FCarvalho escreveu:Olá Leandro.
Vamos a um pequeno resumo.
Manpads - essencialmente infantaria e uma ou outra unidade mais especializada que precise deles em função do tipo de atividade que realiza. Aplicações aéreas, navais e terrestre.
Ex: Igla e RBS-70
Importante não esquecer: o que caracteriza os Manpads é a limitação de tamanho (capacidade de ser transportado e lançado por um só homem). Isso implica que ele não pode transportar sistemas complicados, muito combustível ou uma ogiva mais significativa. Por sua simplicidade inerente não tem muita capacidade de discriminar alvos, trocar diretamente informações com sistemas de detecção e rastreio e obter alta velocidade ou elevados graus de manobralidade (então muito dificilmente poderiam ser empregados contra bombas, mísseis e outros tipos de munição guiada, apenas contra aeronaves). E precisam ser "apontados" manualmente pelo operador que precisa identificar o alvo, o que aumenta o tempo de reação (a preparação para lançamento também limita este aspecto). Igla, Mistral ou Stinger são exemplos clássicos, entre muitos outros.
Já o RBS-70 é uma coisa meio híbrida, não é totalmente transportável por uma só pessoa e utiliza um sistema de guiagem tipo beam-rider que em princípio permitiria um guiamento automático como o dos mísseis de curto alcance (o que é já empregado com o Bolide). Mas também tem que ser orientado pelo operador, sua velocidade e seu alcance são relativamente baixos e ele tem uma ogiva do mesmo tamanho que a de Manpads típicos. Na minha opinião ele junta o pior dos dois mundos.
Mísseis curto alcance - inf e cav mecanizada e cav blda. Podem ser usados também na defesa de navios, bases militares/aérea e em nível bgda. Aplicações navais e terrestre.
Ex: TOR-M2E e Pantsyr.
Exato. Em geral são mísseis de reação mais rápida (por isso o lançamento vertical está se tornando comum), maiores, mais velozes e mais manobráveis, com ogivas bem maiores e mais eficazes além de guiagem totalmente automática. Alguns modelos como o RAM e o Iron Dome foram projetados especificamente para interceptar munições, outros visavam aeronaves, mas todos tem capacidade para enfrentar ambos os tipos de alvos, dentro de algumas limitações.
Mísseis médio alcance - apropriados para o que hoje são os nossos Gae's, em proveito das OM's em nível divisional, e das RM e CM para a defesa da infraestrutura político-econômica e militar do país. Aplicações navais e terrestre.
Ex: S-350
Esta categoria engloba mísseis com características muito diversas, que incluem coisas como o Pechora, o Mica-VLS, o Spyder, o ESSM, o Bark-8 e por aí vai. Os sistemas de guiagem também variam muito, indo de sensores IR e IIR a radar-passivo e em alguns casos radar on-board. O S-350 com o míssil 9M100 estaria no limite inferior, e com o 9M96 no limite superior da categoria.
Mísseis de longa alcance - também apropriados para os Gae's, em proveito das OM's em nível divisional para cima, das RM e CM, a defesa da infraestrutura político-econômica e militar do país. Podem ainda ser aproveitados na defesa AAe da costa. Aplicações navais e terrestre.
Ex: S-300 e S-400
ps: o S-350 talvez se encaixe aqui também, tendo em vista a possibilidade de utilizar os mesmos mísseis do S-300 na faixa até 120 kms de alcance e até 30 mil mts de altitude.
Os mísseis de longo alcance tem todos sistema terminal de guiagem on-board (geralmente por radar), e são via de regra bem mais sofisticados e caros do que os da categoria anterior, com capacidade para interceptar também mísseis balísticos além da de enfrentar aeronaves.
Aliás, na sua opinião Leandro, o quê, em termos bem concretos e reais, temos condições de desenvolver aqui a partir do que já nos foi exposto em termos de parceiras e ofertas comerciais e o quê teríamos que fazer do zero?
Acredito que com esforço e um investimento razoável poderíamos desenvolver no médio prazo (10 anos) Manpads e mísseis de curto e médio alcances. Mas eu não colocaria a ênfase nos Manpads, pelos motivos que já mencionei aqui, a prioridade seriam os mísseis de médio alcance contra aeronaves e os de curto alcance com ênfase no enfrentamento de munições. E ambos com a maior simplicidade e o custo mais baixo possíveis, para facilitar a produção rápida de grandes quantidades se e quando necessário. Uma versão de lançamento terrestre do MAA-1B (usando um booster ou um motor maior) também poderia ser rapidamente desenvolvida, embora neste caso não fosse um sistema tão simples e barato assim.
Já os mísseis de longo alcance, que teriam motores maiores e radar on-board seriam mais complicados, e poderíamos começar importando alguns para complementar os nossos próprios sistemas.
ps2. dos sistemas apontados acima, tirando o S-300/400 o resto temos poderíamos apor insumos nacionais em termos de C2 e radar aos mesmo, por processo de nacionalização, ou mesmo desenvolver os mísseis a posteriori com base em off sets e tot's que houvessem.
Como não temos pressa em desenvolver nada, minha opinião é que nas categorias de curto e médio alcance deveríamos desenvolver tudo do zero, sensores, sistemas de guiagem e mísseis, aqui mesmo. Boa parte das tecnologias necessárias já estão disponíveis devido a outros programas que já desenvolvemos (MAA-1A e 1B, MAR-1, MSS-1.2 e outros). Tecnologia de radares como o Saber-60 e 200 também já dominamos. Então a rigor não temos muito o que ganhar com parcerias estrangeiras nesta área. Inclusive porque alguns dos sistemas propostos tem características que fogem do que eu acredito serem o ideal para as categorias acima (como o CAMM ou o Umkhonto, ambos um tanto complexos demais para a categoria de curto alcance mas com alcance limitado para a de médio alcance).
E na verdade talvez o mais importante seria a possibilidade de EXPORTAÇÕES dos sistemas desenvolvidos, pois se formos contar apenas com a demanda nacional o mais certo é que em algum momento futuro a falta de interesse do governo mate o programa. E em caso de alguma parceria ou ToT isso é sempre bem mais complicado.
Leandro G. Card