Atualizado em 15/07/2016 19h37
Tentativas de golpe fazem parte da história recente da Turquia; entenda
Exército dissolveu governos eleitos em 1960, 1971, 1980 e 1997.
Nesta sexta, governo denunciou tentativa de golpe militar.
Do G1, em São Paulo
A tentativa de golpe denunciada pelo governo turno na noite desta sexta-feira (15) não é a primeira na história recente do país, que convive há décadas com a tensa relação entre o exército e governos eleitos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Turquia passou por quatro momentos em que o governo democraticamente eleito foi dissolvido pelo exército. Os episódios aconteceram em 1960, 1971, 1980 e em 1997. Em duas dessas ocasiões (em 1970 e em 1997), os militares expressaram seu descontamento com os líderes do país por meio de memorandos. Além disso, outras tentativas de interferência dos militares no governo renderam momentos de tensão no país.
Nesta sexta-feira, militares bloquearam pontes no Estreito de Bósforo, em Istambul, tomaram o controle da TRT emissora estatal de televisão e sobrevoaram a capital, Ancara, com aviões e helicópteros.
O presidente Recep Tayyip Erdogan, que estava de férias no momento do levante, afirmou que os militares por trás da tentativa de golpe estão agindo fora da linha de comando do exército, e convocou a população a tomar as ruas em protesto.
A instabilidade política e a interferência militar no governo atual fazem com que a Turquia seja classificada abaixo da média mundial em índices que avaliam o nível de democracia, liberdade e controle dos países, segundo o projeto de pesquisa Barômetro Democrático, que envolve universidades da Suíça e da Alemanha.
A Turquia moderna foi fundada na estrutura atual em 1923, com o fim do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial. O primeiro presidente, Mustafa Kemal Atatürk, promoveu uma série de reformas que garantiram a secularização e ocidentalização do país. Mas foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial que o sistema político turco adotou a estrutura multipartidária que dura até hoje.
Veja abaixo como aconteceram os quatro golpes militares na Turquia:
1960: o primeiro golpe
A estabilidade política, porém, foi abalada por um golpe em 1960, quando o exército removeu o presidente e o primeiro-ministro do poder, depois de tensões entre o governo e a oposição. O Partido Democrático (DP), que estava no poder, foi removido, após promover reformas que deram mais liberdade religiosa aos muçulmanos. Após a reação dos oposicionistas, o governo decretou lei marcial, e o exércitou interviu, derrubando o presidente, Celal Bayar, e o primeiro-ministro, Adnan Menderes, que acabou executado.
O general Cemal Gursel acumulou as duas funções, e o governo só voltou totalmente às mãos dos civis em 1965, mas o golpe produziu uma série de coalizões instáveis para governar o país que duraram cerca de dez anos.
Mapa Turquia (Foto: Reprodução/)
1971: 'restauração da ordem'
Por causa da instabilidade política, 11 anos após o primeiro golpe de estado, o exército derrubou os governantes eleitos após um memorando assinado pelo chefe do exército, Memduh Tagmac, ao primeiro-ministro Suleyman Demirel, afirmando que governo civil estava levando o país rumo à anarquia. Um governo interino civil foi estabelecido pelo exército, com o objetivo de restaurar a ordem.
1980: militares no poder
Nove anos e 11 primeiro-ministros depois, em 1980, um novo golpe militar foi promovido após meses de deliberação. Os militares declararam lei marcial em parte das províncias turcas e começou a coordenar o retorno do poder às mãos dos civis a partir de 1983, um ano depois da aprovação da nova constituição, que instituiu o período de sete anos para a presidência. Nessa época, o sistema político acabou sob o comando de um único partido, o conservador Partido da Pátria (Anap).
A democracia na Turquia passou por momentos específicos na década de 1990, com algumas regiões do país, principalmente no sudeste, foram submetidas durante anos sob uma legislação semelhante ao de um estado de emergência, motivada pela luta independentista da população curda.
1997: o primeiro 'golpe pós-moderno'
Uma eleição em 1995 promoveu uma coalização entre a Anap e o Partido Democrático (DP) que acabou não dando certo e, em 1997, Salim Dervisoglu, almirante do exército, enviou um memorando ao então primeiro-ministro Necmettin Erbakan, solicitando a sua renúncia. O motivo citado pelo militar era o apoio do governo a políticas religiosas que colocavam em risco a secularidade do país. O pedido foi acatado e um novo governo foi formado. O episódio ficou conhecido como o primeiro "golpe pós-moderno".
Após uma série de anos instáveis devido a problemas econômicos no país, Recep Tayyip Erdogan se tornou, em 2003, o primeiro-ministro da Turquia, eleito pelo conservador Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP). Ele ocupou o cargo até 2014, quando foi eleito presidente do país.
Nesse período, em 2010, uma tentativa de golpe de estado terminou na prisão de mais de 40 oficiais do exército, incluindo coronéis e um general, além de ex-comandantes da força aérea e da marinha. Eles foram acusados de supostamente planejar ações terroristas para instaurar o caos no país com forma de protesto pela chegada do AKP ao poder. Em 2015, porém, todos os suspeitos foram absolvidos no julgamento.
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