DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#61 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jul 04, 2016 3:41 pm

akivrx78 escreveu:A Coreia do Sul e mesmo Taiwan exemplos do artigo eles começaram assim e mesmo hoje eles ainda dependem um bocado de tecnologias básicas desenvolvidas por outros, a diferença é que eles começaram a criar produtos para exportação mesmo utilizando tecnologias de base desenvolvidas por terceiros.
O lucro é pequeno no inicio mas se der certo, depois de crescer se passa para segunda etapa comprar outras empresas que detém tecnologia e começar a investir em pesquisa básica.
A montadora Foxconn taiwanesa que não cria nada comprou a Sharp este ano justamente para dar o próximo passo, investir no desenvolvimento de novos produtos.
Eu li um artigo da Austrália a alguns dias atrás dizendo que eles estão enfrentando problemas similares do Brasil, o boom das commodities acabou e agora pensam em investir em tecnologia para compensar o declínio das exportações.
O conceito de desenvolvimento de uma economia baseada em inovação é este mesmo.

Primeiro se criam as condições adequadas para tornar a economia do país competitiva a nível mundial, pois o país deve ser capaz de vender seus produtos no mercado internacional em igualdade de condições com os demais países. As condições variam muito caso à caso, mas se um país tem alguma desvantagem específica então precisa necessariamente compensar de alguma forma. Por exemplo, a falta de conhecimentos avançados pode ser compensada com o baixo custo da mão-de-obra, se não há recursos naturais pode-se aplicar subsídios para sua aquisição, se o ambiente de negócios é desfavorável controla-se a cotação da moeda, se faltam insumos básicos montam-se empresas estatais ou mistas para produzir aço, energia e etc... que serão fornecidos a preços baixos ao mercado local, e por aí vai. A cesta de "ferramentas" disponíveis é vasta, e cada nação precisa encontrar a que mais se adequa às suas condições, sem ficar presa a receitas importadas e muito menos a ideologias.

Em segundo lugar se dá condições e se necessário incentivos às empresas que pertençam aos setores mais focados em inovação. Isso ocorre principalmente nas indústrias como a de bens de consumo (de brinquedos a vestuário e automóveis), equipamentos, alimentos processados, entretenimento e coisas assim, com valores por unidade relativamente baixos. Indústrias de base (aço, construção, etc...) tem ciclos de inovação muito longos, medidos em décadas, e não adianta muito esperar que sejam inovadoras. Ao contrário do que muitos imaginam, desenvolvimento de produtos sofisticados não depende da produção local de itens de elevadíssima tecnologia, mas sim de criatividade e visão de mercado. Um exemplo clássico é a Embraer, hoje a terceira maior fabricante de aeronaves do planeta e uma das que possui o mais amplo portfólio de produtos, mas que nasceu e cresceu em um país que não possui a capacidade de desenvolver e fabricar quase nenhum dos itens intensivos em tecnologia que vão à bordo de seus aviões (como motores, computadores, sistemas fly-by-wire, atuadores e etc...). O mesmo princípio vale para praticamente quaisquer setores da indústria de bens. E o foco deve ser a venda para o mercado global, o mercado local pode até ser temporariamente reservado para a indústria local (através de diversos mecanismos possíveis), mas isso só pode ser aplicado por tempo bem limitado, tanto para impedir que o empresariado local se torne mal acostumado quanto para evitar atritos com os parceiros comerciais.

Quando as empresas já estiverem trabalhando e acostumadas a disputar o mercado externo a necessidade de novos desenvolvimentos e de pesquisas cada vez mais avançadas virá naturalmente. O governo ainda poderá tentar acelerar as coisas um pouco mais com a montagem de centros de tecnologia acadêmicos e programas de tecnologia aplicada (principalmente em áreas como a militar e a espacial), mas o grosso dos esforços e investimento deve ser mesmo pulverizado entre as empresas com foco em suas próprias necessidades, como acontece nos países mais avançados.

Aqui no Brasil se tenta há décadas sem sucesso o caminho contrário, com o governo tentando incentivar a academia (vide o programa de pós graduação no exterior), mas as condições adequadas de competitividade da economia seguem o caminho exatamente inverso ao que seria necessário. Assim o máximo que se consegue é que as poucas pesquisas feitas aqui acabem favorecendo empresas estrangeiras (que copiam os resultados ou adquirem as patentes), enquanto as nacionais continuam definhando e levando nossa economia com elas para o buraco.


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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#62 Mensagem por akivrx78 » Sex Jul 08, 2016 10:40 am

Gafanhoto com chip no cérebro é o próximo detetor de bombas

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Marinha americana atribui mais de 670 mil euros a uma equipa da Universidade de Washington para desenvolver o novo ciborgue. Protótipo deverá estar pronto em dois anos

A marinha americana deu uma verba de 750 mil dólares (quase 678 mil euros) a uma equipa de investigadores da Universidade de Washington, em St. Louis, nos Estados Unidos, para estes desenvolverem um novo dispositivo de deteção de bombas e de explosivos. E a grande aposta tecnológica é... um gafanhoto ciborgue, com um pequeno transmissor às costas para cumprir as suas missões.

Podia até parecer brincadeira, mas não é. O primeiro protótipo deverá ser testado já daqui a um ano e, dentro de dois, a equipa conta ter operacionais os primeiros gafanhotos "snifadores", para os entregar à marinha de guerra dos Estados Unidos.

Usar o poderoso olfato de animais para detetar explosivos não é novidade. Os cães treinados, por exemplo, conseguem cheirar explosivos ocultos - e droga, sangue, cadáveres... depende da especialidade que se lhes atribuiu -, e a marinha americana há mais de meio século que usa golfinhos e leões-marinhos para detetar e recuperar explosivos no mar ou colocados em casos de embarcações. Essa "tropa especial" esteve, aliás, muito ativa no Vietname e, mais recentemente, também na invasão do Iraque (ver caixa). Mas um gafanhoto ciborgue é outra coisa.

Além de aproveitarem a particular capacidade que os gafanhotos têm de detetar um odor específico num ambiente que pode estar inundado de muitos outros, os cientistas liderados pelo especialista em engenharia biomédica Barani Raman pretendem introduzir no cérebro do animal um dispositivo eletrónico miniatural capaz de traduzir em impulsos elétricos a atividade neural do animal relacionada com o processamento olfativo. Os sinais elétricos serão depois captados por uma antena por um retransmissor, ambos colocados nas costas do gafanhoto, e a informação é em seguida visualizada num computador.

Barani Raman, que dirige na Universidade de Washington um laboratório com o seu próprio nome, o Raman Lab, estuda há anos o sistema olfativo e a forma como os seus sinais são processados em cérebros simples, como são os dos gafanhotos, o que lhe permitiu chegar a um conhecimento muito detalhado de como esse processamento funciona.

No âmbito desse trabalho, o grupo de Barani Raman demonstrou que é possível treinar gafanhotos para reconhecer um odor - que corresponde, afinal, a uma substância química -, mesmo quando ele está misturado no ambiente circundante com muitos outros.

"A biologia conseguiu chegar a uma solução para este problema [a identificação de um cheiro, mesmo quando há outros presentes] e portanto é preciso conhecer os seus princípios fundamentais para podermos imaginar dispositivos de engenharia para a mesma função", explica Barani Raman, citado num comunicado da sua universidade.

Por outro lado, "dado que a natureza chegou a este refinamento, para quê reinventar a roda? Porque não havemos de tirar partido da solução biológica que já existe?", pergunta-se o cientista.

A sua resposta não podia ser mais clara: aproveite-se a solução biológica, ou seja, o gafanhoto, equipe-se o animal com o que lhe falta para o propósito desejado - os implantes cerebrais eletrónicos e a mochila com os transmissores - e faça-se deste inseto ciborgue o mais sofisticado dos "snifadores" bombas e explosivos que já existiram. No caso dos gafanhotos há uma vantagem acrescida, garante Barani Raman. É a rápida recuperação da intervenção para colocar um minúsculo chip no seu minúsculo cérebro. "No dia seguinte estão como se não tivesse acontecido nada", diz o cientista.

A equipa, que inclui Srikanth Singamaneni, engenheiro de materiais, e de Shantanu Chakrabartty, investigador em computação, vai começar por monitorizar a atividade neural de gafanhotos para determinar os sinais correspondentes a cada odor, o que depois vai ser tratado em computador. E será a partir dessa base de dados que se fará o resto.

http://www.csmonitor.com/Technology/201 ... rg-locusts




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#63 Mensagem por akivrx78 » Sex Jul 08, 2016 2:02 pm

Reactor de fusão nuclear está atrasado e cada vez mais caro

08/07/2016 - 08:36

Primeiros testes de fusão nuclear no reactor internacional – em construção em França desde 2010 – só terão lugar em 2025, e não em 2020, como estava inicialmente previsto.

https://imagens0.publico.pt/imagens.aspx/1060890?tp=UH&db=IMAGENS

A sua ambição é grande: materializar a fusão nuclear. Mas a construção do Reactor Internacional Termonuclear Experimental (ITER, na sigla inglesa), em Cadarache, no Sul de França, sofreu novos atrasos importantes – o que agravará ainda mais a factura, que não pára de aumentar, deste projecto que reúne 35 países.

Objecto de um tratado internacional assinado no Outono de 2006, o ITER tem a ambição de reproduzir na Terra a energia do Sol e das estrelas. A esperança é que a energia nuclear se torne uma das energias do futuro, dando assim ao mundo uma nova forma de energia “limpa” e “quase ilimitada”. No entanto, tem sido alvo de críticas recorrentes dos ecologistas, que o vêem como um “sorvedouro financeiro” e “uma miragem científica”.

Neste momento, um enorme tokamak – a câmara de confinamento magnético onde se fará a fusão dos núcleos de duas formas de hidrogénio, deutério e trítio – encontra-se em construção em França, em Saint-Paul-lez-Durance (Bouches-du-Rhône).

O director-geral da Organização ITER, o francês Bernard Bigot, à frente deste projecto desde Março de 2015, levou a cabo uma averiguação dos prazos e dos custos. A magnitude dos atrasos e da derrapagem orçamental surpreendeu os parceiros do projecto.

Há um atraso “grosso modo de cinco anos”, disse à agência noticiosa AFP Bernard Bigot, de 66 anos, antigo responsável pelo Comissariado para a Energia Atómica (CEA) francês. O teste para a produção do primeiro plasma – gás quente electricamente carregado – no reactor “far-se-á em 2025 e não em 2020”, como estava programado. “O reactor atingirá a sua potência plena em 2035 e não em 2025-2027 como previsto.” Será nessa altura que saberemos se a fusão nuclear é tecnicamente controlável e economicamente interessante.

Este novo calendário, apresentado por Bernard Bigot, foi “validado” a 16 de Junho pelo Conselho do ITER, onde têm assento os representantes dos parceiros do projecto. “O calendário anterior era irrealista. Agora temos um calendário ambicioso mas credível.”

O ITER é financiado por sete parceiros – a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia, o Japão, a China, a Índia e a Coreia do Sul. A Europa financia 45% do investimento público do projecto (os 28 Estados-membros da União Europeia mais a Suíça).
O bastão do peregrino

Corolário dos atrasos acumulados: o custo do ITER tem disparado. Estimado à partida em 5000 milhões de euros, já ultrapassou “os 14.000 milhões de euros para o período 2007-2020”, segundo Bernard Bigot. Para o período de 2007 a 2035, está agora avaliado em 18.600 milhões de euros, o que é mais do triplo das estimativas iniciais.

Os parceiros vão assim ser chamados a pôr 4000 milhões de euros públicos nos próximos dez anos e depois outros 600 milhões de euros para ir até 2035, especificou o director-geral do reactor. Para a Europa, isto representa um custo adicional de 2000 milhões de euros. A França, que acolhe o ITER, deverá entrar com 20% destes encargos (400 milhões de euros) e a Alemanha com 13% (260 milhões de euros).

Os representantes dos sete parceiros, que estiveram no Conselho do ITER de Junho, “terão de convencer, até ao final do ano, as suas autoridades políticas e financeiras que é do interesse comum validar este custo adicional”, sublinha Bernard Bigot. Ele mesmo vai pegar no “bastão de peregrino” e levar a cabo um trabalho de explicação, em nome da “clareza e transparência”, junto de diferentes países.

“O projecto começou com o entusiasmo de uma cooperação internacional e o objectivo político era obter o primeiro plasma dez anos depois do início. Mas ninguém na altura teve o cuidado de estabelecer claramente a sequência de todas as actividades a realizar e os prazos indispensáveis do ponto de vista industrial.”

Um grupo de peritos independentes esteve a inspeccionar as obras, que começaram em 2010, e “ficou convencido de que não as podíamos fazer mais depressa e com menos custos”.

O ITER também tem uma organização muito complexa. O projecto é em grande parte financiado “em géneros”, com equipamentos desenvolvidos por cada um dos 35 países. Depois, é preciso montar este gigantesco puzzle, por vezes quase ao milímetro. “Agora toda a gente aceita trabalhar de maneira integrada.”
E depois do “Brexit”?

Agora que o Reino Unido votou em referendo a sua saída da União Europeia, esta é mais uma preocupação para o ITER? Bernard Bigot mostra-se confiante de que o Reino Unido vai querer continuar a participar neste projecto, mesmo depois do “Brexit”.

“O compromisso da Grã-Bretanha no ITER é abrangido pelo tratado Euratom, que institui a Comunidade Europeia de Energia Atómica”, disse. Esse compromisso é distinto do tratado que criou o Mercado Único Europeu, ainda que ambos tenham sido assinados em Roma a 25 de Março de 1957.

A Comunidade Europeia de Energia Atómica não se fundiu com a União Europeia e tem assim uma personalidade jurídica distinta, embora partilhando as mesmas instituições. “Normalmente, os membros do tratado Euratom não têm o direito de sair, excepto por unanimidade”, explica Bernard Bigot. “Penso que a Grã-Bretanha, que está interessada na fusão nuclear, quer permanecer como parceiro”, acrescenta, lembrando que em território britânico existe o Joint European Torus, ou JET, um equipamento de investigação em fusão nuclear fruto de uma colaboração europeia. “[Com a sua saída da União Europeia], a Grã-Bretanha pode manter-se parceira do ITER, nas mesmas condições do que a Suíça, sob o chapéu do Euratom.”

Sinal da sua “confiança” de que o Reino Unido não vai deixar o ITER, Bernard Bigot assinou a 27 de Junho – apenas quatro dias depois do referendo britânico – um contrato para dez anos que envolve uma empresa inglesa. No valor de 174 milhões de euros, este contrato encarrega um consórcio internacional – liderado pela Amec Foster Wheeler, uma sociedade de engenharia londrina, em parceria com a Assystem (França) e a Kepco (Coreia do Sul) – de coordenar a montagem das peças do tokamak. A data de assinatura “não foi um acaso”: “Simbolicamente, não quis mudar nada no nosso calendário, porque a minha convicção é que a Grã-Bretanha vai ficar [no ITER].”

https://www.publico.pt/ciencia/noticia/ ... ro-1737569




Editado pela última vez por akivrx78 em Sex Jul 08, 2016 2:21 pm, em um total de 1 vez.
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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#64 Mensagem por Túlio » Sex Jul 08, 2016 2:11 pm

Nem sabia que ainda tinha gente estudando fusão nuclear para produzir eletricidade; sempre li que o custo-benefício é baixíssimo, eis que o reator gasta quase toda a eletricidade gerada para manter uma espécie de campo de força capaz de conter uma explosão do núcleo. O que mudou nisso?




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#65 Mensagem por LeandroGCard » Sex Jul 08, 2016 2:25 pm

Túlio escreveu:Nem sabia que ainda tinha gente estudando fusão nuclear para produzir eletricidade; sempre li que o custo-benefício é baixíssimo, eis que o reator gasta quase toda a eletricidade gerada para manter uma espécie de campo de força capaz de conter uma explosão do núcleo. O que mudou nisso?
Por enquanto a eficiência é baixíssima mesmo, em todos os modelos já testados mal se consegue produzir energia equivalente à que se gasta para produzir a fusão.

Mas o potencial d processo é gigantesco, então existe sim bastante gente trabalhando nisso em várias frentes tentando descobrir uma forma de aperfeiçoar o processo:

http://www.sciencemag.org/news/2015/10/ ... ear-fusion
http://www.extremetech.com/extreme/1921 ... n-10-years
https://en.wikipedia.org/wiki/National_ ... n_Facility
https://en.wikipedia.org/wiki/ITER
https://en.wikipedia.org/wiki/Bubble_fusion

Imagina-se que resultados positivos (produção de energia muito maior que o consumo) sejam obtidos nas próximas décadas. Mas de fato por enquanto as pesquisas mostram muito mais as dificuldades do processo do que soluções para alcançar o sucesso. É bem possível que os avanços em reatores de fissão de terceira e quarta geração auto-regeneradores acabem reduzindo a importância dos desenvolvimentos em fusão nuclear, e joguem sua entrada em operação comercial para o próximo século.


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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#66 Mensagem por Túlio » Sex Jul 08, 2016 2:30 pm

Pois é, a fissão é um processo (hoje em dia) bastante seguro e ainda com muito espaço para aperfeiçoamento; apostar as fichas em algo que até agora não mostra sinais de avanço significativo me parece mais uma questão acadêmica do que prática. Tipo continuar a busca pelo motoperpétuo...




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#67 Mensagem por akivrx78 » Sex Jul 15, 2016 9:11 am

Brasil deve liderar América Latina em tecnologia, dizem especialistas
Gustavo Sumares 14/07/2016 14h07 Brasil finanças gestão

"Os países do Norte já estão muito na frente. Temos que andar juntos para poder alcançá-los". Essa é a opinião de Rubén Delgado, presidente da Softex, sobre a posição atual da América Latina no mercado mundial de tecnologia. A Softex é uma agência vinculada ao estado brasileiro que tem o objetivo de ajudar empresas de tecnologia do país a vender seus produtos no exterior.

A fala de Delgado aconteceu durante o evento Brasil Tecnológico, em Lima, capital do Peru, que aconteceu nessa semana, entre os dias 11 e 13 de julho. O evento foi composto por uma série de palestras e rodadas de negócios entre empresários brasileiros e empreendedores peruanos que tinham como objetivo mostrar aos peruanos as soluções de tecnologia que o Brasil pode oferecer. E são muitas: segundo Delgado, o Brasil já é o líder incontestável desse mercado, e deve se manter assim por mais tempo.

Conhecendo os vizinhos

O Brasil Tecnológico foi promovido pela Apex Brasil (Agência brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). A Apex dialoga com as associações setoriais da indústria brasileira, como a já mencionada Softex, a ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos Médicos e Odontológicos) e a ABIMAQ (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) para ajudar as empresas brasileiras a chegar a novos mercados.

Segundo Rafael do Prado Ribeiro, Coordenação de Promoção de Negócios da Apex, o objetivo do evento não é apenas fechar negócios (embora a Apex espere gerar mais de R$ 60 milhões com o evento), mas também fortalecer a imagem do Brasil como um líder regional em tecnologia. Há muitos dados para justificar essa imagem: “A América do Sul é a região que mais importa produtos de alto valor agregado do mercado brasileiro. 70% do que a gente vendeu aqui foram produtos desse tipo”, diz.

Rafael também traz um dado interessante sobre as exportações brasileiras: embora elas tenham caído ligeiramente no último ano, o valor agregado dos produtos exportados aumentou. Isso pode parecer apenas um "prêmio de consolação", mas é muito mais que isso: é um sinal que a economia do país está se desenvolvendo a ponto de deixar de depender de commodities (produtos primários cujo preço varia muito, como itens agrícolas e minérios).

Superando essa dependência, o Brasil pode passar a focar também na exportação de produtos mais sofisticados, que trazem mais dinheiro e desenvolvimento ao país. “Você tem uma queda maior nas commodities porque o mundo desacelerou, mas o valor agregado continua crescendo nas exportações”, afirma Rafael.

Ja há uma série de empresas de tecnologia brasileiras com presença forte na América Latina. Uma delas é a Totvs, que oferece softwares de gestão empresarial. A Totvs já possui 25 escritórios fora do Brasil, além de um laboratório de pesquisa em San Francisco, nos EUA. Segundo o diretor comercial da região andina, Douglas Medeiros, os mercados externos respondem por cerca de 30% da receita da empresa.

Essa não é a única vantagem que eles trazem. Segundo Medeiros, estar presente em outros países também é estimulante para a Totvs por outros motivos: “O mercado internacional é algo que traz um desafio constante para nós de nos adaptarmos a novas culturas. Ele nos tira da zona de conforto e impede a estagnação da empresa, o que é bastante interessante”, diz.

Saindo do berço

Chegar além das fronteiras brasileiras, contudo, foi um longo processo. A Totvs deu início a ele entrando na Argentina em 1997. Naquele momento, o país estava no meio de uma aguda crise econômica, mas mesmo assim a empresa se aventurou por lá. Os resultados foram positivos e, em 2003, a empresa se estabeleceu também no México. Mais recente, o escritório de Bogotá, onde Medeiros trabalha, atende aos paises que ficam próximos da Cordilheira dos Andes, ajudando a empresa a adequar suas ofertas às demandas regionais desses países.

O caso da Totvs evidencia que esse processo exige anos de esforço e planejamento, e muitas empresas já estão começando esse caminho. Uma delas é a Cliever, fundada e dirigida por Rodrigo Krug, que se especializa na produção e venda de impressoras 3D de alta precisão para empresas.

As empresas usam as impressoras da Cliever na fase de prototipagem: antes de decidir sobre o design final de um produto, podem imprimir diversos testes para decidir com mais assertividade sobre a melhor maneira de fabricar em massa. Essa técnica é usada em empresas de todos os portes - bem como as impressoras da Cliever. Embraer, Intelbras e GM são alguns dos clientes da empresa.

O fundador da empresa conta que já tomou muitos "tapas na cara" na tentativa de levar seus produtos para além do Brasil. Um deles veio quando Krug participou de uma missão de negócios no Reino Unido: “Na época, meu produto não era competitivo. O produto chinês chegava lá a uma fração do meu preço, então foi um choque”, conta.

Hoje, contudo, mesmo empresas da China chegam a preferir suas impressoras às concorrentes chinesas por um motivo muito simples: qualidade. Ainda que as chinesas tenham preços mais competitivos, Krug opina que o nível de precisão de seus produtos, aliados à sua confiabilidade, faz com que seus clientes vejam a diferença de preço como o reflexo natural de um maior valor agregado no produto - e um investimento plenamente justificável.

O último produto lançado pela Cliever é uma impressora que utiliza a tecnologia de estereolitografia para imprimir peças com precisão de até 30 mícrons - menos que um fio de cabelo. Isso abre outros mercados para a empresa, como o de joias, medicina e odontologia. Alguns dos produtos impressos com essa tecnologia podem ser vistos na imagem abaixo:

Reprodução

A Audax também vem seguindo esse mesmo caminho de internacionalização. A empresa fabrica módulos de LED para montadores de luminárias: os LEDs oferecem uma série de vantagens sobre as tradicionais lâmpadas, como uma maior eficiência energética. Com três anos e meio de mercado, a Audax iniciou suas exportações em maio durante missões empresariais no Paraguai e na Bolívia, e mira agora no mercado peruano, que é mais desenvolvido que esses.

“O mercado precisa ter uma maturidade já estabelecida para oferecer esse tipo de produto que nós oferecemos”, explica Victor Malassise, diretor administrativo da empresa. Por esse motivo, o mercado peruano seria ainda mais adequado para os negócios da Audax. A empresa chegou a contratar uma representante peruana para ajudar a desenvolver esse mercado, assim como o resto da América Latina

Logo aqui do lado

De acordo com Juarez Leal, coordenador de internacionalização da Apex, há diversos motivos para que empresas brasileiras prefiram a América Latina na hora de investir em novos mercados. Um deles é a proximidade, tanto física quanto cultural. O fato de que os países da América Latina guardam muitas semelhanças sociais e culturais faz com que seja mais fácil para as empresas brasileiras adequarem seus produtos a esse mercado.

Trata-se de uma situação que dá ao Brasil uma importante vantagem sobre os Estados Unidos e a Europa nesse mercado Outra vantagem é a proximidade geográfica, que deixa os clientes mais tranquilos. Conforme aponta Juarez, é mais fácil resolver um problema se o seu fornecedor está a apenas quatro horas de vôo de distância do que se ele estiver do outro lado do mundo. E muitas vezes as empresas compradoras de tecnologia estão dispostas a pagar mais caro para ter esse recurso.

Mesmo empresas que queiram eventualmente chegar aos EUA ou à Europa se beneficiariam, segundo Juarez, de começar pela América Latina. Uma analogia com a qual Juarez concorda é com o mundo do futebol: os times primeiro precisam vencer o campeonato brasileiro, depois a Libertadores e, só então, o mundial. “Se você não faz isso, é como se você estivesse do campeonato brasileiro para brigar na Champion’s League”, diz.

Assim como a Totvs, a CCK também fez esse caminho. A CCK produz e vende sistemas de gerenciamento de energia para grandes empresas e indústrias, como a Vale, a Volkswagen, a GM e a Ambev. Seus sistemas podem gerar a seus clientes economias mensais de dezenas de milhares de dólares na conta de luz.

Cesar Lapa, diretor comercial da CCK, também aponta outra dificuldade de se entrar nos chamados “mercados do norte” (Estados Unidos e Europa): barreiras de mercado, tanto tarifárias quanto de outros tipos: “para vender um produto como o nosso na Europa, ele precisa ter aquele selo ‘CE’. E aquele selo é uma barreira de mercado: é difícil de conseguir e o custo é alto”.

O mercado em que a CCK atua, segundo Lapa, ainda é muito dominado por empresas europeias, mesmo na América Latina. Alguns de seus concorrentes na região já têm mais de cinquenta anos de mercado, o que lhes dá uma vantagem. Mas isso não chega a ser motivo para desânimo: “Na América do Sul, nós somos os únicos a oferecer. Em geral, os países da América do Sul não têm empresas fabricando com tecnologia própria, e no Brasil a gente tem”.

Mercado em desenvolvimento

Não foi á toa que o evento para promover exportações brasileiras de tecnologia ocorreu no Peru: o país é um dos que mais se desenvolve na América Latina. Em 2016, por exemplo, quando a projeção para o PIB da região é uma queda de 0,5%, a economia do Peru tem uma projeção de crescimento de 3,7%.

E de acordo com Jorge Valverde Camán, especialista em investimentos da agência ProInversión de promoção a investimentos, esses não são os únicos dados para atrair investidores ao país. O Peru tem crescido constantemente na última década, mais que 5% na maioria dos últimos anos e, em um deles, mais que 9%.

O país ainda tem uma das menores dívidas públicas da região (em porcentagem do PIB), e uma continuidade de políticas públicas de fomento a investimentos estrangeiros desde a década de 90. Em dez anos, o número de turistas que o Peru recebe dobrou, e a produção de energia no país cresceu mais de 80%. Esses dados, entre outros fatores, fazem com que o país tenha uma classificação ainda melhor que o Brasil com relação a segurança de investimentos estrangeiros.

Camán ainda ressalta que o Brasil pode ser um parceiro importante no desenvolvimento de setores que o Peru considera essenciais, como energia, alimentos, mineração e hidrocarbonetos (petróleo e gás natural). Há também, para as empresas brasileiras, a vantagem de que 55% dos produtos que entram no país não sejam tarifados, o que lhes dá um preço mais competitivo.

Desafios

Mesmo com essas vantagens, o Brasil ainda encontra algumas dificuldades em explorar todo o potencial mercadológico que a região oferece. Segundo Delgado, o presidente da Softex, o país ainda não valoriza suficientemente (seja em termos de investimentos, seja em termos culturais) as pessoas que querem jogar suas ideias no mercado. “Nós temos técnicos, nós temos ideias, nós sabemos fazer negócios; o que nos falta é empreendedorismo”, diz.

Na opinião de Juarez Leal, da Apex, é necessária uma política de estado que invista nessa valorização. Parte dessa política seria uma atenção especial a educação, com foco especial em tecnologia. “Para eu ter 200 mil programadores, eu preciso formar 200 mil engenheiros de TI. Isso não se faz em um ano, se faz em 4, 5 ou 6: um governo só não consegue, tem que ser uma política do Estado”.

Exemplos de países que fizeram essa aposta, segundo Leal, são Finlândia, Islândia e Coreia do Sul. “A Coreia fez uma política de 20 anos para levar pessoas para fazer mestrado e doutorado, e essas pessoas voltaram, e a educação delas se refletiu no sucesso de empresas como a Samsung e a LG”, defende.

Douglas Medeiros, da Totvus, também vê com clareza um problema de falta de mão-de-obra na área. A escassez de engenheiros e técnicos especializados nessa área “está virando um fator limitador” para o crescimento do setor de tecnologia no Brasil. “Algumas pessoas saltam de uma empresa pra outra mas são sempre as mesmas. Quando a gente olha para a base da pirâmide de pessoas sendo formadas em TI, Sistemas e Processos, falta bastante para a gente ainda”, diz.

Virando o jogo

Medeiros, contudo, ainda acredita que a formação de pessoas com essa capacitação deve se acelerar no futuro próximo. “A partir do momento que a gente se entender como um país exportador de software, é muito provável que toda essa cadeia de desenvolvimento aconteça de forma mais natural”, opina.

Rafael Ribeiro, da Apex, também vê com bons olhos o momento atual do setor de tecnologia no Brasil. “É um momento de crescimento, cada vez mais as empresas investem em inovação buscando mais competitividade, e tudo isso junto dá pro Brasil uma condição de trilhar um caminho ao sol em fornecer tecnologia para a América Latina”.

O coordenador de promoção de negócios da Apex ainda lembra que o Brasil já é líder mundial de tecnologia em alguns setores. Alguns deles são o agronegócio (graças em parte ao investimento em etanol), linhas financeiras (“hoje os bancos do Brasil têm os sistemas mais avançados do mundo”, diz) e aeronáutica (dando como exemplo a Embraer).

“Não lhe é dado ao Brasil o direito de deixar de ser lider na América Latina”, opina Rubén Delgado, da Softex. Delgado defende a tecnologia como ferramenta de mudança dos países, e acredita que o país pode servir de locomotiva para alavancar o desenvolvimento tecnológico da região. “O Brasil tem que de uma vez por todas perceber que é o líder da região. O país já é líder em tratores, já é líder em aviões, mas tem que ser líder em tudo”, defende.

http://olhardigital.uol.com.br/fique_se ... stas/60274
O esquema da Coreia do Sul não foi tão simples assim não, somente ter diploma sem experiência não resolve nada.

http://defesabrasil.com/forum/viewtopic ... tart=19080
O Borne já explicou sobre a cenoura e o chicote, mas tem muito mais detalhes para a engrenagem funcionar, na Coreia do Sul existe uma alta taxa de desemprego alta para jovens mesmos os formados em universidades famosas no exterior.

Um dos grandes segredos da indústria de eletrônicos, naval e automobilística coreana foi contratar mão de obra especializada para aprender como seus rivais produzem e desenvolvem seus produtos e eles não mediram esforços para alcançar seus objetivos chegavam a pagar 5 vezes mais por mês dando casa, carro e até motorista particular para conseguir ter a mão de obra especializada nos setores que lhe interessavam, depois de ter absorvido o conhecimento se da um pé na bunda no profissional.

Mesmo hoje a pesquisa acadêmica na Coreia do Sul não é nada espetacular, tanto é que a meta deles agora é ampliar P&D para diminuir a porcentagem de pagamento de patentes a outros países, ampliar mais a rentabilidade e logicamente se manter líder nos setores.

A Singapura e Taiwan também utiliza muito este sistema de pagar salários bem acima da media para atrair profissionais com experiência, no inicio pode não ser muito lucrativo mas mas o retorno do investimento é muito mais rápido e menos arriscado, porem no caso dois, diferente dos coreanos eles apenas colocam metas para estimular o profissional.

Eu vi uma reportagem de tv japonesa onde as grande empresas estavam recrutando estudantes dentro de uma universidade na Índia mesmo antes de se formarem, me impressionei com um estudante que era disputado pela, Google,Intel,Microsoft,Hitachi,Sony,Siemes,Boeing e Samsung o garoto de 24 anos optou pela proposta de emprego da Google.

Educação ajuda muito mas somente isto não vai possibilitar a revolução tecnológica.




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#68 Mensagem por LeandroGCard » Sex Jul 15, 2016 10:34 am

akivrx78 escreveu:O esquema da Coreia do Sul não foi tão simples assim não, somente ter diploma sem experiência não resolve nada.

http://defesabrasil.com/forum/viewtopic ... tart=19080
O Borne já explicou sobre a cenoura e o chicote, mas tem muito mais detalhes para a engrenagem funcionar, na Coreia do Sul existe uma alta taxa de desemprego alta para jovens mesmos os formados em universidades famosas no exterior.

Um dos grandes segredos da indústria de eletrônicos, naval e automobilística coreana foi contratar mão de obra especializada para aprender como seus rivais produzem e desenvolvem seus produtos e eles não mediram esforços para alcançar seus objetivos chegavam a pagar 5 vezes mais por mês dando casa, carro e até motorista particular para conseguir ter a mão de obra especializada nos setores que lhe interessavam, depois de ter absorvido o conhecimento se da um pé na bunda no profissional.

Mesmo hoje a pesquisa acadêmica na Coreia do Sul não é nada espetacular, tanto é que a meta deles agora é ampliar P&D para diminuir a porcentagem de pagamento de patentes a outros países, ampliar mais a rentabilidade e logicamente se manter líder nos setores.

A Singapura e Taiwan também utiliza muito este sistema de pagar salários bem acima da media para atrair profissionais com experiência, no inicio pode não ser muito lucrativo mas mas o retorno do investimento é muito mais rápido e menos arriscado, porem no caso dois, diferente dos coreanos eles apenas colocam metas para estimular o profissional.

Eu vi uma reportagem de tv japonesa onde as grande empresas estavam recrutando estudantes dentro de uma universidade na Índia mesmo antes de se formarem, me impressionei com um estudante que era dsputado pela, Google,Intel,Microsoft,Hitachi,Sony,Siemes,Boeing e Samsung o garoto de 24 anos optou pela proposta de emprego da Google.

Educação ajuda muito mas somente isto não vai possibilitar a revolução tecnológica.
Aqui no Brasil a população em geral, os governantes e mesmo muitas pessoas em cargos importantes no setor privado em áreas ligadas à tecnologia e à indústria tem a visão de que basta um diploma para que todos os problemas sejam resolvidos. Com um canudo de uma boa escola debaixo do braço o "especialista" poderia resolver qualquer problema que aparecesse imediatamente, como se fosse um verdadeiro professor pardal.

Isso não poderia estar mais longe da realidade. Mesmo nas melhores universidades do mundo o que se ensina ou é algo que já está no mercado há muitos anos ou mesmo décadas (principalmente na graduação) ou algo que ainda está sendo desenvolvido e pode até jamais chegar a ter aplicação comercial (geralmente na pós-graduação). O objetivo praticamente nunca é desenvolver alguma coisa que dê realmente $$$ (que é o que interessa às empresas), mas sim preparar o estudante para quando chegar no companhia que afinal o contratar poder absorver da melhor maneira possível os conhecimentos que ela já utiliza e ter a capacidade de a partir daí visualizar e desenvolver coisas novas. Mas isso só obtém com a prática e a experiência. Por isso esta história de pagar o que for para trazer profissionais já experientes em seus setores, e não ficar apenas dependendo de pessoal que mal saiu da academia. Não importa o nível de estudo e a escola de origem, e sim o que o camarada já viu fazer e fez ele mesmo dentro de um laboratório industrial ou de um centro de desenvolvimento de produtos de alguma empresa. Ninguém nem sabe que a própria Embraer, de longe o maior exemplo brasileiro na área tecnológica/industrial, começou assim, trazendo um estrangeiro com experiência para projetar AQUI seu primeiro avião.

E esta visão academicista tem impactos muito profundos na manutenção do atraso tecnológico e industrial brasileiro. Desde a seleção de pessoal para os centros de pesquisa e empresas do governo, onde o critério de seleção é a formação acadêmica e provas teóricas e não a experiência no ramo, até a dificuldade da maioria das empresas privadas em criar seus departamentos de pesquisa e desenvolvimento, pois elas não sabem sequer que tipo de profissional precisam buscar já que nem tem ideia da diferença de atribuições entre projetistas, engenheiros e pesquisadores (não compreendem como eles devem trabalhar juntos, uns complementando os outros). Outra consequência gravíssima é a falta de continuidade dos programas. O mais comum é que assim que se atinjam os primeiros objetivos traçados e o produto desejado esteja pronto para produção se interrompa todo o trabalho, muitas vezes mandando até embora a equipe responsável por aquele desenvolvimento já que não se vê valor na experiência adquirida mas apenas no resultado já obtido, e se passe a tentar fabricar aquilo pelo resto da eternidade (a palavra obsolescência poderia ser retirada dos dicionários brasileiro e quase ninguém daria falta :roll: ). Depois, quando o produto não é mais vendido para ninguém porque existe coisa muito melhor da concorrência no mercado, ou a empresa fecha ou tenta começar tudo de novo, do zero :? .

Existem até uma ou outra exceção a esta regra (a Embraer é o exemplo mais conhecido), mas no geral é assim que pensa a sociedade brasileira como um todo, do gari da esquina ao presidente, passando pelos principais empresários e entidades patronais. Vai ser muito difícil resolver este problema aqui no Brasil.


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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#69 Mensagem por Bourne » Sex Jul 15, 2016 11:59 am

Existe no Brasil uma parcela que define políticas de inovação e tecnologia, supostamente com doutorado e entende da área.

O problema é que não tem noção como definir política públicas par ao setor, ignoram a particularidade de cada setor e o papel do ambiente burocrático e institucional. Ai eles criam a fantasia de que é só dar dinheiro subsidiado, exonerações fiscais diversas e proteção, formar a grande empresa nacional que as coisas vão bombar. Aliás, os mesmos que estão fazendo campanha para ter um ministério para inovação como forma de valorizar a área.

Esquecem que existe a estrutura de decisões na firma e que a inovação é o processo fim para sobreviver a concorrência e ser competitivo. Se a concorrência é baixa como característico de um país fechado em relação ao comércio exterior e integração internacional. Somados as áreas mais intensivas em tecnologia e inovação serem reguladas para não haver competição como, por exemplo, infraestrutura e compras públicas. Por que inovar? Não motivo para inovar. Já que não precisa se preocupar em ser competitivo para sobreviver.

Existem estudos internacionais e nacionais que mostram que as firmas mais integradas ao comércio exterior, atuam em setores mais que exista mais competição e a tecnologia seja um diferencial investem mais em inovação em busca de eficiência e oferecer um diferencial. Nesse ambiente que criam a estrutura para inovar e absolver o que é feito fora da firma. Esse tipo de firma e, por extensão, as instituições de pesquisa e ensino que elas apoiam, que trazem doutores, mestres e profissionais experientes estrangeiros para fazer a coisa andar para inovação. E paga e muito bem. Parece que os formuladores Br huehue esquecem isso.

É claro que existem casos de sucesso como, por exemplo, embrapa e outros laboratórios regionais na agropecuária. No entanto, o ambiente do setor é competitivo e precisa reduzir custos para viabilizar produção, reduzir perdas, elevar qualidade e competir no mercado internacional. E acaba forçando interação entre setor produtivo e pesquisa. Além disso, considerando o setor agrícolas, universidades públicas (universidade estadual de ponta grossa, universidade estadual de londrina, universidades estadual de maringá, universidade federal de lavras, Universidade federal de Viçosa) ganharam muito dinheiro e desenvolveram pesquisas para resolver as necessidades do setor agroindustrial. Além de terem uma interação muito forte com desenvolvimento local.

Agora no setor aplicado de saúde e engenharia não decola a mesma interação. Por que será? Apesar de muitas universidades cresceram a partir da década de 1960/1970 para ter como forma contribuir para setor industrial e alta tecnologia pelos profissionais formados e pesquisas aplicadas. Por exemplo, os casos da Unicamp e UFSC e, recentemente, a UFABC. Hoje são centros de excelência, mas a interação não decola no ramo industrial. Tudo bem que existe os problemas burocráticos do papel da universidade públicas e federais de verbas, aceitar doações privadas, remuneração, etc..., mas parece a falta de interesse do setor produtivo por outros fatores.

----------

Sobre o sistema universitário brasileiro existem muitas peculiaridades em cada instituição e local. A gente não tem o problema coreano ou chinês de ter que atrair pesquisadores para começar as coisas do zero, mas construir as bases institucionais para haja interessa na interação setor privado e universidades. Não que estrangeiros não sejam bem-vindo para aprimorar áreas, mas não é o problema fundamental.

Por exemplo, a USP nasceu como universidade criada pelas elites paulistas para abranger o conhecimento no estilo grandes universidades como Oxford, Cambridge e Harvard. Incluindo trazer pesquisadores de ponta estrangeiros para montar os departamentos. Nos anos 1930 foi um projeto revolucionário. Já que não existia nada parecido no Brasil. A Unicamp nasceu nos anos 1960s e foi desenhada para focar na pesquisa de engenheira aplicada e ciência pura que pudesse virar aplicada. Nasceu com um monte de pesquisadores estrangeiros e contratos firmados para resolver problemas da iniciativa privada

A UFSC é dos anos 1960s e foi pensada para apoiar a agricultura e indústria catarinense, também focada em pesquisa. Hoje possui o melhor centro de engenharia do sul do país. A Universidade federal de viçosa começou a ter dinheiro e focar na pesquisa na medida em que o setor agroindustrial da região decolou. A UFABC nasceu da cabeça do Lula, mas tinha o projeto direcionado apoiar a industrial aeroespacial e de alta tecnologia, somados a ter o curso de humanas e atrair os comunistinhas.

Nas estaduais paranaenses (UEPG, UEM e UEL) hoje gigantes e que melhor pagam os docentes (salário inicial do prof. Doutor 12,7 mil enquanto federal 9 mil), dão melhores laboratórios, possibilidade de consultorias e remuneração por patentes. Por que nasceram e cresceram por pressão das elites regionais, que usam as universidades para negócios e formar os filhos das elites e classe média. E negócios que era agroindústria e hoje passando para indústria e serviços sofisticados. O pessoal anda remontando departamento que dão inveja há muita federal. E ainda são filhas diretas de gente formada na USP e Unicamp. Esse pessoal não aceita federalizar essas instituições por perderem autonomia nas decisões e reduzir a qualidade das contratações. O mesmo caso em relação a defesa que as universidades estaduais paulistas continuem sendo estaduais.

A universidade tradicional federal como UFPR é bem diferente. Por que possui uma burocracia mais burocrática, foca em ensino de graduação, cria entraves internos para atrair doutores de grandes universidades e a interação com setor privado e público. Por isso, quando se olha o ranking de universidades nacionais, ela apanha de todo mundo e não chega a ter nenhum curso de pós-graduação avaliado como 7 que o ápice da excelência segundo o MEC. O curso de maior destaque é Direito e a área de saúde pela teimosia dos pesquisadores. Enquanto os demais são medianos e focados em graduação estritamente acadêmica de baixo nível sem focar na qualidade. Apesar de ser muito maior em recursos e alunos matriculados do que as estaduais e da maioria das federais.




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#70 Mensagem por Marechal-do-ar » Sex Jul 15, 2016 4:02 pm

LeandroGCard escreveu:Aqui no Brasil a população em geral, os governantes e mesmo muitas pessoas em cargos importantes no setor privado em áreas ligadas à tecnologia e à indústria tem a visão de que basta um diploma para que todos os problemas sejam resolvidos. Com um canudo de uma boa escola debaixo do braço o "especialista" poderia resolver qualquer problema que aparecesse imediatamente, como se fosse um verdadeiro professor pardal.
A parte em negrito já se tornou opcional, agora um papel escrito "diploma" tem poderes mágicos que transformam qualquer pessoa no Macgyver.




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#71 Mensagem por LeandroGCard » Qua Ago 24, 2016 8:35 pm

Muito interessante.

Um planeta similar à Terra dentro da zona habitável e que gira em torno da estrela mais próxima do Sol. Ou é uma coincidência extraordinária ou planetas com boas condições de habitabilidade existem aos montes por aí, como aliás já desconfiavam os astrônomos. Mas apesar de todos os avanços tecnológicos não é fácil detectá-los com os meios atuais, este aí é o mais próximo possível e levou 16 anos para ser confirmado:
Cientistas encontram planeta potencialmente habitável orbitando a estrela mais próxima ao Sol
"Proxima b" está em uma zona temperada compatível com a presença de água em estado líquido

Por: AFP - 24/08/2016


Cientistas anunciaram nesta quarta-feira a descoberta de um planeta habitável orbitando a estrela mais próxima do Sol, abrindo a perspectiva de uma exploração futura com sondas espaciais robóticas. Batizado "Proxima b", tem aproximadamente a mesma massa da Terra e está em uma zona temperada compatível com a presença de água em estado líquido, um ingrediente-chave para a vida.

Os resultados, baseados em dados recolhidos ao longo de 16 anos, foram relatados na revista científica Nature.

— Finalmente, conseguimos mostrar que um planeta com pouca massa, provavelmente rochoso, está orbitando a estrela mais próxima do nosso sistema solar — declarou Julien Morin, um astrofísico da Universidade de Montpellier, no sul da França, e coautor do estudo.

Segundo ele, "Proxima b" provavelmente será o primeiro exoplaneta — como se denominam planetas localizados fora do nosso Sistema Solar — visitado por uma sonda feita por seres humanos.

O principal autor e coordenador do projeto, Guillem Anglada-Escude, um astrônomo da Universidade Queen Mary de Londres, descreveu a descoberta como a "experiência de toda uma vida". Trabalhando com telescópios do Observatório Europeu do Sul no deserto chileno do norte, sua equipe utilizou o método Doppler para detectar "Proxima b" e descrever suas propriedades.

Sabendo que um planeta — se houvesse um — seria muito pequeno para ser visto diretamente, os observadores passaram 60 dias consecutivos à procura de sinais de força gravitacional sobre sua estrela hospedeira, a anã vermelha "Proxima Centauri". Descoberta em 1915, esta é uma das três estrelas no sistema Alpha Centauri, uma constelação visível principalmente a partir do hemisfério sul.

Mudanças regulares no espectro de luz da estrela — repetidas a cada 11,2 dias — revelaram que se moveu alternadamente em direção e para longe do nosso sistema solar em ritmo vagaroso, cerca de cinco quilômetros por hora.

Depois de realizar uma verificação cruzada dos resultados com um conjunto de dados inconclusivos de 2000-2014 e de eliminar outras causas possíveis, os pesquisadores perceberam que apenas a presença de um planeta invisível poderia provocar a "oscilação" invariável da estrela.

A apenas quatro anos-luz do Sistema Solar, "Proxima b" tem uma massa de 1,3 em relação à da Terra e orbita a cerca de sete milhões de quilômetros de sua estrela.

Um planeta tão próximo do nosso Sol — 21 vezes mais próximo que a Terra, oito vezes mais próximo do que Mercúrio — deveria ser uma inabitável bola incandescente de fogo. Mas, devido ao fato de "Proxima Centauri" queimar a uma temperatura mais baixa, o planeta recém-descoberto, assim como o nosso, está em uma zona chamada "cachinhos dourados" — nem tão quente que faça a água evaporar, nem tão frio que a congele.

Mas a água líquida não é o único ingrediente essencial para o surgimento da vida da forma como a conhecemos. Uma atmosfera também é necessária e, nesse ponto, os pesquisadores ainda estão no escuro. Tudo depende, segundo eles, em como "Proxima b" evoluiu como um planeta.

— Você pode cogitar cenários de formação que terminam com uma atmosfera semelhante à da Terra, uma atmosfera como a de Vênus ou nenhuma atmosfera — declarou o co-autor Ansgar Reiners, um especialista em estrelas "frias" do Instituto de Astrofísica da Universidade de Gottingen.

Se "Proxima b" tiver atmosfera, sugerem os modelos de computador, a temperatura do planeta pode variar "no intervalo de -30 °C no lado escuro, e 30°C no lado da luz", disse Reiners aos jornalistas.

Assim como a Lua em relação à Terra, "Proxima b" tem uma "trava gravitacional", com uma face sempre exposta a sua estrela e a outra perpetuamente na sombra.

Mesmo com a presença de água e de uma atmosfera, há um outro desafio para o surgimento de formas de vida. "Próxima Centauri" é constantemente bombardeada por radiação de alta energia na forma de raios-X e ultravioleta, cerca de cem vezes mais em relação aos que atingem a Terra.
O planeta tem uma massa bem semelhante à da Terra, mas sua estrela-mãe é muito menor que o sol e extremamente instável, lançando frequentemente fortes "flares" de radiação ao espaço. Mas, ainda assim é possível que a vida tenha surgido e esteja escondida por lá, protegida da radiação por um forte campo magnético como é de se esperar em um planeta rochoso maior que a Terra (e por consequência provavelmente com um núcleo mais quente e ativo) e pela penumbra entre a região virada para sua estrela e a virada para a escuridão do espaço.

Vamos aguardar mais alguns anos para que os sistemas capazes de destrinchar os detalhes deste planeta (como o telescópio espacial James Webb a ser lançado em 2018) estejam disponíveis.


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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#72 Mensagem por mmatuso » Qua Ago 24, 2016 9:49 pm

Antropocentrismo fail.




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#73 Mensagem por akivrx78 » Dom Ago 28, 2016 9:03 pm

A CIÊNCIA BRASILEIRA NA UTI

PARTE 1: Reportagem especial retrata o quadro de penúria da ciência nacional e discute o risco de um novo corte orçamentário em 2017, resultante da fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com a pasta das Comunicações

Herton Escobar

28 Agosto 2016 | 07h00

http://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/wp-content/uploads/sites/81/2013/04/SIRIUSAC1-1024x682.jpg
SIRIUS/ACELERADOR

A ciência brasileira nunca esteve tão pobre. O orçamento do Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI) para este ano é metade do que era em 2010 e um quarto menor do que dez anos atrás, em valores corrigidos pela inflação. Há institutos de pesquisa sem dinheiro até para pagar a conta de luz; e muitos temem que a situação piore em 2017. A proposta do governo, segundo o Estado apurou, é manter o orçamento da pasta congelado para o ano que vem, apesar da fusão com o Ministério das Comunicações — o que significaria, na prática, uma nova redução orçamentária.

“Se isso for aprovado, pode esquecer; acabou ciência e tecnologia no Brasil”, diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. A situação hoje já é a pior de todos os tempos, segundo ele, com corte de bolsas, editais cancelados, repasses atrasados e projetos de pesquisa estagnados. Em muitos lugares, faltam recursos até mesmo para serviços básicos de limpeza e segurança. No Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (foto), algumas estações de pesquisa tiveram de ser desativadas. No Laboratório Nacional de Computação Científica, o recém-adquirido supercomputador de R$ 60 milhões foi temporariamente desativado por falta de dinheiro para a conta de luz. No Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, a produção de radiofármacos corre risco de ser paralisada. (Mais detalhes ao final desta reportagem.)

O orçamento atual do MCTI é de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 500 milhões estão contingenciados, aproximadamente. O que a pasta pode gastar de verdade, portanto, são R$ 4,1 bilhões. Em valores corrigidos, esse limite de empenho é 27% menor do que em 2006 e 52% menor do que em 2010; enquanto que o número de pesquisadores em atividade no País cresceu 100% nos últimos dez anos. Ou seja, a demanda por recursos dobrou, enquanto que a oferta caiu pela metade. “Isso explica a crise que estamos vivendo”, diz Davidovich.

Em maio deste ano, na reforma ministerial promovida pelo presidente interino Michel Temer, o MCTI foi fundido com o Ministério das Comunicações (dando origem ao MCTIC), mas cada pasta manteve seu orçamento original. A proposta do governo agora, para 2017, é unificar as contas dos dois setores, porém sem acréscimo de valores. “Ano que vem é R$ 4,1 bilhões para todo mundo”, disse ao Estado o ministro da pasta unificada, Gilberto Kassab, no início deste mês.

“O que já era irrisório vai ficar ainda menor. É um absurdo; estamos andando para trás”, diz a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. Países mais desenvolvidos, segundo ela, estão fazendo exatamente o oposto: investindo mais em ciência e tecnologia para fortalecer suas economias e sair da crise. “Conversamos com o presidente interino Michel Temer sobre isso e dissemos claramente que esse orçamento inviabiliza o desenvolvimento do País.”

RaioX da Crise
Imagem

Kassab disse que a comunidade científica está “coberta de razão” em suas preocupações, e que ele está empenhado em elevar a proposta orçamentária da pasta para 2017. Pouco depois de assumir a pasta, em maio, Kassab negociou o descontingenciamento de cerca de R$ 1 bilhão para o orçamento de ciência e tecnologia, além de conseguir recursos emergenciais para solucionar problemas específicos, como a paralisação do supercomputador do LNCC .

“É evidente que a crise existe e todos perderam; mas ninguém perdeu tanto (quanto a Ciência e Tecnologia). Muito estranho isso ter acontecido”, disse o ministro, atribuindo a crise à gestão passada, da presidente Dilma Rousseff. “Estamos todos trabalhando para corrigir essa defasagem.”

Os números finais do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2017) serão apresentados na quarta-feira, dia 31, pelo Ministério do Planejamento. “A culpa não é do governo interino, mas o problema existe e cabe a ele resolver”, cobra Helena Nader, que também é pesquisadora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Estão achando recursos para várias outras áreas, para os Estados e para aumentos salariais. Por que não para ciência, tecnologia e inovação?”

“Esse discurso de que não tem dinheiro para ciência e tecnologia é ridículo. O que falta é uma definição política clara no sentido de priorizar setores”, diz Davidovich, professor titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O problema é exacerbado pelos cortes orçamentários também aplicados ao Ministério da Educação e sua agência de fomento, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), já que a maior parte da pesquisa científica no Brasil é feita em universidades públicas, que dependem também das bolsas e auxílios dessas instituições para seu funcionamento.

“O MCTIC sinalizou que está se esforçando para recompor o orçamento. Mas, se tivermos outro ano com o mesmo patamar, não será possível superar os problemas com readequações. Será preciso reduzir atividades, o que significa o fechamento de algumas instalações, adiamento de projetos grandes e pequenos. Para a ciência brasileira, seria catastrófico não ter uma recomposição do orçamento do MCTIC para o próximo ano”, diz o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, Antonio José Roque da Silva.

CAUSAS

Para Davidovich, a falta investimentos no setor decorre de uma “miopia” dos governantes, que ainda não enxergam Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como algo estratégico para o desenvolvimento socioeconômico do País. O que se economiza com os cortes nessa área, segundo ele, é “insignificante” comparado a outros gastos do governo, com benefícios muito menores. “Ciência é um investimento barato que traz retornos gigantescos”, diz Davidovich. “A China só aumenta investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Aqui é o contrário.”

“Quer sair da crise? Aprenda com a China, com os Estados Unidos e a Europa, que estão investindo mais em ciência e tecnologia”, concorda Nader. O Brasil investe hoje menos de 1,5% do seu PIB em atividades de pesquisa e desenvolvimento. A China investe cerca de 2%, e no início deste ano anunciou meta de chegar a 2,5% até 2020, como estratégia de enfrentamento da crise econômica. Os Estados Unidos investem cerca de 2,8%, e a União Europeia quer chegar a 3% em 2020.

Para Nader, não reconhecer a importância da CT&I para o crescimento econômico do País é sinal de “fraqueza intelectual”. “As pessoas acham que fazer agricultura é só plantar sementes; acham que no sucesso das commodities não tem ciência. Isso é muito perigoso”, diz a pesquisadora. “O Brasil só ganha dinheiro com a soja hoje graças à ciência.” Outros exemplos clássicos são a exploração de petróleo em águas profundas pela Petrobras, a produção de aviões pela Embraer, a produção de vacinas pela Fiocruz e Instituto Butantan. E, mais recentemente, a detecção, pesquisa e enfrentamento da epidemia de zika. “Quem foi que deu a resposta para o zika? Foi a ciência brasileira”, completa Nader.

Ainda que a crise econômica seja passageira, diz Davidovich, o corte orçamentário proposto poderá significar uma geração perdida para a ciência brasileira, e um atraso significativo para o desenvolvimento do Brasil. “Estamos perdendo nossos jovens cientistas; é um crime contra o País”, diz. “Essa história de fazer uma pausa para arrumar a casa e recomeçar depois não existe; pelo menos não em ciência. Vamos sair desta crise e logo entrar em outra.”

“Não sentimos (todos os efeitos) de imediato, porque as pesquisas não param totalmente, mas haverá um grande impacto de longo prazo. Também é provável que muitos pesquisadores fiquem reticentes para apresentar projetos nesse contexto, prevendo que não serão financiados”, diz o superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), José Carlos Bressiani.

— Colaborou Fabio de Castro / Estadão

RELATOS

Dirigentes de seis grandes instituições de pesquisa contaram ao repórter Fabio de Castro, do Estadão, como a crise orçamentária está afetando suas operações.

Antonio José Roque da Silva, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS)

O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) teve aumento orçamentário entre 2009 e 2014, no qual o centro se consolidou como uma unidade, agregando em sua estrutura a gestão do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano). Nesse período também foi estruturado o maior projeto científico do país, o novo acelerador de partículas Sirius, atualmente em construção.

“Com o aumento de quadros e consequente aumento de orçamento, tivemos condições para acomodar as atividades principais do campus. Ainda assim, os limites financeiros impostos ao MCTI tiveram impacto no CNPEM também, principalmente em 2016, porque afetaram os repasses do ministério. O orçamento foi definido em outubro de 2015. O limite financeiro não distingue o que são restos a pagar do ano anterior e o que é orçamento do ano atual. Além disso, a proposta de lei orçamentária foi reduzida ao passar pelo Congresso. Por isso este acabou sendo um ano difícil”, diz o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva.

Segundo ele, a proposta era de R$ 83 milhões e a lei orçamentária aprovada pelos parlamentares foi de R$ 61 milhões. Para o Sirius, que tem um orçamento próprio, a proposta foi de R$ 275 milhões e a lei orçamentária aprovada foi de R$ 182 milhões.

Segundo Roque, em 2016 a situação exigiu um replanejamento das atividades do CNPEM. “Conseguimos superar as dificuldades no fim do ano passado com uma série de medidas de contenção. Repactuamos várias metas e postergamos alguns investimentos importantes que poderiam ter sido feitos agora”, disse.

Embora os projetos continuem, o cotidiano mudou no campus localizado em Campinas (SP). “Desligamos boa parte dos equipamentos do Síncrotron no fim de semana, mesmo com o risco de que na segunda-feira a máquina não entre nas condições ideais de operação. Fechamos as linhas de luz mais antigas, cuja reacomodação não prejudicaria os usuários. Também desligamos o ar condicionado em alguns períodos e postergamos investimentos na área de tecnologia da informação, que nos dariam uma maior segurança no armazenamento de dados. Deixamos algumas manutenções preventivas de lado, fazendo apenas manutenção corretiva. Assumimos riscos calculados para passarmos por essa fase difícil.”

João Carlos Costa dos Anjos, diretor do Observatório Nacional (ON)

O orçamento de custeio do ON teve um pico em 2012, quando chegou a cerca de R$ 9,5 milhões. Desde então, houve uma queda anual até os atuais R$ 5,8 milhões. Gráficos apresentados à reportagem pelo diretor do ON, João Carlos Costa dos Anjos, mostram que o orçamento caiu 42% desde 2012, considerando a correção da inflação.

Além da redução no orçamento para custeio, houve um aumento de 50% nos valores dos compromissos internacionais. “Um dos principais problemas é que temos compromissos internacionais assumidos em 2012 e 2013, que envolvem valores em dólares. Temos uma conta a apagar da ordem de US$ 300 mil. Nesse período, o dólar aumentou praticamente 50% e nossa conta não fecha”, afirmou.Nessa situação, todos os contratos com terceirizados — para limpeza, segurança e transporte — precisaram ser repactuados.

Um dos maiores vilões para a situação econômica do ON é a conta de energia elétrica, que consome mais de 40% do orçamento de custeio do instituto. “Conseguimos reduzir o consumo em 10%, de 2013 para cá. Mas o custo disparou com o aumento das tarifas.”

Segundo Anjos, em 2015, o então ministro Celso Pansera conseguiu recursos, junto ao Ministério do Planejamento, para “apagar incêndios” nos institutos de pesquisa. “Por isso o ON sobreviveu até agora nessa situação. Mas, se não houver recursos suplementares, fechamos em setembro”, afirmou Anjos.

“Fechar”, segundo Anjos, significa dar aviso prévio ao pessoal terceirizado e não ter condições para manter os serviços. “Não teremos como pagar os contratos.” Segundo ele, o ministro Gilberto Kassab prometeu um acréscimo de R$ 1 milhão no orçamento do ON. “Ele se comprometeu a tentar a liberação de recursos adicionais para fazer frente a essa situação de calamidade.”

Um dos principais serviços prestados pelo ON é o fornecimento da Hora Legal Brasileira. Segundo Anjos, interromper esse serviço é algo “impensável”. “Não podemos desligar o ar condicionado ali. Aquilo funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Mas não dá para o país deixar de ter a Hora Legal.”

Luiz Renato de França, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)

Em 2015, o orçamento do Inpa teve uma queda de 30% em relação a 2014. Para piorar, em 2016 houve outra redução. “O nosso orçamento neste ano foi praticamente a metade do que tivemos em 2014. A última vez que tivemos um orçamento dessa magnitude foi há 10 anos”, diz o diretor Luiz Renato de França.

Para enfrentar a crise, França afirma que a gestão tem sido a mais enxuta possível. “Estamos fazendo economia para sobreviver, priorizando as despesas básicas como água, luz e telefones. Quanto à pesquisa, obviamente agora não é o momento para investir.”

Segundo ele, o Inpa recebe R$ 4 milhões anuais para pesquisa. “Com os nossos recursos, estamos priorizando diárias e passagens, que são fundamentais para pesquisar na Amazônia.” Boa parte das pesquisas é financiada por projetos individuais de pesquisadores, aprovados junto às agências de fomento. “Mas as agências também fizeram cortes. Nem é possível calcular quantos projetos deixaram de ser apresentados nesse contexto.”

Segundo França, os principais projetos do instituto continuam ativos, mas avançam mais lentamente. Uma das principais preocupações é a impossibilidade de realizar concursos para contratar novos pesquisadores. “Temos hoje metade do pessoal que já tivemos no instituto. Mas o pior é que há pelo menos 30 pesquisadores que podem se aposentar a qualquer momento.” A área terceirizada, que inclui serviços de manutenção, limpeza e segurança, teve uma redução de 20% a 25%.

Augusto César Gadelha Vieira, diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC)

O orçamento anual do LNCC, desde 2012, oscilou entre R$ 11 milhões e R$ 12 milhões. Em 2016, houve uma redução de 65% em relação ao ano anterior, ficando em R$ 7,6 milhões.

“Tivemos a implantação do supercomputador, que certamente é um ônus adicional, especialmente na parte de energia. Isso nos forçou a tomar a decisão de desligar a máquina em maio, caso contrário chegaríamos ao fim do ano com um déficit orçamentário muito alto, o que iria configurar crime de responsabilidade”, disse o diretor Augusto Gadelha.

Segundo ele, o ministério solicitou que o supercomputador fosse ligado novamente e o LNCC obedeceu, em regime reduzido. “Ligávamos quatro horas por dia, com apenas um ou dois projetos rodando, até que foi aprovado no mês passado uma suplementação de R$ 4,6 milhões. Temos cerca de 75 projetos de pesquisa submetidos e 25 já estão em curso.”

Agora, a preocupação de Gadelha é o orçamento de 2017. “Com os R$ 4,6 milhões suplementares, garantimos as operações até dezembro. Estamos estudando várias alternativas para o suprimento de energia, incluindo o uso parcial de energia solar. Também estamos conversando com empresas que possam utilizar o supercomputador e trazer recursos.”

Com menos recursos para bolsas de iniciação científica e para trazer pesquisadores estrangeiros, o laboratório deverá sentir os impactos da crise também a longo prazo, segundo Gadelha. “Temos capacidade muito menor para absorver jovens pesquisadores de boa qualidade e cientistas estrangeiros.”

Quem trabalha no LNCC, segundo Gadelha, já sentiu também os impactos. “O ambiente de trabalho se torna muito pior, com restrições para quase tudo — desde limpeza até segurança. A participação de nossos pesquisadores em congressos nacionais e internacionais, que é um importante instrumento de pesquisa, está muito limitada. Além disso, temos menos chances de fazer estudos de grande impacto, o que poderá afetar a qualidade da pesquisa a longo prazo.”

José Carlos Bressiani, superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen)

O Ipen não teve redução orçamentária em 2016, mas sofreu com reduções nos três anos anteriores, o que culminou em dificuldades para fechar as contas. “Nossas despesas acabaram ficando acima do orçamento. O déficit foi de R$ 13,5 milhões em 2014, de R$ 13 milhões em 2015, e prevemos que em 2016 faltarão R$ 50 milhões”, disse o superintendente José Carlos Bressiani. Segundo ele, a alta do dólar teve grande impacto no instituto, que utiliza matéria prima importada para produzir radiofármacos, entre outras atividades.

No fim de agosto, o Ipen conseguiu um complemento do orçamento que, segundo Bressiani, garante as atividades apenas até o meio de setembro. “Enxugamos o orçamento fazendo uma redução de 25% no quadro de terceirizados, que inclui os serviços de limpeza interna e externa, segurança e motoristas. Agora não há mais onde cortar. Estamos negociando mais recursos com o MCTIC. Se eles não vierem, a consequência é que não poderemos comprar insumos — já que a lei não permite gastar sem ter orçamento — e assim não poderemos mais fornecer radiofármacos. Se isso acontecer, toda a medicina nuclear do Brasil vai parar.”

Ronald Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

O diretor do CBPF, Ronald Shellard, diz que a situação dos institutos de pesquisa melhorou bastante até o fim do segundo governo Lula. Depois disso, os orçamentos acumularam quedas drásticas. “O CBPF continua sendo uma instituição de excelência, muito bem avaliada, e não podemos dizer que a situação é catastrófica, como em algumas universidades; mas temos uma situação difícil. Em 2016 faltou uma fração significativa do orçamento para pagar luz, limpeza e outras necessidades básicas. Nossos recursos são suficientes para manter as atividades básicas até o fim de outubro.”

Segundo Shellard, o orçamento atual é de R$ 7 milhões, mas seriam necessários R$ 10,5 milhões para fechar as contas. “O ministro Kassab está fazendo um esforço e nos prometeu a liberação de recursos para fecharmos o ano.” Ele afirma que é difícil cortar funcionários terceirizados, que em sua maioria são pessoas que trabalham há anos no CBPF e têm treinamento específico.

“Cortamos o que pudemos. Estamos muito preocupados com 2017. Nosso orçamento aprovado aponta que já vamos começar o ano com déficit e não há mais gorduras para ajustar. Temos defendido que é preciso restaurar o patamar do orçamento de 2012.”

http://ciencia.estadao.com.br/blogs/her ... -na-uti-2/




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#74 Mensagem por akivrx78 » Dom Ago 28, 2016 9:05 pm

A CIÊNCIA BRASILEIRA NA UTI

PARTE 2: Cortes orçamentários e contingenciamentos deixam as duas principais agências federais de fomento à pesquisa e à inovação (CNPq e Finep) sem recursos para novos investimentos

Herton Escobar

28 Agosto 2016 | 07h05

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa do governo federal, está “à mingua”, nas palavras do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. Praticamente todo o orçamento da entidade está comprometido com o pagamento de bolsas, restando quase nada para investimento em pesquisa.

Dos R$ 594 milhões executados pelo CNPq no primeiro semestre deste ano, 98,5% foram para bolsas e apenas 1,5% para fomento. E ainda assim, a agência foi obrigada a suspender a concessão de bolsas de pós-graduação no exterior e cortar 20% das bolsas de iniciação científica previstas para os próximos dois anos.

O orçamento total aprovado para este ano é de R$ 1,5 bilhão, mas 30% desse valor está contingenciado. O que a agência pode gastar de fato é pouco mais de R$ 1 bilhão — 45% menos do que em 2006 e 63% menos do que em 2010, em valores corrigidos e excluindo-se o programa Ciência sem Fronteiras, segundo os dados oficiais solicitados pela reportagem.

“O CNPq perdeu totalmente a liberdade de pensar. O sistema todo tem de correr atrás todos os meses para pagar bolsas”, disse em julho o presidente da agência, Hernan Chaimovich, durante uma palestra na última reunião anual da SBPC, em Porto Seguro (BA). O valor que o CNPq precisaria para “ser feliz e estimular a ciência” no Brasil, segundo ele, seria R$ 3,7 bilhões. “Não há uma política consistente de investimento em ciência e tecnologia nesse país, ponto”, disse Chaimovich. Procurado novamente para esta reportagem, ele preferiu não dar entrevista, redirecionando a demanda para o ministro Gilberto Kassab — que reconheceu a gravidade da situação e disse estar empenhado em conseguir mais recursos para o setor.

Em 2015, o valor investido em fomento pelo CNPq já havia caído 46% em relação a 2014, passando de R$ 104,8 milhões para R$ 56,4 milhões. Em comparação com 2010, essa queda foi de quase 80%, em valores corrigidos.

A agência tem um saldo a pagar de R$ 230 milhões, referente a mais de 40 editais lançados desde 2010 que ainda não foram quitados, incluindo uma parcela de R$ 68,8 milhões da Chamada Universal de 2014 — o mais tradicional edital da ciência nacional, que em 2015 nem chegou a ser lançado, por falta de recursos.

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Pesquisas biomédicas estão entre as afetadas pela crise do setor. Foto: Herton Escobar/Estadão

Os novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que deveriam estar sendo implementados desde abril de 2015, também seguem na fila de espera por recursos para serem criados. Um total de 252 projetos foram selecionados e anunciados em maio deste ano (com 14 meses de atraso), distribuídos por todos os Estados brasileiros e abordando diversas áreas do conhecimento, porém sem valores especificados nem data prevista de implementação. O edital, lançado em junho de 2014, previa um investimento de R$ 100 milhões do orçamento do CNPq, mais R$ 540 milhões de outras agências de fomento federais e estaduais — todas elas, também, com dificuldade orçamentária, impedindo a implementação desse programa, que é considerado um dos mais estratégicos para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

Programas importantes da agência na área ambiental, como o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), tiveram reduções drásticas de financiamento. “Falta ao ministério uma visão moderna da importância das ciências da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Cortar a verba de programas que exigem longa duração para gerarem informações básicas sobre a biodiversidade brasileira é matar a possibilidade de começarmos a transformar este tesouro em uma fonte estratégica de recursos e melhoria de qualidade de vida da população”, critica o pesquisador Carlos Joly, da Universidade Estadual de Campinas.

Há também uma crise de recursos humanos. O CNPq perdeu cerca de 120 funcionários nos últimos cinco anos, com uma média de 15 a 20 aposentadorias por ano e sem perspectiva de novas contratações. “Nesse ritmo o CNPq perderá a sua reconhecida eficiência e entrará em colapso em dois anos”, diz um gestor do órgão.

FINEP

A situação é crítica também na Finep, empresa pública de fomento à pesquisa e à inovação, que administra os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) — maior fonte de recursos para infraestrutura científica no Brasil, tanto no setor público quanto privado. O orçamento do fundo para este ano, de R$ 1,96 bilhão, é 50% menor do que em 2015 (em valores corrigidos) e a proposta do governo para 2017 é cortá-lo novamente pela metade, chegando a R$ 982 milhões.

Isso, apesar de a arrecadação anual do FNDCT permanecer constante, na casa dos R$ 3,7 bilhões, e de a Finep ter um saldo a pagar de R$ 2 bilhões, referente a vários editais já contratados nos últimos anos. O número de contratos assinados pela Finep com empresas em 2015 foi o menor desde 2006; e o edital Proinfra 2014, no valor de R$ 400 milhões, destinado a compra e manutenção de equipamentos de pesquisa, teve seu resultado adiado em mais de um ano, de agosto de 2015 para outubro deste ano, por falta de recursos.

O orçamento atual “não dá nem para cobrir os restos a pagar dos anos anteriores”, disse o presidente da Finep, Wanderley de Souza, em palestra na reunião anual da SBPC, em julho. “Permite continuar o que estamos fazendo, mas não lançar coisas novas.” Procurado novamente para esta reportagem, Souza preferiu não dar entrevista.

“O orçamento de 2016 e a proposta orçamentária para 2017 não são suficientes para fazer frente aos compromissos já assumidos — projetos contratados em 2016 e em anos anteriores”, informou a assessoria de comunicação da Finep. “Neste cenário, não há espaço para novas iniciativas. No entanto, o presidente (Wanderley Souza) está otimista quanto às ações do ministro Kassab no sentido de ampliar o orçamento.”

O FNDCT é abastecido anualmente com recursos oriundos de vários setores da indústria (por exemplo, de impostos sobre a exploração de recursos hídricos e minerais), e seus recursos deveriam, por lei, ser investidos integralmente em ciência e tecnologia. Mas não é o que acontece. Ao longo dos últimos anos, os recursos do FNDCT foram sistematicamente contingenciados pelo governo federal para manutenção do superávit primário. Uma larga fatia do fundo também foi usada para bancar o programa Ciência sem Fronteiras.

“Isso é desvio de finalidade. Estão coletando impostos para uma finalidade e aplicando em outra”, diz Davidovich. “É um tipo de pedalada. Tenho até dúvidas sobre a legalidade disso.”

A Academia Brasileira de Ciências, a SBPC, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e outras entidades do setor enviaram um carta conjunta ao Congresso Nacional no dia 23, pedindo o descontingenciamento do fundo.

“É fundamental que o orçamento do FNDCT para 2017 permita a utilização plena dos recursos que serão arrecadados, de modo a se reverter o grave quadro atual”, diz o documento. As entidades ressaltam que não estão pedindo aumento de recursos, “mas sim que os recursos oriundos dos Fundos Setoriais e do FNDCT não sejam negados a seus legais e legítimos fins: projetos de pesquisa do interesse do País, manutenção e aperfeiçoamento da infraestrutura de pesquisa, concessão de bolsas de pesquisa, financiamento às atividades de inovação de empresas brasileiras”.

http://ciencia.estadao.com.br/blogs/her ... ra-na-uti/




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Re: DESCOBERTAS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

#75 Mensagem por akivrx78 » Ter Set 13, 2016 11:02 am

Japan on verge of scrapping Monju fast-breeder reactor: sources

Kyodo Sep 13, 2016
http://www.youtube.com/watch?v=COJnUecVd0s
http://www.japantimes.co.jp/wp-content/uploads/2016/09/n-monju-a-20160914.jpg
The government is making final arrangements to scrap the trouble-prone Monju fast-breeder reactor after determining it will never obtain public support for a restart, government sources said Tuesday.

The Nuclear Regulation Authority urged the education and science ministry, which oversees the reactor, in November to replace the government-backed Japan Atomic Energy Agency with a new entity to improve safety and management of the project.

In response, the ministry informed the Cabinet Secretariat earlier this month of a plan to keep operating the reactor in Fukui Prefecture by spinning off part of the project from the current operator.

However, officials gave up on that plan and opted for its decommissioning after utilities and plant manufacturers showed reluctance to establish a new entity, according to the sources.

Many officials also expressed the belief that resuming ordinary reactors should be given priority.

According to the Japan Atomic Energy Agency’s 2012 estimate, the cost of scrapping Monju would be around ¥300 billion over 30 years, with the expense higher than for other reactors due to its complex operating system that uses sodium as a coolant.

To restart the reactor, hundreds of billions of yen would also be needed, including a significant sum to meet the latest safety standards and annual maintenance costs of ¥20 billion.

The government has already spent more than ¥1 trillion on the Monju project, as it seeks to recycle nuclear fuel to raise the national energy self-sufficiency rate, which stood at 6 percent in 2012.

If the decommissioning goes ahead, it would require a drastic change in the nuclear fuel cycle policy, in which Monju was to play a key part.

Chief Cabinet Secretary Yoshihide Suga told a news conference that the relevant ministries and bodies are discussing the future of the reactor and that the government hopes to reach a final decision soon.

Meanwhile, the government plans to continue research and development into fast-breeder reactors, with an eye to utilizing the Joyo experimental sodium-cooled fast reactor in Ibaraki Prefecture or launching joint research with France.

A fast-breeder reactor can produce more plutonium than it consumes, and plutonium can be used as fuel for conventional and fast-breeder reactors by mixing it with uranium.

Monju has had a longtime track record of problems, starting with a major fire caused by a sodium leak in 1995. The series of problems have left it suspended much of the time since it first achieved criticality in 1994.

http://www.japantimes.co.jp/news/2016/0 ... 9f2X60yRYE
Que desperdício 50 anos de pesquisa e mais de US$10 Bilhões de dólares jogado no lixo.
A população é contra este projeto de reator porque ele foi construido em uma área próxima de Kanto em caso de um grave acidente mais de 40 milhões de pessoas poderiam ser afetadas, a área onde fica o reator foi encontrado uma falha sísmica em 2008, e ele utiliza 100% de plutônio como combustível em caso de acidente...




Para piorar depois do primeiro acidente o responsável pela segurança desta usina se suicidou, em 2010 aconteceu um novo acidente uma peça de 3.2t caiu dentro do reator e entortou, novamente um outro responsável pela segurança se suicidou...

O governo japonês não quer desistir deste reator porque se ele for desativado, a fabrica em Rokkasho (US$30 Bilhões de dólares) de reciclar o combustível usado onde se retira o plutônio não faz mais sentido sem este tipo de reator.

Este reator foi projetado para utilizar o plutônio como combustível e ele produz plutônio ou seja na ideia dos japoneses nunca mais seria preciso importar combustível, porque o próprio reator produz mais combustível do que consome, seria uma fonte de energia infinita.

Com as novas normas de segurança é necessário mais US$6 Bilhões para poder reativar este reator, dizem que este reator é 10x mais complicado de operar do que aquele que sofreu o acidente em Fukushima, principalmente porque utiliza sódio liquido para resfriamento.




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