ficar com quem quiser, seja eles os curdos ou o FSA apoiado pelos turcos. Como estão "libertando" o território das mãos do ISIS, pode ser qualquer um. Só não pode ficar com Assad.wagnerm25 escreveu:Aqui que tu vê a dualidade do discurso americano.augustoviana75 escreveu:Pelo visto, a FSA, com o apoio da Turquia, quer chegar até Manbij:
"Syrian rebel commander says Kurdish forces have not withdrawn from Manbij city, expects confrontation soon".
http://syria.liveuamap.com/en/2016/6-se ... orces-have
O FSA é formado basicamente por Jihadistas apoiados pela Turquia, não muito diferentes do ISIS. Manbij foi duramente conquistada pelos Curdos e seus aliados com apóio aéreo da coalisão liderada pelos EUA.
Agora os EUA (supostamente) fazem vista grossa a essa ação da Turquia e quem vai dominar a cidade com a eventual derrota Curda é um bando igual ao ISIS.
Não dá para entender onde os EUA querem chegar.
@ olha quem deu as caras em Aleppo
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Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
wagnerm25 escreveu:Aqui que tu vê a dualidade do discurso americano.augustoviana75 escreveu:Pelo visto, a FSA, com o apoio da Turquia, quer chegar até Manbij:
"Syrian rebel commander says Kurdish forces have not withdrawn from Manbij city, expects confrontation soon".
http://syria.liveuamap.com/en/2016/6-se ... orces-have
O FSA é formado basicamente por Jihadistas apoiados pela Turquia, não muito diferentes do ISIS. Manbij foi duramente conquistada pelos Curdos e seus aliados com apóio aéreo da coalisão liderada pelos EUA.
Agora os EUA (supostamente) fazem vista grossa a essa ação da Turquia e quem vai dominar a cidade com a eventual derrota Curda é um bando igual ao ISIS.
Não dá para entender onde os EUA querem chegar.
Parece um pouco que a Turquia quis resolver essa situação com um pouco mais de independência. Consultou e aliviou a tensão que tinha com a Rússia, para depois entrar sem ficar preocupada com algum ataque aéreo. Acredito que irá até Al-Bab e Manbij, estacionando por ali. Nesse meio tempo, Eu acho que o Exército Sírio juntamente com a Força Aérea Russa irão investir fortemente para dominar Aleppo de vez. O que vc acha?
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
É tudo muito fácil de entender. O objetivo dos americanos na Síria não é derrotar o ISIS, mas sim derrubar Assad ou pelo menos picotar a Síria. Manjib pode ficar com quem quiser, seja eles os curdos ou o FSA apoiado pelos turcos. Como estão "libertando" o território das mãos do ISIS, pode ser qualquer um. Só não pode ficar com Assad.Bolovo escreveu:
Não dá para entender onde os EUA querem chegar.
@ olha quem deu as caras em Aleppo
[/quote]
Bolovo,
Quem é ele? Pertence a qual Exército?
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Qasem Soleimani é um Major General da Guarda Revolucionária Iraniana. Comandante da Força Quds, responsável por operações extraterritoriais e clandestinas (algo semelhante a o que os Special Forces e a CIA fazem pelo mundo) que suportem a revolução iraniana. É veterano da Guerra do Irã-Iraque e responsável pela assistência e organização do Hezbollah libanês e das forças xiitas no Iraque. É a personificação do apoio iraniano na Guerra Civil do Iraque e na Síria. Organizou e comandou operações vitoriosas tanto na Síria como no Iraque. Também participou em campo do resgate do piloto russo abatido. É considerado por muitos um mestre da espionagem no Oriente Médio.augustoviana75 escreveu:Bolovo,
Quem é ele? Pertence a qual Exército?
“[Qassem] Suleimani is the single most powerful operative in the Middle East today, and no one’s ever heard of him.”
— John Maguire, former CIA officer in Iraq
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Bolovo, me desculpe discordar. Mas se fosse como você diz, o que impediu os EUA de realizarem bombardeios aéreos contra Assad, à época dos ataques químicos (imputados ao governo Sírio pelos EUA) próximos a Damasco, anos atrás?É tudo muito fácil de entender. O objetivo dos americanos na Síria não é derrotar o ISIS, mas sim derrubar Assad ou pelo menos picotar a Síria. Manjib pode ficar com quem quiser, seja eles os curdos ou o FSA apoiado pelos turcos. Como estão "libertando" o território das mãos do ISIS, pode ser qualquer um. Só não pode ficar com Assad
Se eles estivessem só querendo derrubar Assad, bastaria esse motivo. Eles não precisariam invadir a Síria. Bastaria neutralizar completamente a Força Aérea desse país, pra todos as bases distantes do exército Sírio caírem. Impor uma no-fy-zone e atacar alvos em terra do governo. Ele não duraria semanas nessa configuração, lá por 2014, 2015, e Assad cairia.
Creio que eles não fizeram isso pois, por mais que quisessem a queda de Assad, sabiam que uma queda nessas condições refletiria um país em eterno conflito civil, com alto risco de ascensão ao poder de algum movimento Jihadista, muito provavelmente a frente Al Nusra.
Em suma, creio que os americanos estão, no momento, mais preocupados sim com a derrota do ISIS que a queda de Assad. Do contrário, estariam apoiando mais os curdos atacarem Assad em Hasakah, dando mais munição para os rebeldes de Aleppo, etc, e não concentrando quase todos os seus ataques aéreos na Síria contra o ISIS. Parece que pros americanos, a postura de 'Assad deve cair' está muito mais fraca que em anos passados.
Claro, posso estar errado. Gostaria de ouvir sua opinião.
Abraços
César
"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
César,César escreveu:Bolovo, me desculpe discordar. Mas se fosse como você diz, o que impediu os EUA de realizarem bombardeios aéreos contra Assad, à época dos ataques químicos (imputados ao governo Sírio pelos EUA) próximos a Damasco, anos atrás?É tudo muito fácil de entender. O objetivo dos americanos na Síria não é derrotar o ISIS, mas sim derrubar Assad ou pelo menos picotar a Síria. Manjib pode ficar com quem quiser, seja eles os curdos ou o FSA apoiado pelos turcos. Como estão "libertando" o território das mãos do ISIS, pode ser qualquer um. Só não pode ficar com Assad
Se eles estivessem só querendo derrubar Assad, bastaria esse motivo. Eles não precisariam invadir a Síria. Bastaria neutralizar completamente a Força Aérea desse país, pra todos as bases distantes do exército Sírio caírem. Impor uma no-fy-zone e atacar alvos em terra do governo. Ele não duraria semanas nessa configuração, lá por 2014, 2015, e Assad cairia.
Creio que eles não fizeram isso pois, por mais que quisessem a queda de Assad, sabiam que uma queda nessas condições refletiria um país em eterno conflito civil, com alto risco de ascensão ao poder de algum movimento Jihadista, muito provavelmente a frente Al Nusra.
Em suma, creio que os americanos estão, no momento, mais preocupados sim com a derrota do ISIS que a queda de Assad. Do contrário, estariam apoiando mais os curdos atacarem Assad em Hasakah, dando mais munição para os rebeldes de Aleppo, etc, e não concentrando quase todos os seus ataques aéreos na Síria contra o ISIS. Parece que pros americanos, a postura de 'Assad deve cair' está muito mais fraca que em anos passados.
Claro, posso estar errado. Gostaria de ouvir sua opinião.
Abraços
César
A Guerra Civil na Síria seguiu o mesmo roteiro da queda de Gaddafi: influenciado pela "Primavera Árabe", surgiram revoltas populares nas grandes cidades, depois uma repressão violenta e eventual escalada para um conflito civil (até certo ponto incentivada por agentes externos). Depois disso, bastaria uma intervenção ocidental e Assad seria deposto, assim como foi com o Gaddafi com na Líbia, com o Saddam no Iraque. Finalmente um pouco democracia para os sírios e toda aquela história romantizada que conhecemos. Mas sabemos o que aconteceu com a Líbia, que era um país governado por uma ditadura socialista, porém o país com o mais alto IDH da África e, depois de sua "libertação", se tornou um país destruído, em eterna guerra civil (que vai de 2011 até hoje), divido ao meio por um governo em Tripoli e outro em Benghazi, sem contar que hoje é uma terra de terroristas wahhabistas (que não existiam por lá antes) e exportadora de refugiados para a Europa. Ou seja, boa parte do mundo percebeu que a intervenção ocidental na Líbia, que permitiu a queda de Gaddafi, trouxe consequências bastante negativas para o mundo em geral. A Líbia de antes era melhor do que a atual. Tanto que o termo "Primavera Árabe" mudou para "Inverno Árabe". E temeram que o mesmo ocorresse com a Síria. Em 2011, as vésperas de uma intervenção ocidental na Síria, começaram a surgir tais imagens pela internet:
O governo americano sofreu muita resistência, baixa aceitação popular num ataque as tropas de Assad. Diferente do que aconteceu com o Iraque e a Líbia, perderam o "timming" para realizar a sua "Syria Freedom". Mas isso foi em 2011! 2011!!! O Estado Islâmico entrou na Síria apenas em 2013, devido o vácuo de poder deixado pela confusão da guerra civil (estranhamente as posses 'rebeldes' caíram facilmente para o ISIS). Porém, isso não mudou o objetivo geral que é derrubar Assad. Até hoje isso é claro e cristalino, é só ver as declarações dos presidenciáveis, dos senadores, dos altos membros do poder americano e perceberá isso. A própria Hillary fala em no-fly zone até hoje. Assad continua sendo um problema, igual ao ISIS, só que Assad está desde 2011 e o ISIS surgiu em 2013. Diferente da retorica européia, que já aceita um Assad no poder, para conter o ISIS, afinal sofrem efeitos diretos com a guerra: terrorismo e refugiados.
Com a intervenção russa, derrubar Assad se tornou irreal, porém enfraquece-lo ainda é possível. Um Assad forte não é interessante aos americanos. Para isso, é só picotar a Síria em diversos países menores: uma país curdo, um país sunita etc. Além disso, os principais aliados ocidentais no Oriente Médio, em especial Arabia Saudita e Qatar, são um dos principais financiadores do terrorismo wahhabi, entre eles grupos da Frente Islâmica, Al Nusra e o próprio ISIS. E os americanos fazem vista grossa para tudo isso. O maior inimigo do terrorismo sunita wahhabi é, de longe, a população xiita, pois são muçulmanos 'errados', são kafirs. Isso explica, em parte, o empenho do Irã (que é o grande representante xiita no mundo) no conflito no Iraque e na Síria. E também a dedicação do Hezbollah, pois a queda de Assad para um grupo sunita representaria o fim do Líbano. Esse é o grande dilema americano. Combater o ISIS fortalece a posição de Assad, Hezbollah, Rússia e Irã no Oriente Médio. Se os americanos quisessem realmente derrotar o ISIS e os grupos islâmicos na Síria, fariam o mesmo que fazem no Iraque, no Afeganistão, nas Filipinas etc: apoiaria, armaria e daria carta branca para o governo local. O problema é que, no caso da Síria, o governo local é Assad. Se os americanos não querem mais, alias, não podem mais derrubar Assad, por outro lado fazem de tudo para não ajuda-lo.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Concordo, inteiramente, com o Bola Oval, digo, Bolovo...
Só acrescentaria que o interesse na queda ou enfraquecimento de Assad origina-se mais em Israel do que propriamente em Washington. Pelo menos, é o que me parece, levando-se em conta declarações escancaradas de autoridades políticas e militares israelenses de que é preferível um califado do ISIS em Damasco do que a permanência de Assad.
Só acrescentaria que o interesse na queda ou enfraquecimento de Assad origina-se mais em Israel do que propriamente em Washington. Pelo menos, é o que me parece, levando-se em conta declarações escancaradas de autoridades políticas e militares israelenses de que é preferível um califado do ISIS em Damasco do que a permanência de Assad.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Este aqui foi o melhor resumo feito até hoje neste conflito. Assino embaixo e carimbo.Bolovo escreveu:César,César escreveu: Bolovo, me desculpe discordar. Mas se fosse como você diz, o que impediu os EUA de realizarem bombardeios aéreos contra Assad, à época dos ataques químicos (imputados ao governo Sírio pelos EUA) próximos a Damasco, anos atrás?
Se eles estivessem só querendo derrubar Assad, bastaria esse motivo. Eles não precisariam invadir a Síria. Bastaria neutralizar completamente a Força Aérea desse país, pra todos as bases distantes do exército Sírio caírem. Impor uma no-fy-zone e atacar alvos em terra do governo. Ele não duraria semanas nessa configuração, lá por 2014, 2015, e Assad cairia.
Creio que eles não fizeram isso pois, por mais que quisessem a queda de Assad, sabiam que uma queda nessas condições refletiria um país em eterno conflito civil, com alto risco de ascensão ao poder de algum movimento Jihadista, muito provavelmente a frente Al Nusra.
Em suma, creio que os americanos estão, no momento, mais preocupados sim com a derrota do ISIS que a queda de Assad. Do contrário, estariam apoiando mais os curdos atacarem Assad em Hasakah, dando mais munição para os rebeldes de Aleppo, etc, e não concentrando quase todos os seus ataques aéreos na Síria contra o ISIS. Parece que pros americanos, a postura de 'Assad deve cair' está muito mais fraca que em anos passados.
Claro, posso estar errado. Gostaria de ouvir sua opinião.
Abraços
César
A Guerra Civil na Síria seguiu o mesmo roteiro da queda de Gaddafi: influenciado pela "Primavera Árabe", surgiram revoltas populares nas grandes cidades, depois uma repressão violenta e eventual escalada para um conflito civil (até certo ponto incentivada por agentes externos). Depois disso, bastaria uma intervenção ocidental e Assad seria deposto, assim como foi com o Gaddafi com na Líbia, com o Saddam no Iraque. Finalmente um pouco democracia para os sírios e toda aquela história romantizada que conhecemos. Mas sabemos o que aconteceu com a Líbia, que era um país governado por uma ditadura socialista, porém o país com o mais alto IDH da África e, depois de sua "libertação", se tornou um país destruído, em eterna guerra civil (que vai de 2011 até hoje), divido ao meio por um governo em Tripoli e outro em Benghazi, sem contar que hoje é uma terra de terroristas wahhabistas (que não existiam por lá antes) e exportadora de refugiados para a Europa. Ou seja, boa parte do mundo percebeu que a intervenção ocidental na Líbia, que permitiu a queda de Gaddafi, trouxe consequências bastante negativas para o mundo em geral. A Líbia de antes era melhor do que a atual. Tanto que o termo "Primavera Árabe" mudou para "Inverno Árabe". E temeram que o mesmo ocorresse com a Síria. Em 2011, as vésperas de uma intervenção ocidental na Síria, começaram a surgir tais imagens pela internet:
O governo americano sofreu muita resistência, baixa aceitação popular num ataque as tropas de Assad. Diferente do que aconteceu com o Iraque e a Líbia, perderam o "timming" para realizar a sua "Syria Freedom". Mas isso foi em 2011! 2011!!! O Estado Islâmico entrou na Síria apenas em 2013, devido o vácuo de poder deixado pela confusão da guerra civil (estranhamente as posses 'rebeldes' caíram facilmente para o ISIS). Porém, isso não mudou o objetivo geral que é derrubar Assad. Até hoje isso é claro e cristalino, é só ver as declarações dos presidenciáveis, dos senadores, dos altos membros do poder americano e perceberá isso. A própria Hillary fala em no-fly zone até hoje. Assad continua sendo um problema, igual ao ISIS, só que Assad está desde 2011 e o ISIS surgiu em 2013. Diferente da retorica européia, que já aceita um Assad no poder, para conter o ISIS, afinal sofrem efeitos diretos com a guerra: terrorismo e refugiados.
Com a intervenção russa, derrubar Assad se tornou irreal, porém enfraquece-lo ainda é possível. Um Assad forte não é interessante aos americanos. Para isso, é só picotar a Síria em diversos países menores: uma país curdo, um país sunita etc. Além disso, os principais aliados ocidentais no Oriente Médio, em especial Arabia Saudita e Qatar, são um dos principais financiadores do terrorismo wahhabi, entre eles grupos da Frente Islâmica, Al Nusra e o próprio ISIS. E os americanos fazem vista grossa para tudo isso. O maior inimigo do terrorismo sunita wahhabi é, de longe, a população xiita, pois são muçulmanos 'errados', são kafirs. Isso explica, em parte, o empenho do Irã (que é o grande representante xiita no mundo) no conflito no Iraque e na Síria. E também a dedicação do Hezbollah, pois a queda de Assad para um grupo sunita representaria o fim do Líbano. Esse é o grande dilema americano. Combater o ISIS fortalece a posição de Assad, Hezbollah, Rússia e Irã no Oriente Médio. Se os americanos quisessem realmente derrotar o ISIS e os grupos islâmicos na Síria, fariam o mesmo que fazem no Iraque, no Afeganistão, nas Filipinas etc: apoiaria, armaria e daria carta branca para o governo local. O problema é que, no caso da Síria, o governo local é Assad. Se os americanos não querem mais, alias, não podem mais derrubar Assad, por outro lado fazem de tudo para não ajuda-lo.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Dois M60T Sabra atingidos pelo EI:
http://echelon-defense.com/2016/09/07/v ... ern-syria/
Já conto 5 blindados turcos atingidos, 3 destruídos.
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Já conto 5 blindados turcos atingidos, 3 destruídos.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Os Abrams sauditas também estão passando mau no Yemen, a verdade é que os tanques mesmo os modernos só tem valor como arma de choque, de resto sinto que os misseis anti tanque está transformado o conceito de blindados para algo obsoleto.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Com certeza, Clermont.Clermont escreveu:Concordo, inteiramente, com oBola Oval, digo, Bolovo...
Só acrescentaria que o interesse na queda ou enfraquecimento de Assad origina-se mais em Israel do que propriamente em Washington. Pelo menos, é o que me parece, levando-se em conta declarações escancaradas de autoridades políticas e militares israelenses de que é preferível um califado do ISIS em Damasco do que a permanência de Assad.
Para Israel, quanto mais fraco e ocupado estiver Assad e o Hezbollah, melhor. É uma questão de prioridades. Mas não deixa de ser perigoso esse jogo que eles fazem, pois imagina uma Síria sob comando de um grupo sunita (sendo que maioria quer implantar uma lei de sharia por lá)? E por consequência, um Líbano esfacelado? E pior de tudo é que ainda conseguem influenciar muita gente importante em Washington. Pelo menos os europeus, que estão sofrendo efeitos direitos dessa confusão toda, começaram a pular fora dessas ideias malucas.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Olá Bolovo,Bolovo escreveu:César,César escreveu: Bolovo, me desculpe discordar. Mas se fosse como você diz, o que impediu os EUA de realizarem bombardeios aéreos contra Assad, à época dos ataques químicos (imputados ao governo Sírio pelos EUA) próximos a Damasco, anos atrás?
Se eles estivessem só querendo derrubar Assad, bastaria esse motivo. Eles não precisariam invadir a Síria. Bastaria neutralizar completamente a Força Aérea desse país, pra todos as bases distantes do exército Sírio caírem. Impor uma no-fy-zone e atacar alvos em terra do governo. Ele não duraria semanas nessa configuração, lá por 2014, 2015, e Assad cairia.
Creio que eles não fizeram isso pois, por mais que quisessem a queda de Assad, sabiam que uma queda nessas condições refletiria um país em eterno conflito civil, com alto risco de ascensão ao poder de algum movimento Jihadista, muito provavelmente a frente Al Nusra.
Em suma, creio que os americanos estão, no momento, mais preocupados sim com a derrota do ISIS que a queda de Assad. Do contrário, estariam apoiando mais os curdos atacarem Assad em Hasakah, dando mais munição para os rebeldes de Aleppo, etc, e não concentrando quase todos os seus ataques aéreos na Síria contra o ISIS. Parece que pros americanos, a postura de 'Assad deve cair' está muito mais fraca que em anos passados.
Claro, posso estar errado. Gostaria de ouvir sua opinião.
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A Guerra Civil na Síria seguiu o mesmo roteiro da queda de Gaddafi: influenciado pela "Primavera Árabe", surgiram revoltas populares nas grandes cidades, depois uma repressão violenta e eventual escalada para um conflito civil (até certo ponto incentivada por agentes externos). Depois disso, bastaria uma intervenção ocidental e Assad seria deposto, assim como foi com o Gaddafi com na Líbia, com o Saddam no Iraque. Finalmente um pouco democracia para os sírios e toda aquela história romantizada que conhecemos. Mas sabemos o que aconteceu com a Líbia, que era um país governado por uma ditadura socialista, porém o país com o mais alto IDH da África e, depois de sua "libertação", se tornou um país destruído, em eterna guerra civil (que vai de 2011 até hoje), divido ao meio por um governo em Tripoli e outro em Benghazi, sem contar que hoje é uma terra de terroristas wahhabistas (que não existiam por lá antes) e exportadora de refugiados para a Europa. Ou seja, boa parte do mundo percebeu que a intervenção ocidental na Líbia, que permitiu a queda de Gaddafi, trouxe consequências bastante negativas para o mundo em geral. A Líbia de antes era melhor do que a atual. Tanto que o termo "Primavera Árabe" mudou para "Inverno Árabe". E temeram que o mesmo ocorresse com a Síria. Em 2011, as vésperas de uma intervenção ocidental na Síria, começaram a surgir tais imagens pela internet:
O governo americano sofreu muita resistência, baixa aceitação popular num ataque as tropas de Assad. Diferente do que aconteceu com o Iraque e a Líbia, perderam o "timming" para realizar a sua "Syria Freedom". Mas isso foi em 2011! 2011!!! O Estado Islâmico entrou na Síria apenas em 2013, devido o vácuo de poder deixado pela confusão da guerra civil (estranhamente as posses 'rebeldes' caíram facilmente para o ISIS). Porém, isso não mudou o objetivo geral que é derrubar Assad. Até hoje isso é claro e cristalino, é só ver as declarações dos presidenciáveis, dos senadores, dos altos membros do poder americano e perceberá isso. A própria Hillary fala em no-fly zone até hoje. Assad continua sendo um problema, igual ao ISIS, só que Assad está desde 2011 e o ISIS surgiu em 2013. Diferente da retorica européia, que já aceita um Assad no poder, para conter o ISIS, afinal sofrem efeitos diretos com a guerra: terrorismo e refugiados.
Com a intervenção russa, derrubar Assad se tornou irreal, porém enfraquece-lo ainda é possível. Um Assad forte não é interessante aos americanos. Para isso, é só picotar a Síria em diversos países menores: uma país curdo, um país sunita etc. Além disso, os principais aliados ocidentais no Oriente Médio, em especial Arabia Saudita e Qatar, são um dos principais financiadores do terrorismo wahhabi, entre eles grupos da Frente Islâmica, Al Nusra e o próprio ISIS. E os americanos fazem vista grossa para tudo isso. O maior inimigo do terrorismo sunita wahhabi é, de longe, a população xiita, pois são muçulmanos 'errados', são kafirs. Isso explica, em parte, o empenho do Irã (que é o grande representante xiita no mundo) no conflito no Iraque e na Síria. E também a dedicação do Hezbollah, pois a queda de Assad para um grupo sunita representaria o fim do Líbano. Esse é o grande dilema americano. Combater o ISIS fortalece a posição de Assad, Hezbollah, Rússia e Irã no Oriente Médio. Se os americanos quisessem realmente derrotar o ISIS e os grupos islâmicos na Síria, fariam o mesmo que fazem no Iraque, no Afeganistão, nas Filipinas etc: apoiaria, armaria e daria carta branca para o governo local. O problema é que, no caso da Síria, o governo local é Assad. Se os americanos não querem mais, alias, não podem mais derrubar Assad, por outro lado fazem de tudo para não ajuda-lo.
Muito obrigado pela resposta. Foi muito boa.
Queria, não necessariamente discordar, mas tecer alguns comentários. É certo que uma intervenção na Síria teve alguma resistência interna, mas lá por 2011 ainda não havia como saber que a Líbia se tornaria o fracasso que efetivamente se tornou. Não acredito que a mera oposição interna justificasse essa não intervenção, até por que, à época, o Assad estava descendo o chumbo em uma oposição largamente pacífica e secular nos primeiros meses, p que gerou pedidos de intervenção bastante intensos sim.
Porém, na Síria, os grupos armados de oposição não estavam unificados. Não controlavam nenhum território a partir do qual se organizarem (ao contrário da Líbia), sem liderança. Finalmente, para a Síria os EUA não tinham nenhuma autorização da ONU para essa missão, uma vez que Moscou viu que a operação na Líbia apenas foi um pretexto para mudança de regime. Por fim, já nos primeiros meses estava claro que elementos jihadistas estavam começando a operar com a oposição (em grande parte, culpa do próprio Assad, que libertou das prisões centenas e centenas de jihadistas, e gerou a própria profecia dele que a a oposição era um bando de terroristas). Em suma, as condições eram diferentes, e o medo de Washington de armas caírem nas mãos de Jihadistas era muitíssimo mais forte que na Líbia, onde estes grupos estavam, inicialmente, largamente ausentes.
Mas, bem, 2011 passou, e lá por 2013 (acho) ocorreram os ataques químicos. A tal linha vermelha foi cruzada, mas nessa altura não havia ninguém para assumir o país caso Assad caísse. A oposição estava ainda mais islamizada e radicalizada. À época, não haviam russos para impedir nada. Assad não caiu meramente porque Washington sabia que não havia ninguém pra colocar no lugar, e permanece assim até hoje. A grande contradição dessa política é que, para Washington, Assad deveria cair, mas os tais moderados que assumiriam seu lugar não existem. Desta feita, fica-se como está. Nesse ponto que discordo de você que diz que para os EUA Assad deve cair de qualquer forma. Isso já teria acontecido em 2013 ou 2014 se quisessem, com oposição interna ou não.
Os russos, por outro lado, ao menos têm claros quem são seus aliados e quem são seus inimigos. Os americanos são inimigos tanto de Assad quanto daqueles que ele combate, não tem com quem jogar. Só sobraram os curdos, mas estes tem agendas próprias. Logo isso gera uma política externa ambígua, pois não tem meta atingível. Outra curiosidade é essa ajuda aos rebeldes em Aleppo e Idlib. Não sei o quanto dessa ajuda vem da Arábia Saudita e Turquia, ou se existe ajuda direta vinda dos Estados Unidos.
Por fim, para os americanos, certamente é muito pior um cenário de queda de Assad e tomada de poder pelo ISIS que a queda do ISIS e permanência de Assad. Apesar de toda a sua retórica, Assad não é um inimigo sério dos EUA. Atrapalha mais indiretamente, ao permitir bases russas na costa, e também apenas serve de apoio aos inimigos reais de Israel, que são o Hezbollah e eventualmente o Irã. O ISIS, ao contrário, é um inimigo direto, que já realizou atentados medonhos nos EUA e na Europa, e na média com radicalismo bastante superior a todos os demais grupos islamitas.
Uma Síria tomada, mesmo que em parte, pelo ISIS, nada mais é que um novo Afeganistão, a dar guarida a grupos que queiram realizar atentados no Ocidente. Na verdade é até pior que o Afeganistão, pois os talebãs não estavam envolvidos na preparação destes atentados. Já o ISIS, direciona grande parte dos recursos de seu 'estado' para tais ações. Os EUA podem viver com o Assad, ainda que não queiram, mas não com o ISIS.
Quanto a picotar o país, novamente, eles podem até defender isso, mas o único candidato que existe para isso são os curdos, e a Turquia não permitiria tal estado. Talvez os rebeldes do sul da Síria, mais moderados, pudessem tentar algo nesse sentido. Mas até o momento nenhum destes grupos do Sul declarou interesse em declarar independência. Já os do norte do país, são todos islamizados, duvido muito que os EUA reconheceriam como estado um norte da Síria comandado pela Al Nusra. Todos esses grupos do norte declararam querer fundar um Califado, e que eu saiba os americanos nunca apoiaram isso em nenhuma medida.
Bem, de resto concordo com você. Muito boa sua análise. Se falei bobagem, pode discordar.
Abraços!
César
"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
Antoine de Saint-Exupéry
Antoine de Saint-Exupéry